Teologia da Libertação – Portal Conservador https://portalconservador.com Maior Portal dirigido ao público Conservador em língua portuguesa. Sun, 09 Aug 2020 13:25:23 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.8.1 65453639 Morre Pedro Casaldáliga, o bispo expoente da Teologia da Libertação https://portalconservador.com/morre-pedro-casaldaliga-o-bispo-expoente-da-teologia-da-libertacao/ https://portalconservador.com/morre-pedro-casaldaliga-o-bispo-expoente-da-teologia-da-libertacao/#respond Sun, 09 Aug 2020 13:25:23 +0000 https://portalconservador.com/?p=5271 read more →]]> O bispo catalão Pere Casaldáliga, conhecido por Pedro Casaldáliga, “bispo do povo” ou “bispo vermelho”, consoante o ponto de vista, um dos principais representantes da Teologia da Libertação da América Latina, enfraquecido por anos de Parkinson, aos 92 anos, não sobreviveu a problemas respiratórios.

Diversos personagens não exitaram em louvar o bispo representante da esqueda, como por exemplo os ex-presidentes Dilma Rousseff e Lula, que teceram grandes elogios em suas redes sociais por ocasião da morte do bispo.

Opositor do regime, dos grandes proprietários de terras e até do Vaticano, sempre exaltou os trabalhadores sem terra e os povos indígenas. “Nesta terra é fácil nascer e morrer, mas é difícil viver”, disse o prelado à AFP em 2012.

Em 1988, questionado num programa de TV, Roda Viva, que medidas tomaria se fosse nomeado Papa, mostrou o seu sentido de humor: “Nem o Espírito Santo nem os cardeais vão cair nessa.”

Certa vez o famoso bispo disse: “Só há dois absolutos: Deus e a fome.”

Em 1998, Pedro Casaldáliga foi chamado a Roma, onde foi interrogado e corrigido pelo então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, o cardeal Joseph Ratzinger, que sete anos depois se tornou no Papa Bento XVI.

No final de julho, assinou com 152 outros bispos brasileiros uma crítica aberta ao presidente Jair Bolsonaro, utilizando-se para tal de narrativas que não condizem com a realidade dos fatos.

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Os ecos iluminados https://portalconservador.com/os-ecos-iluminados/ https://portalconservador.com/os-ecos-iluminados/#comments Sat, 07 Oct 2017 07:14:38 +0000 http://portalconservador.com/?p=3670 read more →]]> O caráter anti-religioso do Iluminismo foi executado no plano político pelos líderes da Revolução Francesa. Como destaca Tocqueville em L’Ancien régime et la Révolution, a paixão pela irreligiosidade foi a primeira a nascer da Revolução e a última a extinguir-se. O único erro do grande pensador foi crer nesta extinção.

A irreligiosidade da Revolução Francesa adveio dos mentores intelectuais do movimento – os iluministas. A hostilidade para com a religião é subproduto da hostilidade à Igreja Católica. No verbete “Razão” da Encyclopédie, escrito por Diderot, o pensador destaca que a razão é para o filosófo o que a religião é para o cristão. A razão, nestes termos, não é apenas oposta à religião, mas adquire seu caráter absoluto.

Conforme destaca Anthony Quinton, um dos traços do conservadorismo britânico é o tradicionalismo: a crença de que a sabedoria politica é de alguma forma de natureza histórica e coletiva, residindo em instituições que passaram pelo teste do tempo. Por outro lado, a ideologia da razão proposta pelos philosophes acabou por iniciar o movimento revolucionário e parir as piores experiências políticas mundiais – seja a Francesa, seja a Russa, Chinesa, entre outras…

Pregando a tolerância em seus escritos e condenando a perseguição religiosa, Voltaire proferiu a frase que ecooa até hoje na mente dos revolucionários: ecrassez l’infâme. A religião para ele era uma característica das massas e não dos hommes de lettres. O autor de Candido declarou que “todo homem sensível, todo homem honrado, deve ter horror à seita cristã” e que a “religião deve ser destruída entre as pessoas respeitáveis e ser deixada à canaille tanto grande quanto pequena, para a qual ela foi feita”. Diderot, falando em nome de todos os philosophes franceses, saudou Voltaire como o anticristo. O judaísmo também era atacado por Voltaire, conhecido pelo seu antissemitismo – hoje em dia, ignorado – definindo os judeus como “gananciosos, materialistas, bárbaros, não civilizados e usurários”.

A Revolução foi anti-religiosa, mas procedeu como uma revolução religiosa: não se limitou à França e pretendeu modificar a própria natureza humana e não apenas a ordem político-social vigente. Hannah Arendt classificou a Revolução Francesa como o germe do totalitarismo do século XX. A Revolução, segundo Michelet, fundou a fraternidade no amor do homem pelo homem, no dever mútuo, no Direito e na Justiça. Definindo esta base como fundamental, a Revolução não teve necessidade de outros.

Os ideais iluministas propiciaram uma série de mitos, um deles bastante forte ainda hoje: o estado laico. Um estudo de história mais aprofundado bastaria para demonstrar que é impossível uma dissociação total entre religião e política. No caso brasileiro, por exemplo, o PT jamais chegaria ao poder sem o apoio da esquerda católica: teologia da libertação, comunidades eclisiais de base, Dom Hélder Câmara. Tentar separar a esfera espiritual da esfera temporal é como querer separar a alma do corpo.

