História do Brasil – Portal Conservador https://portalconservador.com Maior Portal dirigido ao público Conservador em língua portuguesa. Fri, 28 Feb 2020 19:19:20 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.3.4 65453639 Deputado descendente da família imperial quer excluir feriado nacional que homenageia Tiradentes https://portalconservador.com/deputado-descendente-da-familia-imperial-quer-excluir-feriado-nacional-que-homenageia-tiradentes/ https://portalconservador.com/deputado-descendente-da-familia-imperial-quer-excluir-feriado-nacional-que-homenageia-tiradentes/#comments Fri, 28 Feb 2020 19:19:20 +0000 https://portalconservador.com/?p=4705 read more →]]> Luiz Philippe de Orleans e Bragança propôs Projeto de Lei para trocar 21 de abril, em homenagem ao inconfidente mineiro Tiradentes, pelo dia 22 de abril, descobrimento do Brasil.

O deputado Federal e descendente da família imperial brasileira, Luiz Philippe de Orleans e Bragança, propôs, na Câmara dos Deputados, o PL 6.460/19, para excluir do rol de feriados nacionais o dia 21 de abril e, em troca, incluir o dia seguinte, 22 de abril, em referência ao descobrimento do Brasil.

21 de abril marca a data de morte de Tiradentes, ícone na luta da Inconfidência Mineira, cujo objetivo era a desvinculação do Brasil e a Coroa Portuguesa.

Segundo o parlamentar, o dia 22 de abril é uma data histórica relacionada ao descobrimento oficial do Brasil e defende que “essa data possui uma legitimidade histórica e relevância na constituição de nossa identidade nacional, razão pela qual deve ser considerada feriado em todo o país”.

Troca de feriado

O texto da proposição pretende alterar a lei 662/49, que estabelece os dias de feriados nacionais.

Para que não haja mais de um feriado no mesmo dia, o deputado sugere a revogação do feriado de 21 de abril, relativo à morte de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, em 1792.

Tiradentes foi símbolo da Inconfidência Mineira, mas, para Orleans e Bragança, a data foi apenas uma “criação do regime republicano, instalado no Brasil através de um golpe militar que baniu a família imperial brasileira. A República recém-instalada necessitava de símbolos e personagens históricos para sua legitimação perante o conjunto da população brasileira”.

Na justificativa, o parlamentar defende que o descobrimento do Brasil já foi considerado feriado nacional em outra ocasião e fixado pelo decreto 155-B de 1890. A comemoração se dava no dia 3 de maio, por se considerar que este foi o dia em que os portugueses aportaram em terras tupiniquins.

No entanto, Orleans e Bragança defende que “com a vinda da família real portuguesa para o Brasil, que trouxe consigo exemplar da Carta de Pero Vaz de Caminha, escrivão da frota, constatou-se que a data correta seria 22 de abril”. De acordo com a justificativa do projeto:

“A presente proposição legislativa pretende modificar essa lei, restituindo-se como feriado nacional o dia 22 de abril, data histórica relativa ao descobrimento oficial do Brasil. Consideramos que essa data possui uma legitimidade histórica e relevância na constituição de nossa identidade nacional, razão pela qual a mesma deve ser considerada feriado em todo o Brasil”

O projeto tramita em caráter conclusivo e será analisado pelas comissões de Cultura e posteriormente, pela CCJ.

21 de abril

Tiradentes nasceu em 12 de novembro de 1746 e era o quarto de sete filhos. Foi dentista, tropeiro, minerador, comerciante, militar e ativista político que atuou no Brasil. Participou de um dos principais movimentos de contestação do poder que a coroa portuguesa exercia sobre o Brasil Colônia, a Inconfidência Mineira, entre os anos de 1788 e 1789.

Devido à sua participação no movimento, Tiradentes foi preso e enforcado no dia 21 de abril.

Tiradentes é oficialmente patrono da nação brasileira desde 1965, quando o então presidente Castelo Branco sancionou a lei 4.897/65.

De acordo com a justificativa do PL 216/63, que eu origem à lei, a medida em que países da América foram se emancipando do imperialismo colonial, foram surgindo representantes do patriotismo. Neste sentindo, Tiradentes participou ativamente da emancipação brasileira, representando o ideal de liberdade e independência.

A bandeira do Estado de Minas Gerais traz o lema dos inconfidentes mineiros: Libertas quæ sera tamen – Liberdade ainda que tardia.

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O Dia da Consciência Negra e o senhor de escravos….Zumbi! https://portalconservador.com/o-dia-da-consciencia-negra-e-o-senhor-de-escravos-zumbi/ https://portalconservador.com/o-dia-da-consciencia-negra-e-o-senhor-de-escravos-zumbi/#comments Fri, 20 Nov 2015 16:18:32 +0000 http://portalconservador.com/?p=2681 read more →]]> Hoje é dia 20 de novembro. Para aqueles que não sabem, esse dia foi instituído como sendo o Dia Nacional da Consciência Negra pela Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003, no calendário escolar brasileiro. A Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011, instituiu o dia 20 de novembro como Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A data foi assim designada porque, de acordo com o governo, o líder negro Zumbi dos Palmares, rei do Quilombo dos Palmares, foi morto no dia 20 de novembro de 1695. Mas quem é Zumbi dos Palmares?

As ONGs procuram mitificar a história do Quilombo dos Palmares e de seu representante Zumbi, apresentando o primeiro como um refúgio de liberdade do negro perseguido e o segundo como herói nacional. A realidade histórica, entretanto, difere bastante dessas criações legendárias. O referido quilombo, longe de servir como refúgio, espalhava terror, mesmo entre muitos negros.

