Portal Conservador » Igreja Católica http://portalconservador.com Este novíssimo Portal é dirigido àqueles que defende a família; o capitalismo; a tradição judaico-cristã e a Igreja. Thu, 05 Dec 2013 22:41:56 +0000 pt-BR hourly 1 http://wordpress.org/?v=3.6.1 Jesus era socialista? http://portalconservador.com/jesus-era-socialista/ http://portalconservador.com/jesus-era-socialista/#comments Tue, 01 Oct 2013 17:40:31 +0000 Commodoro http://portalconservador.com/?p=2913 read more →]]> Quando é feita a pergunta: “Jesus era socialista?” a resposta clara é: “Não, evidentemente!” A afirmação de que Jesus era socialista foi recentemente feita no Washington Post, por Gregory Paul, que tenta argumentar em favor de um socialismo ordenado biblicamente a partir dos primeiros capítulos de Atos.[1] As afirmações de Paul não têm nada de novo e provavelmente surgiram de um debate abrangente que está sendo travado nos EUA em relação a socialismo versus mercados livres. O presidente Obama e seu grupo querem o socialismo, enquanto o restante da nação quer se mover para longe do controle governamental da economia.

O que é socialismo?

Precisamos primeiramente iniciar este exame com uma definição exata de socialismo. The Oxford English Dictionary define socialismo como “uma teoria política e econômica de organização social que defende que os meios de produção, distribuição e troca devem ser de posse da comunidade como um todo e regulados por ela”.[2] O fato de ser uma teoria política e econômica sempre significa que, na realidade, o governo possui ou regula a economia. Quando o governo regula, mas não possui os meios de produção, isso é chamado de fascismo, como na Alemanha nazista. Quando o governo possui e controla os meios de produção, isso é chamado de comunismo, como na antiga União Soviética. As duas versões se encaixam na idéia mais ampla de socialismo.

Onde é que a Bíblia fala sobre uma teoria política e econômica? De acordo com Gregory Paul, a idéia é abordada nos primeiros capítulos de Atos. Paul diz que Atos 2 e 4 mostram o socialismo:

Bem, amigos, esta é uma afirmação direta do socialismo do tipo descrito milênios mais tarde por Marx, que provavelmente obteve a idéia geral a partir dos evangelhos.[3]

Paul também declara que “a Bíblia contém a primeira descrição de socialismo da história”. Não satisfeito por ter massacrado a Palavra de Deus em Atos 2 e 4, Paul segue adiante para Atos 5, dizendo:

O capítulo 5 detalha a ocasião em que um membro da igreja não entrega toda a sua propriedade à igreja e “cai morto”. Mais tarde, quando sua mulher fez o mesmo, “cai morta”.[4]

E Paul ainda continua com suas barbaridades:

Prezados leitores, isto não se parece com uma forma de comunismo imposta pelo terror por um Deus que acha que os cristãos que não se juntam à coletividade merecem morrer? Não apenas o socialismo é uma invenção cristã, mas também sua variação extrema, o comunismo. A afirmação de muitos cristãos, de que Cristo odeia o socialismo, não é verdadeira, uma vez que nenhuma descrição explícita do capitalismo pode ser encontrada na Bíblia – o que não é surpresa, já que o capitalismo ainda não havia se desenvolvido.[5]

Propriedades privadas em Atos

Não existe sequer uma sombra de socialismo no livro de Atos pelos seguintes motivos: primeiro, se o socialismo estivesse em Atos, não poderia ter havido nenhuma propriedade privada porque a posse de todas as propriedades pelo governo está no coração do socialismo. Onde é que, em Atos, o governo estava envolvido, exceto na tentativa de suprimir a pregação do Evangelho? Não eram funcionários do governo que estavam tratando com a Igreja Primitiva; eram os Apóstolos. Visto que o Deus do Antigo Testamento é o mesmo do Novo Testamento, deve haver continuidade em qualquer que seja o assunto. Wayne Grudem observa: “A Bíblia pressupõe e reforça um sistema no qual as propriedades pertencem aos indivíduos, não ao governo ou à sociedade como um todo”.[6] Mais adiante, Grudem observa que o direito à propriedade privada está pressuposto no oitavo e no décimo mandamentos e por toda a Lei dada por meio de Moisés. Como alguém poderia roubar ou cobiçar as posses de seu próximo se não houvesse propriedades pessoais? No livro de Atos, como seria possível que alguém vendesse suas propriedades pessoais e desse o dinheiro aos Apóstolos se não houvesse propriedades individuais? Se não existissem propriedades pessoais, então o governo possuiria tudo e as pessoas não teriam propriedades para vender. Se os Apóstolos eram de alguma forma os cabeças de um ajuntamento comunitário, então eles é que teriam tido controle sobre as propriedades de todos os demais e não os indivíduos que venderam suas propriedades.

Não existe sequer uma sombra de socialismo no livro de Atos.

Segundo, Paul argumenta em favor do socialismo baseado na afirmação que está em Atos 2.44-45: “Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade”. Como é que isto, de alguma maneira, modo ou forma, apóia o socialismo? O contexto é claro: por causa da fé comum que esses convertidos tinham em Cristo (ver versículos 41-43), eles estavam unidos em seu objetivo de espalhar a nova fé entre outros. Entretanto, sabemos, a partir do contexto anterior (At 2.5-11) que muitos dos novos convertidos estavam visitando Jerusalém, vindos de muitos outros países. Portanto, a fim de proporcionar apoio para as necessidades físicas dos que eram de outras localidades enquanto estes estavam sendo instruídos na nova fé, o grupo todo cooperava para ajudar a pagar pelas necessidades deles. A afirmação de que os crentes “tinham tudo em comum” significa que muitos deram suas propriedades privadas para a causa de sustentar a nova congregação. Essa afirmativa demonstra o fruto do Espírito em operação na vida deles, de forma que davam espontaneamente de suas riquezas materiais da mesma forma que hoje fazem muitos cristãos com suas propriedades pessoais.

Terceiro, Paul diz que o motivo pelo qual Ananias e Safira foram mortos pelo Espírito Santo em Atos 5 foi que eles se recusaram a entregar o preço de toda a sua propriedade às autoridades porque a comunidade deveria possuir tudo. Tal visão, à luz do contexto, é ridícula! Paul ignora o versículo 4, no qual Pedro diz ao casal: “Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder?” Tais palavras ditas por Pedro não dão suporte à noção de Paul de que Ananias e Safira foram mortos por não serem bons socialistas. Pelo contrário, o que Pedro diz se encaixa perfeitamente com o ponto de vista do restante da Bíblia, de que o campo do casal era propriedade do casal. Bem como o dinheiro recebido da venda de sua terra. O problema foi que eles mentiram sobre a quantia que estavam doando à Igreja Primitiva. Ananias e Safira fizeram com que parecesse que eles haviam ofertado todo o valor obtido com a venda de sua propriedade, quando, na verdade, haviam ficado com parte do dinheiro para eles mesmos. Tal enganação não era fruto do Espírito Santo, e o Senhor demonstrou logo que, de fato, o Espírito de Deus estava no meio deles porque apenas Ananias e Safira sabiam que estavam mentindo aos Apóstolos.

O que Jesus faria?

http://i2.cdn.turner.com/cnn/dam/assets/120306025225-jesus-staff-story-top.jpg

A afirmação de que Jesus é socialista é uma afirmação inverídica. Essa afirmação e outras semelhantes a ela têm sido feitas comumente por progressistas por, pelo menos, os últimos cento e cinqüenta anos. Os progressistas não acreditam que a Bíblia é a Palavra de Deus inspirada e infalível e, portanto, tentam tomar partes da narrativa do Novo Testamento (Mateus, Marcos, Lucas, João e Atos) e manipular o significado desses textos a fim de defender suas idéias pré-concebidas. Aparentemente eles acham que tal abordagem atrairá aqueles que estão dentro da Igreja que, de outra forma, não estariam abertos a seus pontos de vista. Portanto, quando Jesus faz afirmações sobre os pobres e contra os ricos, eles não conseguem perceber através do contexto qual era a intenção de Jesus. Em vez disso, apelam para sua noção socialista de luta de classes como se os pobres e os ricos não fossem igualmente pecadores e não necessitassem ambos da graciosa provisão de Cristo.

Atualmente, também vemos que muitos dentro do evangelicalismo estão cada vez em maior número adotando visões progressistas (isto é, visões não-bíblicas) a respeito de todas as coisas, especialmente nas áreas políticas e sociais. Os progressistas freqüentemente retiram palavras e frases do contexto das passagens (os progressistas não são os únicos que fazem isto) e as reempacotam dentro da estrutura de suas próprias idéias (isto foi demonstrado no artigo de Gregory Paul). Eles freqüentemente tentam se opor a Jesus através de outras partes da Bíblia, pintando uma figura de Jesus que a Bíblia não apóia. Depois, eles fazem perguntas sobre esse Jesus ridículo, por exemplo: “Que carro Jesus dirigiria?” Eles têm certeza de que não seria uma SUV. O mesmo acontece quando tentam fazer de Jesus um líder do socialismo. Adoram pegar palavras da Bíblia, como “justiça”. Eles a reempacotam com seus padrões de justiça em vez de usarem o padrão de justiça de Deus, ao qual não dão a mínima. Bem, Jesus faria o que a Bíblia diz que Ele faria e o fará no futuro. Parece não haver a menor preocupação com o que Jesus fará em Sua segunda vinda.

Conclusão

Por isso há inúmeros entre os que são chamados “evangélicos” que são defensores do socialismo, como Jim Wallis, dos Sojourners, Brian McLaren, Ron Sider e Tony Campolo, para falar apenas de uns poucos. Essas idéias estão sendo semeadas gradativamente nas denominadas faculdades e universidades “evangélicas” como sendo questões “de justiça social”. Independentemente do que essas idéias possam ser ou de onde elas vêm, uma coisa é certa: a Palavra de Deus não é a fonte delas. De fato, as fontes de tais idéias são claramente satânicas. De acordo com a profecia bíblica, o mundo está sendo preparado para um tempo em que o socialismo realmente virá a dominar sob o governo do Anticristo. Dessa forma, não é Jesus que é socialista; mas será o Anticristo que posará como “anjo de luz” a fim de usar o socialismo como veículo para fazer surgir temporariamente um período no qual o governo tentará possuir todos os bens dos homens, inclusive seus corações. Não, Jesus não é, nem nunca foi e também jamais será socialista. A Bíblia nos diz que Jesus usará toda a eternidade derramando Suas bênçãos ilimitadas e riquezas sobre os crentes. Maranata!

Notas:

[1]Gregory Paul, “From Jesus’ Socialism to Capitalistic Christianity” [Do Socialismo de Jesus ao Cristianismo Capitalista], The Washington Post (12 de agosto de 2011).
[2]Soanes, C., & Stevenson, A. (2004). Concise Oxford English Dictionary [Dicionário Conciso de Inglês Oxford] (11ª ed.). Oxford: Oxford University Press, s. v. “socialism”.
[3]Paul, “From Jesus’ Socialism”.
[4]Paul, “From Jesus’ Socialism”.
[5]Paul, “From Jesus’ Socialism”.
[6]Wayne Grudem, Politics According to the Bible: A Comprehensive Resource for Understanding Modern Political Issues in Light of Scripture [A Política de Acordo com a Bíblia: Um Recurso Extensivo para o Entendimento das Modernas Questões Políticas à Luz das Escrituras] (Grand Rapids: Zondervan, 2010), p. 262.

]]>
http://portalconservador.com/jesus-era-socialista/feed/ 5
Em defesa do distributismo – Por que socialismo e distributismo são totalmente opostos http://portalconservador.com/em-defesa-do-distributismo-por-que-socialismo-e-distributismo-sao-totalmente-opostos/ http://portalconservador.com/em-defesa-do-distributismo-por-que-socialismo-e-distributismo-sao-totalmente-opostos/#comments Fri, 12 Jul 2013 16:55:57 +0000 Commodoro http://neoconservatism.us/?p=2468 read more →]]> “Distributismo é apenas capitalismo com moralidade.” – Robert Laskey
Nos últimos anos, alguns porta-vozes do neoliberalismo, autointitulados “conservadores” e libertários, empenharam-se em desmantelar um crescente movimento pela independência econômica, denominado “distributismo”. O ataque neoliberal ao distributismo anda junto com o processo pelo qual os católicos, por quase dois séculos, vêm sendo empurrados pelo bicho-papão do socialismo ao reino do capitalismo laissez-faire radical, onde as empresas comercializam de tudo, desde pornografia até zigotos humanos, sem barreiras legislativas, e onde o Grande Capital se alia com o Grande Governo para destruir a ordem moral. O distributismo está sob ataque justamente porque representa, no domínio econômico, uma alternativa ao interminável jogo de cara-e-coroa dos liberais.

Não, não é socialismo

Que é distributismo, então? Ao contrário do que afirmam os nossos críticos, distributismo não significa a redistribuição de riqueza pelo governo, o que seria socialismo, mas, antes, a distribuição natural de riqueza que se dá quando os meios de produção se encontram distribuídos o mais amplamente possível na sociedade.

Basicamente, o distributismo consiste em empresas familiares de qualquer espécie (não só chácaras – como insinuam ser nossa opinião alguns críticos zombeteiros), ou firmas cuja propriedade pertence aos empregados (chamadas cooperativas), ou ainda pequenas empresas e empresas de médio porte que atuam local ou regionalmente. Também pequenos negócios e trabalhos independentes, em geral, correspondem ao distributismo na prática. Assim também o crescente movimento pela produção local de alimentos (de que participam muitos tradicionalistas) e os boicotes generalizados ao Wal-Mart e a outras gigantes multinacionais responsáveis pela aniquilação dos pequenos negócios e pela destruição do comércio de bairros.

Com o seu peculiar talento para exprimir a essência das coisas, Chesterton formulou a ideia distributista: “Capitalismo demais não significa capitalistas demais, mas capitalistas de menos.” O distributismo espera aumentar o número de possuidores de propriedade privada, estimulando os indivíduos e as famílias a adquirir ou criar seus próprios meios de produção, em vez de depender de salários. Isso, na prática, pode significar muito bem os “três alqueires e uma vaca” de Chesterton, assim como, na economia moderna, “três computadores e um escritório em casa”.

E porque busca restabelecer a vida microeconômica – o comércio entre bairros nos bairros –, o distributismo é um movimento pela emancipação da ordem econômica globalizada, intricada, dependente do governo e perigosamente frágil, que risivelmente se apresenta hoje como “livre iniciativa”. Qualquer pessoa que pense que “livre iniciativa” quer dizer Wal-Mart, com suas legiões de chineses pagos com salários escravos a labutar em benefício de acionistas americanos, sob a canga de um governo comunista que sequer lhes permite ter filhos, precisa consultar depressa a Doutrina Social Católica. Algo muito errado se passa na ordem moral, quando os fundadores do Wal-Mart repousam sobre uma carteira de ações de 84 bilhões de dólares, construída em grande parte com trabalho quase escravo, enquanto os “assistentes de venda” da rede varejista não conseguem sustentar as próprias famílias ou dar conta de seus gastos médicos, embora uma pequena fração dos bilhões da família Walton fosse suficiente para pagar, por uma vida inteira, um plano de saúde para todos os funcionários do Wal-Mart.

Não estou sugerindo que o governo confisque a riqueza da família Walton. Claramente a questão é que os Walton deveriam fazer justiça aos seus esforçados funcionários sem a necessidade de uma ordem governamental, isto é, eles deveriam aplicar a lei do Evangelho na condução dos seus negócios. No livro The Church and the Libertarian, eu revelo como a Costco, cujo cofundador e diretor executivo é um católico imerso na Doutrina Social da Igreja, paga a seus empregados o salário-família e 92% dos seus gastos médicos.

O distributismo é bem sucedido na medida em que as pessoas se recusam a participar da cultura do capitalismo de massa. Trata-se de um modo de vida, não de um programa de governo. É uma forma de rompimento pacífico com uma ordem econômica dominada por multinacionais que escarafuncham o mundo inteiro em busca de trabalho quase escravo, corrompem a moralidade pública e privada divulgando incontáveis vícios, destroem a indústria nacional, obtêm continuamente vantagens do governo e exigem, sempre que necessário, concessões de tratados e socorros financeiros para evitar o colapso de suas estruturas absurdamente inchadas – e, não fosse isso, insustentáveis. O distributismo é uma justa reação contra os desvios morais e os excessos materiais condenados pelo Magistério, encíclica sobre encíclica, e sintetizados numa expressão memorável por Wilhelm Röpke, pensador luterano e defensor do livre mercado: “o culto do colossal”.

Portanto, socialismo e distributismo são antagônicos. Repito-o: socialismo é o oposto de distributismo. Quem insinua que o distributismo é uma forma de socialismo está mal informado ou de má-fé. Até mesmo o verbete da Wikipedia diz com acerto: “Distributismo (também conhecido como distribucionismo ou distributivismo) é uma filosofia econômica de terceira via, formulada por pensadores católicos como G. K. Chesterton e Hilaire Belloc, com o fim de aplicar os princípios da Doutrina Social Católica sistematizados pela Igreja Católica, particularmente na encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII, e mais amplamente expostos pelo Papa Pio XI na encíclica Quadragesimo Anno… O distributismo destaca-se, na prática, pela ideia da distribuição da propriedade (não confundir com redistribuição da riqueza).” Apresso-me em dizer que um distributista não há de endossar todas as propostas práticas defendidas por Chesterbelloc, mas apenas a meta da ampla distribuição da propriedade dos meios de produção, alcançando, a partir daí, a verdadeira liberdade econômica para o indivíduo e a família, como célula básica da sociedade.

Que se quer dizer com uma “terceira via”? Apenas que distributismo não é nem socialismo, nem capitalismo. Como disse Thomas Storck: “Tanto o socialismo, quanto o capitalismo, são produtos do Iluminismo europeu, e constituem, portanto, forças modernizadoras e antitradicionais. O distributismo, ao contrário, busca subordinar a atividade econômica à vida humana integral, isto é, à nossa vida espiritual, intelectual e familiar.” É justamente isso que os Papas propõem em sua doutrina social.