O que o estado laico não possui é uma religião oficial, devendo seguir a religião da maioria da população, resguardando o direito das minorias de pregar e professar sua fé. O Estado não tem o direito de equiparar estas religiões à religião da maioria. Peguemos o Brasil como modelo: 64.2% dos brasileiros são católicos e 22,2% são protestantes – de acordo com as informações do último censo. Dentro dos 13,2% existem as mais variadas religiões e seitas. Comparar o cristianismo (86,8% da população é cristã) com os praticantes da seita do Santo Daime é algo completamente desproporcional.

Neste sentido, correta a decisão do STF que julgou improcedente a ADI 4439, proposta pela Procuradoria-Geral da República. A PGR, baseando-se no argumento de laicidade do Estado, formulou dois pedidos: que as aulas de ensino religioso constituam-se apenas de exposição de doutrinas, história, práticas e dimensões de crenças (incluindo o agnosticismo e o ateísmo, além de proibir o ensino confessional) e impedir a contratação de professores que são representantes de alguma religião.

O que os revolucionários pretendem, no fundo, é transformar o estado laico em um estado ateu – iniciando uma guerra de perseguição religiosa, que começa com a alteração dos significado dos símbolos religisos (como os judeus que utilizavam a estela de Davi no braço não como símbolo religioso, mas como prova de sua inferioridade) até a proibição da exibição dos símbolos. Lembro aqui, a decisão do Tribunal Constitucional Alemão que proibiu a fixação de crucifixos nas paredes de órgãos públicos.

O Estado brota da sociedade, devendo a ela servir. A sociedade brasileira precede o Estado brasileiro e da República Brasileira. O Estado, no sentido webberiano, foi montado no Brasil em 1808 e a República proclamada em 1889. No entanto, os jesuítas estavam em terras brasileiras desde o século XVI lutando para a civilizar o nosso território, como destaca o historiados Capistrano de Abreu em sua obra Capítulos de História Colonial.

A tentativa de impedir o ensino confessional no Brasil contraria a vontade da imensa maioria da população brasileira e, por isso, deve ser rejeitada. Se, como dizia Linconl, a democracia é o governo do povo, pelo povo e para o povo, chegou a hora da população brasileira ser ouvida e, sobretudo, respeitada.

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No Rio de Janeiro emerge uma Igreja fortalecida diante da militância anticristã https://portalconservador.com/no-rio-de-janeiro-emerge-uma-igreja-fortalecida-diante-da-militancia-anticrista/ https://portalconservador.com/no-rio-de-janeiro-emerge-uma-igreja-fortalecida-diante-da-militancia-anticrista/#respond Fri, 28 Oct 2016 02:18:03 +0000 http://portalconservador.com/?p=3003 read more →]]> RIO DE JANEIRO – 27.10.2016 – Os últimos dias não foram nada fáceis para a Arquidiocese do Rio de Janeiro depois de semanas sem grandes manobras políticas dos candidatos à prefeitura para o segundo turno. Isso até que Marcelo Crivella decidiu de modo público firmar uma carta compromisso com a Igreja Católica procurando se emendar para estabelecer um canal de diálogo com a mesma, pois ele próprio sabe da evidente participação social de todo o seu organismo pela cidadania cristã de seus fiéis, estes mais numerosos e determinantes para a vida política do que muitos poderiam pensar.

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A carta a seguir deixou a esquerda em polvorosa. Desde esse momento numerosos católicos começaram a correr para o lado do candidato do PRB e muitos dispensaram a posição anterior de anulação do voto, o que inclusive poderia ser favorável ao candidato Marcelo Freixo.

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Logo se via pelas redes um convite inusitado para um evento: “Católicos com Freixo”! Na sua primeira edição, marcada para o dia 22/10, iria contar com a presença de Leonardo Boff, ex-padre e militante da teologia da libertação, posto como a principal atração do dia. Sua presença ao lado de Freixo seria utilizada para “profetizar” aos católicos como é que deveriam votar contra a sua consciência de fé e sabotarem a própria Igreja com ideológos anticristãos que querem ocupar a próxima gestão da prefeitura carioca. Entretanto, o guru espiritual da esquerda andou com a saúde pelas tabelas por esses dias. Os católicos que já se preparavam com rosários, água benta e sal, celebraram o adiamento do evento e o fato dele não ter vingado.

Boff não veio, mas ele tem seus aliados em muitos seguimentos sociais, inclusive na Igreja.

E agora, o que poderia fazer a militância? Ora, falindo em todo canto do Brasil nas suas tentativas de se estabelecer, é mais que preciso ter um Rio socialista a qualquer custo para não acabar com o marketing nacional da esquerda. Eles querem uma fatia suculenta do bolo para não morrerem de inanição, ao menos querem ter uma única grande prefeitura a fim de que a máquina da revolução não pare no tempo.

Talvez o silêncio fosse a melhor sobrevivência. Mas não! Atos desesperados tomaram conta dos seus soldados ideológicos.

