educação – Portal Conservador http://portalconservador.com Maior Portal dirigido ao público Conservador em língua portuguesa. Sat, 27 Aug 2016 23:41:30 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.6.1 65453639 Enem e mais alguns motivos para odiar o MEC http://portalconservador.com/enem-e-mais-alguns-motivos-para-odiar-o-mec/ http://portalconservador.com/enem-e-mais-alguns-motivos-para-odiar-o-mec/#comments Sun, 01 Nov 2015 23:49:27 +0000 http://portalconservador.com/?p=2589 read more →]]> É necessário que se compreenda que não se trata apenas de uma prova, que consome 10 horas da vida de cada estudante e se desfaz inocuamente de seu horizonte de eventos no instante seguinte. Não. Para compreender a amplitude de influência que o exame possui, é melhor ir por partes:

I – O Brasil é um país no qual homeschooling costuma ser interpretado como crime de abandono intelectual, portanto, todas as crianças e adolescentes estão quase que obrigatoriamente subordinadas ao ensino sucateado que vemos tanto em rede pública quanto particular.

II – As escolas de ensino médio, além de já estarem infestadas de professores militantes, que aliciam menores a ideologias e partidos desde a quarta série, estão todas submetidas aos mandos e desmandos do MEC. Para manterem as portas abertas, precisam obedecer suas diretrizes, e, para manterem-se competitivas, treinar incessantemente seus alunos pra se darem bem no Enem, ensinando apenas os assuntos que nele serão abordados, nem mais, nem menos. Pressionam os alunos psicologicamente como se disso a vida deles dependesse. De certa forma depende mesmo, já que o exame agora substitui o vestibular de quase todas as universidades públicas do país.

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Falando nos professores, lembro-me com detalhes do dia em que a professora de história projetou na parede a imagem de Wladimir Herzog morto, ainda pendurado, para alunos de 10, 11 anos, dizendo emocionada que foi “a direita” que o matou. Também me recordo de certa feita em que vi um carro de som do PSOL, parado na frente a maior escola de ensino médio e pré-vestibular de minha cidade, fazendo campanha eleitoral com o auxílio de um professor da própria instituição.

III – A prova do Enem é produzida por professores de universidades escolhidas pelo próprio ministério, que é um órgão do poder executivo, portanto uma ferramenta do governo – consequentemente refletirá sempre a sua ideologia e tática política.

Portanto, o Enem não trata apenas daquilo que seu nome sugere, um exame de aptidões para o adentramento do ensino superior e retirada de certificados de conclusão do ensino médio, e sim de um instrumento de controle político, através do qual o governo pode manejar o viés daquilo que é e o que não é ensinado nas instituições públicas e privadas, exercendo assim certa dose de controle sobre a mentalidade do corpo estudantil, já que estão todos aprisionados no ensino formal – dentro do qual segue-se a prisão curricular do ministério -.

Talvez tudo até aqui esteja soando demasiadamente conspiratório, afinal um governo que, em plena luz, aplicasse tal manobra a seu favor seria imediatamente deposto e ridicularizado, não é mesmo? Sim, soa mais como algo retirado da distopia de Orwell. Não poderia o governo ter a decência de manter-se imparcial, ao menos diante de questões tão importantes como a educação do futuro do país que o elegeu? Para não acusar ninguém injustamente, é necessário examinar meticulosamente – adentrar a merda até a altura dos cotovelos – e, por isso, fiz a edição de 2015 do exame, considerado pelos docentes como “o melhor e mais aprofundado Enem de todos os tempos”. Vamos partir, então, para uma análise mais profunda do verdadeiro teor da prova, para obter um quadro geral do que o Ministério, sob direção de Aloizio Mercadante, subordinado e fiel servo de dona Dilma, com a colaboração daquele professor chato do seu filho, que só usa camisa vermelha, está querendo pôr nas cabeças dos estudantes.

 

A prova de humanas

Ao ler as questões da prova, nota-se imediatamente os já denunciados excessos no teor ideológico dos textos escolhidos e sua repetição incansável na abordagem progressista dos temas. Claro que, para manter uma ilusão de neutralidade, utilizam expressões como “o autor quis dizer que”, “tal corrente chama-se”, mas o problema é que os autores são quase que invariavelmente filósofos da esquerda radical, como Simone de Beauvoir que agraciou todas as vestibulandas xingando-as de “macho castrado” e SlavojZizek, para o qual a única coisa que diferencia o soldado americano e o terrorista do Talibã é a falta de alteridade. Aliás, para essa gente, todos os problemas do mundo se resumem a “falta de alteridade”, já que somos todos condicionados a acreditar cegamente nos simplórios valores liberais e conservadores por sermos um punhado de padres e burgueses maníacos.