A sórdida preocupação dos próprios interesses

Como Pio XI afirmou na Quadragesimo anno (1931), o liberalismo social e o liberalismo econômico têm uma raiz comum no abandono dos preceitos do Evangelho, em consequência do pecado:

A raiz e fonte desta defecção da lei cristã na vida social e econômica, e da consequente apostasia da fé católica para muitos operários, é a desordem das paixões, triste efeito do pecado original; este perturbou de tal maneira a admirável harmonia das faculdades humanas, que o homem, facilmente arrastado pelas más paixões, se vê fortemente incitado a preferir os bens caducos da terra aos eternos e permanentes do céu. D’aqui aquela sede inextinguível de riquezas e bens temporais, que, se em todos os tempos arrastou os homens a quebrar a lei de Deus e conculcar os direitos do próximo, nas atuais condições econômicas arma à fragilidade humana laços ainda mais numerosos.

Foi justamente essa “sede inextinguível de riquezas e bens temporais” que causou a crise econômica de 2008. De fato, a Quadragesimo poderia ter sido escrita para descrever a atmosfera geral nas empresas por ocasião desse acontecimento:

Pois que aproveita aos homens poderem mais facilmente conquistar o mundo inteiro com uma distribuição e uso mais racional das riquezas, se com isso mesmo vêm a perder a alma? (cf. Mt 15,26) Que aproveita ensinar-lhes os princípios da boa economia, se com avareza sórdida e desenfreada se deixam arrebatar de tal maneira do amor dos próprios bens, que “ouvindo os mandamentos do Senhor, fazem tudo o contrário”? (cf. Judic., 2, 17.)

Com efeito, a incerteza da economia e mais ainda a sua complicação exigem dos que a ela se aplicam uma contenção de forças suma e contínua; em consequência, algumas consciências calejaram de tal maneira, que julgam lícitos todos os meios de aumentar os lucros e defender contra os vaivéns da fortuna a riqueza adquirida à custa de tantos esforços e trabalhos.

As instituições jurídicas destinadas a favorecer a colaboração dos capitais, dividindo ou diminuindo os riscos, dão lugar muitas vezes aos mais repreensíveis excessos. Com efeito, vemos a responsabilidade tão atenuada, que já a poucos impressiona; sob a tutela de um nome coletivo praticam-se as maiores injustiças e fraudes; além disso, os gerentes destas sociedades econômicas, esquecidos dos seus deveres, atraiçoam os direitos daqueles cujas economias deviam administrar.

É ridícula a alegação de que a crise econômica resultou simplesmente da política monetária do Banco Central dos Estados Unidos. A crise foi uma verdadeira tempestade de ganância, causada (a) pela cobiça dos criadores de hipoteca e corretores que, a fim de lucrar com taxas bancárias e comissões, concederam empréstimos impossíveis; (b) pela avidez de pessoas que, com o objetivo de adquirir muito mais do que de fato precisavam, tomaram emprestado muito mais do que poderiam pagar; (c) pelas taxas de juros usurárias para hipotecas com taxas variáveis e cartões de crédito; (d) pelas hipotecas de risco, fraudulentamente empacotadas por seus criadores como montes de títulos inúteis e vendidas, como se fossem ótimos investimentos, por empresas de investimento com enganosas classificações “AAA” dadas por agências de classificação financeira; e (e) pela prática de cercar esses ativos venenosos com “swaps” contra descumprimento de compromissos de crédito, fazendo com que as mesmas empresas que mascatearam tais ativos para os clientes apostassem no fracasso dos próprios investimentos recomendados por elas, gerando vultosos pagamentos de seguro para as empresas de investimento, ao passo que seus clientes sofriam prejuízos catastróficos. (Cf. The Church and the Libertarian, Cap. 13).

Tudo isso se passou em um ambiente desregulamentado, onde bancos de depósito, então proibidos de tomar parte em investimentos de risco, deixaram de sofrer tal restrição; onde empresas de investimento, então limitadas ao capital próprio de seus parceiros, passaram a poder acumular grandes somas de capital de risco mediante ofertas públicas de ações; e onde “swaps” contra descumprimento de compromissos de crédito foram comercializados como títulos não regulamentados. Isso resultou numa pilha enorme e oscilante de varetas, num pega-varetas prestes a desmoronar, bastando para tanto que alguém tirasse a vareta errada.

Em suma, a crise representa o que Pio XI chamou de “a sórdida preocupação dos próprios interesses, que é a desonra e o grande pecado do nosso tempo…”. A redução da taxa de juros, por parte do Banco Central americano, causou nas pessoas a sórdida preocupação dos próprios interesses (que levou à crise financeira mundial) não mais do que uma pistola causa o suicídio de alguém. Em todo caso, o mesmo Banco Central dos Estados Unidos – que, sem dúvida, deveria ser extinto – é fruto da manipulação capitalista do poder estatal: na prática é um cartel de bancos privados que sequer tem de prestar contas ao governo, motivo pelo qual os próprios libertários que deploram a existência do Banco Central americano (ao mesmo tempo em que, por conveniência, fingem não ver suas amargas origens capitalistas) reclamam uma auditoria que o Congresso se recusa a exigir.

Um movimento pela liberdade econômica segundo o Evangelho

Não seria possível crise financeira alguma em uma ordem social católica, pois nela a atividade econômica haverá de ser ordenada, como escreveu Pio XI, pela “suavíssima e igualmente poderosa lei da moderação cristã, que manda ao homem buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça, seguro de que também na medida do necessário a liberalidade divina, fiel às suas promessas, lhe dará por acréscimo os bens temporais.”.

O distributismo é apenas a livre iniciativa orientada pelo Evangelho, conforme sintetizado por Nosso Senhor nos dois mandamentos maiores: amor a Deus e amor ao próximo. Retire da livre iniciativa “a sórdida preocupação dos próprios interesses” e a ambição ilimitada, coloque o amor a Deus e ao próximo, e verá emergir naturalmente a mesma ordem econômica de que muitos de nós ainda somos bastante velhos para lembrar: a economia da mercearia local, da loja de ferragens e das sociedades de poupança e empréstimo; uma economia em que se podia abastecer uma casa de família por meio apenas de trocas com os vizinhos, sem sair do bairro; uma economia realizada em escala humana por seres humanos, e não por meio de “pessoas” corporativas fictícias criadas por decreto governamental, as quais apresentam todas as características das personalidades psicopatas.

A restauração daquilo a que Röpke chamou economia humana também não é apenas uma questão da moralidade “pessoal” que o capitalista decidirá observar ou não, segundo seu capricho (conforme defenderiam os libertários). Os imperativos do Evangelho precisam se refletir em leis e instituições. No âmbito econômico, assim como no político, não existe separação entre moralidade pública e “privada”, mas um código moral divinamente ordenado a reger toda a sociedade. Um capitalista não ama a Deus e ao próximo quando explora seus funcionários, quando vende pornografia ou injeta imundície moral, por qualquer meio, na sociedade, quando oferece serviços de aborto, quando usura e superfatura, quando especula negligentemente com o dinheiro dos clientes, quando viola o dia do Senhor com vil comércio, quando subtrai aos mais fracos pechinchas absurdas, quando despeja lixo tóxico nos rios e no solo ou quando pratica outros incontáveis crimes contra a ordem moral e o bem comum.

A autoridade civil – especialmente a local, em conformidade com o princípio de subsidiariedade – tem o direito de impedir a depredação capitalista mediante uma legislação apropriada, incluindo-se sanções penais. Afinal, não estamos à mercê de diretorias de empresas que não receberam autoridade alguma de Deus para nos governar com decisões que afetam o bem comum moral, espiritual e material.

O Papa João Paulo II ensinava conforme seus predecessores ao declarar, no aniversário da Rerum Novarum do Papa Leão XIII, que a Igreja não pode aprovar o capitalismo se, por esse nome, “se entende um sistema onde a liberdade no setor da economia não está enquadrada num sólido contexto jurídico que a coloque ao serviço da liberdade humana integral e a considere como uma particular dimensão desta liberdade, cujo centro seja ético e religioso…”. O distributismo, como movimento por uma economia humana em escala humana – ou seja, uma economia mais conforme ao Evangelho –, respeita os limites éticos e religiosos na atividade econômica, e conduz naturalmente os homens do culto do colossal para uma ordem econômica que subordina a busca de bens materiais ao destino eterno da pessoa humana.

Distributistas no movimento “Occupy Wall Street”

Em um artigo para o Remnant, Richard Aleman relatou que ele, John Rao e eu estivemos no local da manifestação do movimento “Occupy Wall Street”, com o objetivo de apresentar a defesa católica da justiça econômica. Não fomos lá para comungar com hippies ou apoiar qualquer tipo de ideologia de esquerda. Fomos lá por reconhecermos que muitas das almas errantes reunidas no parque Zuccotti suspeitavam que havia algo de radicalmente errado com a ordem econômica moderna, embora não tivessem uma ideia clara do que fosse.

Vimos o protesto de “Occupy” como uma busca neopagã pelo Deus Desconhecido. Aos que se dispuseram a nos ouvir, dissemos que o Deus que procuram é Aquele que nos deu seu Evangelho para o bem comum dos homens e das nações. Entregamos-lhes trechos da Quadragesimo Anno e um folheto com os princípios do que seria uma economia humana e distributista – sem uma única intervenção do governo –, se as pessoas simplesmente subordinassem a busca de bens materiais ao bem supremo da eterna beatitude. Sentimo-nos obrigados a dizer ao maior número de pessoas possível que a questão social fundamental que os unira – inconscientemente ou não – é a apostasia da civilização ocidental, e que não pode haver nenhuma estratégia para alcançar a justiça social fora do caminho que a Igreja Católica assinalou para os homens e as nações.

Como disse Pio XI:

É certo que todos os verdadeiramente entendidos em sociologia anseiam por uma reforma moldada pelas normas da razão, que restitua a vida econômica à sã e reta ordem. Mas esta ordem, que também Nós ardentemente desejamos, e procuramos com o maior empenho, será de todo falha e imperfeita, se não tenderem de concerto todas as energias humanas a imitar a admirável unidade do divino conselho e a consegui-la, quanto ao homem é dado: chamamos perfeita aquela ordem apregoada pela Igreja com grande força e tenacidade, pedida mesmo pela razão humana, isto é: que tudo se encaminhe para Deus enquanto fim primário e supremo de toda a atividade criada, e que se considerem todos os bens criados por Deus como instrumentos dos quais o homem deve usar tanto, quanto lhe sirvam a conseguir o fim último.

É de fato muito simples: aplicar os dois mandamentos maiores na busca de bens materiais é ser, mais ou menos, um distributista. Confiando na Providência, um distributista não deixará faltar nada à sua família e será o primeiro a defender a propriedade privada como algo fundamental à liberdade ordenada – e isso não apenas em oposição ao governo, mas também às grandes empresas que estão implacavelmente pisando o direito dado por Deus de trilharmos nosso caminho com nossos próprios meios.

Não deixa de ser irônico que católicos que se consideram libertários defendam um coletivismo de empresas sustentado com assistência governamental – coletivismo esse tão amplo que equivale, na prática, a um socialismo “privado” –, enquanto atacam os distributistas por sua defesa verdadeiramente libertária da independência econômica para o indivíduo e a família, numa economia que não dependa do trabalho de chineses pagos com salários escravos.

Coloquemos um ponto final nessa demagogia. E possa o Remnant ajudar os católicos a se orientarem rumo àquela economia humana que o Magistério sempre almejou.

Christopher A. Ferrara
Artigo publicado no jornal REMNANT,
In Defense of Distributism – Why Socialism and Distributism are Wholly Antithetical
Traduzido por Davi James Dias
Tradução e publicação autorizada pelo jornal
]]>
http://portalconservador.com/em-defesa-do-distributismo-por-que-socialismo-e-distributismo-sao-totalmente-opostos/feed/ 0
A Igreja Católica “queimou cientistas”? http://portalconservador.com/a-igreja-catolica-queimou-cientistas/ http://portalconservador.com/a-igreja-catolica-queimou-cientistas/#comments Tue, 18 Jun 2013 19:58:47 +0000 Commodoro http://neoconservatism.us/?p=2092 read more →]]> Uma das alegações mais infantis, pueris e tolas que se podem vir dos apedeutas ateístas militantes, céticos desinformados e outros simplistas, é a alegação de que “a Igreja Católica queimava cientistas”. Bom, além da alegação estar absurdamente mal feita (nem a Igreja nem a Inquisição “queimaram” alguém. Isto demonstra um péssimo entendimento simplório da relação entre Igreja e estado e poder civil), é mal formulada. É preciso entender muita coisa antes de se chegar a conclusões precipitadas.

350px-Galileo_before_the_Holy_Office

Galileu diante do Santo Ofício – uma das táticas e fraudes mais usadas contra a Igreja Católica

Primeiro, já abordei esta questão em vídeo aqui sobre o caso do Giordano Bruno e aqui sobre Hipátia de Alexandria. Em nenhum caso, houve qualquer coisa a ver com “perseguição e opressão da Igreja contra a ciência, o conhecimento e liberdade de pensamento” (no caso de Bruno) e sim mais com questões internas a ver com heresia, ensinos controversos religiosos e tudo mais. Nada a ver com ciência. O caso de Hipátia já foi explicado que foi uma turba liderada por um tal leitor chamado Pedro que atacou a filósofa neoplatônica. Foi uma atitude individual e isolada e nada de “mando da Igreja para acabar com essa inoportuna inimiga do obscurantismo”.

Inquisição

Vamos avançar no tempo, para a época das Inquisições. As inquisições não eram sobre cientistas. Na verdade, a Igreja promoveu a pesquisa científica. E isto vamos demonstrar amplamente aqui no Logos, desbaratando as mentiras ateístas. Os jesuítas foram os pioneiros da pesquisa científica. Há um vídeo muito bom aqui. De forma geral, os jesuítas estiveram envolvidos com os saberes deixados pela física aristotélica e de outros textos clássicos que discutiam astronomia, óptica, geometria e mecânica. No período renascentista, por exemplo, Christoph Clavius (1538 – 1612) foi um dos mais importantes professores de matemática do período. Outros nomes como os de Manuel de Góis (1543 – 1597) e Matteo Ricci (1552 – 1612) foram de igual valor na manutenção e desenvolvimento das áreas de conhecimento já citadas.

As inquisições tratavam de heresias … e isso não tinha nada a ver com ciência. Muitos fundamentalistas críticos da Igreja que escrevem sobre a Inquisição contam com livros de Henry C. Lea (1825-1909) e GG Coulton (1858-1947). Cada um tem apresenta muitos fatos reais e cada progresso feito em pesquisa básica, e deve se dar crédito a eles. O problema é que eles não pesam bem os fatos, porque utilizavam de uma feroz animosidade em direção à Igreja que tinha pouco a ver com a própria Inquisição. O problema contrário não foi desconhecido. Poucos escritores católicos, especialmente aqueles menos interessados ​​em escavar a verdade do que em uma crítica difusa da Igreja, têm encoberto fatos incontestáveis ​​e tentaram encobrir a Inquisição. Isto é tanto um desserviço à verdade como um exagero de pontos ruins da Inquisição. Estes autores e apologistas bem-intencionados, mas equivocados são em certo sentido, muito parecido com Lea, Coulton e os escritores fundamentalistas contemporâneos. Eles temem que, enquanto outros esperam, que os fatos sobre a Inquisição possam provar a ilegitimidade da Igreja Católica.

Mas os fatos não conseguem fazer isso. A Igreja não tem nada a temer da verdade. Nenhum relato individual de loucura, zelo mal orientado, ou crueldade de católicos pode desfazer a base divina da Igreja, embora, na verdade, estas coisas sejam obstáculos para os católicos e não-católicos também.

incontro sala maria pyle (42)(42)De acordo com o professor Agostino Borromeo, historiador do catolicismo na Universidade Sapienza em Roma e curador do volume de 783 páginas, divulgado academicamente, apenas 1% das 125.000 pessoas julgadas por tribunais da igreja como hereges suspeitas na Espanha foram executadas. E nenhum desses foram “cientistas” ou teve algo a ver com a ciência. Suas descobertas apoiam as recentes teorias de alguns historiadores independentes que a Inquisição Espanhola foi exagerada em uma espécie de lenda (“La leyenda negra”, ou “lendas negras”, que foram propaganda anti-espanholas inventadas contra a Espanha e das quais ateístas e outros ainda continuam aceitando e divulgando como “reais”). Outros especialistas demonstraram que muitos dos milhares de execuções convencionalmente atribuídas à Igreja foram de fato realizadas por tribunais seculares e não “pela Igreja”. A Igreja não nega a sua responsabilidade pelas atrocidades cometidas pelos católicos em seu nome. Em 2000, o Papa pediu desculpas publicamente pela “violência” desnecessária utilizada e não pela instituição da Inquisição em si (que é muito mal compreendida por simplórios e deturpadores ateístas). É muito simplista e superficial achatar as coisas de acordo com a visão distorcida ateísta e marxista cultural da história.

Talvez a ficção mais flagrante na história de Dan Brown (autor de “O Código da Vinci”) é sua alegação da ‘purga de 1668′ onde a Igreja Católica é acusada de ter marcado cientistas com um sinal de a cruz para eliminá-los de seus pecados (p. 131). É evidente que isto é útil para a trama para que isso tenha ocorrido, mas isso não aconteceu. No entanto, deve ser também dito que algumas autoridades da Inquisição tem às vezes sido notoriamente brutal quando sentenciar os condenados por heresia. Ninguém está escondendo isso. O Logos não tenta “defender” tudo da Inquisição nem encobrir fatos. O Logos esclarece os fatos e dirime exageros (e os ateístas e céticos são pródigos em mentir e exagerar sobre isto e outros pontos).

