Portal Conservador » Todos os Posts http://portalconservador.com/forum/filosofia-e-religiao/feed/ Thu, 15 Sep 2016 07:21:20 +0000 http://bbpress.org/?v=2.5.10-6063 pt-BR http://portalconservador.com/topico/obrigado-ateus/#post-2398 <![CDATA[Obrigado, Ateus.]]> http://portalconservador.com/topico/obrigado-ateus/#post-2398 Tue, 30 Jun 2015 13:13:21 +0000 MauricioSaraiva Cresci num lar espírita (religião a qual minhas três irmãs permanecem) mas aos 13 anos me tornei católico e, pouco depois, já era um ativo membro de grupos jovens. Anos depois, na Faculdade de História, tornei-me socialista e, pouco depois, ateu. Não um ateu desinteressado, mas um daqueles estudiosos e polemistas, cheio de livros de filosofia na estante e argumentos definitivos contra os “crentes”. Sartre, Nietzsche, Bakunin, Freud… toda a artilharia laica me valia.

Isso durou até por volta dos 24 ou 25 anos. Casei-me aos 24 anos, já na Igreja. O que me vez voltar a crer? O próprio Evangelho (que me comovera aos 13 anos), já não exercia muita influência sobre mim, historiador calejado. As obras dos santos tão pouco. Talvez o primeiro a bulir com minhas certezas materialistas foi Platão. A História de Filosofia Antiga, de Giovanni Reale, ensinou-me que nem todos os sábios atuas eram ateus, como me fizeram crer os professores universitários. Mas, fundamentalmente, foram os próprios ateus que me convenceram.

Como estudante e depois professor de história – e militante socialista – eu vivia num ambiente social que se auto-nomeia “laico educado”, ou “laico ilustrado”. Pessoas de bom senso, civilizadas, cidadãs das Letras e do Direito, tanto liberais-democratas quanto socialistas.

Ora, como um jovem membro dessa esclarecida sociedade, eu aprendera a considerar “Deus” um conceito vulgar, “a personificação da força coletiva de um dado grupo social”. Isso implicava que alma e vida eterna também eram superstições. Todos os fatos deveriam ser considerados de forma objetiva, em termos de causas e consequências concretas, factíveis. Não é elegante? Mas então a amizade também era uma abstração (quase uma farsa), pois ninguém ilustrado acredita que exista algo além dos interesses objetivos das pessoas envolvidas numa relação de amizade, o que implica em dizer que não existe amizade, apenas interesses recíprocos.

Segundo o mesmo raciocínio, não existe Justiça. A indignação eventualmente provocada pela Operação Lava Jato é apenas teatro para impressionar os camponeses. Trata-se apenas dos interesses pessoais do juiz Sérgio Moro, interagindo com interesses dos desembargadores, de agentes policiais, de jornalistas, de políticos e oposição, em sentido contrário aos interesses pessoais do diversos envolvidos, direta ou indiretamente. E assim, tudo mais. Bolsa Família, educação pública, Previdência, tudo são arranjos de interesses, ninguém – entre os esclarecidos – acredita em nada mais que interesses objetivos.

Também na vida privada é o que ocorre. Se eu tenho um pai abandonado num precário asilo público e vou fazer compras em Nova York ou tirar férias em Punta Arenas, enquanto meu irmão cuida do nosso pai, no fim das nossas vidas a única diferença será qual dos dois soube aproveitar melhor os dias que teve na Terra, no belo esquema “causas e consequências objetiva”, tudo o mais sendo superstição. Filhos, esposa, irmãos, tudo não passa de compromissos artificiais, interesses mútuos, comportamentos biologicamente condicionados por milênios de evolução darwinista. Nada que um homem laico ilustrado não saiba se desvencilhar. Afinal, não existe nenhum anjinho de asinhas nas costas sentado numa nuvem, com pena e pergaminho nas mãos, anotando o que fazemos aqui em baixo.

E, apesar de tudo, refletia eu, os ateus não são assim. Ainda se revoltam com notícias de corrupção. Ainda esperam que inocentes sejam inocentados e criminosos, punidos. Ainda se importam com seus pais e seus filhos. Meus professores ateus procuravam nos esclarecer da melhor forma que entendiam ser seu dever e torciam pelo nosso sucesso. Eu mesmo, como professor de uma rede pública, me importava com meus alunos, sem que disso dependesse mais meus interesses objetivos. Assim, passei a notar que o ateísmo era como um belo terno de grife, algo que a pessoa veste e fica se olhando no espelho: “olha como eu sou elegante, como ou sou sensato, como tenho ideias modernas”. Com esse terno elas desfilam na República das Letras, mas ninguém dorme de terno, não fazem amor de terno, não brincam com os filhos de terno. Não serve para a vida real, só para o grande palco da vida esclarecida.

