Portal Conservador » História Americana http://portalconservador.com Este novíssimo Portal é dirigido àqueles que defende a família; o capitalismo; a tradição judaico-cristã e a Igreja. Thu, 05 Dec 2013 22:41:56 +0000 pt-BR hourly 1 http://wordpress.org/?v=3.6.1 A guerra antes da Civilização http://portalconservador.com/a-guerra-antes-da-civilizacao/ http://portalconservador.com/a-guerra-antes-da-civilizacao/#comments Sun, 03 Nov 2013 13:02:28 +0000 Commodoro http://portalconservador.com/?p=2985 read more →]]> Atualmente estou lendo The Barbarous Years (Os anos bárbaros) do historiador Bernard Bailyn. Ele pinta um quadro muito sombrio da vida no século XVII na América do Norte. Embora nossas fontes históricas estejam principalmente preocupadas com massacres e atrocidades envolvendo europeus, quem desempenhou o papel de vítimas tão frequentemente quanto autores, cruéis e impiedosos, são justamente os membros das sociedades nativo-americanas em seus conflitos inter-tribais.

Os homens eram emboscados e mortos quando afastados em viagens de caça, enquanto mulheres punham elas mesmas em risco quando partiam dos assentamentos para colher frutas e castanhas. Ocasionalmente, grandes grupos de guerra invadiam aldeias inteiras, mesmo aquelas que eram bem protegidas por muralhas defensivas (como muitas eram).

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Cidade nativa na Flórida mostrando uma paliçada e casas com telhados de sapê. Esta é uma gravura de Theodore de Bry feita em 1591 baseada em pinturas que Jacques le Moyne de Morgues tinha terminado logo depois de sua chegada ao Novo Mundo em 1564 (de Lorant 1946:95). Fonte

Os vencedores saqueavam estoques de alimentos, destruíam plantações, queimavam casas, despachavam os feridos e levavam os sobreviventes. Embora mulheres e crianças fossem com frequência adotadas para dentro da nova tribo, os guerreiros derrotados eram geralmente torturados até a morte.

os prisioneiros eram muitas vezes mutilados – dedos eram picados ou mordidos, incapacitando-os para futuras guerras; costas e ombros eram rasgados, e nessa tortura sistemática, seus corpos eram cortados por mulheres; crianças, por sua vez, escaldavam as partes mais sensíveis dos corpos imobilizados com carvão em brasa. No final, eles eram mais provavelmente queimados até a morte após estripação; algumas partes dos corpos eram comidos, e seu sangue bebidos em comemoração.

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Jacques Le Moyne de Morgues. Cena do Canibalismo. Fonte

Insegurança e guerra, com ameaça constante de súbita (ou, pior, dolorida e degradante) morte, era a condição típica das sociedades humanas antes da “civilização” – antes dos Estados de larga-escala: com seus governos e burocratas, suas forças policiais, juízes e tribunais; economias complexas e uma intrincada divisão do trabalho.

Parte dos antropólogos usam como objeto a conhecida história das sociedades ameríndias como um espelho da vida em pequena escala. Eles discutiam que a chegada dos europeus nas Américas com seus germes, ferramentas metálicas, armas, e um insaciável apetite por um certo bom comércio (tal como peles) desestabilizaram as sociedades nativas e levantaram a intensidade e letalidade da guerra inter-tribal. Existe muito mérito nesse argumento. Mas geralmente, a intensidade da guerra tinha variado muito entre diferentes regiões e, dentro dessas regiões, ao longo do tempo. Contudo, a vida nas sociedades tribais são muito mais precárias e violentas do que a maioria das pessoas creem.

Sabemos que é verdade porque a arqueologia pode-nos dizer muito mais hoje, se comparado com algumas décadas atrás, sobre a vida em sociedades antes da história. Considere, por exemplo, uma aldeia de índios Oneota, que viveram ao longo do rio Illinois 700 anos atrás (200 anos antes de Colombo). Arqueólogos localizaram o cemitério da aldeia (cujo local é conhecido como “the Norris Farms #36″) e estudaram os restos mortais de 264 pessoas que foram enterradas ali. No mínimo, 43 deles – 16 por cento – morreram por morte violenta. Segundo George Milner,

Muitos deles foram atingidos em suas frentes, lados, e costas com armas pesadas, tal como celtas [machados de pedra], ou foram acertados com flechas. Algumas pessoas aparentemente estavam enfrentando seus agressores. Supõe-se que estes últimos foram feridos enquanto tentavam fugir. As vítimas foram, ocasionalmente, feridas mais vezes que o necessário para causar a morte; talvez vários guerreiros dirigiam golpes – participando, assim, das execuções. Os corpos com frequência eram mutilados pela remoção do couro cabeludo, cabeças e membros.