O caso mais famoso a este respeito é a de Giordano Bruno. Nos anos 1600, Bruno – um padre dominicano – foi queimado na fogueira pela Igreja Católica Romana Igreja. Costuma-se dizer que ele foi morto por suas ideias científicas. É verdade que Bruno acreditava que o Universo era infinito e cheio de incontáveis outros mundos (na verdade, ele ensinava uma ideia hermética e ocultista, onde cada mundo tinha sua própria alma e era povoada por outros seres). O fato era que Bruno não era cientista nem propunha exatamente o que chamaríamos hoje de “ciências”. Sua matemática era primitiva e sua física especulativa. Não há evidência de que seu apoio ao copernicanismo afoi apresentado no tribunal, mas Bruno foi um defensor do sol ser o centro do universo, pois isto se encaixava bem com a visão egípcia do mundo. De acordo com o mito popular, Bruno foi executado por essas ideias, mas, tanto quanto sabemos, a ciência de Bruno não foi o problema. O que a Igreja considerava herética era a sua defesa de uma religião mágica e animista, a sua negação do divindade de Jesus e sua visão de que Jesus teve o que merecia, quando ele foi crucificado! O pior disso tudo, é que o herege Bruno ensinava tudo isso em universidades católicas que foram patrocinadas pela Igreja. Ou seja, cuspiu no prato em que comeu. E também, algumas autoridades podem ter errado na forma como julgaram e executaram Bruno (também discordamos a achamos injusta sua condenação) mas isto não dá respaldo para mentirosos ateístas e outros alegarem que ele morreu “como mártir da ciência”. A questão aqui é esta: Giordano Bruno foi queimado na fogueira para aceitar a teoria de Copérnico? Sobre e contra todos os comentários dos céticos que insistem que foi, temos o registro de seu julgamento (e seus próprios escritos sobre temas como a Trindade e a transmigração das almas) para mostrar que não foi.

É difícil, quase impossível de acreditar que até mesmo Max Kohler, chefe do CERN, alegou que cientistas (implicando Copérnico) “foram assassinados pela Igreja por revelarem a verdade. A religião sempre perseguiu a ciência”. Enquanto podemos, sem dúvida, encontrar a falha com a maneira pela qual a Igreja tem tratado alguns cientistas, historiadores não acreditam que qualquer cientista – incluindo Galileu – foram mortos ou ameaçados de morte pelo Igreja Católica por causa de suas pesquisas.

Galileu

cosmologia-galileu-galileiDe acordo com os céticos, o “Caso Galileu” foi uma questão simples; Galileu tinha novos dados científicos perigosos que a Igreja reprimiu. A realidade é, de longe, muito mais complexa. Tal como acontece com as outras imprecisões, a verdade vai de encontro às alegações ateístas e céticas e é importante saber que, enquanto os céticos afirmam que “os dados de Galileu foram incontestáveis”, na verdade os seus dados não foram convincentes, e que levaria muitos anos antes que qualquer evidência experimental viesse a ser persuasiva. E Galileu não sabia à época que o modelo geocêntrico do sistema solar “estava errado”, como alegam os céticos. É claro que, olhando com retrospectiva, podemos dizer que seu palpite estava extremamente bom.

O que os críticos não mencionam é que a pesquisa de Galileu foi inicialmente financiada pela Igreja. Isso é difícil de conciliar com a sugestão de que a Igreja simplesmente “assassinava cientistas onde poderiam ser encontrados”. Embora seja verdade que Galileu foi forçado para desistir de algumas opiniões pessoais a descrição da sua teoria de modo que fosse apenas uma proposta de modelo alternativo matemática e, em seguida, realizada sob a casa prisão para o resto de sua vida, ele nunca foi preso. Na verdade, ele foi autorizado a continuar sua pesquisa e publicou sua obra mais importante após a julgamento.

Heresia

220px-PopeGregoryIXO grande problema para a mentalidade simplista dos céticos é que não entendem uma palavra em jogo no meio: heresia. Podem discordar da validade e existência da palavra, mas isto não dá crédito e direito dos ateístas e céticos mentirem contra a Igreja. O que os céticos falham em entender é que a heresia não era só considera crime pela Igreja e sim pela sociedade civil. A Inquisição foi uma instituição católica mas as punições e execuções eram executadas pelo poder civil e desde o Império Romano. Não tem nada desse simplismo de ser “só coisa da Igreja Católica”, como saloios intelectuais alegam. 220px-PopeGregoryIXPor volta do ano 1100, os governantes seculares, conselhos da Igreja e papas, por causa da questão cátara (que também ameaçavam a ordem civil e pública) para a investigação e acusação de heresia, bem como para a punição dos hereges impenitentes. No entanto, tais esforços para combater a propagação de heresias, como o catarismo ficou desorganizada e ineficaz.

Para remediar a resposta desorganizada à heresia, o Papa Gregório IX (1227-1241) pôs-se à tarefa de levar a investigação de heresia no âmbito da disciplina da Santa Sé. O que chamamos de “Inquisição” é simplesmente o tribunal eclesiástico com juízes especialmente designados (inquisidores) responsáveis ​​perante tanto o bispo local e o papa, cuja tarefa era para investigar acusações de heresia, de forma sistemática e justo. A origem desta forma de investigação judicial, o inquisitio, não era a lei da Igreja, mas o Direito Romano como incorporado aos procedimentos de direito civil e canônicos. Gregório sabiamente contou com as novas ordens mendicantes, os franciscanos e os dominicanos, para lidar com a maior parte do trabalho inquisitorial. Vamos falar muito sobre tudo isso no Logos.

Conclusão

Dados os fatos, provas e documentos históricos, podemos afirmar com absoluta certeza, indo de encontro às mentiras dos críticos da Igreja, que nenhum cientista foi “morto pela Igreja por causa da ciência e pela liberdade de pensamento e expressão”. Os céticos estão ficando sem mentiras pra usar.

Publicado originalmente no Logos Apologética, artigo aqui.

]]>
http://portalconservador.com/a-igreja-catolica-queimou-cientistas/feed/ 3
A Renúncia do Bento XVI http://portalconservador.com/a-renuncia-do-bento-xvi/ http://portalconservador.com/a-renuncia-do-bento-xvi/#comments Sun, 26 May 2013 02:11:42 +0000 Commodoro http://neoconservatism.us/?p=785 read more →]]> Como aconteceu com praticamente todas as pessoas do mundo, no dia 11 de fevereiro de 2013 fiquei assombrado com a notícia da renúncia do papa Bento XVI, e, assim como todos, não entendi nada. Nunca tinha ouvido falar em um papa que houvesse renunciado ao pontificado! Hoje consigo entender a decisão de Bento XVI. No entanto, antes de compartilhar esse meu entendimento com os leitores, eu gostaria de fazer uma breve retrospectiva de como conheci essa personalidade formidável, quando ele ainda era chamado de cardeal Joseph Ratzinger.

No ano de 2002, se não me falha a memória, a Folha de São Paulo publicou em seu suplemento literário – intitulado “caderno mais” – uma matéria acerca do debate entre o então cardeal Ratzinger e o filósofo Jürgen Habermas, ambos alemães. O debate houvera ocorrido em sua terra natal, promovido por uma rede televisiva de lá. Eu, na época, que estava iniciando um curso universitário e já me interessava por filosofia, li com grande entusiasmo a matéria. Claro que eu torcia para Habermas – quem eu considerava um ilustre representante da razão moderna – e esperava que ele desse uma surra no cardeal, cuja figura eu acreditava representar uma ordem arcaica, medieval e ultrapassada. Ratzinger levou a melhor e acabei por ficar com birra dele; afinal, o cardeal havia demonstrado no debate profundos conhecimentos, não apenas em teologia, como também em filosofia.

Deixei a birra de lado, embora eu não conseguisse entender como alguém da Igreja Católica – essa “instituição tão ultrapassada” – pudesse dar uma surra num intelectual secular tão respeitado e glorificado pela mídia. Em 2005, quando da morte de João Paulo II, qual não foi minha surpresa ao constatar a eleição deste mesmo cardeal, de tão profundo conhecimento filosófico, e para o qual novamente torci o nariz após parte da imprensa o chamar de nazista. Não fui averiguar os fatos para checar se ele era nazista ou não, mas fiquei com mais reservas quanto a ele. Teve que passar muito tempo depois para que eu visse o tamanho do absurdo dessa acusação.

No entanto, em 2006, iniciei um mestrado strictu sensu em Estudos da Linguagem; e, em 2007, o já papa Bento XVI veio ao Brasil. Li a cobertura da mídia a respeito da visita e comecei a analisar seus discursos; pois, afinal, eu estava fazendo uma pós-graduação que implicava a análise de discursos o tempo todo, tal como laboratorialistas analisam uma amostra de sangue. Constatei que Bento XVI não pronunciava uma palavra fora do lugar, e que cada frase dele era uma resposta a perguntas feitas cotidianamente por milhões de pessoas.

O interessante era que estas as perguntas não eram aquelas feitas em público, mas as perguntas feitas na solidão, aquelas que fazemos a nós mesmos e a Deus antes de dormir, a expressão de nossas dúvidas mais insolúveis. Mais uma vez fiquei desconfiado e concluí: “não é possível que um homem seja tão bem informado para responder a perguntas feitas em segredo com tamanha precisão!” “Ele certamente deve ter um corpo de assessoria que lhe fornece material muito bem classificado e preciso para a elaboração de seus discursos”. Sucederam-se idéias desse tipo em minha mente, sem que eu conseguisse elaborar nada mais sólido do que meras especulações. Mais uma vez deixei passar, só que minha desconfiança com relação ao Papa só diminuía, ainda mais depois da dura reprimenda que ele desferiu contra os traficantes de drogas, ainda em 2007, aqui no Brasil. Compare essa ação a das nossas autoridades civis, as quais raramente têm coragem de enfrentar o tráfico, que manda e desmanda nestas plagas. Logo depois, fiquei sabendo dos inúmeros livros que ele escreveu, dos inúmeros discursos, das encíclicas, das conferências, e da sua atuação como catedrático em universidades de teologia. Ao mesmo tempo, aprofundei meus estudos em história e filosofia da linguagem (já no doutorado), e conheci as obras de pensadores da Igreja Católica, como Agostinho, Santo Tomás de Aquino, Duns Scotus, Pascal e Padre Antônio Vieira. Vi como Bento XVI era o seguidor da tradição teológica e filosófica sistematizada por todos esses grandes pensadores, que por sua vez, eram conhecedores da tradição filosófica de Sócrates, Platão e Aristóteles, ou seja, a tradição do conhecimento racional.

O salto de compreensão se deu quando fiquei sabendo do apreço de Bento XVI por Mozart, o compositor que mais se utilizou dos princípios da razão na música erudita. “Este é o papa da razão!”, concluí. Bento XVI havia me convencido da verdade da religião de Cristo, não pelo estímulo a minha fé, mas pelo estímulo intelectual que me seduziu devido ao meu apego à razão! Não poderia esmiuçar o que chamo aqui de verdade, tanto de fé, como de razão; a verdade é a complementação entre as duas (fé e razão). Esta é a verdade da Igreja Católica e não as distorções grosseiras que seus inimigos declarados dizem a respeito dela.

Passo agora a apresentar minha visão acerca da renúncia do papa. Considerando ser ele não apenas conhecedor profundo, como também o guardião da tradição do conhecimento filosófico e da fé em Cristo, penso que Bento XVI quis – e conseguiu – ministrar a maior lição de cristianismo que um papa poderia dar: sua renúncia é uma expressão das renúncias de Cristo por amor a Deus e a humanidade. Explico. Quando passou 40 dias no deserto, Jesus se deparou com a figura de Satanás, que tentou fazê-lo sucumbir à tentação de se tornar o Rei do mundo. Disse o invejoso: “Ajoelhe-se a meus pés e te farei o senhor deste mundo para todo o sempre”. É claro que Jesus o rechaçou. Um pouco depois, já na paixão, Pôncio Pilatos deu azo às inúmeras ridicularizações que Jesus sofreu a caminho da cruz, quando lhe perguntou: “você é o rei dos Judeus?”. Jesus se calou. Diante da insistência de Pilatos, Jesus respondeu, sereno: “meu reino não é deste mundo”. É claro que todos riram muito de Jesus, tanto que os soldados romanos colocaram nele a coroa de espinhos para zombar e ridicularizar de sua condição de “Rei dos judeus”.

Dito isso, qual maior lição de cristianismo poderia ser dada para o mundo atual – que idolatra o poder – do que a renúncia a um dos cargos de maior poder do planeta? Embora tenha perdido muito espaço, a Igreja Católica ainda é muito rica e poderosa, e o Papa, sendo o guardião de tão grandioso tesouro, desfruta de imenso poder. Mas o que faz Bento XVI? Aqueles que querem acabar com a Igreja de Cristo – e isso não é novidade, pois muitos imperadores romanos, bárbaros, secularistas e comunistas já tentaram, mesmo tendo incrível poder e força para isso – acusam o Papa de que? De ser rico, poderoso. Acusam-no de envolver-se em enredos de filmes de quinta categoria, daqueles que envolvem mordomos, ladrões, pedófilos e clérigos corruptos, imaginando-se que, assim como seus detratores, o Papa seria apegado às satisfações rasteiras deste mundo.

Não são poucos, inclusive, os que fazem o possível para ridicularizá-lo; no entanto, Bento XVI nos ensina com sua renúncia: “O reino da Igreja de Cristo não é deste mundo. A Igreja não governa este mundo. A Igreja está aqui para abrir as portas de um mundo mais amplo do que este, que o engloba, mas que não é excluído por ele. Eu, por ser um servo de Cristo, não posso, portanto, governar uma instituição deste mundo, que tem suas falhas, e que, portanto, é uma prova de que a verdadeira infalibilidade está unicamente em Cristo.” Bento XVI é o sucessor de Pedro, o apóstolo que recebeu de Jesus a incumbência de fundar sua Igreja. O sucessor de Pedro, agora papa emérito, irá morar em um simples mosteiro de uma pequenina cidade italiana. Saiu de um dos tronos de maior poder do mundo, para ir morar em uma simples morada interiorana. Alguém consegue imaginar uma atitude mais alinhada com a simplicidade de um pescador de peixes – e de almas – como a de Pedro, o primeiro dos Papas?

Dante Henrique Mantovani
Doutor em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina

]]>
http://portalconservador.com/a-renuncia-do-bento-xvi/feed/ 0
A difamação contra Pio XII http://portalconservador.com/a-difamacao-contra-pio-xii/ http://portalconservador.com/a-difamacao-contra-pio-xii/#comments Tue, 21 May 2013 02:18:11 +0000 Commodoro http://neoconservatism.us/?p=763 read more →]]> É sabido que os comunistas não conseguem conviver com o Papado, com o Cristianismo. Por isso, sempre que podem lançam mão de suas táticas para desmoralizá-los e prejudicá-los. Foi o que fizeram com o Papa Pio XII.

Por muito tempo foi alimentado o boato de que o Papa Pio XII, por ocasião da Segunda Guerra Mundial, havia sido um aliado de Hitler e que teria auxiliado e incentivado o Holocausto. No ano de 1963, foi lançada a peça teatral “O Vigário”, que teria o propósito de retratar o Papa Pio XII vinculando-o a Hitler, tachando-os de amigos.

Por ordem de Nikita Kruschev, a KGB montou uma farsa para incriminar o Papa, que já estava morto e não podia defender-se. Vários documentos falsos foram forjados, os quais davam a impressão de que havia uma afinidade, uma amizade entre Hitler e o Papa Pio XII. Tais documentos embasaram a peça teatral mencionada. Contudo, pela pesquisa histórica ocorrida quando os arquivos secretos da KGB foram abertos, o que se viu foi exatamente o contrário: Hitler odiava Pio XII e queria destruí-lo.

Diante disso, os comunistas utilizaram outra tática, a da desmoralização, pois, passaram a acusar Pio XII de ter silenciado diante das atrocidades de Hitler. O livro “O Papa de Hitler”, de John Cornwell, foi publicado em 1999 versando sobre essa mentira. O autor teria passado meses pesquisando nos arquivos do Vaticano, porém, isso não é verdade, pois ele não passou mais que algumas horas e teve pouquíssimo acesso aos arquivos. As teses por ele apresentadas não têm o menor fundamento.

Para quem deseja saber o que realmente dizem os arquivos secretos do Vaticano sobre Pio XII, o Nazismo, a Segunda Guerra Mundial, a indicação é o livro do Padre Pierre Blet, “Pio XII e a Segunda Guerra Mundial segundo os Arquivos do Vaticano”. Trata-se de uma investigação histórica séria e não uma farsa como a montada por John Cornwell.

Os mais desconfiados poderiam lançar a pergunta: como saber que realmente se trata de uma farsa forjada pelos comunistas? Em 2007, veio a público a confissão de um ex-agente da KGB, Ion Mihai Pacepa, o qual passou para o lado ocidental, abandonando o comunismo em 1978. Ele escreveu um livro (“Horizonte Vermelho”, lançado pela Editora Principia) relatando os crimes do ditador Nicolau Ceausescu e também da farsa montada contra Pio XII. Tais fatos foram bastante divulgados e são de fácil comprovação, basta querer a verdade.

A verdade, porém, não é algo facilmente suportado pelos comunistas. Para entender como eles e seus correlatos marxistas, socialistas, não existe a Verdade, mas tão somente a matéria, caótica, sem lógica, sem racionalidade. Para eles, o mundo material vive em um eterno conflito dialético e dentro desse mundo existem somente as ideias que são criações humanas para defender os próprios interesses. Assim, o que realmente importa é a ideologia, a criação de ideias para defender seus próprios interesses. Em nome deles, até mesmo a mentira é utilizada. É por isso que se torna uma redundância chamar um comunista de mentiroso.

E, como a mentira é o método de ação dos comunistas/marxistas/socialistas eles não conseguem debater com os cristãos, aliás, eles não entram em debates, pois, se o fizerem, perderão. É quase impossível. Dessa forma, procuram desmoralizá-los, como fizeram com o Papa Pio XII. Como não conseguem debater no campo das ideias, eles atacam a pessoa.

