A primeira coisa a se fazer numa análise política séria das ações de um governo é distinguir a matéria das propostas nominais de suas implicações reais caso sejam levadas às últimas consequências. Não por acaso, estas implicações são quase sempre o resultado inverso daquilo que foi proposto.
A importação de médicos estrangeiros, com destaque para a leva vinda de Cuba, é apresentada como a grande estratégia do governo para levar saúde aos municípios do interior, onde esse serviço é deficiente. Porém, um olhar mais cuidadoso aos fatos que cercam essa questão mostra que o Programa Mais Médicos não tem competência nem mesmo para resolver o problema a que se propõe, mas serve tão somente como pretexto para camuflar uma teia de relações de favorecimentos mútuos entre o governo brasileiro e a ditadura castrista.
Os problemas da saúde no Brasil são de ordem qualitativa-administrativa, não quantitativa. Por ano, formamos cerca de 13 mil médicos no Brasil¹. Ano passado, segundo o governo federal, foram investidos R$ 71,7 bilhões para custear a saúde.² O erro dessa configuração é muito simples: muitos médicos mal distribuídos e muito dinheiro mal aplicado. Dinheiro mal aplicado se resolve substituindo quem administra o destino desse dinheiro. Médios mal distribuídos se resolve, logicamente, redistribuindo-os adequadamente, e não injetando uma massa de outros médicos na rede de saúde.
Mas ainda assim alguém dirá: “Os médicos brasileiros não querem ir trabalhar no interior porque são um bando de burgueses que só pensam em ganhar dinheiro! É preciso que os médicos celestiais de Cuba venham nos socorrer!” Esse é o argumento genérico dos que apoiam a contratação desses “profissionais” (assim, entre aspas mesmo), constituído de duas falácias grotescas: (I) médicos brasileiros não trabalham no interior porque não querem e (II) os médicos cubanos são melhores e mais humanos que os nossos, por isso mesmo eles vão ao interior do país.
Os médicos brasileiros não trabalham no interior por dois motivos: Primeiro porque sabem que nessas localidades não existe infra-estrutura adequada para realização de procedimentos médicos básicos. Médicos não tiram máquinas de raio x dos jalecos, assim como cozinheiros não tiram panelas dos gorros (Toque Blanc), eles precisam desse equipamento disponível para poderem trabalhar. Ademais, médicos existem desde os tempos da Roma Antiga, e, no entanto, a expectativa de vida naquela época era baixíssima justamente porque os médicos daquele tempo não possuíam aparelhos medicinais sofisticados como hoje. Desse modo, os médicos preferem não atender em locais com condições precárias porque sabem que o paciente corre risco de morte e a responsabilidade dessas mortes nunca pertence a quem não disponibilizou os equipamentos para o trabalho eficiente do médico, mas sim ao próprio médico.
O segundo motivo, como bem denuncia o Deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) [http://www.youtube.com/watch?feature=v=6kLPoxeGp6Q], é o fato de que as prefeituras não oferecem planos de carreira decente, pelo contrário, caloteiam os médicos após a propaganda de sua contratação produzir o devido efeito eleitoreiro, reduzindo os seus salários até que os mesmos deixem o posto.
O povo fica com o consolo de que este programa lhe trará benefícios a longo prazo, ao passo que o governo colhe os frutos imediatos desta ilusão: os votos na eleição do ano que vem.
A alegação de que os médicos cubanos sejam melhores que os brasileiros se mostra falsa quando comparamos a grade curricular das universidades cubanas com as brasileiras. Esta é a grade curricular do curso de medicina na USP: https://uspdigital.usp.br/jupiterweb/listarGradeCurricular?codcg=5&codcur=5042&codhab=0&tipo=N e esta a da Escuela Latinoamericana de Medicina: http://instituciones.sld.cu/elam/files/2013/07/Síntesis-del-Plan-de-Estudio-de-la-Carrera-de-Medicina.pdf. A diferença entre as exigências de uma instituição e outra é absolutamente monstruosa. O curso de medicina na universidade cubana termina em 10 semestres, ao passo em que o mesmo tem duração mínima de 12 semestres podendo chegar até 16 na universidade brasileira.