Na terça, 25/10, uma notícia cai como uma bomba no mundo carioca, um pequeno grupo de padres, aliado a alguns que se autodenominam católicos de esquerda, como se isso pudesse ser coerente, resolve declarar apoio oficial a candidatura do Marcelo Freixo com direito a citações falsificadas a pessoa do Papa Francisco, ao Magistério da Igreja e usurpando a autoridade católica para si.

A atitude foi vista como uma afronta pelos católicos, que encheram de mensagens os seus padres, espalhados pelos quatro cantos do Rio, querendo esclarecimentos e achando um absurdo tal tentativa de cristianizar o seu oposto. Ora, mas não pára por aí. Emails, whatsapps, ligações e todo tipo de comunicação foram utilizados para acionar as autoridades religiosas demandando uma rápida reação diante do escândalo público causado por tal grupo.

Como católico e padre que sou nunca vi algo semelhante. É simplesmente incrível o senso dos fiéis. A retaliação na verdade veio deles: mobilizados como um exército que estava de guarda e ao toque de um trombeta atenderam a um comando de fé interior. Num gesto de unidade se reuniram como ovelhas em torno do seu pastor para ele lhes fortalecer em suas convicções de fé, como se dissessem, “É isso mesmo, nosso pastor? Isso é católico?” E o Cardeal com todas as suas autoridades eclesiásticas confirmou a legítima indignação dos fiéis.

Uma nota clara, contundente, consolou os fiéis na noite do dia 25/10 revelando a consciência social cristã da Arquidiocese para o contexto carioca. Não que a Igreja tenha candidato na disputa, uma vez que é apartidária, mas ficou claro que católico tem que ser responsável pelo que é de seu credo cristão. A nota é para ser interpretada e o recado tem que ser bem entendido.

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O cálculo deu errado tal como vem fazendo uma matemática política rísivel a militância socialista por todo o país: adulterando informações, manipulando jovens e crianças, usando de autoridade que não tem sobre instituições, mascarando, fazendo marketing, atacando os fundamentos constitucionais. E assim pensam em sobreviver.

Foi um tiro no pé dos ideólogos anticatólicos. É o triste fim da campanha.

Ontem o evento “Católicos com Freixo” em sua nova edição na Cinelândia foi uma vergonha com a participação de meia dúzia de pessoas e discursos desconexos sobre o catolicismo vindos da boca de Chico Alencar.

Vários blogs da mídia comunista tentaram replicar o posicionamento desses padres em rebelião contra o Magistério.

E em contraponto, os meios de comunicação esquerdistas fizeram de tudo para retaliar outros padres, como a mim, padre Augusto Bezerra e a um vigário episcopal da Arquidiocese, Padre Nivaldo Júnior. Sim para o nosso desagrado nossos nomes foram citados pela mídia financiada por Lula & Cia, no site Carta Capital. Fomos alvos dos que são companheiros cotidianos dos que são alvos da Lava-Jato.

Tudo que fizerem agora vira propaganda ao firme posicionamento da Igreja. Pois a milenar instituição não irá se dobrar jamais frente às forças históricas que querem implodi-la em sua essência e valores.

Com tudo isso a Igreja sai fortalecida, pois na cidade do Rio, onde existe um verdadeiro berço do catolicismo nacional por sua liderança nata, dialogar com o mundo cristão é a única saída para quem quer se estabelecer. Longe de ser um triunfalismo católico, essa é uma visão realista da sociedade e cidadania cariocas.

Muitos andaram noticiando de que a Igreja do Rio está dividida. E não é fato. Há aqueles que se dividem dela, mas ela mesma permance unida na verdade e na fidelidade ao Magistério em torno de seu pastor.

Escrito por Pe. Augusto Bezerra. Publicado originalmente em seu blog pessoal.

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O ataque de Moscou ao Vaticano https://portalconservador.com/o-ataque-de-moscou-ao-vaticano/ https://portalconservador.com/o-ataque-de-moscou-ao-vaticano/#comments Fri, 22 May 2015 03:22:22 +0000 http://portalconservador.com/?p=2331 read more →]]> A União Soviética jamais se sentiu à vontade tendo que conviver com o Vaticano neste mundo. Descobertas recentes provam que o Kremlin estava disposto a não medir esforços para neutralizar o forte anti-comunismo da Igreja Católica. Em março de 2006, uma comissão parlamentar italiana concluiu que “além de toda dúvida razoável, os líderes da União Soviética tomaram a iniciativa de eliminar o papa Karol Wojtyla” em retaliação à sua ajuda ao movimento dissidente Solidariedade na Polônia. Em janeiro de 2007, quando documentos mostraram a colaboração do recém-nomeado arcebispo de Warsaw, Stanislaw Wielgus, com a polícia política na época da Polônia comunista, ele admitiu a acusação e se aposentou. No dia seguinte, o prior da Catedral Wawel de Cracóvia, local de sepultamento de reis e rainhas poloneses, se aposentou pela mesma razão. Em seguida, soube-se que Michal Jagosz, um membro do tribunal do Vaticano que estuda a santidade do depois Papa João Paulo II, foi acusado de ser um antigo agente da polícia secreta comunista; de acordo com a mídia polonesa, ele foi recrutado em 1984, antes de deixar a Polônia para assumir um cargo no Vaticano.