A verdade sobre Pio XII, enfim, apareceu. É preciso fazer com que ela seja conhecida pelo maior número de pessoas possível e, ao mesmo tempo, mostrar como é o método de ação dos comunistas, desmascarando-os. Faz parte da luta de cada cristão entender como os comunistas agem, como eles tratam aqueles que desejam permanecer fiéis à Igreja.

]]>
http://portalconservador.com/a-difamacao-contra-pio-xii/feed/ 1
Hitler era Cristão? http://portalconservador.com/hitler-era-cristao/ http://portalconservador.com/hitler-era-cristao/#comments Sun, 05 May 2013 22:43:37 +0000 Commodoro http://neoconservatism.us/?p=544 read more →]]> Com vergonha do legado assassino dos regimes comunistas ateus do Século XX, os líderes ateístas buscam empatar o placar com os crentes ao retratar Adolf Hitler e seu regime nazista como sendo teístas, mais especificamente Cristãos. Os websites ateístas rotineiramente alegam que Hitler era Cristão porque nasceu Católico, nunca renunciou ao seu Catolicismo e escreveu em Mein Kampf: “Ao me defender dos Judeus, defendo o trabalho do Senhor”. Os escritor ateu Sam Harris escreve que “o Holocausto marcou o auge de … 200 anos dos Cristãos fulminando os Judeus”, portanto, “sabendo disso ou não, os nazistas eram agentes da religião”.

Quão persuasivas são essas alegações? Hitler nasceu Católico assim como Stálin nasceu na tradição da Igreja Ortodoxa Russa e Mao Tsé Tung foi criado como Budista. Esses fatos não provam nada, pois muitas pessoas rejeitam sua criação religiosa, como esses três fizeram. O historiador Allan Bullock escreve que desde cedo, Hitler “não tinha tempo algum para os ensinos do Catolicismo, considerando-o como religião adequada somente para os escravos e detestando sua ética”.

Então como nós explicamos a alegação de Hitler de que ao conduzir seu programa anti-semítico estava sendo um instrumento da providência divina? Durante sua ascensão ao poder, ele precisava do apoio do povo alemão – tanto os Católicos da Bavária quanto dos Luteranos da Prússia – e para se assegurar disso ele utilizava retórica do tipo “Estou fazendo o trabalho do Senhor”. Alegar que essa retórica faz de Hitler um Cristão é confundir oportunismo político com convicção pessoal. O próprio Hitler diz em Mein Kampf que seus pronunciamentos públicos deviam ser entendidos como propaganda, sem relação com a verdade, mas planejados para influenciar as massas.

A idéia de um Cristo ariano que usa a espada para purgar os Judeus da Terra – o que os historiadores chamam de “Cristianismo Ariano” – era obviamente um afastamento radical do entendimento Cristão tradicional e foi condenado pelo Papa Pio XI no tempo. Além do mais, o anti-semitismo de Hitler não era religioso, era racial. Os Judeus foram atacados não por causa de sua religião – aliás, muitos Judeus alemães eram completamente seculares em seus estilos de vida – mas por causa de sua identidade racial. Essa era uma designação étnica e não religiosa. O anti-semitismo de Hitler era secular.

Hitler’s Table Talk [“Conversas informais de Hitler”, um livro] uma coleção reveladora das opiniões privadas do Führer, reunida por uma assistente próxima durante os anos de guerra, mostra Hitler como sendo furiosamente anti-religioso. Ele chamava o Cristianismo de uma das maiores “calamidades” da história, e disse sobre os alemães: “Vamos ser as únicas pessoas imunizadas contra essa doença”. Ele prometeu que “por intermédio dos camponeses seremos capazes de destruir o Cristianismo”. Na verdade, ele culpava os Judeus pela invenção do Cristianismo e também condenou o Cristianismo por sua oposição à evolução.

Hitler guardava um desdém especial pelos valores Cristãos da igualdade e compaixão, os quais ele identificou com a fraqueza. Os principais conselheiros de Hitler, como Goebbels, Himmler, Heydrich e Bormann eram ateus que odiavam a religião e buscavam erradicar sua influência da Alemanha.

Em sua História em vários volumes do Terceiro Reich, o historiador Richard Evans escreve que “os nazistas consideravam as igrejas como sendo os reservatórios mais fortes da oposição ideológica aos princípios nos quais eles acreditavam”. Quando Hitler e os nazistas chegaram ao poder lançaram uma iniciativa cruel para subjugar e enfraquecer as Igrejas Cristãs na Alemanha. Evans aponta que após 1937, as políticas do governo de Hitler se tornaram progressivamente anti-religiosas.

Os nazistas pararam de celebrar o Natal, e a Juventude de Hitler recitou uma oração agradecendo ao Fuhrer, ao invés de Deus, por suas bênçãos. Aos clérigos considerados como “problemáticos” era ordenado que não pregassem, centenas deles foram aprisionados e muitos foram simplesmente assassinados. As Igrejas estavam constantemente sob a vigilância da Gestapo. Os nazistas fecharam escolas religiosas, forçaram organizações Cristãs a se dissolverem, dispensaram servidores civis praticantes do Cristianismo, confiscaram propriedade da igreja e censuraram jornais religiosos. O pobre Sam Harris não é capaz de explicar como uma ideologia que Hitler e seus associados entendiam como uma renúncia ao Cristianismo pode ser apresentada como o “auge” do Cristianismo.

Se o nazismo representava o auge de algo, era o auge do Darwinismo social do final do Século XIX e início do XX. Como documentado pelo historiador Richard Weikart, tanto Hitler quanto Himmler eram admiradores de Darwin e freqüentemente falavam do papel deles como promulgadores de uma “lei da natureza” que garantiria a “eliminação dos ineptos”. Weikart argumenta que o próprio Hitler “construiu sua própria filosofia racista baseado em grande parte nas idéias do Darwinismo social” e conclui que embora o Darwinismo não seja uma explicação intelectual “suficiente” para o nazismo, é uma condição “necessária”. Sem o Darwinismo, talvez não houvesse nazismo.

Os nazistas também se inspiraram no filósofo Friedrich Nietzsche, adaptando a filosofia ateísta dele aos seus propósitos desumanos. A visão de Nietzsche do ubermensch [super-homem] e sua elevação a uma nova ética “além do bem e do mal” foram adotadas de forma ávida pelos propagandistas nazistas. A “sede pelo poder” de Nietzsche quase se tornou um slogan de recrutamento nazista. Em nenhum momento estou sugerindo que Darwin ou Nietzsche teriam aprovado as idéias de Hitler, mas este e seus comparsas aprovavam as idéias daqueles. Sam Harris simplesmente ignora as evidências das afinidades nazistas por Darwin, Nietzsche e o ateísmo. Então que sentido tem sua alegação de que os líderes nazistas eram “sabendo disso ou não” agentes da religião? Evidentemente, nenhum sentido.

Então, à montanha de corpos que os regimes misoteístas [que odeiam Deus] de Stálin, Mao, Pol Pot e outros produziram, nós devemos adicionar os mortos do regime nazista, também misoteísta. Assim como os comunistas, os nazistas deliberadamente atacaram os crentes, pois eles queriam criar um novo homem e uma nova utopia livre das amarras da religião e moralidade tradicional. Em um artigo anterior eu perguntei qual é a contribuição do ateísmo para a civilização. Uma resposta àquela questão: genocídio.

Traduzido por Maxiliano Mendes

Original aqui: http://townhall.com/columnists/DineshDSouza/2007/11/05/was_hitler_a_christian

]]>
http://portalconservador.com/hitler-era-cristao/feed/ 0
A anti-Igreja Comunista, verdadeira seita http://portalconservador.com/a-anti-igreja-comunista-verdadeira-seita/ http://portalconservador.com/a-anti-igreja-comunista-verdadeira-seita/#comments Thu, 02 May 2013 23:21:53 +0000 Commodoro http://neoconservatism.us/?p=541 read more →]]> 1. Em sua fase leninista e stalinista, a violência era a nota marcante do expansionismo comunista. Mas a partir de 1958, inicia-se com Khrushchov a fase do neocomunismo risonho e conciliador e da guerra psicológica revolucionária total

Há uma cortina de ferro, que se prolonga pela cortina de bambu, e que divide o mundo em duas frações. Sabemos que a fração que está do lado de lá é a fração inimiga. Por que razão existe essa divisão entre um lado e outro do mundo? Quais são os pontos de vista, os objetivos que diferenciam essas duas secções da humanidade?

A – Na nova fase, o comunismo estabelece um modus vivendi com a Igreja

As idéias que surgem, quando alguém formula estas perguntas, são das mais sumárias. Antes de tudo uma idéia muito vaga: os russos e chineses perseguem a Religião com penas atrozes, proíbem o funcionamento do culto. Mas esta idéia geral, sumária, indecisa, fica contrastada por certas notícias que nos vêm da Rússia, como por exemplo a de que no último Conselho Mundial das Igrejas o governo soviético mandou os bispos cismáticos participarem, e eles afirmaram representar trinta milhões de crentes da igreja cismática, soi-disant ortodoxa.

Tal notícia suscita uma pergunta: a igreja cismática está sendo perseguida lá, mas apesar disso tem trinta milhões de fiéis e uma hierarquia constituída, mesmo sendo, é verdade, a igreja cismática, e não a Católica. Não se terá atenuado o conflito entre o comunismo e a Igreja? E se uma igreja cismática, que sumariamente é cristã, pode entrar em entendimento com o governo soviético, poderiam também os católicos fazê-lo? Em outros termos, qual é a consistência desse muro divisório ideológico que nos separa dos países comunistas? É uma pergunta apenas esboçada em muitos espíritos, mas que paira no ar, e que a pessoa relativamente intelectualizada se formula quando lê notícias do tipo dessa que acabo de mencionar.

B – A idéia que havia no subconsciente das pessoas sobre a crueldade comunista foi modificada pelo neocomunismo mais ameno e conciliador

Essa pergunta não se põe apenas no campo da liberdade do culto católico. Os comunistas querem, por exemplo, a morte violenta de todos os capitalistas, de todos os burgueses, de todos os aristocratas, de todos os intelectuais, de todos aqueles que não são estritamente proletários.

Sobretudo no subconsciente das pessoas que têm mais de 40 anos, ficaram as reminiscências de morticínios de burgueses e nobres, praticados na Rússia logo que o comunismo subiu ao poder. A idéia do assassinato do Czar e da família imperial, e mil outras cenas de abjeto vandalismo, formam um fundo de quadro de crueldade, que gera por sua vez a impressão genérica de que isto se poderá repetir às nossas expensas.

Mas de lá também nos vêm sons que falam em outro sentido. Os técnicos, por exemplo, estariam agora muito bem colocados, no mundo comunista. Na China, muitos capitalistas teriam recebido cargos de dirigentes, nas mesmas fábricas e estabelecimentos de que foram outrora proprietários.

Será que o comunismo não se amenizou? Será que eu também não poderia ficar assim, se entrasse num acordo com eles? Um operário, um advogado vestido de macacão, um professor de cabeça raspada, meio proletarizado, mas enfim um ente humano, cujo destino, em todo caso, é menos horrível que o dos príncipes russos, que os bolchevistas atiraram em um poço de gasolina e acenderam fogo. Por detrás das idéias sumárias e negras sobre a crueldade comunista aparece, pois, uma pequena claridade, a esperança de alguma amenização, quiçá de uma conciliação.

C – A pressão psicológica da ameaça nuclear: vale a pena desencadear uma guerra mundial para defender a propriedade privada ameaçada pelos socialistas e comunistas?

A estas impressões junta-se outra, quanto à luta em prol da propriedade privada. Todo mundo sabe que o comunismo quer abolir a propriedade privada. Mas – pensam alguns – se é muito mal feito abolir a propriedade privada, vale a pena desencadear uma guerra mundial para evitar que ela seja abolida?

Pode-se pensar no reflexo dessa pergunta num novaiorquino, por exemplo. Uma pessoa de minha família esteve há algum tempo nos Estados Unidos. Contou-me que em São Francisco distribuíam folhetos, ensinando às pessoas como se salvar de um bombardeio atômico. Mapas distribuídos ao público, dividindo a cidade em várias zonas: numa, se a bomba cair, ficará tudo destruído e ninguém se salvará; noutra zona, caindo a bomba, muitas pessoas não morrerão, mas ficarão loucas, e outras poderão sair ilesas; matando os loucos agressivos que perambulassem pelas ruínas, estas poderão salvar-se.

Vendo isto, e pensando que a qualquer momento poderá ser a vítima da bomba, pensará uma pessoa que deve defender a propriedade privada, a tal ponto que se exponha aos riscos do bombardeio?

Poucas são as pessoas que pensam na propriedade privada, em si, como um princípio de ordem moral. A maioria é de horizontes mentais insuficientemente vastos para não verem a propriedade privada como um mero interesse pessoal legítimo, mas como uma instituição, como um valor da Civilização Cristã. Pensando na propriedade privada, pensam na sua propriedade, e em nada mais. E o bom senso do velho adágio, que diz “vão-se os anéis, mas fiquem os dedos”, começa a aflorar no sub-consciente de numerosas pessoas. Não é melhor proletarizar-se do que ficar um cadáver? O instinto de conservação responde que sim.

Surgem tais cogitações até na mente de pessoas muito corajosas em relação ao comunismo. E essas hipóteses, que na ordem concreta dos fatos se transformam em interrogação, indecisões e recuos, tem por isto mesmo um papel muito grande na atual luta entre o comunismo e o anticomunismo.

D – Principal objetivo da guerra psicológica revolucionária: tirar a vontade de lutar

Na realidade, o homem luta na medida em que a razão pela qual ele luta vale mais do que o esforço que ele desenvolve para lutar, e do que os riscos que corre lutando. Se ele acha que, lutando, evita males proporcionados a seu esforço e seu risco, então ele lutará. Mas se não estiver persuadido disto, ele poderá começar a lutar num primeiro momento de irritação, de cólera, de entusiasmo ou de irreflexão, mas ao cabo de algum tempo, quando vier o cansaço, quando vier o tédio, quando a briga perder a graça e começar a se tornar seriamente perigosa, surgirá uma série de interrogações em seu espírito. Diminuindo a vontade de lutar, tudo diminuirá na reação ao adversário.

Tenho a impressão de que nada há de mais perigoso para uma ordem social, para uma civilização, para um país, para seja o que for que queira sobreviver, do que perder a noção de que vale a pena arriscar tudo para lutar e para ganhar. A partir do momento em que essa convicção se apaga, a partir do momento em que nasce a idéia da possibilidade de um acordo que seja menos ruim que o horror da luta, começa uma espécie de defecção interna, que se manifesta por sintomas psicológicos discretos e insignificantes de início, mas que, na hora da pressão dos acontecimentos, dá a transparecer inevitavelmente um enfraquecimento interior, que conduz à derrota.

O advento do comunismo, fora ou dentro de nossas fronteiras, é um mal tão grande que, para evitá-lo, todas as lutas e todas as desgraças individuais, e até a morte, devem ser suportadas com coragem. Estamos numa dessas lutas de vida e de morte, em que comprar a vida por um recuo diante do adversário importa em fazer com que a vida não valha a pena ser vivida. Para um homem de caráter e de fé, mais vale a pena padecer a pior das mortes do que viver uma vida inglória, vergonhosa, de braços cruzados sob o tacão do comunismo. Focalizar isto, reavivar as razões pelas quais devemos lutar contra o comunismo, a meu ver é um dos elementos mais indispensáveis para que uma resistência anticomunista realmente tenha consistência, tenha dinamismo e seja eficaz.

2. A seita comunista, uma anti-igreja: doutrina hermética inacessível ao homem comum, que constitui uma espécie de crença anti-religiosa e dogmática, com fundamentos filosóficos equivocados. Sua meta é alcançar o poder para impor novos modos de ser, de pensar e de sentir, e assim formar uma nova cultura e uma nova civilização

Chamo a atenção para a sagacidade da propaganda comunista, que pouco fala sobre a doutrina comunista. Encontram-se livros comunistas à venda em livrarias comunistas. Tais livros são propriamente ilegíveis, pelo comum das pessoas, tal a quantidade de expressões técnicas complicadas, de cálculos que têm pressupostos, que por sua vez se prendem a outros pressupostos, de princípios filosóficos hirsutos e confusos. É preciso a pessoa passar por uma espécie de iniciação, adquirir certos conceitos primeiros e muito simples, para que aquela algaravia seja mais ou menos inteligível.

Uma pessoa que chegue a inteirar-se devidamente do conteúdo desses livros perceberá que a doutrina comunista constitui uma espécie de crença anti-religiosa, dogmática, coerente a partir do erro. Isto, aliás, é o que ela tem de pior, pois nada melhor do que a coerência na verdade, e nada de pior do que a coerência no erro. Fora do partido comunista, os supostos simpatizantes do comunismo não têm idéia nenhuma dessa doutrina. Pensa-se, no grande público, que os comunistas querem a igualdade dos bens, e que a partir do momento em que os bens forem todos nivelados eles estarão satisfeitos. Ora, se isto é verdade, e se de fato eles querem a divisão dos bens, ainda é mais verdade que eles não se contentam com isto.

Quando se estuda a doutrina comunista, percebe-se que se trata de uma verdadeira seita, de uma anti-igreja, que não acredita no sobrenatural, mas que está construída sobre certos preconceitos filosóficos. O nivelamento dos bens é uma das conseqüências, importante sem dúvida, mas apenas uma das conseqüências da doutrina filosófica comunista.

Se os comunistas vencerem, introduzirão o nivelamento dos bens, que é um mal em si, e que em si é contrário à doutrina católica. Mas não vem apenas isto: vem o domínio despótico de uma seita, que toma conta do governo, estabelece uma ditadura e organiza toda a vida de acordo com sua filosofia específica. É a cultura, é a civilização, são todos os modos de ser e de existir do homem, é o próprio homem no interior de sua alma, que tem que ser amoldado aos princípios dessa seita. Não é só o advento de uma nova civilização e uma nova cultura, que querem instituir, mas de uma nova humanidade modelada por esses princípios filosóficos.