Outro fato que põe em cheque o crédito na medicina cubana é a experiência que outros países já tiveram com médicos cubanos quando realizaram programas semelhantes a este que está em curso no Brasil, como foi o caso da Venezuela. Sobre isso, o vice-presidente da Confederación Médica Latinoamericana y del Caribe (Confemel) e presidente da Federación Médica Venezolana (FMV) deixou claro, em entrevista ao O Globo, que cubanos “não possuem experiência nem conhecimento para atuarem como médicos”. Confira a entrevista completa aqui e tire suas próprias conclusões: http://oglobo.globo.com/pais/e-absurda-decisao-do-governo-brasileiro-de-importar-medicos-diz-dirigente-da-confemel-8849721. Reproduzo abaixo um trecho que acho importante:
“A razão porque digo que eles não são médicos é que temos informações que esses cubanos cometeram erros clínicos em países da América do Sul. Na Venezuela, por exemplo, um jovem de 18 anos apresentou febre alta de 41º graus e não havia forma de reduzir a sua temperatura. A mãe do paciente disse ao médico que ele era alérgico a dipirona, mas ele respondeu que cuidaria disso depois, que o importante naquele momento era reduzir a febre. O suposto médico injetou a dipirona no paciente. Em cinco ou dez minutos, ele estava morto e ninguém nunca mais soube desse médico. Um outro caso, ocorrido em Bolívia, foi de um paciente, de 36 anos, que caiu de uma árvore e sofreu um traumatismo lombar. No hospital, disseram que ele deveria passar por uma operação, porque havia um sangramento renal. O cubano extraiu um dos rins do paciente, o que era equivocado. Os médicos depois fizeram um interrogatório a esse cubano e viram que ele não entendia nada da anatomia dos rins.”
Em outubro, ele pretende entregar um relatório sobre casos como este, que vem analisando a mais de 10 anos, à Associação Médica Mundial. Espero que isso sirva para enterrar o mito da medicina cubana de uma vez por todas.
É claro que médicos brasileiros também comentem erros fatais, a diferença é que não são erros cometidos em função da falta de conhecimento da medicina, como no caso dos cubanos, mas sim casos excepcionais de médicos com conduta criminosa ou ainda por erros acidentais. Ainda não vi, no Brasil, um caso em que um médico tivesse convicção de que dar dipirona a uma pessoa alérgica poderia salvar a vida dela. Já vi casos em que ele eventualmente confundiu dipirona com outro medicamento (caracterizando o erro acidental que me referi acima), mas nunca algo parecido com isto.
A prova de que casos como esse não são uma exceção entre os médicos formados em Cuba, é que a esmagadora maioria é reprovada no teste de revalidação de diploma, como mostra esta notícia: http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/08/24/interna_gerais,439209/ufmg-reprova-75-dos-diplomas-de-cuba.shtml e esta: http://g1.globo.com/educacao/noticia/2013/07/revalida-exame-para-medicos-de-fora-sera-aplicado-alunos-do-brasil.html. Com relação a este último link, perceba que há uma discrepância entre o número de aprovados com nacionalidade cubana e os formados em universidade cubana. Enquanto o índice de aprovação entre os primeiros é de 25%, os segundos ficam com apenas 11%, evidenciando que o problema não são os cubanos em si, mas a origem de seu diploma.
Os pobres cubanos são vítimas desse sistema semi-escravocrata. Quem não se lembra que os atletas cubanos quando não quiseram retornar a Cuba foram praticamente capturados como escravos e mandados de volta à ilha-prisão caribenha? Leia: http://www.istoe.com.br/reportagens/1430_A+MISTERIOSA+DEPORTACAO. Médicos que foram para a Venezuela, também fugiram, e para os Estados Unidos, o “demônio imperialista”. Leia: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,medicos-cubanos-fogem-da-venezuela-para-os-eua,492963,0.htm. Esta notícia mostra que a mesma coisa já está acontecendo com os médicos cubanos no Brasil: http://catve.tv/noticia/6/66359/medico-cubano-sai-de-hotel-para-caminhar-e-nao-retorna. Se Cuba realmente fosse o país das maravilhas da medicina, por que você acha que estes médicos estariam fazendo de tudo para não votarem à Ilha?
A única razão para evocar a medicina cubana como exemplo a ser seguido são os indicadores de saúde em Cuba, que apontam uma baixíssima mortalidade infantil. Como se sabe, Cuba vive em um Estado policial onde toda a informação é rigorosamente controlada pelo governo, inclusive, e com certeza, informações que formam seus indicadores sociais. Creio ser razoável supor que quando um governo dificulta o acesso à informações significa que as chances dessas informações não serem boas são altíssimas.