Atualmente, está prestes a ser publicado um livro que irá revelar a identidade de outros 39 sacerdotes cujos nomes foram descobertos nos arquivos da polícia secreta de Cracóvia, alguns deles bispos atualmente. Além disso, essas revelações parecem ser apenas a ponta do iceberg. Uma comissão especial em breve iniciará uma investigação sobre a atuação de todos os religiosos durante a era comunista, quando, acredita-se, milhares de sacerdotes católicos daquele país colaboraram com a polícia secreta. Isto apenas na Polônia – os arquivos da KGB e os da polícia política nos demais países do antigo bloco soviético ainda precisam ser abertos para investigar as operações contra o Vaticano.

Na minha outra vida, quando estava no centro das operações de guerra de inteligência estrangeira de Moscou, me vi envolvido em um esforço deliberado do Kremlin para manchar a reputação do Vaticano, retratando o Papa Pio XII como um frio simpatizante do nazismo. No fim das contas, a operação não causou nenhum dano duradouro, mas deixou um amargo sabor residual de difícil eliminação. A história jamais foi contada antes.

 

O ATAQUE À IGREJA

Em fevereiro de 1960, Nikita Khrushchev aprovou um plano ultra-secreto para destruir a autoridade moral do Vaticano na Europa Ocidental. O plano era um criativo fruto de Aleksandr Shelepin, chefe da KGB, e de Aleksey Kirichenko, membro do Politburo soviético responsável por políticas internacionais. Até aquele momento, a KGB tinha lutado contra o seu “inimigo mortal” na Europa Oriental, onde a Santa Sé havia sido cruelmente atacada como um covil de espiões a soldo do imperialismo americano, e os seus representantes haviam sido sumariamente presos sob acusação de espionagem. Agora, Moscou queria desacreditar o Vaticano imputando-lhe a pecha de bastião do nazismo, usando os seus próprios sacerdotes, em seu próprio território.

Eugenio Pacelli, o Papa Pio XII, foi escolhido como alvo prioritário da KGB – a sua encarnação do demônio – pois havia deixado este mundo em 1958. “Mortos não podem se defender” era o slogan da KGB na época. Moscou acabara de ganhar um soco no olho por ter falsamente incriminado e encarcerado um prelado do Vaticano, o cardeal József Mindszenty, primaz da Hungria, em 1948. Durante a revolução húngara de 1956, ele escapara da prisão e pedira asilo na embaixada americana em Budapeste, onde começou escrever as suas memórias. Quando os detalhes de como ele havia sido condenado se tornaram conhecidos de jornalistas ocidentais, foi visto por todos como um santo herói e mártir.

Como Pio XII havia sido núncio papal em Munique e em Berlin quando os nazistas estavam iniciando a sua tentativa de chegar ao poder, a KGB queria retratá-lo como um anti-semita encorajador do Holocausto. O desafio era realizar a operação sem dar o menor sinal do envolvimento do bloco soviético. Todo o trabalho sujo devia ser feito por mãos ocidentais, usando evidências do próprio Vaticano. Isto corrigiria outro erro cometido no caso de Mindszenty, incriminado com documentos soviéticos e húngaros falsificados. (Em 6 de fevereiro de 1949, alguns dias após o julgamento de Mindszenty, Hanna Sulner, a especialista húngara em caligrafia que havia fabricado a “evidência” usada para incriminar o cardeal, fugiu para Viena e exibiu os microfilmes dos “documentos” em que se baseara o julgamento encenado. Hanna demonstrou, em um testemunho minuciosamente detalhado, que os documentos eram todos forjados, produzidos por ela, “alguns pretensamente escritos pelo cardeal, outras exibindo a sua suposta assinatura”.)

Para evitar outra catástrofe como a de Mindszently, a KGB precisava de alguns documentos originais do Vaticano, mesmo remotamente ligados a Pio XII, os quais os seus especialistas em desinformação poderiam modificar levemente e projetar “na luz apropriada” para provar as “verdadeiras cores” do Papa. A KGB, entretanto, não tinha acesso aos arquivos do Vaticano, e aí entrou o meu DIE, o serviço romeno de inteligência estrangeira. O novo chefe do serviço de inteligência estrangeira soviético, general Aleksandr Sakharovsky, havia criado o DIE em 1949 e havia sido até pouco tempo antes o nosso conselheiro-chefe soviético; o DIE, ele sabia, estava em excelente posição para contactar o Vaticano e obter aprovação para pesquisa em seus arquivos. Em 1959, quando fui nomeado para a Alemanha Oriental no disfarçado cargo de representante-chefe da Missão Romena, havia conduzido uma “troca de espiões” na qual dois oficiais do DIE (coronel Gheorghe Horobet e major Nicolae Ciuciulin), pegos com em flagrante na Alemanha Ocidental, foram trocados pelo bispo católico Augustin Pacha, preso pela KGB sob uma espúria acusação de espionagem, e que finalmente retornava ao Vaticano via Alemanha Ocidental.