A – O melhor meio para criar uma barreira intransponível contra o comunismo é denunciar o seu caráter sectário e os fundamentos filosóficos errados de sua doutrina

Conhecer bem este aspecto do comunismo, e os princípios errados que essa seita filosófica veicula, parece-me que é o meio melhor para criar contra o comunismo esta barreira intransponível, que contra ele se deve levantar. Deve-se mostrar que o comunismo é o erro completo, é a profissão de uma doutrina inteiramente falsa, que deforma o homem e elimina os valores que dão à vida seu sentido. E realmente mais vale a pena correr todos os riscos, mais vale a pena morrer, mais vale a pena enfrentar todas as desgraças do que cruzar os braços diante da perspectiva de que um tal estado de coisas seja estabelecido no Brasil e no mundo.

Reavivemos então as razões pelas quais devemos lutar contra o comunismo, estudando sua doutrina e pondo a nu o fel que sua maquiavélica propaganda procura esconder.

A doutrina comunista procede de duas teorias a respeito de dois pontos diferentes e fundamentais. Uma é a respeito da essência do universo, e outra é a respeito dos movimentos que no universo se dão.

3. O materialismo metafísico: tudo no universo é matéria e Deus não existe

Marx, que viveu no século XIX, adotou de Feuerbach, filósofo alemão anterior a ele, um sistema chamado materialismo metafísico. Tal sistema afirma que no mundo não há senão matéria, tudo é matéria. Nega a idéia de que existe o espírito, no sentido em que a Religião Católica o toma, isto é, um ser que não é feito de matéria. A idéia de que existe um Deus, puro espírito, ele a nega também. Tudo no universo não é senão matéria.

Segundo este sistema, a matéria passa por múltiplos fenômenos, que nada mais são do que a matéria que se modifica. Reações químicas, movimentos, tudo é apenas matéria.

Neste momento estamos conversando, e eu estou enunciando as idéias dessa escola. Para nós isto é um fenômeno espiritual. É a minha alma espiritual que produz tais idéias, e os senhores, através dos sentidos, as recebem em suas almas espirituais. Para eles, a própria idéia que eu lhes transmito é matéria, enquanto vibrando no ouvido de cada um dos senhores. Estamos colocados assim diante de um materialismo crasso.

4. O materialismo dialético, uma adaptação da teoria filosófica hegeliana sobre o movimento

Ao lado dessa concepção, cumpre lembrar rapidamente a teoria do movimento. É uma teoria que os comunistas chamam de dialética, e que dá origem ao chamado materialismo dialético.

O que é dialética? Engels, que era genro de Marx, é reputado, enquanto sistematizador das idéias marxistas, superior ao próprio Marx. Ele definia a dialética como sendo a ciência das leis gerais do movimento, tanto do mundo interno quanto do externo. O movimento do universo é externo, mas dentro de mim também há movimentos: movimentos orgânicos, o movimento de meu cérebro, o movimento de minha inteligência, que também é matéria em movimento.

Para exprimir bem seu pensamento a este respeito, Marx se servia das idéias de outro filósofo alemão, Hegel, que sob certo ponto de vista estava em posição oposta a Marx. Hegel era espiritualista, afirmava que tudo é espírito. Até o braço dessa cadeira não seria para ele senão um espírito, colocado em certa situação de condensação. Marx rejeitou o aspecto espiritualista da teoria de Hegel, e afirmou que tudo é matéria. Mas quanto às idéias sobre o movimento de todo o universo – universo que Hegel reputava espiritual, e Marx reputava material – Marx as aceitou, transpondo-as para a matéria.

A – O movimento do pensar humano: tese, antítese e síntese

Analisemos como se desenrola este fenômeno material, que é o pensar. Penso algo. Diante do pensamento que concebi – digamos que movido por certa vacilação interior – sou tentado a passar, e passo, para uma posição contrária, duvidando e mesmo negando o que há pouco cheguei a afirmar. Depois chego à síntese, terceiro pensamento que engloba os dois primeiros.

Para esclarecer o assunto, consideremos um exemplo sem grande valor filosófico. Imaginemos uma pessoa que está no escuro, e que procura pegar um objeto. Tomando-o, tem dele uma primeira impressão. Mas como está no escuro e não o pode ver, à força de pegar o objeto passa à idéia oposta, isto é, conclui que o objeto não é isto, mas aquilo. Depois, à força de apalpar, conclui que o objeto não corresponde à primeira, nem à segunda, mas a uma terceira impressão, que reúne alguns elementos das duas impressões anteriores. Essa pessoa formou uma tese, depois uma antítese, isto é, uma afirmação contrária à tese, e por fim uma síntese, isto é, um ponto de repouso terminal daquele ciclo de pensamento, em que chegou a uma espécie de equilíbrio entre as duas posições anteriores.

Dizia Marx que os homens individualmente, e também as sociedades humanas – segundo Hegel, também o próprio equilíbrio universal, que se concretiza num objeto qualquer, numa cadeira, num papel, numa casa – tudo passa por um movimento assim. Algo é afirmado, passa-se depois à antítese desse algo afirmado, depois chega-se à síntese. Esta síntese, por sua vez, faz o papel de tese em relação a uma outra antítese, que vai gerar uma outra síntese. E assim, cambaleando de meias verdades em meias verdades, ou de meios erros em meios erros, o espírito humano vai destilando algo que representa sempre uma posição nova, e que contém um enriquecimento das posições antigas. Por sua vez, esta posição não chega a ser uma verdade absoluta – porque a verdade absoluta, como os católicos a concebemos, não é atingível – mas, pelo menos, representa algo de mais rico do que os elementos que vieram antes.

B – O movimento no universo: a transformação incessante da matéria, as quatro modalidades de movimento, a relatividade de todas as coisas

Tudo na humanidade, tudo no universo é matéria, vivendo neste movimento de tese, antítese e síntese. É necessário ver o sentido que Marx dá a estas palavras, para bem compreender. Pode-se dizer que há aí três princípios.

Princípio da transformação incessante da matéria. Tudo está constantemente se transformado. Nós estamos aqui conversando, e à medida que conversamos há um desgaste individual, que conduz ao envelhecimento. Passamos por transformações da vida, até o momento final. Com todos os seres acontece isto, tudo se transforma constantemente. Este princípio, em sua expressão mais material, Lavoisier o enunciou para os seres inanimados: No universo nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Isto é verdade para os seres puramente materiais, e não para os seres que têm alma, como nós. Ou então há apenas uma parcela de verdade, já que nossa alma não está sujeita a essas transformações enunciadas por Lavoisier. Mas Marx, que era materialista puro, achava que este princípio se aplica a tudo, desde que só há matéria.

Princípio das quatro modalidades do movimento. O movimento é, antes de tudo, um deslocamento. Mas há outras formas de movimento, que não são deslocamentos mas transformações. Por exemplo, quando a fisionomia de uma pessoa vai mudando com o curso do tempo. Há um certo tipo de transformações que são aparecimentos, e um outro tipo que são os desaparecimentos. Temos então: deslocamento, transformação, aparecimento e desaparecimento.

Princípio da relatividade de todas as coisas. Se tudo está sempre se transformando, se tudo passa a ser constantemente outra coisa, tudo acaba sendo relativo, nada tem valor absoluto, nada é eterno, nada é sagrado. A única coisa que existe de fato é a matéria, e essa transformação permanente.

Vem a propósito lembrar aqui a doutrina do turbilhão vital. Os fisiologistas afirmam que toda a matéria existente no corpo humano, de 7 em 7 anos é substituída (segundo outros há um limite até 14 anos). Assim, todas as substâncias de que o corpo humano era composto, em determinada época, após 7 anos já terão sido substituídas por outras. Quando nasci, eu era constituído por determinada matéria. Com 7 ou 14 anos, já nada possuía daquela matéria.

Se não sou senão matéria, e toda a matéria originariamente existente em mim desapareceu, devo dizer que morri dentro de mim mesmo, ou que me esfarelei. A sensação de continuidade pessoal que tenho aos 14 anos, em relação ao indivíduo que eu era ao nascer, é pura ilusão; aos 28 anos isto se repete, e assim por diante. Ora, o que assegurou a unidade de minha pessoa? Eu era aos 14 ou 20 anos um certo conglomerado de matéria, e me desfiz. Mas há uma porção de coisas que não eram eu – plantas e animais que comi, bactérias que respirei – e passaram a ser eu. Se comi um frango, a incorporação daquele frango a mim fez com que o frango passasse em parte a ser eu. Mas se uma fera comeu algum homem, é o homem que parcialmente se torna fera.

Há então entre o homem, o frango e a fera uma espécie de reversibilidade. Segundo esta concepção, tudo é mutável e reversível. Eu sou perfeitamente relativo, e tão precário e relativo que a minha continuidade pessoal, minha identidade comigo mesmo nem sequer se sustenta ao longo do tempo.

Poder-se-ia fazer uma objeção. Os fisiologistas dizem que o esqueleto não muda. Mas será que o esqueleto é o que garante nossa continuidade pessoal? É fácil perceber que cairíamos tão baixo, ficaríamos tão reduzidos, nesta concepção, que menos não é possível ser. Perderíamos o respeito de nós mesmos, a noção de nossa própria dignidade. Se aceitamos o materialismo, caímos aos nossos próprios olhos numa tal diminuição, que equivale moralmente à própria destruição de nossa personalidade.

Está discretamente afirmada nessa visão materialista uma concepção do homem muito depreciativa. Sublinho a expressão discretamente porque, se bem que essa concepção seja conseqüência rigorosamente necessária de todo o pensamento materialista, e portanto comunista, chama a atenção o fato de os comunistas não apregoarem abertamente essa conseqüência. Ela é um elemento velhacamente velado da sua doutrina. Quem não esteja com o espírito muito deteriorado sente horror a uma concepção dessas, e se arma logo em luta contra ela.

Este é um dos tantos refolhos da doutrina comunista, comparáveis às dobras de uma sanfona. Quando se vê uma sanfona espremida, ela é uma coisa; quando está aberta, vê-se outra muito maior. É preciso ter em mente, para julgar o comunismo, não só as noções sumárias que correm na rua, veiculadas pelo Partido, mas também todas as conseqüências em que essas noções implicam. Só assim se chega a compreender bem o que é o inimigo que está diante de nós.

C – Características do movimento universal: o evolucionismo radical

Marx apontou alguns elementos como características do movimento universal: 1) Autodinamismo; 2) Ação recíproca; 3) Lei do progresso universal; 4) Lei da contradição; 5) Salto qualitativo.

Autodinamismo. Tomemos um exemplo dado pelo próprio Marx: uma árvore que dá uma fruta, uma maçã. Essa fruta se forma no galho da árvore, chega à sua maturidade completa, cai, apodrece e liberta as sementes. Essas sementes libertadas dão origem a outras árvores, etc. Há neste fenômeno o movimento da natureza, que é a tese: a maçã nasce. Depois a antítese: certas forças letais da maçã, que ela traz consigo ao nascer, entram em luta com ela, para provocar sua destruição. Em seguida a síntese: a maçã morta libera as sementes, que darão uma árvore, a qual dará outras maçãs. A vida, a morte, a ressurreição, o aparecer, o desaparecer, o germinar, são as realidades concretas do mundo dos fatos palpáveis. O autodinamismo da maçã é um movimento interno, que a leva a nascer, amadurecer, desaparecer e liberar seus frutos.

Ação recíproca. A realização na maçã desse processo de tese, antítese e síntese se conjuga necessariamente com outros processos naturais. Por exemplo: o vento, o tempo, o clima, e outros fatores enfim. O universo se compõe de milhões de processos que se emaranham, que ao se emaranhar se apóiam, e ao mesmo tempo entram em luta. Esta interação é que faz com que o universo funcione.

Lei do progresso universal. Este movimento de tese, antítese e síntese não é um círculo vicioso. Não é uma só árvore, da qual sai uma só maçã, da qual sai uma só semente, do qual sai uma árvore, e assim por diante. É um movimento progressivo: uma árvore dá muitas maçãs, as maçãs contêm muitos caroços, desses caroços nascerão muitas árvores, das quais sairão muitas maçãs. Assim como acontece com a maçã, acontece com tudo quanto há no universo. Tudo está crescendo, há um pregresso constante de tudo.

Lei da contradição. Dentro de si, cada coisa tem algo que tende a matá-la: há uma luta. Marx chega a dizer que cada ser não é senão um equilíbrio de movimentos contrários, de forças contrárias. Esta lei é capital para compreendermos mais adiante a ferocidade do comunismo.

Salto qualitativo. Há uma noção marxista curiosa, que nos ajuda ainda mais a compreender a concepção comunista: é o salto qualitativo brusco. Diz ele que num determinado momento dessa evolução – tomando a água, por exemplo – acrescenta-se uma, duas ou três partículas de hidrogênio, que se somam à água original. Mas aquela soma produz um efeito especial, e a água inicial muda de qualidade, dando origem a um outro ser. Dá-se o salto qualitativo brusco.

Em função disso, à medida que os seres vão progredindo, vão mudando de qualidade. A doutrina do salto qualitativo brusco explica, segundo Marx, a origem material do espírito. A matéria, num determinado momento, teria chegado a um tal grau de sutileza, a um tal grau de excelência, que se transformou num gênero novo de matéria, de alto quilate, que nós, por pobreza de expressão, por pobreza de conceitos, chamamos de espírito, mas que não é mais do que a matéria em estado sublime.

Houve saltos qualitativos no universo, segundo Marx. Em virtude deles apareceram as plantas, os animais; depois apareceu este animal excelente, que é o homem, apareceu o pensamento humano, e ninguém sabe o que vai aparecer depois. Mas isto não pára. De salto qualitativo em salto qualitativo, iremos indefinidamente para a frente. Depois do homem pode aparecer algo de ainda mais excelente. O que será? Ninguém o pode prever, como na era em que só havia plantas era imprevisível o que seria o homem.

Este é um dos pontos em cuja interpretação os críticos do marxismo mais se enganam. Pensam eles que Marx admite uma espécie de ponto final da evolução. É um engano. Do homem vai nascer – ou melhor, está nascendo – um tipo de homem tão quintessenciado, que não vai mais precisar do governo, e vai viver inteiramente livre. Será o período feliz da anarquia ordenada. Depois surgirá qualquer coisa que nem se pode imaginar, mas a matéria – a que tudo se reduz – irá sempre em ascensão.

5. O materialismo histórico

Essas leis do movimento da matéria regem o universo inteiro, e portanto também a parte mais nobre do universo, que é a humanidade, ou melhor, a parte mais evoluída do universo, posto que “nobre” não é uma palavra marxista.

Essas várias leis do movimento da matéria que acabamos de ver aplicam-se ao próprio mover da humanidade, que é a História. De que maneira? Procuram os marxistas interpretar toda a História de acordo com essas leis. É assim que, do materialismo dialético, nasceu o que se chama materialismo histórico.

O materialismo histórico é uma interpretação da História, procurando provar que são verdadeiras as leis que, segundo Marx, regem a História. Toda a História, tão difícil de analisar em sua imensa complexidade, vista do ângulo marxista se torna inteligível até nas suas mais extremas profundezas.

Todas as sociedades humanas, segundo Marx, estão numa evolução contínua. A elas podemos aplicar alguns princípios já vistos:

A transformação incessante. Há uma espécie de força interna pela qual, na história da humanidade, houve primeiro a escravidão. A escravidão gerou algo que é diferente dela, e que é a servidão. O escravo é aquele que pode ser tratado como uma coisa, podendo ser morto, destruído. A servidão é a escravatura já modificada, evoluída. Neste sentido, é a antítese da escravatura. O servo tem direito à vida, à propriedade, à família, se bem que esteja sob a autoridade de um senhor. A escravatura (tese) gerou depois uma antítese, que é a servidão. A servidão e o feudalismo, que para Marx constituem um todo só, por seu choque geraram algo de especificamente diverso, que é o plebeu livre, o burguês – uma síntese.

O progresso universal. A burguesia vem a ser o contrário do feudalismo e da escravidão antiga, mas constitui um progresso. É o mundo do dinheiro, o mundo da liberdade, o mundo dos negócios, o mundo do ouro, do prazer, um mundo mais desvencilhado dos preconceitos religiosos.

A contradição. Mas desta série tese-antítese-síntese sai uma outra antítese, que é a sociedade proletária, socialista, que está contida na tese como o burguês está contido no feudal, como o feudal está contido no servo e o servo no escravo. Por este movimento chegaremos ao socialismo e comunismo, depois à anarquia – uma liberdade inteira sem desordem nem caos – que é o ponto final do comunismo. Este sistema é a linha previsível, para eles, da história da humanidade. Por esse movimento, o homem alienado como escravo foi ficando cada vez mais dono de si, mais livre, rejeitando todos os jugos: do Senhor, do patrão, dos deuses (meros mitos) e dos governos.

A – Primazia do econômico na História e na vida

Como a matéria rege tudo, o mundo físico – isto é, a economia, o dinheiro – domina toda a sociedade. A influência da economia vai produzir todo o encadeamento dos processos: processos de idéias, de instituições, de leis, de cultura, de arte, tudo evolui à base da economia. As próprias religiões são apenas reflexos da economia. Como a economia está toda baseada no instrumento de trabalho, é a história dos instrumentos de trabalho a nervura essencial da história das religiões, artes, ciências, culturas.

Pode-se justificar o coletivismo exatamente assim. No tempo da Idade Média havia o artesanato. Um operário, para fabricar um objeto, levava muito tempo, e o trabalho era individual, por causa da natureza individual do instrumento de trabalho. Concebia-se então a propriedade privada. Mas a partir do momento em que os instrumentos de trabalho passaram a se tornar coletivos – uma fábrica faz objetos em série, e muitos homens produzem o mesmo objeto – a produção se tornou coletiva. A partir desse momento a propriedade privada perdeu a sua razão de ser, e deve tornar-se coletiva.