Não é possível confiar em informações de um país fechado como Cuba. Por muito tempo não se sabia o que acontecia na URSS, até que a cortina de ferro foi aberta e o mundo pode ver a indescritível miséria social do leste europeu. Sem falar das tantas farsas descobertas após a abertura dos arquivos soviéticos. São coisas desse tipo que poderemos conhecer se um dia acabar a ditadura castrista.
Você nunca viu na propaganda oficial dados negativos acerca dos serviços públicos, você sabe que eles não são bons ou porque é usuário, ou porque conhece o testemunho de quem é usuário. Como você provavelmente nunca se tratou em Cuba, tem duas opções: ou acredita nas estatísticas do governo cubano (e não da OMS, ela apenas apresenta os dados cedidos pelo governo), ou no depoimento das pessoas que conhecem aquela realidade. Poderá encontrá-los aqui: http://www.therealcuba.com/. O depoimento da dissidente Yaoni Sánchez também nos dá uma idéia do quanto são fraudulentos os dados do governo cubano. Leia: http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/veja-7-yoani-sanchez-as-tres-mentiras-essenciais-de-cuba/
Supondo que trazer médicos para o Brasil fosse solução para alguma coisa (pois já demostrei que não é o caso), os médicos formados em Cuba estariam fora de questão.
Mas, então, por que a insistência em trazer estes médicos para cá? Explico. Conforme escreve Reinaldo Azevedo [http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/a-resposta-indecorosa-de-padilha-ou-governo-doara-a-cuba-por-ano-r-320-milhoes-da-verba-da-saude-mas-nada-fez-para-impedir-a-perda-de-41-mil-leitos-do-sus/], a contratação dos médicos cubanos custará 40 milhões de reais por mês aos cofres públicos. Se esse dinheiro fosse usado para pagar os médicos, até que não seria um problema, mas cerca de 8 dos 10 mil reais pagos por médico pelo governo brasileiro vai direto para conta do governo cubano. Por muito tempo, sabe-se que Cuba foi sustentada pela URSS, sua anja-da-guarda. Agora, parece ser a vez do Brasil.
Mas isso ainda não é tudo. O que está acontecendo é mais grave do que uma simples troca de favores entre dois governos corruptos. O que está acontecendo é um avanço no processo de socialização no Brasil. O G1 noticia que o MEC planeja um programa nos moldes do Programa Mais Médicos, só que para importar professores. Vide: http://g1.globo.com/educacao/noticia/2013/08/mec-anuncia-programa-nos-moldes-do-mais-medicos-para-professores.html
Se com os atuais professores de ciências humanas a doutrinação ideológica já é assustadora, imagine o que poderia acontecer com centenas de professores cubanos dentro de nossas escolas ensinando aos pobres alunos que Che Guevara foi um homem de caráter exemplar, que os Estados Unidos são a causa dos problemas do mundo entre outros absurdos. Não preciso citar neste texto algo sobre as mazelas do comunismo. Basta que se leia Ludwig Von Mises para saber que o socialismo é uma farsa enquanto teoria e basta que se estude a história do séxulo XX para saber o quão mortífero é o comunismo enquanto resultado real.
Não me espantaria se, depois de professores e médicos, o Brasil importasse policiais cubanos. Caso isso ocorra, uma dica: pegue sua família suma deste país o quanto antes.
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Referências
1. http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/12/treze-mil-medicos-sao-diplomados-ao-ano-mas-faltam-profissionais.html
Isaac Ramos
POCha, que merda o Brasil foi parar.
Parabéns pelo post! Excelente… Abraços!
De acordo com 5º parágrafo desse texto o que salva vidas não é o médico, mas sim o equipamento medicinal. Em suma: dê uma máquina de Raios-X a uma pessoa, e ela instantaneamente vai curar qualquer doença!
Mas é bom que este texto levante este argumento. Quando um médico estrangeiro errar e disso decorrer uma morte, já que o supercorporativista CFM não vai defender este profissional ferrenhamente como faz com os pares brasileiros, poderemos dizer que o paciente veio à óbito em decorrência da falta de equipamentos, fato já alertado pelo próprio CFM.
E, sem mais ser jocoso, poderemos também dizer que o médico estrangeiro ao menos TENTOU salvar aquela vida, ao contrário dos brasileiros que procuram 1001 desculpas pra eximir-se deste “fardo” que é salvar a vida alheia (exclusivamente quando a vida alheia não tem condições de pagar).