José de Souza Martins denuncia a mistificação do Quilombo dos Palmares ao denunciar a existência da escravidão dentro dele: Os escravos que se recusavam a fugir das fazendas e ir para os quilombos eram capturados e convertidos em cativos dos quilombos. A luta de Palmares não era contra a iniquidade desumanizadora da escravidão. Era apenas recusa da escravidão própria, mas não da escravidão alheia. As etnias de que procederam os escravos negros do Brasil praticavam e praticam a escravidão ainda hoje, na África. Não raro capturavam seus iguais para vendê-los aos traficantes. Ainda o fazem. Não faz muito tempo, os bantos, do mesmo grupo linguístico de que procede Zumbi, foram denunciados na ONU por escravizarem pigmeus nos Camarões[1]

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Um fato meticulosamente mantido fora dos registros históricos oficiais é o de que Zumbi dos Palmares [pintura acima] enviava esquadrões de ataque para fazendas vizinhas não com o intuito de libertar seus irmãos negros do jugo escravista, mas para roubar escravos dos senhores de terra em seu próprio proveito. Sim, Zumbi dos Palmares foi um dos maiores senhores escravistas de seu tempo. E não se engane: aqueles que ousavam fugir do “paraíso” quilombola de Palmares eram perseguidos por experientes capitães-do-mato e, uma vez recapturados, eram torturados e mortos em praça pública — menos de 100 anos depois, algo semelhante foi conduzido em Paris durante a Revolução Francesa, período conhecido como “O Terror”.

Ora, a ascensão dele se deu após o assassinato do tio: “Depois de feitas as pazes em 1678, os negros mataram o rei Ganga-Zumba, envenenando-o, e Zumbi assumiu o governo e o comando-em-chefe do Quilombo”. Zumbi rompeu as pazes e espalhou o terror. Tais eram as devastações que os quilombolas espalhavam em torno de si que a pedido da população circunvizinha foram organizadas as expedições armadas das quais resultou a sua destruição de Palmares.

Décio Freitas, autor do livro Palmares – A Guerra dos Escravos, em entrevista para a “Folha de S. Paulo”, confessou que depois das pesquisas, ele tem hoje uma visão diferente do líder negro Zumbi. ‘Acho que, se ele tivesse sido menos radical e mais diplomático, como foi seu tio Ganga-Zumba, teria possivelmente alterado os rumos da escravidão no Brasil.’’ Zumbi não tinha pretensões de libertar os escravos – maior mercadoria da África – e mantinha os costumes ali vigentes pelos quais algumas etnias escravizavam os seus inimigos. Os portugueses, na maior parte das vezes, não capturavam os escravos, mas os compravam das tribos africanas. Zumbi mantinha escravos de tribos inimigas para os mais variados trabalhos no quilombo.

Leandro Narloch argumenta ainda que o Quilombo dos Palmares reproduzia uma rígida hierarquia africana, com servos e escravos.  Além disso, outros negros não eram diferentes.. “o sonho dos escravos era ter escravos”. Na sociedade Brasileira, tanto na colônia quanto no Império, ter escravos era sinal de prestígio social, logo esse era o principal objetivo de um negro liberto. Assim como foi o caso da famosa Chica da Silva que tinha diversos escravos e não hesitava em castigá-los. Aos poucos a miscigenação também criou uma classe de senhores de escravos mulatos e pardos, enfraquecendo a ideia que se tem do senhor exclusivamente branco e de dezenas de escravos sofridos ao redor da casa grande. [3]

 

Referências

[1] José de Souza Martins, Divisões Perigosas, Ed. Civilização Brasileira, Rio, 2007, p. 99

[2] Edison Carneiro, O Quilombo dos Palmares, Ed. Civilização Brasileira, 3a ed., Rio, 1966, p. 35

[3] Leandro Narloch, Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, Rio, 2009, p. 88

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Relíquias de um conflito do século XIX: 15 raras fotografias da Guerra do Paraguai https://portalconservador.com/reliquias-de-um-conflito-do-seculo-xix-15-raras-fotografias-da-guerra-do-paraguai/ https://portalconservador.com/reliquias-de-um-conflito-do-seculo-xix-15-raras-fotografias-da-guerra-do-paraguai/#respond Tue, 22 Apr 2014 11:39:59 +0000 http://portalconservador.com/?p=680 read more →]]> 144 anos atrás terminava o mais sangrento conflito armado da história da América Latina, a Guerra do Paraguai mobilizou centenas de milhares de brasileiros, paraguaios, argentinos e uruguaios. Este episódio, ainda pouquíssimo trabalhado nos livros de História, decorreu numa drástica mudança no cenário econômico da chamada Região Platina.

Uma sequência de desentendimentos diplomáticos desencadeou na mobilização conjunta de Brasil, Argentina e Uruguai contra as forças paraguaias. Sob o comando do intitulado Ditador Perpétuo, Solano López, a então muitíssimo próspera República do Paraguai lutou até o último suspiro, no que resultou no massacre de quase toda população economicamente ativa do país.

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Artilharia uruguaia na Batalha do Boqueirão, e ao fundo tropas da tríplice aliança indo para o combate,1866.

A Guerra do Paraguai (1864-1870) teve consequências sérias para os dois lados combatentes, e entre os milhares de mortos, o mais radical resultado foi a conversão do Paraguai de uma pioneira república autossuficiente em uma nação miserável. Entre outros efeitos, também podemos destacar o fortalecimento do exército brasileiro e do pensamento abolicionista, dois pontos que influenciaram no processo que iria desencadear na Proclamação da República do Brasil em 1889.

Nos últimos anos essa temática vem sendo reavaliada por historiadores que se dividem entre correntes divergentes: alguns se referem ao Paraguai como uma grande vítima de interesses imperialistas envolvendo Brasil e Inglaterra; outros preferem ver o episódio de forma a diminuir uma suposta figura “idealizada” criada em torno da nação paraguaia. Neste contexto, alguns livros foram publicados reunindo a iconografia da Guerra, contemplando entre ilustrações e pinturas, algumas fotografias que podem enriquecer o imaginário sobre o período.

Ricardo Salles, historiador carioca que publicou um dos livros a respeito:

“Meu objetivo é ajudar na construção de uma memória da guerra que não seja laudatória nem depreciativa, mas dê a real dimensão da participação da sociedade brasileira no conflito”

As fotos deste artigo estão nesses livros e são do acervo da Biblioteca Nacional do Brasil, confira:

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A bandeira do Brasil Imperial tremula na cidade paraguaia de Humaitá, ao fundo podemos ver mastros de navios de guerra ancorados no Rio Paraguai,1868.

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Oficiais brasileiros posando para fotografias (1865; 1868).

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Membros do Batalhão de Voluntários da Pátria, regimento proveniente da longínqua província do Ceará, entre 1867 e 1868.