Em conseqüência, a razão de tudo, na História, se encontra na evolução dos instrumentos de trabalho. Para uma pessoa cuja mentalidade lhe diz que a economia domina tudo, isto é muito razoável, porque imagina que só existe a matéria.

B – O salto qualitativo e a luta de classes

Vejamos agora no que consiste, na História da Humanidade, o salto qualitativo. De acordo com a marcha da História, o senhor feudal, que representou uma evolução em relação ao senhor de escravos, está na origem do processo de decadência do feudalismo. Ele representa a tese, que é o feudalismo então vigente. Vem a antítese, a burguesia, que vai lutar contra o senhor feudal. O senhor feudal resiste, porque tende a conservar a tese. A antítese vai crescendo, e dá o salto qualitativo sobre o senhor feudal. O salto é a luta, a briga, o assalto, o morticínio.

A violência está no âmago desse processo, dessa dialética, desse entrechoque. É preciso que haja violência. Era forçoso que dos ataques saíssem outros ataques; que tivessem ocorrido muitas tragédias de sangue; que o morticínio, o “paredón”, tivessem despontado na História. Porque é da fricção desses movimentos contrários que a História se movimenta. Se uma pessoa fosse evitar tais coisas, se evitasse a luta de classes, evitaria o salto qualitativo, que é o melhor da História.

O salto qualitativo é o salto agressivo dos que estão em baixo, superando os que estão em cima. É um mundo novo que nasce das entranhas do mundo velho, que o quer destruir. O antigo deve defender-se, e o novo deve atacar. Tem que sair a luta. Isto está na essência da História. Essa luta, a luta de classes, que a nós causa horror, é o próprio âmago da História.

C – A nocividade da Religião segundo a doutrina comunista: evita o salto qualitativo

Aparece aí uma enorme crítica, que eles fazem não tanto à Religião – da qual, como materialistas, negam tudo – mas ao papel histórico da Religião. Para eles, religião é uma quimera. Jesus Cristo foi admitido como Deus em conseqüência de um longo conjunto de processos, que derivaram de uma modificação qualquer nos instrumentos de trabalho na bacia do Mediterrâneo. Isto de dizer que o Verbo de Deus se encarnou e habitou entre nós, que nasceu de uma Virgem pelo poder do Espírito Santo, que depois cresceu em graça e sabedoria, que remiu os homens pecadores, que abriu o Céu, tudo isto é para eles um conjunto de mitos, que decorrem dos instrumentos de trabalho. A banalidade destas negações não suscita de nossa parte qualquer comentário especial.

Qual é, para os marxistas, o papel da Religião na História? Qual o papel desses mitos? Papel malfazejo, pois evita o salto qualitativo, evita a dialética, a luta. Um padre diz ao homem que aceite as dores da vida, porque no Céu terá a recompensa. O homem, aquiescendo a isto, não luta. O padre diz ao patrão que tenha pena do empregado, porque no Céu será recompensado também. O patrão, prestando auxílio ao empregado, frustra a luta de classes, ou seja, o salto qualitativo. Na sua função pacificadora ela evita os choques, que são o bem da História.

Note-se que é das profundezas de doutrina comunista que sai a idéia, não só da impossibilidade da aceitação da Religião, mas da nocividade da Religião. Para o comunista, a Religião é um mito, e é o mito nocivo por excelência, é o mal na História.

6. A concepção depreciativa que a doutrina comunista tem do homem, da sociedade e da Religião

1) Necessidade de um eterno conflito entre os homens, para que a humanidade vá para frente.

2) Negação de todo o papel da Religião, porque ela é um mito nascido de instrumentos de trabalho, e o progresso dos instrumentos de trabalho vai varrê-la, substituindo-a pelo ateísmo completo. Para o marxismo, a Religião é o mal.

3) Uma concepção do homem em que ele não é um ser individualizado, com uma alma espiritual imortal, elemento capital de sua personalidade, que faz com que esse ser não se confunda com nenhum outro que houve e haverá até o fim do mundo. De maneira tal que, quando eu for julgado por Deus e for misericordiosamente levado ao Céu, como espero, eu ainda serei eu mesmo. Se fosse mandado para o inferno, também seria eu mesmo.

4) Negação do direito de propriedade e outros direitos e valores fundamentais.

Desta natureza espiritual e pessoal vem a todo homem o direito ao produto de seu trabalho, o direito a ter economias e ser proprietário, o direito a ter mais do que os outros, porque Deus deu a uns mais do que a outros. Daí vem a noção de uma sociedade humana constituída sobre direitos individuais e sobre uma hierarquia de pessoas de valor desigual. Mais ainda, uma sociedade humana constituída sobre uma hierarquia de famílias desiguais. Como o filho é a carne da carne, o sangue do sangue de seus pais, as desigualdades dos indivíduos se projetam em uma desigualdade de famílias, que tem algo de hereditário e está na própria essência da família. De onde termos sociedades baseadas na hereditariedade, na hierarquia, na tradição, em valores perenes, precisamente porque baseados na família, que é o receptáculo da tradição. Baseadas na idéia da alma espiritual, essas sociedades tomam a Religião como o maior de seus valores.

Ao contrário disso, o comunismo nega a personalidade do homem. Em conseqüência, nem vem em conta perguntar se um homem tem direito à sua vida. Isto não tem sentido, pois está morrendo a toda hora. Não tem direito a nada, pois é um composto heterogêneo do frango que comeu ontem, mais a alface que comeu anteontem. E podemos acabar com ele, como com o frango e o alface, contanto que vá para frente a evolução eterna da matéria, através do processo já descrito, das violentas explosões da dialética e do salto qualitativo.

7. Conclusão: a guerra sem tréguas ao comunismo é a única atitude razoável

Compreende-se que, a partir do momento em que uma tal concepção do mundo prevalecesse, o homem seria tão pouco, a vida seria tão miserável e tão mesquinha, que o último homem que discordasse dessas idéias só teria duas coisas a fazer: combater o comunismo, fazendo novos prosélitos, ou ajoelhar-se e pedir a Deus que o levasse desta vida.

Diante do comunismo, a posição não pode ser de salvar a vida e tentar conciliações, com a idéia de que se pode entrar em acordo com ele, mas o contrário: expor a vida, não aceitar conciliações, não aceitar nenhum acordo. A guerra sem tréguas ao comunismo é a única atitude razoável, sobretudo dentro de nossas fronteiras. Entre nós e o comunismo há muito mais que muralhas de ferro ou de bambu: há uma diversidade insolúvel, na concepção da vida e da Religião, uma diferença que põe em jogo tudo que faz a vida digna de ser vivida.

Autor: Plínio Corrêa de Oliveira

]]>
http://portalconservador.com/a-anti-igreja-comunista-verdadeira-seita/feed/ 0
Absurdo amar Jesus sem a Igreja http://portalconservador.com/absurdo-amar-jesus-sem-a-igreja/ http://portalconservador.com/absurdo-amar-jesus-sem-a-igreja/#comments Tue, 23 Apr 2013 13:58:51 +0000 Commodoro http://neoconservatism.us/?p=508 read more →]]> O Papa Francisco voltou a condenar a tendência de se separar a fé em Jesus Cristo da pertença à Igreja. Numa época marcada pela indiferença religiosa, as palavras do Santo Padre soaram como um duro golpe no slogan moderno “Jesus sim, Igreja não”. Para Francisco, isso “é uma dicotomia absurda”.

As palavras do Papa foram proferidas nesta manhã, durante a homilia da Missa que celebrou na Capela Paulina, por ocasião de seu onomástico, São Jorge.

Apesar do alerta de Francisco, é comum encontrar pessoas que pensam dessa maneira. Já o Papa Pio XII denunciava essa recusa à Igreja como algo diabólico. O Santo Padre elencava os três “nãos” do diabo: o primeiro era à Igreja, o segundo a Cristo e o terceiro ao próprio Deus. Uma verdade que salta aos olhos, sobretudo quando se analisa as tantas e tantas teologias que se afastaram do Magistério dos Santos Padres: acabaram inventando um Jesus muito distante daquele do Evangelho.

A Igreja é, por excelência, o lugar comum e legítimo para profissão da fé. Tanto é verdade que o Papa Paulo VI se expressou desta forma na Encíclica Evangelii Nuntiandi: “é ela (a Igreja) que tem a tarefa de evangelizar. E essa tarefa não se realiza sem ela e, menos ainda, contra ela”. Ora, se a Igreja é o Corpo de Cristo, de que maneira se pode amar a Cristo e não o seu Corpo? Por conseguinte, Paulo VI se recordava das Palavras do próprio Senhor para lamentar por aqueles que renunciam a Igreja, a pretexto de uma fé “independente”: “Quem vos rejeita é a mim que rejeita”.

E de fato, aqueles que renunciaram aos ensinamentos da Igreja acabaram por renunciar ao próprio Deus. Pensa-se em um Cristo histórico de várias faces: o hippie, o comunista, o revolucionário, o reformador, o moralista. Mas em nenhum se encontra a face real do Bom Pastor. Não são o Cristo do Evangelho, mas o Cristo feito à imagem e semelhança de seus ideólogos. Um Cristo sem fé, sem cruz e, portanto, sem redenção. Não é por menos que o Papa Francisco abominou as interpretações ideológicas do Evangelho, tachando-as de “falsificações”:

“Toda interpretação ideológica, de qualquer parte vier, é uma falsificação do Evangelho. E esses ideólogos – como vimos na história da Igreja – acabam por se tornar intelectuais sem talento, moralistas sem bondade. Nem falemos de beleza, porque disso eles não entendem nada”

Assim como ensinou o Papa Francisco, não pode existir fé em Cristo se não existir fé na Igreja. Não se trata de imperialismo religioso ou dogmatismo, mas simples fidelidade e coerência com a vontade de Deus. Aqueles que não reconhecem isso, não são capazes de reconhecer mais nada. E não é de se impressionar. Para isso, bastam as palavras de G.K. Chesterton: “Não me intimido com um jovem cavalheiro dizer que ele não pode submeter seu intelecto ao dogma, pois duvido que ele alguma vez tenha usado seu intelecto o suficiente para definir o que seja um dogma.”

Neste sentido, a missão do católico é resgatar “o dom da força cristã, o mesmo que teve São Jorge quando deixou o uniforme militar para vestir o uniforme da fé”, disse o Santo Padre recordando seu onomástico. Assim, o site padrepauloricardo.org, além de celebrar com toda Igreja essa data especial para o Papa Francisco, gostaria de reforçar esse convite do Pontífice para que o fiel católico tenha a coragem de vivenciar a sua fé em total comunhão com a Igreja, ou seja, com o Sucessor de São Pedro.

Autor: Equipe Christo Nihil Praeponere

]]>
http://portalconservador.com/absurdo-amar-jesus-sem-a-igreja/feed/ 0
A Cruzada do Século XX http://portalconservador.com/cruzada-do-sec-xx/ http://portalconservador.com/cruzada-do-sec-xx/#comments Thu, 04 Apr 2013 20:48:38 +0000 Commodoro http://neoconservatism.us/?p=30 read more →]]>

Na Idade Média, os cruzados derramaram seu sangue para libertar das mãos dos infiéis o Sepulcro de N. S. Jesus Cristo, e instituir um Reino Cristão na Terra Santa.

Hoje, corre de novo o sangue dos filhos da Igreja, na Hungria, e na Polônia, como na Checoslováquia e na China. Para que? Para libertar a Cristandade do jugo do anti-Cristo comunista, e restaurar no mundo o Reino de Cristo. Mas o que é o Reino de Cristo, ideal supremo dos católicos, e, pois, meta constante desta folha?

É o que procuramos definir na enumeração de princípios, marco luminar de nossa atividade.

O Reino de Cristo

A Igreja Católica foi fundada por N. S. Jesus Cristo para perpetuar entre os homens os benefícios da Redenção. Sua finalidade se identifica, pois, com a da própria Redenção: expiar os pecados dos homens pelos méritos infinitamente preciosos do Homem-Deus; restituir assim a Deus a glória extrínseca que o pecado Lhe havia roubado; e abrir aos homens as portas do Céu. Esta finalidade se realiza toda no plano sobrenatural, e com ordem à vida eterna. Ela transcende absolutamente tudo quanto é meramente natural, terreno, perecível. Foi o que N. S. Jesus Cristo afirmou, quando disse a Pôncio Pilatos “meu Reino não é deste mundo” (João, 18-36).

* A vida terrena se diferencia, assim, e profundamente, da vida eterna. Mas estas duas vidas não constituem dois planos absolutamente isolados um do outro. Há nos desígnios da Providência uma relação íntima entre a vida terrena e a vida eterna. A vida terrena é o caminho, a vida eterna é o fim. O Reino de Cristo não é deste mundo, mas é neste mundo que está o caminho pelo qual chegaremos até ele.

* Assim como a Escola Militar é o caminho para a carreira das armas, ou o noviciado é o caminho para o definitivo ingresso numa Ordem Religiosa, assim a terra é o caminho para o Céu.

Temos uma alma imortal, criada à imagem e semelhança de Deus. Esta alma é criada com um tesouro de aptidões naturais para o bem, enriquecidas pelo batismo com o dom inestimável da vida sobrenatural da graça. Cumpre-nos, durante a vida, desenvolver até a sua plenitude estas aptidões para o bem.

Com isto, nossa semelhança com Deus, que era em algum sentido ainda incompleta e meramente potencial, torna-se plena e atual.

A semelhança é a fonte do amor. Tornando-nos plenamente semelhantes a Deus, somos capazes de O amar plenamente, e de atrair sobre nós a plenitude de Seu amor.

Ficamos, assim, preparados para a contemplação de Deus face a face, e para aquele eterno ato de amor, plenamente feliz, para o qual somos chamados no Céu.

A vida terrena é, pois, um noviciado em que preparamos nossa alma para seu verdadeiro destino, que é ver a Deus face a face, e amá-Lo por toda a eternidade.

* Apresentando a mesma verdade em outros termos, podemos dizer que Deus é infinitamente puro, infinitamente justo, infinitamente forte, infinitamente bom. Para O amarmos, devemos amar a pureza, a justiça, a fortaleza, a bondade. Se não amamos a virtude, como podemos amar a Deus que é o Bem por excelência? De outro lado, sendo Deus o Sumo Bem, como pode amar o mal? Sendo a semelhança a fonte do amor, como pode Ele amar a quem é totalmente dissemelhante dEle, a quem é consciente e voluntariamente injusto, covarde, impuro, mau?

Deus deve ser adorado e servido sobretudo em espírito e em verdade (João 4,25). Assim, cumpre que sejamos puros, justos, fortes, bons, no mais íntimo de nossa alma. Mas se nossa alma é boa, todas as nossas ações o devem ser necessariamente, pois que a árvore boa não pode produzir senão bons frutos (Mat.7,17-18). Assim, é absolutamente necessário, para que conquistemos o Céu, não só que em nosso interior amemos o bem e detestemos o mal, mas que por nossas ações pratiquemos o bem e evitemos o mal.

* Mas a vida terrena é mais do que o caminho da eterna bem-aventurança. O que faremos no Céu? Contemplaremos Deus face a face, à luz da glória, que é a perfeição da graça, e O amaremos inteiramente e sem fim. Ora, o homem já goza da vida sobrenatural nesta terra, pelo Batismo. A Fé é uma semente da visão beatífica. O amor de Deus, que ele pratica crescendo na virtude e evitando o mal, já é o próprio amor sobrenatural com que ele adorará a Deus no Céu.

O Reino de Deus se realiza na sua plenitude no outro mundo. Mas para todos nós ele começa a se realizar em estado germinativo já neste mundo. Tal como em um noviciado, já se pratica a vida religiosa, embora em estado preparatório; e em uma escola militar um jovem se prepara para o Exército… vivendo a própria vida militar.

E a Santa Igreja Católica já é neste mundo uma imagem, e mais do que isto, uma verdadeira antecipação do Céu.

Por isto, tudo quanto os Santos Evangelhos nos dizem do Reino dos Céus pode com toda a propriedade e exatidão ser aplicado à Igreja Católica, à Fé que ela nos ensina a cada uma das virtudes que ela nos inculca.

* É este o sentido da festa de Cristo Rei. Rei Celeste antes de tudo. Mas Rei cujo governo já se exerce neste mundo. É Rei quem possui de direito a autoridade suprema e plena. O Rei legisla, dirige e julga. Sua realeza se torna efetiva quando os súditos reconhecem seus direitos, e obedecem a suas leis. Ora, Jesus Cristo possui sobre nós todos os direitos. Ele promulgou leis, dirige o mundo e julgará os homens. Cabe-nos tornar efetivo o Reino de Cristo obedecendo a suas leis.

* Este reinado é um fato individual, enquanto considerado na obediência que cada alma fiel presta a N. S. Jesus Cristo. Com efeito, o Reinado de Cristo se exerce sobre as almas; e, pois, a alma de cada um de nós é parcela do campo de jurisdição de Cristo Rei. O Reinado de Cristo será um fato social se as sociedades humanas Lhe prestarem obediência.

Pode-se dizer, pois, que o Reino de Cristo se torna efetivo na terra, individual e social, quando os homens no íntimo de sua alma como em suas ações, e as sociedades em suas instituições, leis, costumes, manifestações culturais e artísticas, se conformam com a Lei de Cristo.

* Por mais concreta, brilhante e tangível que seja a realidade terrena do Reino de Cristo — no século XIII, por exemplo — é preciso não esquecer que este Reino não é senão preparação e proêmio. Na sua plenitude, o Reino de Deus se realizará no Céu: “O meu Reino não é deste mundo…” (João, 18-36).

Ordem, Harmonia, Paz, Perfeição

* A ordem, a paz, a harmonia, são características essenciais de toda a alma bem formada, de toda a sociedade humana bem constituída. Em certo sentido, são valores que se confundem com a própria noção de perfeição.