O padrão das mortes sugere um estado constante de guerra, com homens e mulheres sendo emboscados individualmente ou em pequenos grupos. Em outras palavras, a aldeia Oneota foi bastante similar a muitas outras aldeias indígenas observadas por europeus, embora, como eu disse anteriormente, um aumento geral da violência é perceptível na era pós-Colombo.

A proporção estimada que morreu em decorrência de morte violenta, 16 por cento, situa-se na linha média de estimativas para as populações pré-históricas. Isto não quer dizer, contudo, que a vida era uniformemente desalentadora. Ás vezes as pessoas dessas sociedades viviam longos períodos de paz e prosperidade. Em outras ocasiões, a guerra era até mesmo insuportável para os moradores de Oneota. Aproximadamente, ao mesmo tempo, mas a centenas de quilômetros do noroeste de Oneota, em Crow Creek, Dakota do Sul, houve uma aldeia dos oradores de Caddoan. Crow Creek é um dos mais famosos sítios de massacre pré-históricos. Era uma aldeia substancial protegida por um fosso defensivo, mas foi invadida e completamente destruída por inimigos.

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 Jacques Le Moyne de Morgues. Ataque a aldeia indígena com flechas em chamas. Fonte

Esqueletos de cerca de 500 corpos, pilhados em vala comum, mostram evidências de mortes violentas seguidas de extensivas mutilações. Essencialmente todos os corpos estavam sem o couro cabeludo; muitos corpos decapitados ou com membros cortados. Algumas tiveram suas línguas cortadas.

Como os índios tratados os cadáveres de seus inimigos, "de Narratio Brevis ..", gravado por Theodore de Bry (1528-1598), publicado em Frankfurt, 1591 (gravura colorida)

Jacques Le Moyne de Morgues. Como os índios tratavam os corpos dos seus inimigos. Fonte

 

Escrito por Peter Turchin. Tradução de John Ford Braüner.

Título original: War Before Civilization (31/10/13)

Fonte: Social Evolution Forum

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Habitantes da primeira colônia inglesa nos EUA praticavam canibalismo http://portalconservador.com/habitantes-da-primeira-colonia-inglesa-nos-eua-praticavam-canibalismo/ http://portalconservador.com/habitantes-da-primeira-colonia-inglesa-nos-eua-praticavam-canibalismo/#comments Thu, 30 May 2013 16:26:59 +0000 Commodoro http://neoconservatism.us/?p=848 read more →]]> Os Ossos do socialismo! Os habitantes da primeira colônia inglesa nos Estados Unidos recorreram ao canibalismo para sobreviver à ineficiência do sistema coletivista em que viviam. Aos 14 anos, a jovem Jane chegou em um navio de suprimentos a Jamestown, a primeira colônia inglesa na América, em 1609. A causa de sua morte, meses depois, é um mistério, mas sabe-se que seu cadáver foi desmembrado para ser devorado por um grupo de colonos. Seu crânio foi aberto e a carne do seu rosto foi destrinchada por uma pessoa sem experiência com a faca, o que pode ser constatado pela hesitação das marcas deixadas na testa e na mandíbula.

A caveira de Jane, com marcas de faca na testa (à dir.), e o seu rosto reconstituído (à esq.)

A caveira de Jane, com marcas de faca na testa (à dir.), e o seu rosto reconstituído (à esq.) (Fotos: Carolyn Kaster / AP)

A tíbia foi descarnada por alguém com maior conhecimento do ofício. Esses ossos, encontrados no ano passado no que sobrou do porão de uma antiga cozinha, são o primeiro indício arqueológico do canibalismo nas colônias pioneiras, onde hoje fica o estado americano de Virgínia. Essa prática já havia sido registrada em cartas e outros relatos históricos. A descoberta foi revelada no início deste mês.

O horripilante destino de Jane, como a garota foi batizada pelos arqueólogos, é uma exceção, restrita à penúria enfrentada pelos moradores de Jamestown no inverno do fim de 1609 e início de 1610. Uma anomalia daquelas que só acontecem quando o ser humano atravessa condições extremas o bastante para fazer desmoronar qualquer tabu.