Platão triunfava. Amizade, Justiça, Amor, não são superstições. Não são acordos circunstanciais de interesse mútuo. Trata-se de entes tão ou mais reais que uma cadeira. Robôs podem ser perfeitamente objetivos, humanos, não. Os ateus mais convictos foram, precisamente, os que melhor me demostraram essa verdade. Obrigado.

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http://portalconservador.com/topico/os-conservadores-sao-egoistas/#post-2374 <![CDATA[Os Conservadores São Egoístas?]]> http://portalconservador.com/topico/os-conservadores-sao-egoistas/#post-2374 Fri, 26 Jun 2015 01:25:07 +0000 MauricioSaraiva Os Conservadores São Egoístas?

São bem conhecidas as posições conservadoras do jornalista Reinaldo Azevedo. Ora, na Wikipedia, podemos encontrar esta citação sua: “Com raríssimas exceções, quase santas, o homem normal se ocupa é de si mesmo e de sua família. É o correto. A civilização se forma assim. O egoísmo é o mais altruísta dos sentimentos”.

Naturalmente o egoísmo de que nos fala Azevedo é este amor próprio comum a todos os homens e que foi popularizado por Mandeville com sua Fábula das Abelhas. Pedra angular do liberalismo ocidental é o argumento de que uma sociedade de egoístas, se fundada na liberdade, produzirá uma sociedade próspera e, em linhas gerais, boa: vícios privados, benefícios públicos.

Uma versão um tanto mais estridente desta mesma posição foi apresentada pela nova enfant terrible da direita latino-americana, a guatemalteca Glória Álvares, falando no Fórum da Liberdade, em Porto Alegre: “Há uma verdade que todo ser humano deve alcançar para ter paz, se não quiser viver como um hipócrita. Todos nós, 7 bilhões e meio de seres humanos que habitamos este planeta, somos egoístas. É essa a verdade, meus queridos amigos do Brasil, todos somos egoístas. E isso é ruim? É bom? Não, é apenas a realidade”. Sem explicar que tipo de amizade existe entre os egoístas, ela prossegue: “Há pessoas que não aceitam essa verdade e saem com a maravilhosa ideia: ‘Não, eu vou fazer a primeira sociedade não egoísta’. Cuidem-se, brasileiros; cuide-se América Latina!” Então essa egoísta preocupada com os latino-americanos segue em seus solidários conselhos: “Esses espertinhos são como Stálin, na União Soviética, como Kim Jong-un, na Coreia do Norte, Fidel Castro, em Cuba, Hugo Cháves, na Venezuela”. Álvares conclui contestando a propalada necessidade de “homens que não pensam só em si”. Ela, que pensa só em si, ainda se dá ao trabalho de nos advertir: “…a menos que seja um marciano, esse homem não existe, nunca existiu, nem existirá jamais”. É aplaudida de pé.

Podemos admitir que a grande maioria dos atuais conservadores brasileiros está de acordo com Azevedo – e, tirando a pirotecnia de auditório, com nossa adorável Glória Álvares. O que nos motiva aqui, entretanto, é nossa convicção de que tal máxima está fundamentalmente errada. Mais que isto, ela está na raiz da crise do conservadorismo – ou da hegemonia das doutrinas progressistas, sua antítese – ainda que os conservadores não atentem para isto. Escrevemos para dizer que não, não somos egoístas, e se pensamos que somos – e se nos jactamos disso até – é porque fomos a isso levados por um caminho infeliz do moderno pensamento ocidental.

Este não é o sítio para fundamentarmos tão inusitada sugestão. Diremos apenas que, se o egoísmo fosse de fato uma legítima convicção conservadora, não existiria demanda para sua infindável defesa, uma reiteração que já ultrapassou os três séculos e que, todos sentimos, precisará ser repetida às novas gerações conservadoras e liberais. Simplesmente, é algo que acreditamos, mas não é algo que sentimos. A defesa do egoísmo faz parte da defesa de uma doutrina – a doutrina liberal, e para nós é tão confortável acreditar que vícios privados produzam benefícios públicos, que não nos damos ao trabalho de verificar seriamente a tese.