 

INFILTRAÇÃO NO VATICANO

“Seat 12” era o codinome dado a essa operação contra Pio XII e eu me tornei o seu ponta-de-lança romeno. Para facilitar o meu trabalho, Sakharovsky me autorizou a informar (falsamente) o Vaticano que a Romênia estava pronta para restabelecer as relações cortadas com a Santa Sé, em troca ao acesso aos seus arquivos e um empréstimo sem juros de um bilhão de dólares por 25 anos. (As relações da Romênia com o Vaticano haviam sido cortadas em 1951, quando Moscou acusou a nunciatura do Vaticano na Romênia de ser um front da CIA disfarçado e fechou os seus escritórios. Os edifícios da nunciatura em Bucareste haviam sido revertidos ao DIE e hoje abrigam uma escola de idioma estrangeiro.) O acesso aos arquivos papais, eu havia dito ao Vaticano, era necessário para encontrar raízes históricas que ajudariam o governo romeno a justificar publicamente a sua mudança de atitude em relação à Santa Sé. O dinheiro – bilhão de dólares (não, isto não é erro de digitação) -, me disseram, havia sido introduzido no jogo para tornar a alegada mudança de opinião romena mais plausível. “Se há uma coisa que estes monges entendem é de dinheiro” disse Sakharovsky.

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A minha atuação na troca do bispo Pacha pelos dois oficiais do DIE realmente abriram as portas para mim. Um mês após ter recebido as instruções da KGB, fiz meu primeiro contato com um representante do Vaticano. Por razões de segredo, o encontro – e a maioria das reuniões seguintes – ocorreu em um hotel em Genebra, Suíça. Fui apresentado a um “membro influente do corpo diplomático” que, me disseram, havia começado a carreira trabalhando nos arquivos do Vaticano. O seu nome era Agostino Casaroli, e eu logo perceberia a sua grande influência. Imediatamente, este monsenhor deu-me acesso aos arquivos do Vaticano, e logo três jovens oficiais do DIE disfarçados de sacerdotes romenos estavam mergulhados nos arquivos papais. Casaroli também concordou “em princípio” com o pedido de Bucareste pelo empréstimo sem juros, mas disse que o Vaticano desejava impor certas condições. (Até 1978, quando deixei a Romênia para sempre, eu ainda estava negociando o empréstimo, diminuído então para 200 milhões de dólares.)

Durante os anos 1960-62, o DIE conseguiu furtar dos Arquivos do Vaticano e da Biblioteca Apostólica centenas de documentos ligados, de alguma forma, ao Papa Pio XII. Tudo era imediatamente enviado para a KGB por um correio especial. Na realidade, nenhum material incriminador contra o Pontífice emergiu de todos aqueles documentos secretamente fotografados. A maior parte eram cópias de cartas pessoais e transcrições de reuniões e discursos, tudo formatado na rotineira linguagem diplomática esperada. A KGB, entretanto, continuava pedindo mais documentos. E nós enviávamos mais.

 

A KGB PRODUZ UMA PEÇA

Em 1963, o general Ivan Agayants, o famoso chefe do departamento de desinformação da KGB, foi a Bucareste para nos agradecer pela ajuda. Disse-nos que a operação “Seat-12” havia se materializado em uma poderosa peça de ataque contra o Papa Pio XII intitulada The Deputy (O Representante), uma referência indireta ao Papa como representante de Cristo na terra. Agayants levou o crédito pelo formato da peça, e nos disse que ela tinha extensos apêndices de documentos para lhe dar sustentação, anexados pelos seus especialistas com a ajuda de documentos furtados por nós do Vaticano. Agayants também nos disse que o produtor da The Deputy, Erwin Piscator, era um comunista devoto com um relacionamento de longa data com Moscou. Em 1929, ele havia fundado o Teatro do Proletariado em Berlim, e em seguida procurado asilo político na União Soviética quando Hitler chegou ao poder, e, poucos anos depois, “emigrou” para os EUA. Em 1962, Piscator voltou a Berlim Ocidental para produzir The Deputy.

Em todos os meus anos na Romênia, sempre lidei com os meus chefes da KGB com um certo cuidado pois eles costumavam manejar os acontecimentos de forma a fazer a inteligência soviética a mãe e o pai de tudo. Mas eu tinha razões para acreditar na declaração auto-elogiosa de Agayants. Ele era uma lenda viva no campo da desinformação. Em 1943, morando no Irã, Agayants lançara o relatório de desinformação segundo o qual Hitler havia montado uma equipe especial para sequestrar o presidente Franklin Roosevelt da embaixada americana em Teerã durante a Conferência de Cúpula Aliada a ser realizada lá. Por isso, Roosevelt concordou em montar o seu quartel-general em uma vila sob a “segurança” do complexo da Embaixada Soviética, protegida por uma grande unidade militar. Todo o pessoal soviético designado para aquela vila era composto por oficiais de inteligência disfarçados, com domínio do idioma inglês, mas, com poucas exceções, eles mantinham isto em segredo para poder escutar as conversas. Mesmo com as capacidades técnicas limitadas da época, Agayants conseguiu proporcionar a Stalin, de hora em hora, relatórios de acompanhamento sobre os hóspedes americanos e britânicos. Isto ajudou Stalin a obter o acordo tácito de Roosevelt para deixá-lo manter sob domínio os países bálticos e os demais territórios ocupados pela União Soviética em 1939-40. Agayants também levou o crédito por ter induzido Roosevelt a usar o familiar tratamento “Tio Joe” para Stalin naquele encontro. De acordo com o relato de Sakharovsky para nós, Stalin estava mais orgulhoso disso até mesmo do que dos territórios ganhos. “O aleijado é meu!” teria exultado.