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Na foto à esquerda, cadáveres de paraguaios vítimas da Batalha do Boqueirão, 1866; à direita, um militar junto a dois meninos paraguaios que cresceram durante o conflito, eles se vestiam como soldados, 1868.

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Soldados brasileiros ajoelham-se diante da estátua de Nossa Senhora da Conceição durante uma procissão, 1868.

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Coronel Faria da Rocha revista tropas brasileiras em Tayi, Paraguai,1868.

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Oficial brasileiro ao lado de um prisioneiro paraguaio, foto datada entre 1865 e 1868.

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Nesta imagem podemos ver um religioso brasileiro junto a civis paraguaios. Os homens em pé ao fundo são das forças aliadas foto datada entre 1869 e 1870.

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Prisioneiros paraguaios fotografados durante a ocupação de Assunção, capital do país.

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Oficiais brasileiros nos momentos finais da Guerra do Paraguai, entre eles está o Conde d´Eu (com a mão na cintura), 1870.

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À esquerda o Imperador Pedro II usando trajes típicos durante uma visita ao Rio Grande do Sul, 1865; à direita a última foto de Solano López, 1870.

Fontes:
Lago, Bia Corrêa do. Os fotógrafos do Império: a fotografia brasileira no Século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2005.
Salles, Ricardo. Guerra do Paraguai: memórias & imagens. Rio de Janeiro: Edições Biblioteca Nacional, 2003.
Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 19, nº 38, p. 283-310. 1999

Escrito por Bruno Henrique Brito Lopes. História Ilustrada.

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A falsa memória da direita https://portalconservador.com/a-falsa-memoria-da-direita/ https://portalconservador.com/a-falsa-memoria-da-direita/#respond Fri, 03 Aug 2012 20:17:20 +0000 http://portalconservador.com/?p=3085 read more →]]> Dizem que o Brasil é um país sem memória, mas isso não é verdade: o Brasil é um país com falsa memória. Esquecer o passado é uma coisa, reinventá-lo conforme as ilusões do dia é bem outra. É desta doença que a memória do Brasil padece, e ela é bem mais grave que a amnésia pura e simples.

Não, não estou falando da manipulação esquerdista do passado. Ela existe, mas é só um aspecto parcial da patologia geral a que me refiro. Esta infecta pessoas de todas as orientações ideológicas possíveis e algumas sem orientação ideológica nenhuma. Ela é um simples resultado da ojeriza nacional à busca do conhecimento, portanto à reflexão madura sobre o que quer que seja.

Querem um exemplo de falsa visão do passado que não foi produzida por nenhum esquerdista? O país está cheio de almas conservadoras e cristãs que ainda idealizam o regime militar, como se ele fosse uma utopia retroativa, a encarnação extinta das suas esperanças.

É verdade que os militares não roubavam, que eles fizeram o país crescer à base de quinze por cento ao ano, que eles construíram praticamente todas as obras de infra-estrutura em que a economia nacional se apóia até hoje, que eles acabaram com as guerrilhas, que no tempo deles a criminalidade era ínfima e que os índices de aprovação do governo permaneceram bem altos pelo menos até a metade da gestão Figueiredo. Que tudo isso são méritos, ninguém com alguma idoneidade pode negar.

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Mas também é verdade que, tendo subido ao poder com a ajuda de uma rede enorme de instituições, partidos e grupos conservadores e religiosos, a primeira coisa que eles fizeram foi desmanchar essa rede, cortar as cabeças dos principais líderes políticos conservadores e privar-se de qualquer suporte ideológico na sociedade civil.

Fizeram isso porque não eram conservadores de maneira alguma, eram indivíduos formados na tradição positivista – forte nos meios militares até hoje – que abomina o livre movimento das idéias na sociedade e acredita que o melhor governo possível é uma ditadura tecnocrática. Pois foi uma ditadura de militares e tecnocratas iluminados o que impuseram ao país por vinte anos, rebaixando a política à rotina servil de carimbar sem discussão os decretos governamentais. Suas mais altas realizações foram triunfos típicos de uma tecnocracia, seus crimes e fracassos o efeito incontornável do desejo de tudo controlar, de tudo reduzir a um problema tecnoburocrático onde o debate político é  reduzido a miudezas administrativas e a onde a iniciativa espontânea da sociedade não conta para absolutamente nada.

O positivismo nada tem de conservador: é, com o marxismo, uma das duas alas principais do movimento revolucionário. Compartilha com sua irmã inimiga a crença de que cabe à elite governante remoldar a sociedade de alto a baixo, falando em nome do povo para que o povo não possa falar em seu próprio nome. Tal foi, acima de qualquer possibilidade de dúvida, a inspiração que acabou por predominar nos governos militares. Que dessem ao movimento de 1964 o nome de “Revolução” não foi mera coincidência, nem usurpação publicitária de um símbolo esquerdista: foi um sinal de que, por baixo da meta nominal de derrubar um governo corrupto e devolver rapidamente o país à normalidade, tinham planos de longo prazo, totalmente ignorados da massa que os aplaudia e até de alguns dos líderes civis de cuja popularidade se serviram para depois jogá-los fora com a maior sem-cerimônia.

Todas as organizações civis conservadoras e de direita que criaram a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, a maior manifestação popular da história brasileira até então, foram depois extintas, marginalizadas ou reduzidas a um papel decorativo. Como bons tecnocratas, os militares acreditavam piamente que podiam governar sem sustentação cultural e ideológica na sociedade civil, substituindo-a com vantagem pela pura propaganda oficial. Esta, por sua vez, era esvaziada de toda substância ideológica, reduzida ao triunfalismo econômico e à luta contra o “crime”. Gramsci, no túmulo, se revirava, mas de satisfação: que mimo mais delicioso se poderia oferecer aos próceres da “revolução cultural” do que um governo de direita que abdicava de concorrer com eles no campo cujo domínio eles mais ambicionavam? Naqueles anos, e não por coincidência, o monopólio do debate ideológico foi transferido à esquerda, que ao mesmo tempo ia dominando a mídia, as universidades, o movimento editorial e todas as instituições de cultura, sob os olhos complacentes de um governo que por isso se gabava de ser “pragmático” e “superior a ideologias”.