O exame é breve, se comparado ao tempo de aula que os alunos tiveram durante o ensino médio, sendo ele apenas uma síntese final desse extenso percurso de direcionamento político pelo qual os estudantes passaram, no qual, de acordo com a prova, aprenderam a louvar Paulo Freire e sua pedagogia libertadora, que transformou os estudantes em militantes e atirou o Brasil nos últimos lugares em todos os rankings de educação dos últimos tempos (libertou o Brasil de sua alta cultura?), e a respeitar Milton Santos, que acusava sempre a suposta selvageria da globalização ao mesmo tempo em que defendia o socialismo real mesmo após suas práticas sanguinárias terem sido reveladas ao resto do mundo.

A falta de variedade nas correntes de pensamento é assustadora, já que a prova reflete aquilo que os alunos aprenderam durante toda a vida escolar.

 

A prova de linguagens

Talvez o prejuízo maior dos vícios da classe acadêmica brasileira tenha recaído sobre a língua. Não havia uma única questão sobre gramática, o que havia no lugar eram questões girando em torno da tese do “preconceito linguístico”, relativizando de vez o português culto, que os professores não sabem mais ensinar, sob o pretexto de que todas as formas diferentes de expressão linguística do português estão corretas (quem utilizar português normativo, claro, é um elitista, retrógrado, criminoso) e que, portanto, o ensino da gramática normativa é desnecessário, já que não há português certo e deve-se ensinar “a diversidade e a tolerância” com toda forma de linguagem (errada).

Essa tese, predominante no ensino da língua, se levada até às últimas consequências resultaria na fragmentação do português em diversos dialetos ininteligíveis, e, atualmente, através de seus constantes revisionismos, já serve para o desmantelamento e afastamento da cultura clássica da língua, que foi criada utilizando a norma culta como referência. Talvez este seja o motivo de também não haver questões pedindo análises aprofundadas sobre clássicos lusófonos: é dificílimo, hoje em dia, encontrar um estudante que consiga sequer compreender uma página de Guimarães Rosa ou Camões, ou que ao menos tenha o mais remoto interesse por Machado de Assis e Graciliano Ramos. Toda a riquíssima memória cultural brasileira foi abandonada. As novas referências culturais que estão sendo ensinadas revelam-se nas questões sobre samba, arte africana, cantos de macumbaria, poesia concretista (que não é poesia), arte moderna (daquela que as faxineiras costumam jogar no lixo sem querer quando o museu fecha) e, no que mais me chamou atenção, uma questão que exigia do aluno que ele soubesse dançar break.

Queria estar brincando, com essa última.

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A redação

Como pretendo entrar num novo curso, numa universidade federal, no próximo ano (da qual provavelmente sairei lobotomizado) me preocupava com a nota que tiraria nessa farsa, e cheguei a cogitar quais temas cairiam na dissertação. Cruzou minha mente por um instante o do feminicídio, mas rechacei a possibilidade sob o pensamento de que “eles não são tão caras de pau assim”. Ledo engano.

O tema proposto era, a princípio, inteiramente válido: “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. O problema era que, como textos para direcionar a argumentação, forneceram uma gravura da campanha contra o feminicídio e textos que apresentavam as estatísticas e chavões da moda (que são inteiramente sensacionalistas, utilizados no debate público com a máxima mendacidade), como por exemplo a de que, no Brasil, morrem 230% mais mulheres hoje do que morriam em 1980, e que na última década morreram 43 mil mulheres em território nacional. Tudo verdade, porém a exploração política feita em cima disso é vergonhosa, configurando a mesmíssima gafe do movimento gay, que se escandaliza quando ocorrem 336 “mortes por homofobia” (que na realidade computam apenas mortes de homossexuais, nada constando sobre motivação), mas acham normal que morram 56 mil brasileiros por causas diversas no mesmo ano.