Exatamente um ano antes do lançamento da peça The Deputy, Agayants realizou outra ação bem sucedida. Inventou um manuscrito concebido para convencer o Ocidente de que, no fundo, o Kremlin pensava bem dos judeus; isto foi publicado na Europa Ocidental, com muito sucesso entre o público, na forma de um livro intitulado Notes for a Journal. O manuscrito foi abribuído a Maxim Litvinov, nascido Meir Walach, o aposentado comissário soviético para relações exteriores, demitido em 1939 quando Stalin purgou o seu aparato diplomático de judeus em preparação para a assinatura do pacto de “não-agressão” com Hitler. (O Pacto de Nâo-Agressão Stalin-Hitler foi assinado em 23 de agosto de 1939 em Moscou. Continha um Protocolo secreto dividindo a Polônia entre os dois signatários e dava aos soviéticos autoridade sobre Estônia, Letônia, Finlândia, Bessarábia e Bucovina do Norte.) Este livro de Agayants estava tão perfeitamente falsificado que o mais proeminente estudioso da Rússia Soviética, o historiador Edward Hallet Carr, ficou totalmente convencido da sua autenticidade e até escreveu uma introdução para ele. (Carr havia escrito uma História da Rússia Soviética, em 10 volumes.)

A peça The Deputy foi lançada em 1963 como um trabalho de um desconhecido alemão oriental chamado Rolf Hochhuth, sob o título Der Stellvertreter, Ein christliches Trauerspiel (The Deputy, a Christian Tragedy). A tese central era que Pio XII havia apoiado Hitler e o encorajara a ir adiante com o Holocausto Judeu. O livro acendeu imediatamente uma gigantesca controvérsia acerca de Pio XII, descrito como um homem frio e sem coração, mais preocupado com as propriedades do Vaticano do que com o destino das vítimas de Hitler. O texto original apresentava uma peça de oito horas, apoiada por cerca de 40 a 80 páginas (dependendo da edição) do que Hochhuth chamou de “documentação histórica”. Em um artigo de jornal publicado na Alemanha em 1963, Hochhuth defende a sua representação de Pio XII dizendo: “Os fatos estão aí – quarenta páginas repletas de documentos no apêndice da minha peça.” Em uma entrevista de rádio em Nova Iorque em 1964, quando The Deputy estreiou naquela cidade, Hochhuth disse “Eu considerei necessário adicionar à peça um apêndice histórico, de cinquenta a oitenta páginas (dependendo do tamanho da impressão)”. Na edição original, o apêndice é intitulado Historische Streiflichter (fragmentos históricos). The Deputy foi traduzida para cerca de 20 idiomais, drasticamente cortada e normalmente sem o apêndice.

Antes de escrever The Deputy, Hochhuth, que não tinha diploma secundário (Abitur), estava trabalhando em diversos trabalhos desimportantes para o grupo editorial Bertelsmann. Em entrevista, declarou que em 1959 obtivera uma licença de ausência de trabalho e fôra a Roma, onde passara três meses conversando e, em seguida, escrevento o primeiro rascunho da peça, e onde havia proposto uma “série de questões” a um bispo cujo nome recusou a revelar. Até parece! Quase na mesma época, eu costumava visitar o Vaticano regularmente como representante credenciado de um chefe de estado, e nunca encontrei nenhum bispo tagarela para conversar no corredor comigo – e não foi por falta de tentativa. Os oficiais ilegais do DIE infiltrados por nós no Vaticano também encontraram quase as mesmas dificuldades insuperáveis para penetrar nos arquivos secretos do Vaticano, mesmo com o inexpugnável disfarce de sacerdote.

Nos meus velhos tempos do DIE, quando podia pedir ao meu chefe pessoal, general Nicolae Ceausescu (o irmão do ditador) um relatório detalhado sobre algum subordinado, ele sempre perguntava “Para promover ou rebaixar?” (NT: For promotion or demotion?, no original.) Durante os seus primeiros dez anos de vida, The Deputy tendeu na direção do rebaixamento do Papa. Gerou uma enxurrada de livros e artigos, alguns acusando, outros defendendo o pontífice. Alguns chegaram até a jogar a culpa pelas atrocidades em Auschwitz nas costas do Papa, outros meticulosamente reduziram os argumentos de Hochhuth a pó, mas todos contribuíram para a enorme atenção recebida na época por esta peça trapaceira. Hoje, muitas pessoas que jamais ouviram falar na The Deputy estão sinceramente convencidas que Pio XII foi um homem frio e malvado que odiava os judeus e ajudou Hitler a eliminá-los. Como Yury Andropov – chefe da KGB e inigualável mestre da enganação soviética – costumava me dizer, as pessoas são mais propensas a acreditar em sujidade do que em santidade.