Jane foi devorada por seus pares como consequência do fracasso do modelo de produção coletiva implantado nos primeiros anos da colonização dos Estados Unidos. A propriedade era comunitária, e o fruto do trabalho era dividido igualmente entre todos. Era, portanto, uma experiência que antecipava os princípios básicos do comunismo. Deu no que deu.

Sem estímulo para o trabalho, os habitantes de Jamestown eram incapazes de produzir um excedente de alimentos para os períodos de estiagem ou de inverno. No ano em que Jane foi canibalizada, seis de cada dez colonos sucumbiram à fome. A tragédia levou os primeiros americanos a rever o modelo econômico e a instituir a propriedade privada.

A partir desse momento, quem trabalhasse melhor ganharia mais e poderia se resguardar para os períodos de vacas magras. Foi essa mudança, nascida do trauma de um inverno em que os colonos caíram na selvageria, que permitiu aos Estados Unidos se tornar o maior gerador de riqueza do planeta e o berço do capitalismo moderno.

Pintura do século XVIII que mostra a construção de Jamestown (Foto: Getty Images)

Pintura do século XVIII que mostra a construção de Jamestown (Foto: Getty Images)

Jamestown, um forte triangular nas proximidades do Rio James, foi fundada em 1607. No início, a relação entre os ingleses e os integrantes da tribo powhatan era amigável. Os índios davam-lhes alimentos em troca de peças de metal. “Não havia moeda naqueles tempos. Tudo era feito por escambo”, diz o arqueólogo americano William Kelso, que encontrou os ossos de Jane.

Foi naquele período que uma menina de 11 anos, Pocahontas, se enamorou do capitão John Smith, que liderava os colonos. A relação entre os dois, edulcorada recentemente em desenho animado pela Disney, acabou em 1609, quando o capitão foi ferido e retornou à Europa. Os colonos já não tinham nada para oferecer aos índios em troca de comida.

Findo o comércio, começaram as hostilidades. “Os índios sitiaram o forte. Ninguém podia sair para conseguir alimentos”, diz Kelso. Situação parecida aconteceu em outra colônia, Plymouth, fundada pelos colonos que chegaram no navio Mayflower e que também adotaram a propriedade comunitária. Eles venderam a roupa do corpo aos índios em troca de milho. Outros roubaram grãos dos índios. Alguns se tornaram seus escravos.

No auge da penúria de 1609, em Jamestown, centenas de novos habitantes chegaram em navios de suprimento, entre os quais Jane, e comeram todo o alimento disponível em três dias. A fome veio em seguida. Segundo um relato posterior do então governador, George Percy, os moradores devoraram cavalos, cachorros, gatos e ratos. Depois, comeram sapatos e todo o couro que encontraram.

Quando as opções se esgotaram, começou o canibalismo. Percy contou que ordenou a execução de um dos seus homens, que matou e canibalizou a esposa grávida. Se não fosse o sistema de produção fracassado, a situação dificilmente teria chegado a esse ponto. O coletivismo fora implantado pela Companhia da Virgínia, empresa responsável pela empreitada em Jamestown, por temor de que, se os colonos tivessem sua própria terra do outro lado do Atlântico, deixariam de enviar o que produziam para Londres.

Apesar do solo fértil, da abundância de peixes, das matas ricas em veados e perus, porém, os homens não encontraram estímulos para trabalhar. “Os colonos não tinham o mínimo interesse na terra”, escreveu o historiador americano Philip Bruce no fim do século XIX. A paz e a prosperidade só começaram a se tornar realidade em Jamestown a partir de 1611, com a chegada do administrador inglês Thomas Dale.

Localização de Jamestown, no estado norte-americano da Virgínia

Ele se surpreendeu ao notar que, em meio à fome, os homens dedicavam-se a vagabundear pelas ruas. A raiz do problema, ele percebeu, era o sistema comunitário. Dale então determinou que cada homem deveria receber três acres de terra e só precisaria trabalhar um mês por ano para a matriz. A decisão despertou os traços hoje bem conhecidos do capitalismo americano: o empreendedorismo e a aptidão para a competição.

Mais produtivos, os colonos passaram a vender milho aos índios em troca de peles de animais. O comércio trouxe a paz. Em 1775, a economia americana já era 100 vezes maior do que em 1630. Os americanos, nesse tempo, também já eram mais altos que os ingleses. Antes, chegaram ao máximo da degradação humana.

Escrito por Eduarda Teixeira. Revista VEJA.

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