A esquerda, quando caiu do cavalo em 1964, teve ao menos o mérito de se entregar a um longo processo de autocrítica e até de mea culpa, de onde emergiu a dupla e concorrente estratégia das guerrilhas e do gramscismo, calculada para usar os guerrilheiros como bois-de-piranha e abrir caminho para a “esquerda pacífica”, na qual o governo militar não viu periculosidade alguma até que ela, por sua vez, o derrubou do cavalo com o escândalo do Riocentro e a enxurrada de protestos que se lhe seguiu.

Aqueles que, na “direita”, ou no que resta dela, se apegam ao regime militar como um símbolo aglutinador, em vez de examinar criticamente os erros que o levaram ao fracasso, estão produzindo um falso passado. Não o fazem por esperteza, como a esquerda, mas por ingenuidade legítima, com base na qual a única coisa que se pode construir é um futuro ilusório.

Escrito por Olavo de Carvalho. Diário do Comércio, 3 de agosto de 2012.

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Tiradentes, um dos mais graves enganos da História https://portalconservador.com/tiradentes-um-dos-mais-graves-enganos-da-historia/ https://portalconservador.com/tiradentes-um-dos-mais-graves-enganos-da-historia/#comments Sat, 21 Apr 2012 12:30:22 +0000 http://portalconservador.com/?p=696 read more →]]> Tiradentes é um dos mais graves enganos da História, contada a partir da república. Há algumas décadas passadas celebrava-se o 22 de abril. Nada mais justo: descobrimento do Brasil: Agora não. O 22 de abril passou há um dia qualquer desapercebido de comemoração, fazendo o povo esquecer-se da data. E aí passou-se a celebrar o 21 de abril de abril: Tiradentes! Mas, por que Tiradentes? O Império tivera, em sua história, muitos ícones a comemorar. Além de D. Pedro I, de D. Pedro II, de D. Leopoldina, de D. Amélia, de D. Thereza Christina e da Princesa Isabel, o Império tivera Caxias, Osório, Tamandaré, Barroso, Porto Alegre, Zacarias de Góes e Vasconcellos, Paraná, Paulo Barbosa, Ouro Preto, Alencar, Castro Alves, Amoedo, Gonçalves Dias, Silveira Martins, Ferreira Viana, Carlos Gomes, Mena Barreto, Pirajá, etc. etc. etc.

A República precisava também de um ícone. Deodoro… nem pensar! Arrependera-se de ter proclamado a República e era amigo do Imperador. Floriano Peixoto? Credo em Cruz! Mandou passar a fio da espada, 400 guardas-marinha da Esquadra Imperial, na Revolta da Armada. Prudente de Morais? Não. Chacinou Antônio Conselheiro e todos de Canudos. Campos Salles? Rodrigues Alves? Affonso Penna? Não poderiam servir. Antes da República, eram Conselheiros do Império. Barão do Rio Branco? Como um ícone da República pode ser um Barão? Jamais. Santos Dumont? Era amigo íntimo da Família Imperial no exílio de Paris. Oswaldo Cruz? Foi um grande médico, sanitarista, do período republicano, mas discípulo de outro médico, o Barão de Motta Maia, que acompanhou a Família Imperial, no exílio.

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Marechal Rondon? Talvez, mas tinha sangue e cara de índio! Washington Luís? Foi deposto por Getúlio, não serve também. Quem sabe, o próprio Getúlio? O homem dos trabalhadores. Mas… como, ícone de uma República que se diz liberal e democrática… um ditador? Amigo de Hitler, de Mussolini e de Plínio Salgado, que, por sinal, traiu? Juscelino? Fez Brasília! Mas acelerou a inflação e tinha cara de palhaço. Também não serve. Jânio Quadros? Era louco! Mas, então quem? Não há ninguém? Será possível? Villa-Lobos? Gênio da música, mas era um boêmio. Não serve. Foram escarafunchar, na História Colonial, anterior à vinda da Família Rela Portuguesa. Beckman? Não, tem nome alemão. O Sabino, da Sabinada da Bahia? Não serve, não tem perfil de ícone. Os mais antigos? Duarte Coelho, Tomé de Souza, Duarte da Costa, Mem de Sá?

Não podem! Foram nomeados pelo Rei de Portugal e eram seus súditos fiéis. Então, quem? Havia um alferes (sub-oficial) em Ouro Preto, que foi patriota de fato. Participou da conjuração Mineira de 1789 (conhecida como Inconfidência Mineira) que queria a independência de Minas Gerais, da Coroa Portuguesa, e era republicano, e foi o único que se declarou, de fato, revolucionário, enquanto os outros negaram, em Tribunal. Os outros eram importantes, Padres, Juízes, desembargadores, poetas famosos, Coronéis, outros oficiais, etc…etc… Mas todos, ou se mataram na prisão (como Alvarenga Peixoto) ou traíram seus ideais negando sua participação na Inconfidência. Tanto que a pena de morte foi reformada em exílio perpétuo para a África (que não foi perpétuo, pois 33 anos depois, D. Pedro I proclamava a independência (não só de Minas, mas do Brasil todo) e eles puderam voltar (alguns voltaram já no tempo de D. João VI). Nenhum deles, portanto, serve de ícone republicano, mas e o alferes? Não é muito insignificante? Ainda mais que nas horas vagas era barbeiro, e como, costume da época, também arrancava dentes: “Cabelo, barba e dentes”, por favor, e o fulano sentava-se, corajosamente, na cadeira do “Tiradentes”. É insignificante e acabou louco, antes de ser enforcado. (Se é que foi, há dúvidas; como era “masson”, o teriam salvo e trocado por outro, também condenado à morte. Suspeita-se). É um simples alferes, tirador de dentes. Não faz mal. Nós o inventamos. Com quem ele precisa parecer-se? Claro! Com Jesus! O mártir da pátria! Vamos por lhe barbas (os enforcados tinham cabelo e barba raspados, antes da execução). E criar sua História” Será o Ícone da República, já que não há nenhum outro. Foi um patriota republicano. Haverá dúvida? Mas por que não agiu como os demais, tirando o corpo fora? Terá sido mesmo como patriota? Ou como irresponsável, por causa da loucura?