Até agora, a principal oposição ao egoísmo liberal veio dos socialistas: “como os vícios privados produzem um resultado geral ruim, precisamos de algum tipo de autoritarismo que inibe tais vícios”. É contra essa pretensão que nos insurgimos e afirmamos, a três séculos, a utilidade do egoísmo. Todavia, o argumento socialista em pauta é perfeitamente válido! O problema é sua premissa: a de que somos indivíduos egoístas. Ela é falsa. Em termos precisos, o argumento socialista é formalmente válido, mas não é verdadeiro.

Já nos atentamos para o fato de que esperamos dos políticos, precisamente, um comportamento não egoísta? Alguém dirá, forçando muito a realidade, que um egoísta pode querer ser um político honesto pelos benefícios que isso traria numa sociedade extremamente organizada. Na prática, uma república de políticos egoístas, funcionários egoístas e até de eleitores egoístas sempre oferecerá vantagens muito significativas para a desonestidade. Se, no mundo real, a desonestidade ainda não impera completamente, não é porque um arranjo feliz de vícios privados esteja funcionando como regulador eficiente, mas porque pessoas virtuosas bem posicionadas na Justiça, no Parlamento, na Imprensa e nas demais instituições exercem sua influência salutar. Não nos refirimos a santos, apenas a pessoas tão honestas quanto eu e o leitor. Sejamos francos: esse blog não foi feito por motivações egoístas. O ganho privado que ele pode, um dia, vir a gerar para seus administradores, além de incerto, está muito longe dos esforços que ele demanda. Não seria mais lucrativo ir pegar uma praia? Isso vale certamente para as atividades sociais do leitor. O amor próprio tem seu papel, mas um indefinido sentido de bem público geralmente nos anima ainda mais. O próprio Reinaldo Azevedo afirma desconfiar de quem se preocupa com os outros, mas ele não escreveu No País dos Petralhas para si mesmo. Existe o ganho dos direitos autorais, mas seu livro não se reduz, evidentemente, a um simples projeto comercial.

No mesmo parágrafo que extraímos a citação acima, Azevedo critica as ONGs: “Atuar em ONG ou é oportunismo ou é questão psicanalítica”. Ora, oportunismo não é uma forma de egoísmo? O cara cínico da ONG não é um egoísta? O PT, em última análise, é uma eficiente organização de egoístas. Os blogueiros mercenários, bancados pelo Governo Dilma, egoístas! Os empresários corruptos que bancam as campanhas do governo socialista, egoístas! E onde estão os tais benefícios públicos de tantos vícios privados?

Então por que, afinal, passamos a argumentar que somos todos egoístas? Vamos corrigir a pergunta: Por que o Iluminismo nascente precisou aderir a esse modelo do homem egoísta como sua premissa fundamental? E, principalmente, ela é mesmo verdadeira? Não enfrentar esta questão tem custado aos conservadores um silêncio constrangido diante do vicioso egoísmo progressista – trezentos anos de silêncio.
Maurício Saraiva.

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http://portalconservador.com/topico/desmoralizando-uma-nacao-catolica/#post-1916 <![CDATA[Desmoralizando uma nação católica]]> http://portalconservador.com/topico/desmoralizando-uma-nacao-catolica/#post-1916 Wed, 28 Jan 2015 23:28:23 +0000 Didier

Os meios de comunicação social, embora exerçam papel fundamental para a informação, podem contribuir gravemente para a desmoralização da sociedade. Em 1952, quando os primeiros ventos de mudanças na legislação do divórcio sopravam sobre o Brasil, o então arcebispo de Cuiabá (MT), Dom Francisco Aquino Corrêa, escrevia jubiloso, no dia de ação de graças: “Não podemos esquecer aqui a vibrante reação e repulsa da opinião nacional às recentes ameaças do divórcio, o que prova que o Brasil se sente muito bem, na sua posição quase singular de povo anti-divórcio” [1]. Após várias décadas, o cenário brasileiro é exatamente o oposto. O divórcio não só virou lei como é advogado por grande parte da população. E isso se deve, principalmente, à atuação dos chamados mass media que, ao longo desses anos, ora por meio de telenovelas, ora pela divulgação de “indiscrições sensacionalistas e insinuações caluniosas”, trabalharam minuciosamente para moldar a opinião pública à sua imagem e semelhança [2].