 

CALÚNIAS ENFRAQUECIDAS

Em meados da década de 1970, The Deputy começou a perder força. Em 1974, Andropov admitiu para nós que, se soubéssemos antes o que sabíamos então, jamais teríamos ido atrás do Papa Pio XII. Referia-se a informações recentemente liberadas mostrando que Hitler, longe de ser amigo de Pio XII, na verdade tramou contra ele.

Poucos dias antes da admissão de Andropov, o antigo comandante supremo do esquadrão da SS alemã (Schutztaffel) na Itália durante a Segunda Guerra Mundial, general Friedrich Otto Wolff, havia sido solto da cadeia e confessado que em 1943 Hitler havia lhe ordenado que raptasse o Papa Pio XII do Vaticano. Aquela ordem havia sido tão confidencial que jamais foi trazida à tona após a guerra em nenhum arquivo nazista. Nem surgiu em nenhuma das inúmeras prestações de contas de oficiais da Gestapo e SS conduzidas pelos Aliados vitoriosos. Segundo a sua confissão, Wolff teria replicado a Hitler que a ordem levaria seis semanas para ser cumprida. Hitler, que culpava o Papa pela derrota do ditador italiano Benito Mussolini, queria a ordem cumprida imediatamente. Por fim, Wolff persuadiu Hitler que haveria uma forte reação negativa se o plano fôsse implementado, e o Führer o abandonou.

Também em 1974, o cardeal Mindszenty publicou o seu livro Memoirs, no qual descreve em dolorosos detalhes como foi falsamente incriminado na Hungria comunista. Com provas baseadas em documentos fabricados, ele foi acusado de “traição, mal uso de moeda estrangeira e conspiração”, ofensas “todas passíveis de pena de morte ou prisão perpétua”. Ele também desceve como a sua falsa “confissão” ganhou então vida própria. “Qualquer um, parecia para mim, podia ter reconhecido imediatamente este documento como uma falsificação grosseira, pois era o produto de um trabalho malfeito e de uma mente inculta”, escreveu o cardeal. “Mas quando depois eu li os livros, jornais e revistas estrangeiros que lidaram com o meu caso e comentaram a minha “confissão”, percebi que o público deve ter concluído que a “confissão” havia sido realmente feita por mim, apesar de ter sido feita em estado semiconsciente e sob a influência de lavagem cerebral… o fato de a polícia ter publicado um documento fabricado por ela mesma parecia muito descarado para se acreditar”. Além de tudo isso, Hanna Sulner, a especialista em caligrafia húngara usada incriminar o cardeal, havia escapado para Viena, e confirmou ter forjado a “confissão” de Mindszenty.

Alguns anos depois, o Papa João Paulo II iniciou o processo de beatificação de Pio XII, e testemunhas do mundo inteiro provaram, de modo constrangedor para os adversários, que Pio XII era um inimigo, não um amigo, de Hitler. Israel Zoller, o rabi-chefe de Roma entre 1943-44, quando Hitler tomou a cidade, devotou um capítulo inteiro das suas memórias louvando a liderança de Pio XII. “O Santo Padre enviou uma carta para ser entregue em mãos aos bispos instruindo-os para levantar o claustro de conventos e monastérios, para poderem se tornar refúgio para os judeus. Sei de um convento onde as Irmãs dormiram no porão, emprestando as suas camas para os refugiados judeus”. Em 25 de julho de 1944, Zoller foi recebido pelo Papa Pio XII. Notas tomadas pelo secretário de estado do Vaticano, Giovanni Battista Montini (que se tornaria o Papa Paulo VI) mostram a gratidão do rabi Zoller ao Santo Padre por toda a sua ajuda para salvar a comunidade judaica em Roma – e os seus agradecimentos foram transmitidos pelo rádio. Em 13 de fevereiro de 1945, o rabi Zoller foi batizado pelo bispo auxiliar de Roma, Luigi Traglia, na igreja de Santa Maria degli Angeli. Em agradecimento a Pio XII, Zoller tomou o nome cristão de Eugênio (o nome do Papa). Um ano depois, a esposa e a filha de Zoller também foram batizadas.

David G. Dalin, em The Myth of Hitler´s Pope: How Pope Pius XII Rescued Jews From the Nazis, publicado poucos meses atrás, compilou provas indiscutíveis da amizade entre Eugenio Pacelli e os judeus, iniciada bem antes dele ser papa. No começo da Segunda Guerra Mundial, a primeira encíclica do Papa Pio XII foi tão anti-Hitler que a Real Força Aérea e a força aérea francesa lançaram 88 mil cópias do documento sobre a Alemanha.

Ao longo dos 16 últimos anos, a liberdade de religião foi restaurada na Rússia e uma nova geração vem lutando para desenvolver uma nova identidade nacional. Só podemos esperar que o presidente Vladimir Putin decida abrir os arquivos da KGB e os coloque sobre a mesa para que todos possam ver como os comunistas caluniaram um dos mais importantes Papas do último século.

 

Escrito pelo ex-general Ion Mihai Pacepa, oficial de mais alta patente a desertar do Bloco Soviético. O seu livro Red Horizons foi traduzido para 27 idiomas.

Traduzido por Ricardo Hashimoto. Este texto é tradução do artigo Moscow’s Assault on the Vatican, publicado no National Review em 25 de janeiro de 2007.