A conjuração, antes de ser descoberta pelas autoridades da coroa-portuguesa, ia de vento em popa, embora com tão poucos partícipes, que podiam reunir-se na sala do poeta Tomaz Antônio Gonzaga (o Dirceu da Marília). Todos eram homens de estatura alta, ou da política ou intelectual, ou militar, etc. entre os de pequena estatura, contava-se Joaquim José da Silva Xavier, o alferes, tiradentes. Era jovem, robusto e patriota (pelo menos parecia ser), logo, a figura indicada para ir, de viagem ao Rio de Janeiro, a fim de encontrar aderentes à Inconfidência. Foi mandado, quase como um moleque de recados. Como não tivesse muita instrução, nem tino político, ou lábia publicitária, fracassou. Todas as portas que visitou no Rio de Janeiro, lhe foram fechadas, ou melhor ainda, lhe eram batidas na cara. Fora! Não queremos nada com você! Fruto da revolução lá dos franceses; fora! E foram tantos os foras, que o já fraco equilíbrio psíquico do Tiradentes, tornou-se em loucura. Voltou para Ouro Preto, ou vila Rica, como também era chamada a capital da capitania. A volta foi mais dura que a vinda, pois se na vinda sofrera as agruras de viajante daquele tempo, pelo menos havia a esperança!

À volta, teve as mesmas agruras, mas sem a esperança. E a falta da esperança aumentou a insanidês. Pousava em fazendas, do caminho. E nas casas-grandes dos fazendeiros (em geral ligadas ao Marquês de Barbacena, governador das Minas Gerais), contava, à mesa, que tropas do Rio de Janeiro marchariam, em breve, para engrossar os exércitos de revolucionários de Ouro Preto, que a França e os Estados Unidos enviariam esquadras, para combater o Vice-Rei, no Rio de Janeiro, impedindo-o de ajudar o Barbacena. E assim por diante. Em cada parada, até Ouro Preto, aumentavam seus delírios. Resultado: O Marquês de Barbacena ficou sabendo de tudo, antes mesmo que o traidor Silvério dos Reis, lhe contasse. Por isso não deu guarida ao Silvério e mandou prendê-lo também. Também, porque, mal Tiradentes chegou a Ouro Preto foi encarcerado, junto com todos os outros inconfidentes, que ele havia delatado, na mais pura ingenuidade dos insensatos e loucos! Como já dissemos foram todos a Tribunal, e negaram; menos ele. O processo chegou a Lisboa e o Alto Tribunal da Corte, condenou todos à pena máxima: forca! Mas reinava em Portugal uma mulher, a Rainha D. Maria I, que ainda não tinha perdido suas faculdades mentais. E como mulher e bondosa católica reformou a sentença de morte, para degredo em Angola, menos para Tiradentes, que havia confessado o crime de lesa majestade. (Dizem que mais tarde, D. Maria I, melhor informada da insanidade de Tiradentes, reformara também sua sentença, para degredo, mas a reforma da sentença, teria chegado tardiamente, pois Tiradentes já tinha sido enforcado).

O Ícone da República, o alferes Tiradentes, é uma figura tão paradoxal, quanto à própria conjuração que se pavoneou do título de Inconfidência. Quem não conhece bem o latim, não entendeu porque a Coroa Portuguesa chamou o movimento de Inconfidência. Porque “Inconfidere”, em latim é o contrário de “Fidere”. “Fidere é confiar”; inconfidere” é desconfiar. Ou melhor: desconfia-se de quem é traidor, inconfidente: Traidores da Coroa. Até hoje, infelizmente, em Ouro Preto , na Praça, Central, sobre o portal da Casa da Câmara está escrito “Museu da Inconfidência” ou seja: “Museu da Traição”.

Escrito por Otto de Alencar de Sá-Pereira, advogado, professor e historiador.

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Tiradentes: um heroi inventado https://portalconservador.com/tiradentes-um-heroi-inventado/ https://portalconservador.com/tiradentes-um-heroi-inventado/#comments Wed, 21 Apr 2010 03:14:32 +0000 http://portalconservador.com/?p=2849 read more →]]> Assim como, depois de 1889, Zumbi dos Palmares foi elevado a herói, Tiradentes teve sua façanha inventada e logo, reconhecida, sendo transformada em dia de feriado nacional.

Todos os anos, dia 21 de abril, escolas, repartições públicas, empresas privadas, indústrias de todo tipo, comércios e outros serviços, fecham as portas para mais um feriado instituído pelo governo federal. Mas alguém lembra que feriado é este? Alguns diriam: “Ora, é o ‘dia’ de Tiradentes”. Dentre estes alguns, poucos diriam ao acrescentar que é feriado comemorativo a Tiradentes: “é feriado de Tiradentes, aquele herói que lutou pela independência do Brasil e foi morto e esquartejado”. A realidade mostra que ninguém sabe quem realmente foi Tiradentes e que a população pouco sabe a respeito, pois o feriado contenta a quase todos. Mas será que Tiradentes foi esse herói que os livros escolares apresentam aos alunos? Será que o objetivo de Tiradentes e dos outros inconfidentes era realmente a independência do Brasil? Será que este “herói” morreu em 21 de abril de 1792? Será que Tiradentes foi um herói nacional? A historiografia recente mostra que este homem não foi nada do que dizem ser.

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Tiradentes: pintaram-no como Cristo, mas não há nem mesmo a certeza de que tenha morrido em 21 de abril de 1792. Uma farsa pintada pela república.

Uso, pois, excertos de uma entrevista na TV Capixaba, do Espírito Santo do historiador Clério José Borges de Sabt Anna, concedida a Marcelo Carlos em 21 de abril de 2008:

“Joaquim José da Silva Xavier, o nosso Tiradentes, herói nacional a partir da data da proclamação da República era considerado um vilão até 15 de Novembro de 1889. Tiradentes foi apenas um bode expiatório de uma revolução que estava mais preocupada com o quinto do ouro das Minas Gerais que era enviado à Portugal. Tiradentes nasceu na Vila de São Jose Del Rei (atual cidade mineira de Tiradentes) em 1746, porém foi criado na cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto). Tiradentes era alferes, na hierarquia militar antiga, a patente de oficial abaixo de tenente. Participaram da tentativa de derrubar o governo português, por exemplo, dois coronéis, Domingos de Abreu Vieira e Francisco Antônio de Oliveira Lopes, e dois poetas famosos até hoje, Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga.