Todo o ser tem um fim próprio, e uma natureza adequada à obtenção deste fim. Assim, uma peça de relógio tem fim próprio, e, por sua forma e composição, é adequada à realização deste fim.

* A ordem é a disposição das coisas, segundo sua natureza. Assim, um relógio está em ordem quando todas as suas peças estão ordenadas segundo a natureza e o fim que lhes é próprio. Diz-se que há ordem no universo sideral porque todos os corpos celestes estão ordenados segundo sua natureza e fim.

* Existe harmonia quando as relações entre dois seres são conformes à natureza e o fim de cada qual. A harmonia é o operar das coisas umas em relação às outras, segundo a ordem.

* A ordem engendra a tranqüilidade. A tranqüilidade da ordem é a paz. Não é qualquer tranqüilidade que merece ser chamada paz mas apenas a que resulta da ordem. A paz de consciência é a tranqüilidade da consciência reta: não pode confundir-se com o letargo da consciência embotada. O bem estar orgânico produz uma sensação de paz que não pode ser confundida com a inércia do estado de coma.

* Quando um ser está inteiramente disposto segundo sua natureza, está em estado de perfeição. Assim uma pessoa com grande capacidade de estudo, grande desejo de estudar, posta em uma Universidade em que haja todos os meios para fazer os estudos que deseja, está posta, do ponto de vista dos estudos, em condições perfeitas.

* Quando as atividades de um ser são inteiramente conformes à sua natureza, e tendem inteiramente para seu fim, estas atividades são, de algum modo, perfeitas. Assim, a trajetória dos astros é perfeita, porque corresponde inteiramente à natureza e ao fim de cada qual.

* Quando as condições em que um ser se encontra são perfeitas, suas operações o são também, e ele tenderá necessariamente para o seu fim, com o máximo da constância, do vigor e do acerto. Assim se um homem está em condições perfeitas para andar, isto é, sabe, quer e pode andar, andará de modo irrepreensível.

* O verdadeiro conhecimento do que seja a perfeição do homem e das sociedades depende de uma noção exata sobre a natureza e fim do homem.

* O acerto, a fecundidade, o esplendor das ações humanas, quer individuais, quer sociais, também está na dependência do conhecimento de nossa natureza e fim.

* Em outros termos, a posse da verdade religiosa é a condição essencial da ordem, da harmonia, da paz e da perfeição.

A perfeição cristã

* O Evangelho nos aponta um ideal de perfeição “sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mat. 5,48). Este conselho que nos foi dado por N. S. Jesus Cristo, Ele mesmo no-lo ensina a realizar. Com efeito, Jesus Cristo é a semelhança absoluta da perfeição do Pai Celeste; o modelo supremo que todos devemos imitar.

N. S. Jesus Cristo, suas virtudes, seus ensinamentos, suas ações, são o ideal definido da perfeição para o qual o homem deve tender.

* As regras desta perfeição se encontram na Lei de Deus, que N. S. Jesus Cristo “não veio abolir, mas completar” (Mat. 5,17), nos preceitos e conselhos evangélicos. E para que o homem não caísse em erro no interpretar os mandamentos e os conselhos, N. S. Jesus Cristo instituiu uma Igreja infalível, que tem o amparo divino para nunca errar em matéria de Fé e moral. A fidelidade de pensamento e de ações em relação ao magistério da Igreja é pois o modo pelo qual todos os homens podem conhecer e praticar o ideal de perfeição que é N.S. Jesus Cristo.

* Foi o que fizeram os Santos que praticando de modo heróico as virtudes que a Igreja ensina, realizaram a imitação perfeita de N.S. Jesus Cristo e do Pai Celeste. É tão verdadeiro que os Santos chegaram à mais alta perfeição moral que próprios inimigos da Igreja quando não os cega a impiedade, o proclamam. De São Luís, Rei da França, por exemplo, escreveu Voltaire: “Não é possível ao homem levar mais longe a virtude”. O mesmo se poderia dizer de todos os Santos.

 * Deus é o autor de nossa natureza, e, pois, de todas as aptidões e excelências que nela se encontram. Em nós, só o que não provém de Deus são os defeitos, frutos do pecado original ou dos pecados atuais.

O Decálogo não poderia ser contrário à natureza que Ele próprio criou em nós: pois, sendo Deus perfeito, não pode haver contradição em suas obras.

Por isto, o Decálogo nos impõe ações que a nossa própria razão nos mostra serem conformes com a natureza, como honrar pai e mãe, e nos proíbe ações que pela simples razão vemos serem contrárias à ordem natural, como a mentira.

* Nisto consiste, no plano natural, a perfeição intrínseca da Lei, e a perfeição pessoal que adquirimos praticando-a. É que todas as operações conformes à natureza do agente são boas.

* Em conseqüência do pecado original, ficou o homem com propensão de praticar ações contrárias à sua natureza retamente entendida. Assim, ficou sujeito ao erro no terreno da inteligência, e ao mal no campo da vontade.

Tal propensão é tão acentuada, que, sem o auxílio da graça, não seria possível aos homens conhecer nem praticar, duravelmente e em sua totalidade, os preceitos da ordem natural. Revelando-os, no alto do Sinai, instituindo, na Nova Aliança, uma Igreja destinada a protegê-los contra os sofismas e as transgressões do homem, e os Sacramentos e outros meios de piedade destinados a fortalecê-lo com a graça, remediou esta insuficiência do homem.

A graça é um auxílio sobrenatural, destinado a robustecer a inteligência e a vontade do homem para lhe permitir a prática da perfeição. Deus não recusa a graça a ninguém. A perfeição é, pois, acessível a todos.

* Pode um infiel conhecer e praticar a Lei de Deus? Recebe ele a graça de Deus? Cumpre distinguir. Em princípio, todos os homens que têm contato com a Igreja Católica recebem graça suficiente para conhecer que ela é verdadeira, nela ingressar, e praticar os Mandamentos. Se, pois, alguém se mantém voluntariamente fora da Igreja, se é infiel porque recusa a graça da conversão, que é o ponto de partida de todas as outras graças, fecha para si as portas da salvação. Mas se alguém não tem meios de conhecer a Santa Igreja — um pagão, por exemplo, cujo país não tenha recebido a visita de missionários — tem a graça suficiente para conhecer, pelo menos os princípios mais essenciais da Lei de Deus, e os praticar, pois Deus a ninguém recusa a salvação.

* Cumpre entretanto observar que, se a fidelidade à Lei exige sacrifícios por vezes heróicos dos próprios católicos que vivem no seio da Igreja banhados pela superabundância da graça e de todos os meios de santificação, muito maior ainda é a dificuldade que têm em praticá-la os que vivem longe da Igreja, e fora desta superabundância. É o que explica serem tão raros — verdadeiramente excepcionais — os gentios que praticam a Lei.

O ideal cristão da perfeição social

* Se admitirmos que em determinada população a generalidade dos indivíduos pratica a Lei de Deus, que efeito se pode esperar daí para a sociedade? Isto equivale a perguntar se, em um relógio, cada peça trabalha segundo sua natureza e seu fim, que efeito se pode esperar daí para o relógio? Ou, se cada parte de um todo é perfeita, o que se deve dizer do todo?

* Há sempre algum risco em exemplificar com coisas mecânicas, em assuntos humanos. Atenhamo-nos à imagem de uma sociedade em que todos os membros fossem bons católicos, traçada por Santo Agostinho: imaginemos “um exército constituído de soldados como os forma a doutrina de Jesus Cristo, governadores, maridos, esposos, pais, filhos, mestres, servos, reis, juizes, contribuintes, cobradores de impostos como os quer a doutrina cristã! E ousem (os pagãos) ainda dizer que essa doutrina é oposta aos interesses do Estado! Pelo contrário, cumpre-lhes reconhecer sem hesitação que ela é uma grande salvaguarda para o Estado, quando fielmente observada” (Epíst. CXXXVIII al. 5 ad Marcellinum, cap. II, n. 15).

E em outra obra o Santo Doutor, apostrofando a Igreja Católica, exclama: “Conduzes e instrues as crianças com ternura, os jovens com vigor, os anciãos com calma, como comporta a idade não só do corpo mas da alma. Submetes as esposas a seus maridos, por uma casta e fiel obediência, não para saciar a paixão, mas para propagar a espécie e constituir a sociedade doméstica. Conferes autoridade aos maridos sobre as esposas, não para que abusem da fragilidade do seu sexo, mas para que sigam as leis de um sincero amor. Subordinas os filhos aos pais por uma terna autoridade. Unes não só em sociedade, mas em uma como que fraternidade os cidadãos aos cidadãos, as nações às nações, e os homens entre si, pela recordação de seus primeiros pais. Ensinas aos reis a velar pelos povos, e prescreves aos povos que obedeçam os reis. Ensinas com solicitude a quem se deve a honra, a quem o afeto, a quem o respeito, a quem o temor, a quem o consolo, a quem a advertência, a quem o encorajamento, a quem a correção, a quem a reprimenda, a quem o castigo; e fazes saber de que modo, se nem todas as coisas a todos se devem, a todos de deve a caridade e a ninguém a injustiça” (De Moribus Ecclesiae, cap. XXX, n. 63).

* Seria impossível descrever melhor o ideal de uma sociedade inteiramente cristã. Poderia em uma sociedade a ordem, a paz, a harmonia, a perfeição ser levada a limite mais alto? Uma rápida observação nos baste para completar o assunto. Se hoje em dia todos os homens praticassem a Lei de Deus, não se resolveriam rapidamente todos os problemas políticos, econômicos, sociais, que nos atormentam? E que solução se poderá esperar para eles enquanto os homens viverem na inobservância habitual da Lei de Deus?

* A sociedade humana realizou alguma vez este ideal de perfeição? Sem dúvida. Di-lo o imortal Leão XIII: operada a Redenção e fundada a Igreja, “como que despertando de antiga, longa e mortal letargia, o homem percebeu a luz da verdade, que tinha procurado e desejado em vão durante tantos séculos; reconheceu sobretudo que tinha nascido para bens muito mais altos e muito mais magníficos do que os bens frágeis e perecíveis que são atingidos pelos sentidos, e em torno dos quais tinha até então circunscrito seus pensamentos e suas preocupações. Compreendeu ele que toda a constituição da vida humana, a lei suprema, o fim a que tudo se deve sujeitar, é que, vindos de Deus, um dia devamos retornar a Ele.

“Desta fonte, sobre este fundamento, viu-se renascer a consciência da dignidade humana; o sentimento de que a fraternidade social é necessária fez então pulsar os corações; em conseqüência, os direitos e deveres atingiram sua perfeição, ou se fixaram integralmente, e, ao mesmo tempo, em diversos pontos, se expandiram virtudes tais, como a filosofia dos antigos sequer pôde jamais imaginar. Por isto, os desígnios dos homens, a conduta da vida, os costumes tomaram outro rumo. E, quando o conhecimento do Redentor se espalhou ao longe, quando sua virtude penetrou até os veios íntimos da sociedade, dissipando as trevas e os vícios da antigüidade, então se operou aquela transformação que, na era da Civilização Cristã, mudou inteiramente a face da terra” (Leão XIII Encíclica “Tametsi futura prospiscientibus”, I-XI-1900).

A Civilização cristã — a cultura cristã

* Foi esta luminosa realidade, feita de uma ordem e uma perfeição antes sobrenatural e celeste, do que natural e terrestre, que se chamou a civilização cristã, produto da cultura cristã, a qual por sua vez é filha da Igreja Católica.

* Por cultura do espírito podemos entender o fato de que determinada alma não se encontra abandonada ao jogo desordenado e espontâneo das operações de suas potências — inteligência, vontade, sensibilidade — mas, pelo contrário, por um esforço ordenado e conforme à reta razão adquiriu nestas três potências algum enriquecimento: assim como o campo cultivado não é aquele que faz frutificar todas as sementes que o vento nele caoticamente deposita, mas o que, por efeito do trabalho reto do homem, produz algo de útil e bom.

* Neste sentido, a cultura católica é o cultivo da inteligência, da vontade e da sensibilidade segundo as normas da moral ensinada pela Igreja. Já vimos que ela se identifica com a própria perfeição da alma. Se ela existir na generalidade dos membros de uma sociedade humana (embora em graus e modos acomodados à condição social e à idade de cada qual), ela será um fato social e coletivo. E constituirá um elemento — o mais importante — da própria perfeição social.

* Civilização é o estado de uma sociedade humana que possui uma cultura, e que criou, segundo os princípios básicos desta cultura, todo um conjunto de costumes, de leis, de instituições, de sistemas literários e artísticos próprios.

Uma civilização será católica, se for a resultante fiel de uma cultura católica e se, pois, o espírito da Igreja, for o próprio princípio normativo e vital de seus costumes, leis instituições, e sistemas literários e artísticos.

* Se Jesus Cristo é o verdadeiro ideal de perfeição de todos os homens, uma sociedade que aplique todas as Suas leis tem de ser uma sociedade perfeita, a cultura e a civilização nascidas da Igreja de Cristo tem de ser forçosamente, não só a melhor civilização, mas, a única verdadeira. Di-lo o Santo Pontífice Pio X: “Não há verdadeira civilização sem civilização moral, e não há verdadeira civilização moral senão com a Religião verdadeira” (Carta ao Episcopado Francês, de 28-VIII-1910, sobre “Le Sillon”). De onde decorre com evidência cristalina que não há verdadeira civilização senão como decorrência e fruto da verdadeira Religião.

A Igreja e a Civilização Cristã

* Engana-se singularmente quem supuser que a ação da Igreja sobre os homens é meramente individual, e que ela forma pessoas, não povos, nem culturas, nem civilizações.

* Com efeito, Deus criou o homem naturalmente sociável, e quis que os homens, em sociedade, trabalhassem uns pela santificação dos outros. Por isto, também, criou-nos influenciáveis. Temos todos, pela própria pressão do instinto de sociabilidade, a tendência a comunicar em certa medida nossas idéias aos outros, e, em certa medida, em receber a influência deles. Isto se pode afirmar nas relações de indivíduo a indivíduo, e do indivíduo com a sociedade. Os ambientes, as leis, as Instituições em que vivemos exercem efeito sobre nós, têm sobre nós uma ação pedagógica.

* Resistir inteiramente a este ambiente, cuja ação ideológica nos penetra até por osmose e como que pela pele, é obra de alta e árdua virtude. E por isto os primitivos cristãos não foram mais admiráveis enfrentando as feras do Coliseu, do que mantendo íntegro seu espírito católico embora vivessem no seio de uma sociedade pagã.

Assim, a cultura e a civilização são fortíssimos meios para agir sobre as almas. Agir para a sua ruína, quando a cultura e a civilização são pagãs. Para a sua edificação e sua salvação, quando são católicas.

Como, pois, pode a Igreja desinteressar-se em produzir uma cultura e uma civilização, contentando-se em agir sobre cada alma a título meramente individual?

* Aliás, toda a alma sobre a qual a Igreja age, e que corresponde generosamente a tal ação, é como que um foco ou uma semente desta civilização, que ela expande ativa e energicamente em torno de si. A virtude transparece e contagia. Contagiando, propaga-se. Agindo e propagando-se tende a transformar-se em cultura e civilização católica.

* Como vemos, o próprio da Igreja é de produzir uma cultura e uma civilização cristã. É de produzir todos os seus frutos numa atmosfera social plenamente católica. O católico deve aspirar a uma civilização católica como o homem encarcerado num subterrâneo deseja o ar livre, e o pássaro aprisionado anseia por recuperar os espaços infinitos do Céu.

E é esta nossa finalidade, o nosso grande ideal. Caminhamos para a civilização católica que poderá nascer dos escombros do mundo de hoje, como dos escombros do mundo romano nasceu a civilização medieval. Caminhamos para a conquista deste ideal, com a coragem, a perseverança, a resolução de enfrentar e vencer todos os obstáculos, com que os cruzados marcharam para Jerusalém. Porque, se nossos maiores souberam morrer para reconquistar o sepulcro de Cristo, como não queremos nós – filhos da Igreja como eles – lutar e morrer para restaurar algo que vale infinitamente mais do que o preciosíssimo Sepulcro do Salvador, isto é, seu reinado sobre as almas e as sociedades, que Ele criou e salvou para O amarem eternamente?

Catolicismo Nº 1 – janeiro de 1951

Retirado de http://www.pliniocorreadeoliveira.info/1951_001_%20CAT_%20A_cruzada_do_seculo_XX.htm

]]>
http://portalconservador.com/cruzada-do-sec-xx/feed/ 2
Igreja Católica, Mãe da Civilização Ocidental http://portalconservador.com/icar-mae-da-civilizacao-ocidental/ http://portalconservador.com/icar-mae-da-civilizacao-ocidental/#comments Fri, 15 Mar 2013 01:29:35 +0000 Commodoro http://neoconservatism.us/?p=76 read more →]]>

Toda vez que um protestante, um comunista, ateu ou qualquer outro inimigo da Igreja, que gosta de erroneamente chamar a Idade Média de “trevas”, citar redondamente enganado, que a Igreja é “primitiva”, é “medieval” e que eles mesmos são da era do celular, televisão, DNA, Genética, Genoma, Física, fibra ótica, viagens espaciais ou energia nuclear, deveriam receber dos católicos a resposta:

“Nós não tivemos essas coisas na Idade Média porque estávamos ocupados em inventá-las e descobri-las para que as tenhas hoje.” – e indagar-lhes - “os que pensam como ti, o que oferecerão ás futuras gerações?”

Hoje, há professores como Thomas Woods graduado na Universidade de Harvard e é doutor em História pela Universidade de Columbia, Edward Grant escrevendo livros editados pela Universidade de Cambridge, Thomas Goldstein, A.C.Crombie, David Lindberg e muitos outros. E todos eles concordam que, você mente, quando alega que a Igreja foi uma oponente das ciências. Pelo contrário, há aspectos do pensamento católico que foram indispensáveis para o desenvolvimento da ciência.