Uma simples análise do Mapa da Violência demonstra que é tudo balela pois a taxa geral de homicídios cresceu 300%, de 1980 a 2012. No período de dez anos, entre 2002 e 2012, foram assassinados mais de 550 mil “brasileiros em geral”, categoria que, aparentemente, vale menos que brasileiras. Tudo que se conjeture sobre o “machismo” em cima desses dados é da prática política mais irresponsável que existe.

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Seria essa realmente uma convicção deste legislativo que propõe, e deste governo que sanciona e propagandeia a tipificação do feminicídio, e de seus militantes universitários que não permitem críticas a respeito? Claro que não. É apenas mais uma das muitas manobras para fidelizar e arrebanhar metade do eleitorado. As taxas não serão reduzidas nem mesmo paliativamente, já que no Brasil apenas 8% dos assassinatos são solucionados, portanto o bandido não tem medo da polícia, e as mulheres não tem fácil acesso às armas – nem sequer não-letais – portanto o bandido não tem medo delas. O problema é que tais alegações categorizantes, mesmo que vazias de significado, causam impulsos afetivos nas pessoas, que, sem conhecer a verdade inteira da questão, tomam partido as cegas, guiadas pelas rédeas e cabrestos dessa elite intelectual pusilânime que lhes controla o pensamento desde tenra idade. Pensam que pude escrever tudo isso na redação? Evidente que não! O meu estava na reta, como estava o de todo mundo, portanto, para não reprovar por “desrespeito aos direitos humanos”, aderi a mais uma das muitas fraudes intelectuais encontradas no Exame e escrevi qualquer bobagem sobre como a culpa é dos reacionários patriarcalistas, aqueles mesmos que mataram Herzog e instituíram a gramática normativa, combatidos ferozmente pela nossa “presidenta”.

Deveria ser obrigatório, além da identidade e caneta preta transparente, um envelope de antiácido.


Escrito por Yuri dos Santos Neves.

Questões da prova abordadas: edição 2015, caderno amarelo, 1º dia, 5, 12, 24, 40, caderno cinza, 2º dia, 96, 112, 120, 121, 123 e proposta de redação.

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As universidades estão produzindo ativistas, não acadêmicos http://portalconservador.com/as-universidades-estao-produzindo-ativistas-nao-academicos/ http://portalconservador.com/as-universidades-estao-produzindo-ativistas-nao-academicos/#respond Mon, 31 Aug 2015 21:16:23 +0000 http://portalconservador.com/?p=2431 read more →]]> Todo ano, a Associação Nacional de Acadêmicos dos Estados Unidos, compila uma lista de livros de mais de trezentas faculdades e universidades e os recomenda como leitura de verão para os seus calouros. A associação batizou essa lista de “Beach Books” [“Livros de Praia”], embora não seja muito provável que algum deles seja lido no lugar que for. Que dirá na praia.

O que é preocupante nessa lista é que as grandes obras da literatura, os chamados “clássicos”, são quase inexistentes. Apenas cinco instituições sugeriram livros escritos antes de 1910. Por outro lado, mais da metade de todos os livros sugeridos foram publicados depois de 2010. Os educadores se referem a esses livros modernos como “leitura comum”. De acordo com Ashley Thorne, diretor executivo da Associação Nacional de Acadêmicos, “a leitura comum serve para moldar as atitudes dos estudantes para os debates atuais. Muitas das leituras são memórias ou biografias de ativistas sociais, que sugerem que os estudantes deveriam seguir o exemplo deles”.

É evidente que as instituições que empurram esse tipo de livro para cima dos seus alunos nunca vão admitir que o seu objetivo é fazer uma lavagem cerebral, mas, quando pressionadas, elas apresentam justificativas para a exclusão dos clássicos que podem ser divididas em três tipos.

O primeiro tipo é o das justificativas que podem ser resumidas na seguinte ideia: “Os livros antigos são irrelevantes hoje”. Thorne escreve: “Os alunos estão mais interessados nos temas da atualidade, como a imigração, o racismo, o aquecimento global, o bem-estar econômico, a vida LGBT, o genocídio na África, a justiça na distribuição dos alimentos no mundo e as guerras”. De novo, a palavra-chave é “relevância”. E assim, em vez de ensinar os alunos a compreenderem o mundo através da leitura dos clássicos, o objetivo é “moldar ativistas para mudar o mundo”.

