O cidadão se defronta a cada eleição com a escolha de seus representantes. Algo lamentável é que o brasileiro tem por costume ser apolítico ou só pensar em política no período eleitoral. A maioria desconhece os deveres de um político para com a manutenção da democracia.No entanto, há uma brecha para a sensatez no ar: isso começa a mudar com os protestos e manifestações que tomam as ruas, e que já obtém em face dos políticos a reconquista de alguns direitos que estavam seriamente ameaçados.
Os políticos devem reconhecer – e esta é a hora de perceberem isso – que não sãoos “donos” do futuro, muito pelo contrário: sua autoridade emana do povo que os elege, portanto, deve o político trabalhar para o povo, e não para satisfazer seus interesses particulares. Assim, suas ações devem ser reflexos da experiência passada e acumulada no presente e deve-se rejeitar qualquer ideia de futuro hipotético do qual se julgue representante. “O futuro pertence a nós” é um verso costumeiramente repetido pelos fanáticos da juventude hitlerista. Assim como Hitler, qualquer sujeito que tenta remodelar aa ordem social a seu bel-prazer, desconsiderando as conquistas da civilização, baseadas nana lei, na ordem, na caridade,na religião, nos costumes, não passa de um irresponsável, enganador, em suma, um falso profeta.
Cada geração deve ter o direito de perpetuar o que convém, o que dá certo, e não pode comprometer as gerações seguintes com escolhas irresponsáveis que só visem algum benefício eleitoral fugaz, pois há males que jamais poderão ser revertidos ou só mediante o sacrifício de muitas gerações. É o caso do aumento de impostos ou de cargos públicos: cada geração se torna escrava da anterior quando cada cargo novo é criado pelo governo, ou em cada aumento de impostos, pois de onde vem o dinheiro para bancar tudo isso se não do bolso de quem trabalha? Todos têm o direito de experimentar e aprender com a experiência, porém não devemos transformar nossos herdeiros em cobaias.
As eleições não fariam o menor sentido se não existisse o direito e a possibilidade de corrigir os erros do governante anterior. A democracia é, portanto, naturalmente, contrária a qualquer mudança profunda ou irreversível da ordem social, pois ela só existe de fato quando assentada sob os princípios do Estado de Direito, que nada mais é do que o império da lei. Nada é tão horrível quanto uma ordem ditatorial imposta, que se reclame detentora do “único futuro desejável”, o que na prática e nos trágicos exemplos do séc., só causou destruição, morte e miséria generalizada porque atentaram justamente contra a lei e a ordem democrática.
Dessa forma, deve-se rejeitar qualquer ruptura drástica, assim como suas tentativas de estabelecer transformações profundas, pois isso é totalmente incompatível com o caráter democrático do governo republicano, o qual, aliás, é, por definição, o governo da virtude. É inaceitável que os eleitores e os cidadãos concedam qualquer poder a quem não respeita as tradições e valores pátrios de uma sociedade, e que desejam destruí-la a qualquer custo para colocar no lugar tão-somente fantasias pueris. As fantasias e delírios utópicos são o solo de areia sob o qual nenhuma construção pode se edificar de maneira duradoura, consistente e decente.
Dante Henrique Mantovani
Doutor em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina
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