A clássica imagem de Tiradentes (de barba e cabelo comprido) é fictícia. Ele nunca possuiu cabelos compridos, nem barba. Seja em sua época de militar (posto em que os membros do exército devem moderar sua quantidade de pelugem pelo rosto), seja em seu período na prisão (os pelos eram cortados a fim de evitar piolhos), ou mesmo no momento de sua execução (todos os condenados à forca deveriam ter a cabeça e a barba raspadas). A lembrança de Tiradentes e de seu movimento se tornaram importantes, a ponto de receberem interesse nacional, a partir da Proclamação da República (15/11/1889). Nesse momento, os novos governantes (Marechal Deodoro e Marechal Floriano) necessitavam criar um novo país, com novos valores, novas idéias e, especialmente, uma nova história e novos heróis, dos quais todas as pessoas deveriam se orgulhar e se submeter. A imagem cabeluda se construiu, para se assemelhar a figura do condenado à de Jesus Cristo, aumentando seu tom de mártir, vítima e herói bondoso. Para fazer com que as pessoas tivessem o seguinte pensamento: “da mesma forma que Cristo morreu pela humanidade, Tiradentes morreu para salvar o Brasil” E todos se orgulhariam do sujeito, da terra que ele supostamente defendeu, e procurariam espelhar-se em seu caráter heróico.”

Tiradentes é um herói inventado.

A partir de 15 de novembro de 1889, houve um trabalho significativo por parte do governo republicano nacional para transformar Tiradentes em herói nacional, precursor da Independência do Brasil, caracterizando-o como Cristo, sendo Tiradentes um ser quase sobrenatural, que apesar de todas as imperfeições, deveria inspirar as virtudes do homem, sendo um verdadeiro mártir, símbolo da resistência, da divisão, da independência do Brasil. Tudo isso para substituir a figura de Dom Pedro I, que a 7 de setembro de 1822 proclamou a independência, indispondo-se com o pai, Dom João VI e com a terra em que havia nascido, Portugal. Queriam os republicanos, substituir todas as figuras nacionais de relevo, obviamente monárquicas (sistema de governo, até 1889, utilizado pelo Brasil), por criaturas inventadas, revolucionários anarquistas, homem fictícios, verdadeiros semideuses inexistentes.

Conforme Thais Nívea de Lima Fonseca, da Universidade Federal de Minas Gerais, dissertou na Revista Brasileira de História, “há muito tempo os jornais têm dado espaço ao tema da Inconfidência Mineira, quase sempre para a exaltação de Tiradentes como herói e mártir, usando-o como modelo em discursos em geral de natureza nacionalista e/ou moralista. A história de Tiradentes passou a ocupar espaço na imprensa com o crescimento do movimento republicano na segunda metade do século XIX e, mais ainda, com a instalação da própria República. Desde então, artigos, poemas, reportagens, ensaios e outras modalidades de textos têm sido publicados prodigamente, sobretudo no momento da celebração da morte do herói, a 21 de abril”.

Relata ainda “Se a Inconfidência Mineira tem sido elemento de suporte a uma determinada construção historiográfica e a projetos e posicionamentos políticos desde as últimas décadas do século XIX, Tiradentes desponta como seu símbolo, síntese das idéias das quais o movimento seria o precursor, no Brasil. Ele se tornou, talvez, o personagem mais popular da história nacional, adquirindo contornos heróicos e status de mito político. Apesar de muito marcada pela ação dos republicanos e de seus interesses, a construção desse perfil de Tiradentes não se deveu apenas a eles. Da popularidade presumida à transformação em herói e mito político, Tiradentes percorreu um caminho sulcado pela ambiência cultural de seu próprio tempo e pela herança deixada por ela em tempos posteriores. Muitas de suas representações foram, sem dúvida, construídas e manipuladas”… “Alguns poucos trabalhos têm buscado esse manancial e têm aberto as fronteiras para os avanços neste campo. José Murilo de Carvalho já havia indicado alguns caminhos para a pesquisa dessa problemática, discutindo, em ‘A formação das almas’, a construção do mito de Tiradentes pelos republicanos no final do século XIX.

Seguindo a trilha traçada por Maurice Agulhon para a França, Carvalho tratou da apropriação, no Brasil, de um conjunto de símbolos e mitos republicanos de matriz francesa, no processo de estruturação da República brasileira. Inspirados por esse trabalho, temos, já na década de 90, as análises de Eliana Dutra e de Sérgio Vaz Alkmin, que se preocuparam, especialmente, com o processo de formulação de uma imagem sacralizada e cristianizada da Inconfidência Mineira e de Tiradentes, tomando como base os relatos dos frades que assistiram os inconfidentes em seu período de prisão no Rio de Janeiro. Esse tipo de abordagem representa, de fato, um retorno aos documentos, a valorização de uma pesquisa empírica mais apurada, a busca de uma nova leitura, de aspectos ainda não tratados nestas fontes que, apesar de já muito utilizadas, ainda têm muito a revelar”.

Diz ainda: “ficam claros alguns aspectos importantes na construção do perfil heróico de Tiradentes, que acaba por utilizar suas fraquezas, sua situação social inferior, e até mesmo seus supostos erros, como elementos de valorização de sua pessoa e de sua atuação. No fim, todos acabam por concordar que, pela morte, ele superou todas as restrições, qualquer que fosse sua natureza, e fez despontar, postumamente, todas as suas “verdadeiras” qualidades. Não é difícil perceber as possibilidades de aceitação dessa representação — e, também, de sua manipulação — junto ao público em geral, a partir de uma percepção deste Tiradentes que, apesar de pobre e fraco, poderia simbolizar as conquistas de toda uma nação.” Thais Fonseca ainda crítica os que tentam inutilmente alimentar a estória de que Tiradentes foi realmente um herói: “Especialmente em Minas Gerais, os jornais acabaram por tornar-se porta-vozes de uma versão oficial da história, e de uma posição francamente favorável à exaltação patriótica de Tiradentes.