A segunda categoria de justificativas para rejeitar a literatura clássica é a da acessibilidade. Não que os alunos não consigam achar ou comprar os livros clássicos: por acessibilidade, neste caso, entenda-se a capacidade (ou a falta de capacidade) de compreender o seu conteúdo. Vários professores participantes de pesquisas admitiram que muitos dos calouros nunca leram um livro ao longo dos doze anos da sua vida escolar anterior à faculdade (eu sei que isto parece impossível, mas, aparentemente, é um fato real). Por isso, seria pedir demais que eles passassem das mensagens de texto dos seus smartphones diretamente para Tolstoi.

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Na foto, parcelas de estudantes de universidades federais em conferência do ‘Partido dos Trabalhadores’

O terceiro tipo de desculpas apresentadas para driblar as grandes obras literárias é que elas seriam “privilegiadas demais”. Thorne cita um comentário de Christopher Eisgruber, da Universidade de Princeton: “O livro tem que ser algo com que os alunos possam discutir. Por este motivo, eu tendo a evitar os ‘clássicos’ que os alunos podem se sentir obrigados a venerar”.
Thorne explica as consequências desse pensamento tortuoso: a derrogação dos “homens brancos mortos” significa hoje a marginalização dos textos e das ideias que moldaram a cultura ocidental ao longo dos séculos. Longe de ser “venerados por alunos intimidados”, esses livros estão sendo cada vez mais ignorados e esquecidos.

Compartilhei o exposto acima porque, quando conheci esses fatos, eu estava lendo “O Cícero americano: a vida de Charles Carroll”, de Bradley Birzer, uma biografia fascinante do único nome católico entre os que assinaram a Declaração de Independência dos Estados Unidos. Nascido no Estado de Maryland, Charles foi enviado à França pelo pai para garantir uma educação excepcional. Aos onze anos, já na França, ele entrou no Colégio de St. Omer. Durante seis anos, estudou literatura, ciência e filosofia. Tinha de fazer recitações frequentes e participar de discussões, debates e concursos acadêmicos. Teve de aprender grego e latim. Além disso, estudou os escritos de alguns dos grandes autores do mundo ocidental, entre os quais Cícero, Horácio, Homero, Virgílio e Dryden. Todos os anos, Charles foi classificado como um dos seis melhores alunos da sua classe.

Este trecho da biografia é particularmente informativo: “Dos onze anos até os vinte e sete, Charles recebeu uma intensa educação na França e na Inglaterra. Dos jesuítas franceses, ele aprendeu as artes liberais e as grandes obras da tradição ocidental. Aos dezenove anos, Charles defendeu com sucesso a sua tese de ‘filosofia universal’ e se tornou mestre de artes. Com sólida base nos clássicos e nas artes liberais, ele estudou direito civil na França durante mais dois anos e, em 1759, foi para Londres a fim de estudar o direito comum”.

A formação de Charles se mostrou inestimável quando ele voltou para os Estados Unidos e começou a conviver com muitos dos fundadores da nação. Mas o seu conhecimento não era único, já que muitos daqueles homens também eram bem alicerçados nos clássicos antigos, que haviam começado a estudar desde bem jovens. Bradley Birzer escreve sobre os requisitos para se entrar na maioria das faculdades norte-americanas no período colonial: “Quando um estudante entrava na faculdade, geralmente aos catorze ou quinze anos de idade, ele precisava provar a sua fluência em latim e em grego. De acordo com os historiadores Forest e Ellen McDonald, o aluno precisaria ‘ler e traduzir do latim original para o inglês as três primeiras Orações Selecionadas [de Cícero] e os três primeiros livros da Eneida de Virgílio, bem como traduzir os dez primeiros capítulos do Evangelho de João do grego para o latim’”.

Você conhece alguém de catorze anos que seja capaz de fazer isso? Nem eu. Obviamente, as expectativas eram outras no período colonial dos Estados Unidos. Já nas faculdades norte-americanas de hoje em dia, as expectativas são tão baixas que um aluno que jamais leu um livro consegue ser aceito. Eu não sei se temos que rir ou chorar.

Posso lhe fazer uma sugestão? Se neste ano você for convidado a assistir a alguma formatura do ensino médio, pergunte a qualquer dos formandos quais foram os cinco melhores livros que ele leu ao longo do ensino médio. A resposta que ele der lhe dirá muito sobre a escola que ele frequentou.

Escrito por Thomas Addis.

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