Com raras exceções, a mídia é, inegavelmente, contrária à moral cristã. Dia sim dia também, a fé católica é atacada nas bases, a fim de que a Igreja deixe de exercer seu papel de Mater et Magistra. Ainda soam frescas em nossas memórias as estultices do diretor da BBC, Mark Thompson, acerca do posicionamento da emissora em relação ao islã e ao cristianismo: “Zombaremos de Jesus, mas não de Maomé” [3]. No Brasil, onde Thompson parece ter feito escola, de maneira parecida expressou-se recentemente um comediante, que protagonizou um dos “vídeos de humor” mais estúpidos contra os cristãos: “Eu, por exemplo, não faço piada com Alá e Maomé, porque não quero morrer! Não quero que explodam a minha casa só por isso” [4]. Assim funciona a lógica da covardia. Em nome do politicamente correto, o cristianismo é massacrado publicamente. Em nome do politicamente correto, coloca-se uma redoma de vidro sobre um grupo — mas não por respeito aos seus costumes e tradições, é óbvio, e sim por puro medo das possíveis consequências — e o escárnio sobre outro. Ora, que isto fique bem claro: os meios de comunicação social devem tutelar pelo respeito à dignidade da pessoa humana, inclusive por sua sua fé [5].

Antes de tornar-se João Paulo I, o cardeal Albino Luciani fazia um juízo certeiro sobre as ambiguidades da mídia. O então patriarca de Veneza dizia [6]:

Estes instrumentos, que pela sua própria natureza devem ser transmissores da verdade, se forem manipulados por pessoas astutas, à força de bombardearem os receptores com as suas cores sonorizadas e com uma persuasão tanto mais eficaz quanto mais oculta, são capazes de fazer que os filhos acabem por odiar o que seus pais possuem de melhor, e que as pessoas vejam como branco o que é preto.

Não seria o caso das telenovelas, por exemplo? Que dizer das inúmeras vezes em que a moral foi vilipendiada, com vistas a alcançar bons números de audiência, através de pornografia, cenas de adultério, defesa do aborto e de práticas contrárias à família? É verdade que elas não começaram com o beijo gay. As primeiras novelas a figurar na televisão brasileira ainda apresentavam algum resquício de moral e fidelidade aos ensinamentos cristãos. Os ataques, porém, foram introduzidos pouco a pouco e de maneira sutil, a fim de anestesiar a consciência das pessoas, para que, quando fosse posta em prática a “solução final”, por assim dizer, já não se encontrasse qualquer sombra de oposição. Na sua autobiografia, o escritor e romancista Dias Gomes (1922-1999), um dos maiores expoentes nesta luta de descristianização da sociedade, conta em detalhes como fazia para driblar a censura militar e disseminar as ideias comunistas na sociedade [7]:

“– Não passa – disse Nélson – os milicos não vão deixar.
– Mas eu mudei o título e os nomes das personagens. Também o protagonista não é mais cabo da Força Expedicionária, é um fazedor de santos. Claro, o sentido da história continua o mesmo.
– Ah, assim é capaz de passar, esses milicos são muito burros.”

O escritor falava de Roque Santeiro, um grande sucesso na história da teledramaturgia. Apresentando uma caricatura da Igreja Católica, Gomes atacou o celibato dos padres e defendeu a Teologia da Libertação numa única cajadada. A história apresentava a figura de dois clérigos. Enquanto o tradicional encarnava a opressão aos pobres, aproveitando-se da devoção popular, o liberal inspirava a luta pela liberdade, inclusive pelo romance com uma de suas paroquianas. O ator Cláudio Cavalcanti — que fez o papel do padre comunista Albano — explica a ideia numa entrevista à própria emissora:

Em 2008, o economista peruano Alberto Chong publicou uma pesquisa pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, na qual comprova a relação direta entre a mudança de comportamento do povo brasileiro e as ideias ensinadas pelas novelas [8]. “A família está no centro dessas transformações”, declarou Chong à revista Época. Neste sentido, mais uma vez é preciso repetir as palavras de Bento XVI ao povo brasileiro, quando da sua visita a este país, em 2007: “É preciso dizer não aos meios de comunicação social que ridicularizam a santidade do matrimônio e a virgindade antes do casamento” [9]. É preciso dizer não, sobretudo, àqueles meios de comunicação que, esquecendo-se da sublime vocação do homem, entorpecem a mentalidade e fazem do pecado um projeto de vida. Àqueles que não conduzem para a Jerusalém celeste; ao contrário, conduzem para Sodoma e Gomorra. Àqueles que rejeitam a paternidade de Deus para buscar a satisfação material. Finalmente, é preciso dizer não à pompa do diabo e às suas mentiras. Com Cristo ou contra Cristo.

Por Padrepauloricardo.org

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