Entre os que foram pesquisados, o único ainda remanescente, o Estado de Minas, mantém essa postura, não obstante publique entrevistas com historiadores da vertente revisionista, em matérias nas quais procura polemizar as divergências historiográficas. Mas a “voz” do jornal se faz ouvir, por meio de editoriais e de algumas colunas assinadas, dos seus quadros fixos. E nelas, não raro, apela-se ainda para os clássicos defensores de uma história da nação: ‘O Brasil é o único país da América em que existe, há mais de um século, uma campanha sistemática de desmoralização do precursor da independência.’ Essa frase de Waldemar de Almeida Barbosa resume um dos paradoxos da historiografia brasileira. Paradoxo que não chega a ser espantoso porque volta a comprovar o complexo de inferioridade e síndrome de catástrofe que envolvem a cultura nacional. Esse é o pretexto para o jornalista, ferrenho defensor de uma representação heróica de Tiradentes, retomar sua série de investidas contra o que ele considera paradoxos da historiografia brasileira, ou seja, o revisionismo”.

Os que ficaram pasmos com a desconstrução feita em relação a figura mítica de Tiradentes, espantar-se-ão ainda mais com o estudo de Laura Pinca, no artigo “Tiradentes, o bode expiatório” para a Associação Cultural Montfort, o qual transcrevemos integralmente abaixo:

“Novos estudos históricos apresentam uma inconfidência mineira diferente daquela que nos narram os livros didáticos.

Embora a historiografia oficial considere a inconfidência mineira (1789) como uma grande luta para a libertação do Brasil, o historiador inglês Kenneth Maxwell, autor de “A devassa da devassa” (Rio de Janeiro, Terra e Paz, 2ª ed. 1978.) que esteve recentemente no Brasil, diz que “a conspiração dos mineiros era, basicamente, um movimento de oligarquias, no interesse da oligarquia, sendo o nome do povo invocado apenas como justificativa”, e que objetivava, não a independência do Brasil, mas a de Minas Gerais.

Esses novos estudos apresentam um Tiradentes bem mudado: sem barba, sem liderança e sem glória. Segundo Maxwell, Joaquim José da Silva Xavier não foi senão o “bode expiatório” da conspiração. (op.cit., p. 222) “Na verdade, o alferes provavelmente nunca esteve plenamente a par dos planos e objetivos mais amplos do movimento.” (p.216) O que é natural acreditar. Como um simples alferes (o equivalente a tenente, hoje) lideraria coronéis, brigadeiros, padres e desembargadores?

A Folha de S. Paulo publicou um artigo (21-04-98) no qual se comentam os estudos do historiador carioca Marcos Antônio Correa. Correa defende que Tiradentes não morreu enforcado em 21 de abril de 1792. Ele começou a suspeitar disso quando viu uma lista de presença da Assembléia Nacional francesa de 1793, onde constava a assinatura de um tal Joaquim José da Silva Xavier, cujo estudo grafotécnico permitiu concluir que se tratava da assinatura de Tiradentes. Segundo Correa, um ladrão condenado morreu no lugar de Tiradentes, em troca de ajuda financeira à sua família, oferecida pela maçonaria. Testemunhas da morte de Tiradentes se diziam surpresas, porque o executado aparentava ter menos de 45 anos. Sustenta Correa que Tiradentes teria sido salvo pelo poeta Cruz e Silva (maçom, amigo dos inconfidentes e um dos juízes da Devassa) e embarcado incógnito para Lisboa em agosto de 1792.

Isso confirma o que havia dito Martim Francisco (irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva): que não fora Tiradentes quem morrera enforcado, mas outra pessoa, e que, após o esquartejamento do cadáver, desapareceram com a cabeça, para que não se pudesse identificar o corpo.

“Se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria pelo Brasil”. Como só tinha uma, talvez Tiradentes tenha preferido ficar com ela.”

Tiradentes02-Portal-Conservador

Bandeira da “Inconfidência” Mineira: símbolos maçônicos influenciaram o suposto movimento. A maçonaria estava presente na “Inconfidência”, planejou a fuga de Tiradentes para a Europa.

Um herói falso

A proclamação da república, em 1889, iniciou a desvalorização da história nacional, tentando seus precursores, inventar personagens e dignificá-los para assim poderem justificar em seus atos, a grandeza de feitos inexistentes. Mentiras que documentos contrariam. Atribui-se a Tiradentes um falso perfil, falsos atos, quando na verdade não existe nem mesmo a certeza de que ele tenha sido morto na data em que se celebra o feriado nacional. 120 anos de mentira. A ele Floriano Peixoto atribui igualmente uma célebre frase, mas que ele nunca disse (ao menos não deixou comprovação alguma disso), mas que foi copiada tal qual a Redentora, a Princesa Dona Isabel, disse em 1888, quando assinou a lei Áurea: “mil tronos eu tivesse, mil tronos eu daria para libertar uma raça”, adulterando-se e copiando-se a frase como sendo proferida por Tiradentes, que teria dito: “Se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria pelo Brasil”.

Diante de tantos argumentos, estudos históricos de relevância, complicações, revisões dos textos e artigos escritos, torna-se ridículo alimentar uma farsa que ainda se mantém pela ignorância popular e pelas mentiras republicanas. Seria 21 de abril o dia da Mentira?

Publicado originalmente no blog Monarquia Já.

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A história oficial de 1964 https://portalconservador.com/a-historia-oficial-de-1964/ https://portalconservador.com/a-historia-oficial-de-1964/#comments Tue, 19 Jan 1999 12:34:01 +0000 http://portalconservador.com/?p=699 read more →]]> Se houve na história da América Latina um episódio sui generis, foi a Revolução de Março (ou, se quiserem, o golpe de abril) de 1964. Numa década em que guerrilhas e atentados espoucavam por toda parte, seqüestros e bombas eram parte do cotidiano e a ascensão do comunismo parecia irresistível, o maior esquema revolucionário já montado pela esquerda neste continente foi desmantelado da noite para o dia e sem qualquer derramamento de sangue.

Brasil, São Paulo, SP. 25/03/1964. Marcha da Família com Deus pela Liberdade na região central de São Paulo.
Foto: Arquivo/AE

O fato é tanto mais inusitado quando se considera que os comunistas estavam fortemente encravados na administração federal, que o presidente da República apoiava ostensivamente a rebelião esquerdista no Exército e que em janeiro daquele ano Luís Carlos Prestes, após relatar à alta liderança soviética o estado de coisas no Brasil, voltara de Moscou com autorização para desencadear – por fim! – a guerra civil no campo. Mais ainda, a extrema direita civil, chefiada pelos governadores Adhemar de Barros, de São Paulo, e Carlos Lacerda, da Guanabara, tinha montado um imenso esquema paramilitar mais ou menos clandestino, que totalizava não menos de 30 mil homens armados de helicópteros, bazucas e metralhadoras e dispostos a opor à ousadia comunista uma reação violenta. Tudo estava, enfim, preparado para um formidável banho de sangue.