Confira como a Igreja Católica construiu a Civilização Moderna e a livrou da ignorância e do massacre dos Bárbaros:

- A Igreja Católica teve de empreender a tarefa de introduzir a lei do Evangelho e o Sermão da Montanha entre os povos Bárbaros, que tinham o homicídio como a mais honrosa ocupação e a vingança como sinônimo de justiça. (Christopher Dawson);

- A Igreja Católica forneceu mais ajuda e apoio financeiro ao estudo da Astronomia, por mais de seis séculos – da recuperação do saber antigo da Baixa Idade Média ao Iluminismo -, do que qualquer outra e, provavelmente, todas as outras instituições. (J.L.Heilbron – Universidade da Califórnia, em Berkeley);

- A Igreja funda a primeira universidade do mundo, em Bolonha, na Itália. A criação da instituição dá à Europa o impulso intelectual que desembocaria no Renascimento no século XIV, e na Revolução Científica, entre os séculos VXI e XVII.

- Reginald Grégoire (1985), afirma: “os monges deram a toda a Europa… uma rede de fábricas, centros de criação de gado, centros de educação, fervor espiritual, … uma avançada civilização emergiu da onda caótica dos bárbaros”. Ele afirma que: “Sem dúvida alguma S. Bento (o mais importante arquiteto do monarquismo ocidental) foi o Pai da Europa. Os Beneditinos e seus filhos, foram os Pais da civilização Européia”;

- O nosso padrão de contar o tempo foi criado por um monge católico chamado Dionísio, por volta do início do século 4;

- Foram os católicos escolásticos que criaram a Ciência Econômica Moderna. Foram eles que criaram a economia, e não os secularistas do Iluminismo;

- São Mesrob, sacerdote católico, foi o criador do alfabeto armênio.

- Os Jesuítas – da Companhia de Jesus – foram tão exímios nas ciências que, neste exato momento, 35 crateras lunares têm o nome de cientistas jesuítas;

- São Cirilo e Metódio, no século IX, desenvolveram um alfabeto para o velho idioma eslavo, este se tornou o precursor do alfabeto russo “cirílico”. Em 885, são Metódio traduziu a Bíblia inteira neste idioma;

- O católico franciscano Roger Bacon (séc 13), que lecionava na Universidade de Oxford, é considerado o precursor da revolução científica;

- O monge matemático Jordanus Nemorarius, além dos conhecimentos que contribuiu à matemática introduzindo os sinais de “mais” e de “menos”, iniciou a investigação dos problemas da mecânica, superando a visão dos problemas do equilíbrio. Foi o fundador da escola medieval de mecânica, foi o primeiro em formular corretamente a “lei do plano inclinado” e pesquisou sobre a conservação do trabalho nas máquinas simples.

- Os Jesuítas estão entre os maiores matemáticos da história;

- O abade Nicolau Copérnico foi o astrônomo e matemático que desenvolveu a teoria heliocêntrica do Sistema Solar. Sua teoria do Heliocentrismo, que colocou o Sol como o centro do Sistema Solar, contrariando a então vigente teoria geocêntrica (que considerava, a Terra como o centro), é tida como uma das mais importantes hipóteses científicas de todos os tempos, tendo constituído o ponto de partida da astronomia moderna.

- O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão (1685 -1724), foi um cientista e inventor nascido no Brasil Colônia. Famoso por ter inventado o primeiro aeróstato operacional, era chamado de “o padre voador”, é uma das maiores figuras da história da aeronáutica mundial. Ele também é o inventor de uma “máquina para a drenagem da água alagadora das embarcações de alto mar.”

- Papa Gregório XIII, foi quem nos deu o Calendário Gregoriano, que é o calendário utilizado na maior parte do mundo, e em todos os países ocidentais. A China o aprovou em 1912.

- Jean Buridan (1300-1358) foi um filósofo e padre francês, que desenvolveu e popularizou a “teoria do Ímpeto”, que explicava o movimento de projéteis e objetos em queda livre. Essa teoria pavimentou o caminho para a dinâmica de Galileu e para o famoso princípio da Inércia, de Isaac Newton;

- Nicole d’Oresme (c.1323-1382) era teólogo dedicado e Bispo de Lisieux, foi um gênio intelectual e talvez o pensador mais original do século XIV. Foi um dos principais propagadores das ciências modernas. Na “Livre du ciel et du monde” (1377), Oresme se opôs à teoria de uma Terra estacionária como proposto por Aristóteles e, neste trabalho, ele propôs a rotação da Terra, cerca de 200 anos antes de Copérnico. No entanto, ele estragou um pouco este belo pedaço de pensamento, rejeitando suas próprias idéias, no final dos trabalhos e assim, como Clagett escreve, não pode ser considerada como a reivindicação de que a Terra girava antes de Copérnico. Ele escreveu “Questiones Super Libros Aristotelis de Anima lidar”, com a natureza da luz, reflexão da luz e da velocidade da luz, discutidos em detalhes.

- O monge Luca Bartolomeo de Pacioli é considerado o pai da contabilidade moderna. Um dos seus alunos foi Leonardo da Vinci;

- O padre paraibano Francisco João de Azevedo, é reconhecido como inventor e construtor da máquina de escrever. O que temos certeza é que a máquina realmente existiu, funcionava, foi exposta ao público, ganhou medalhas, e, o mais importante, em dezembro de 1861, portanto antes que Samuel W. Soule e seus dois parceiros, em 1868, recebessem a formalização da patente nos Estados Unidos;

- De acordo com o Dicionário de Biografia Científica, santo Alberto Magno, que ensinou na Universidade de París, era habilidosos em todos os ramos da ciência, “foi um dos mais famosos precursores da Ciência Moderna na Alta Idade Média”. Desde 1941 ele é declarado o “patrono de todos que cultivam as ciências naturais”;

- O padre Nicolas Steno é considerado o pai da Estratigrafia, que estuda as camadas de rochas sedimentares formadas na superfície terrestre. Um geólogo precisa conhecer os princípios de Steno.

- Jean-Antoine Nollet, foi abade e físico francês, se constitui como um grande divulgador da física e da eletricidade em particular. Construiu alguns dos primeiros eletroscópios, a sua própria máquina eletrostática, e também uma versão “seca” da garrafa de Leiden.

- Os jesuítas no século 18 contribuíram para o desenvolvimento do relógio de pêndulo, pantógrafos, barômetros, telescópios e microscópios refletores para campos científicos variados como: magnetismo, ótica e eletricidade. Eles observaram, às vezes antes que de qualquer outro, as faixas coloridas dos anéis na superfície de Júpiter, a Nebulosa de Andômeda e anéis de Saturno. Eles teorizaram sobre a circulação do sangue, independentemente de Harvey, a possibilidade teórica de vôo, o modo como a lua afeta as marés e a natureza ondular da luz, mapas estelares de hemisfério sul, lógica simbólica e medidas de controle de enchentes. Tudo isso foi realização típica dos jesuítas.

- O padre Giabattista Riccioli foi a primeira pessoa a calcular a velocidade com que um corpo em queda livre acelera até o chão,

- O padre Francesco Grimaldi descobriu e nomeou o fenômeno de difração da luz. Ele também participou de uma descrição detalhada de um mapa da superfície da lua. Esse mapa chamado de Selenógrafo, adorna até hoje a entrada do Museu Nacional do Ar e Espaço, em Washington D.C.;

- O padre Roger Boscovich, falecido em 1787, é louvado por cientistas modernos por ter apresentado a primeira descrição coerente de teoria atômica, bem mais de um século antes que a teoria atômica moderna emergisse. Ele foi considerado “o maior gênio que a Iugoslávia produziu”;

- Nos séculos 17 e 18 as catedrais de Bolonha, Florença, París e Roma funcionavam como observatórios solares superiores;

- O padre Athanasius Kircher é considerado o pai da Egiptologia. Foi graças ao trabalho deste padre que encontrou-se a Pedra Rosetta, que decifrou os símbolos egípcios. Ele foi chamado de “Mestre das cem artes”. Seu trabalho em química ajudou a desbancar a alquimia, que era um tipo de falsa ciência, que até Isaac Newton e Boyle levavam a sério. Foi esse padre que jogou água fria nisso.

- Foi um Jesuíta quem escreveu exatamente o primeiro livro sobre Sismologia nos Estados Unidos. Era o padre J.B. Macelawane. Todo ano, a União Geofísica Americana, prêmia com uma medalha com o nome deste padre, um jovem geofísico inspirador.
O padre J.B. Macelawane também foi o primeiro presidente da União Geofísica Americana. Por isso o estudo dos terremotos é conhecido como “A Ciência Jesuíta”;

- Foi um astrônomo católico chamado Giovanni Cassini quem usou a Catedral de São Petrônio, em Bolonha, para verificar as teorias de movimentos planetários de Johannes Kepler.

- Foram os monges católicos que desenvolveram a “minúscula carolígia”, ou seja as letras minúsculas, o espaçamento entre palavras e a acentuação, já que o mundo só escrevia em letras maiúsculas, sem espaçamentos e sem acentuação.

- O ensino superior na Idade Média era ministrado por iniciativa da Igreja;

- O documento mais antigo que contém a palavra “Universitas” (universidade), utilizada para um centro de estudo, é uma carta do Papa Inocêncio III ao “Estúdio Geral de Paris”;

- A universidade de Oxford, na Inglaterra, surgiu de uma escola monacal católica organizada como universidade por estudantes da Sorbone de Paris. Foi apoiada pelo Papa Inocêncio IV (1243-1254) em 1254;

- O historiador francês Henri Daniel – Ropes no século 20 disse: “graças as repetidas intervenções do papado, a educação superior foi habilitada a expandir suas fronteiras; a Igreja, na verdade, foi a matriz que produziu a universidade, o ninho de onde esta tomou vôo.”;

- Os papas estabeleceram mais universidades do que qualquer outra pessoa na Europa;

- Até 1440 foram erigidas na Europa 55 Universidades e 12 Institutos de ensino superior, onde se ministravam cursos de Direito, Medicina, Línguas, Artes, Ciências, Filosofia e Teologia. Todos fundados pela Igreja;

- Os monges católicos introduziram safras e indústrias e métodos de produção que não se conheciam antes;

- O monge italiano católico Guido d’Arezzo (992 -1050), criou as 7 notas musicais dó, ré, mi, fá, sol, lá, si utilizando ás sílabas iniciais de uma estrofe de um hino a São João para denominá-las. Ele também apresentou pela primeira vez a Pauta Musical de quatro linhas. O sistema ainda é usado até hoje.

- Os monges católicos foram pioneiros em maquinaria e mecanização. Eles usavam a energia da água para todos os tipos e propósitos;

- O primeiro relógio de que tivemos notícia foi construído pelo futuro papa Silvestre II, em 996;

- No século 11, um monge beneditino inglês, chamado Eilmer de Malmesbury, voou aproximadamente 600 metros por meio de um planador sustentado no ar por cerca de quinze segundos. Ele consta no site da Força Aérea Americana – USAF, como pioneiro do vôo do homem, tendo feito isso 1000 anos antes dos irmãos Wright e de Santos Dumont;

- Em 1688, Dom Perignon, do mosteiro de São Pedro, Hautvillieres-on-the-Marne, descobriu a Champanhe através de experimentação misturando vinhos;

- Disse o estudioso francês Reginald Gregoire: “De fato, seja na extração de sal, chumbo, ferro, alume ou gipsita, ou na metalurgia, extração de mármore, condução de cutelarias e vidrarias, ou forja de placas de metal, também conhecidas como rotábulos, não há nenhuma atividade em que os monges não mostrassem criatividade e um fértil espírito de pesquisa. Utilizando sua força de trabalho, eles instruíram e treinaram à perfeição. O conhecimento técnico monástico se espalharia pela Europa.”;

- O Jesuíta espanhol Baltasar Gracián (1601-1658), com seus livros, impressionou e inspirou filósofos, escritores e pensadores ao longo de mais de trezentos e cinqüenta anos, entre estes estavam: Nietzsche, Schopenhauer, Voltaire e Lacan, que foram leitores entusiasmados dos livros deste jesuíta. O filósofo Arthur Schopenhauer considerava seu livro “El Criticón”, “um dos melhores livros do mundo.”
Friedrich Nietzsche declarou sobre a obra de Gracián: “A Europa nunca produziu nada mais refinado em questão de sutileza moral.” “Absolutamente único … um livro para uso constante … um companheiro na vida. Estas máximas são especialmente adequadas àqueles que desejam prosperar no grande mundo”.

- Foram os monges católicos, que na Inglaterra, no século 16, desenvolveram a primeira caldeira para produção de larga escala de ferro fundido;

- O padre Gregor Mendel (1822-1884), é considerado no meio científico como “o pai da genética”. Graças a Mendel, o troca-troca genético de que a gente tanto ouve falar se tornou possível. Os transgênicos (animais e plantas que recebem genes de outras espécies de seres vivos), hoje são uma realidade! O homem hoje é capaz de modificar o gene de uma planta para torná-la mais resistente às pragas, por exemplo. Ou então, fazer experiências trocando genes de animais, para tentar desenvolver novos medicamentos.

- Diz um historiador protestante: “se não fosse pelos monges e monastérios, o dilúvio bárbaro poderia ter varrido completamente os traços da civilização romana. O monge foi o pioneiro da civilização e da cristandade na Inglaterra, Alemanha, Polônia, Boêmia, Suécia, Dinamarca. Com o incessante estrondo das armas a sua volta, foi o monge em seu claustro mesmo nas remotas fortalezas, por exemplo, no Monte Athos, quem, perseverando e transcrevendo manuscritos antigos, tanto cristãos como pagãos, assim como registrando suas observações de eventos contemporâneos, foi repassando a tocha do conhecimento intactas às futuras gerações e amealhando estoques de erudição para as pesquisas de uma área mais esclarecida. Os primeiros músicos, pintores, fazendeiros, estadistas da Europa após a queda da Roma imperial sob o ataque violento dos bárbaros, eram monges”. (A Protestant Historian)

- Albert Einstein declarou: “Só a Igreja se pronunciou claramente contra a campanha hitlerista que suprimia a liberdade. Até então a Igreja nunca tinha chamado minha atenção; hoje, porém, expresso minha admiração e meu profundo apreço por esta Igreja que, sozinha, teve o valor de lutar pelas liberdades morais e espirituais”. (Albert Einstein, The Tablet de Londres);

- Padre Francisco de Vitória, que foi professor na Universidade de Salamanca, foi quem nos deu o exato primeiro Tratado de Direito Internacional da história;

- A Pontífice Academia de Ciências do Vaticano, atualmente, conta com 61 acadêmicos, dos quais 29 são vencedores do Prêmio Nobel. Trata-se de uma relação de notáveis cientistas premiados por suas pesquisas no campo da medicina, química, física, etc., entre os quais figuram Marshaw Nerimberg, o descobridor do Código Genético de todos os seres, e nada mais nada menos que, Francis Collins, o mapeador do DNA humano e diretor do Projeto Genoma;

- A invenção dos mais modernos e imprescindíveis meios de comunicação, deve-se a um membro da Igreja, o brasileiro padre Landell, inventor pioneiro do rádio, do telefone sem fio, do telégrafo sem fio, da televisão e do teletipo usado pela imprensa. Nas patentes são agregados vários avanços técnicos como a transmissão por meio de ondas contínuas, através da luz, princípio da fibra óptica e por ondas curtas; e a válvula de três eletrodos, peça fundamental no desenvolvimento da radiodifusão e para o envio de mensagens. Ainda em 1904 o padre Landell inicia os testes precursores de transmissão da imagem. Em outras palavras, testava aquilo que viria a ser a televisão. Ele também testou a transmissão de textos, sendo precursor do teletipo, tão utilizado nos telejornais para envio de notícias pelas agências internacionais. Ambas as experiências eram feitas à distância, por ondas que, segundo um jornal paulista, eram denominadas de Ondas Landeleanas.

- O cosmólogo padre Michael Heller, é o ganhador do mais polpudo prêmio acadêmico já pago pela ciência moderna. Ele provou matematicamente a existência de Deus;

- Um dos princípios mais importantes que a Igreja legou ao desenvolvimento das ciências vem de um verso bíblico! Um verso bíblico que foi um dos mais citados durante toda a Idade Média. Esse verso é: Sabedoria 11, 21, esse verso diz: que “ Deus dispôs tudo com medida, quantidade e peso”. Daí a ciência ter conseguido tanto êxito por crer que vivemos num universo ordenado. É tudo matemático e ordenado de acordo com padrões. Por isso Santo Agostinho (354-430), já afirmava: “Deus é um grande Geômetra.”

Detalhe: o protestantismo, fundado em 1517 retirou o Livro da Sabedoria de suas bíblias. O desprezo protestante a Copérnico e à ciência, ficou documentado nas palavras de Lutero, que dizia: “O abade Copérnico surgiu, pretendendo que a terra girasse em torno do Sol … lê-se na Bíblia que Josué deteve o Sol; não foi a Terra que ele deteve. Copérnico é um tolo.” (Funck-Brentano, Martim Lutero, Casa Editora Vecchi, 1956, 2a. ed. Pág. 145).

Lutero não sabia que o que Josué narrava foi o que lhe pereceu a seus olhos, naquele grande milagre de Deus.

Sobre a ciência, chamada de “razão” naquele tempo, dizia Lutero: “A razão é a prostituta, sustentáculo do diabo, uma prostituta perversa, má, roída de sarna e de lepra, feia de rosto, joguemos-lhe imundícies na face para torná-la mais feia ainda.” (Funck-Brentano, Martim Lutero, Casa Editora Vecchi, 1956, 2a. ed. Pág. 217).

Eis o grande legado da Igreja Católica à Civilização Moderna e a verdadeira aversão grotesca à ciência, externada pelo pai do protestantismo.

Autor: Fernando Nascimento

]]>
http://portalconservador.com/icar-mae-da-civilizacao-ocidental/feed/ 3