Na noite de 31 de março para 1o. de abril, uma mobilização militar meio improvisada bloqueou as ruas, pôs a liderança esquerdista para correr e instaurou um novo regime num país de dimensões continentais – sem que houvesse, na gigantesca operação, mais que duas vítimas: um estudante baleado na perna acidentalmente por um colega e o líder comunista Gregório Bezerra, severamente maltratado por um grupo de soldados no Recife. As lideranças esquerdistas, que até a véspera se gabavam de seu respaldo militar, fugiram em debandada para dentro das embaixadas, enquanto a extrema-direita civil, que acreditava ter chegado sua vez de mandar no país, foi cuidadosamente imobilizada pelo governo militar e acabou por desaparecer do cenário político.

Qualquer pessoa no pleno uso da razão percebe que houve aí um fenômeno estranhíssimo, que requer investigação. No entanto, a bibliografia sobre o período, sendo de natureza predominantemente revanchista e incriminatória, acaba por dissolver a originalidade do episódio numa sopa reducionista onde tudo se resume aos lugares-comuns da “violência” e da “repressão”, incumbidos de caracterizar magicamente uma etapa da história onde o sangue e a maldade apareceram bem menos do que seria normal esperar naquelas circunstâncias.

Os trezentos esquerdistas mortos após o endurecimento repressivo com que os militares responderam à reação terrorista da esquerda, em 1968, representam uma taxa de violência bem modesta para um país que ultrapassava a centena de milhões de habitantes, principalmente quando comparada aos 17 mil dissidentes assassinados pelo regime cubano numa população quinze vezes menor. Com mais nitidez ainda, na nossa escala demográfica, os dois mil prisioneiros políticos que chegaram a habitar os nossos cárceres foram rigorosamente um nada, em comparação com os cem mil que abarrotavam as cadeias daquela ilhota do Caribe. E é ridículo supor que, na época, a alternativa ao golpe militar fosse a normalidade democrática. Essa alternativa simplesmente não existia: a revolução destinada a implantar aqui um regime de tipo fidelista com o apoio do governo soviético e da Conferência Tricontinental de Havana já ia bem adiantada. Longe de se caracterizar pela crueldade repressiva, a resposta militar brasileira, seja em comparação com os demais golpes de direita na América Latina seja com a repressão cubana, se destacou pela brandura de sua conduta e por sua habilidade de contornar com o mínimo de violência uma das situações mais explosivas já verificadas na história deste continente.

No entanto, a historiografia oficial – repetida ad nauseam pelos livros didáticos, pela TV e pelos jornais – consagrou uma visão invertida e caricatural dos acontecimentos, enfatizando até à demência os feitos singulares de violência e omitindo sistematicamente os números comparativos que mostrariam – sem abrandar, é claro, a sua feiúra moral – a sua perfeita inocuidade histórica.

Por uma coincidência das mais irônicas, foi a própria brandura do governo militar que permitiu a entronização da mentira esquerdista como história oficial. Inutilizada para qualquer ação armada, a esquerda se refugiou nas universidades, nos jornais e no movimento editorial, instalando aí sua principal trincheira. O governo, influenciado pela teoria golberiniana da “panela de pressão”, que afirmava a necessidade de uma válvula de escape para o ressentimento esquerdista, jamais fez o mínimo esforço para desafiar a hegemonia da esquerda nos meios intelectuais, considerados militarmente inofensivos numa época em que o governo ainda não tomara conhecimento da estratégia gramsciana e não imaginava ações esquerdistas senão de natureza inssurrecional, leninista. Deixados à vontade no seu feudo intelectual, os derrotados de 1964 obtiveram assim uma vingança literária, monopolizando a indústria das interpretações do fato consumado. E, quando a ditadura se desfez por mero cansaço, a esquerda, intoxicada de Gramsci, já tinha tomado consciência das vantagens políticas da hegemonia cultural, e apegou-se com redobrada sanha ao seu monopólio do passado histórico. É por isso que a literatura sobre o regime militar, em vez de se tornar mais serena e objetiva com a passagem dos anos, tanto mais assume o tom de polêmica e denúncia quanto mais os fatos se tornam distantes e os personagens desaparecem nas brumas do tempo.

Mais irônico ainda é que o ódio não se atenue nem mesmo hoje em dia, quando a esquerda, levada pelas mudanças do cenário mundial, já vem se transformando rapidamente naquilo mesmo que os militares brasileiros desejavam que ela fosse: uma esquerda socialdemocrática parlamentar, à européia, desprovida de ambições revolucionárias de estilo cubano. O discurso da esquerda atual coincide, em gênero, número e grau, com o tipo de oposição que, na época, era não somente consentido como incentivado pelos militares, que viam na militância socialdemocrática uma alternativa saudável para a violência revolucionária.

Durante toda a história da esquerda mundial, os comunistas votaram a seus concorrentes, os socialdemocratas, um ódio muito mais profundo do que aos liberais e capitalistas. Mas o tempo deu ao “renegado Kautsky” a vitória sobre a truculência leninista. E, se os nossos militares tudo fizeram justamente para apressar essa vitória, por que continuar a considerá-los fantasmas de um passado tenebroso, em vez de reconhecer neles os precursores de um tempo que é melhor para todos, inclusive para as esquerdas?

Para completar, muita gente na própria esquerda já admitiu não apenas o caráter maligno e suicidário da reação guerrilheira, mas a contribuição positiva do regime militar à consolidação de uma economia voltada predominantemente para o mercado interno – uma condição básica da soberania nacional. Tendo em vista o preço modesto que esta nação pagou, em vidas humanas, para a eliminação daquele mal e a conquista deste bem, não estaria na hora de repensar a Revolução de 1964 e remover a pesada crosta de slogans pejorativos que ainda encobre a sua realidade histórica?

Escrito por Olavo de Carvalho.

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