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Ex-espião da União Soviética: Nós criamos a Teologia da Libertação https://portalconservador.com/ex-espiao-da-uniao-sovietica-nos-criamos-a-teologia-da-libertacao/ https://portalconservador.com/ex-espiao-da-uniao-sovietica-nos-criamos-a-teologia-da-libertacao/#respond Mon, 11 May 2015 03:53:42 +0000 http://portalconservador.com/?p=2310 read more →]]> (ACI Digital) – Ion Mihai Pacepa foi general da polícia secreta da Romênia comunista antes de pedir demissão do seu cargo e fugir para os EUA no fim da década de 70. Considerado um dos maiores “detratores” de Moscou, Pacepa concedeu entrevista a ACI Digital e revelou a conexão entre a União Soviética e a Teologia da Libertação na América Latina.  A seguir, os principais trechos da sua entrevista:

IonMihaiPacepa-Portal-Conservador

Em geral, você poderia dizer que a expansão da Teologia da Libertação teve algum tipo de conexão com a União Soviética?

Sim. Soube que a KGB teve uma relação com a Teologia da Libertação através do general soviético Aleksandr Sakharovsky, chefe do serviço de inteligência estrangeiro (razvedka) da Romênia comunista, que foi conselheiro e meu chefe até 1956, quando foi nomeado chefe do serviço de espionagem soviética, o PGU1; Ele manteve o cargo durante 15 anos, um recorde sem precedentes.

Em 26 de outubro de 1959, Sakharovsky e seu novo chefe, Nikita Khrushchev, chegaram à Romênia para as chamadas “férias de seis dias de Khrushchev”. Ele nunca tinha tomado um período tão longo de férias no exterior, nem foi sua estadia na Romênia realmente umas férias.

Khrushchev queria ser reconhecido na história como o líder soviético que exportou o comunismo à América Central e à América do Sul. A Romênia era o único país latino no bloco soviético e Khrushchev queria envolver os “líderes latinos” na sua nova guerra de “libertação”.

Eu me investiguei sobre Sakharovsky, vi os seus escritos, mas não pude encontrar nenhuma informação relevante sobre sua figura. Por que?

Sakharovsky era uma imagem soviética dos anos quentes da Guerra Fria, quando os membros dos governos britânico e israelense ainda não conheciam a identidade dos líderes do Mossad e do MI-6. Mas, Sakharovsky desempenhou um papel extremamente importante na construção da história da Guerra Fria. Ele ocasionou a exportação do comunismo a Cuba (1958-1961); ele manipulou de maneira perversa a crise de Berlim (1958-1961) criou o Muro de Berlim; a crise dos mísseis cubanos (1962) e colocou o mundo na beira de uma guerra nuclear.

A Teologia da Libertação foi de alguma maneira um movimento ‘criado’ pela KGB de Sakharovsky ou foi um movimento existente que foi exacerbado pela URSS?

O movimento nasceu na KGB e teve um nome inventado pela KGB: Teologia da Libertação. Durante esses anos, a KGB teve uma tendência pelos movimentos de “Libertação”. O Exército de Libertação Nacional da Colômbia (FARC –sic–), criado pela KGB com a ajuda de Fidel Castro; o Exército de Libertação Nacional da Bolívia, criado pela KGB com o apoio de “Che” Guevara; e a Organização para Libertação da Palestina (OLP), criado pela KGB com ajuda de Yasser Arafat, são somente alguns movimentos de “Libertação” nascidos em Lubyanka – lugar dos quartéis-generais da KGB.

O nascimento da Teologia da Libertação em 1960 foi a tentativa de um grande e secreto “Programa de desinformação” (Party-State Dezinformatsiya Program), aprovado por Aleksandr Shelepin, presidente da KGB, e pelo membro do Politburo, Aleksey Kirichenko, que organizou as políticas internacionais do Partido Comunista.

Este programa demandou que a KGB guardasse um controle secreto sobre o Conselho Mundial das Igrejas (CMI), com sede em Genebra (Suíça), e o utilizasse como uma desculpa para transformar a Teologia da Libertação numa ferramenta revolucionária na América do Sul. O CMI foi a maior organização internacional de fiéis depois do Vaticano, representando 550 milhões de cristãos de várias denominações em 120 países.

O nascimento de um novo movimento religioso é um evento histórico. Como foi construído este novo movimento religioso?

A KGB começou construindo uma organização religiosa internacional intermédia chamada “Conferência Cristã pela Paz”, cujo quartel general estava em Praga. Sua principal tarefa era levar a Teologia da Libertação ao mundo real. A nova Conferência Cristã pela Paz foi dirigida pela KGB e estava subordinada ao respeitável Conselho Mundial da Paz, outra criação da KGB, fundada em 1949, com seu quartel geral também em Praga.

Durante meus anos como líder da comunidade de inteligência do bloco soviético, dirigi as operações romenas do Conselho Mundial da Paz (CMP). Era estritamente KGB. A maioria dos empregados do CMP eram oficiais de inteligência soviéticos acobertados. Suas duas publicações em francês, “Nouvelles perspectives” e “Courier da Paix”, estavam também dirigidas pelos membros infiltrados da KGB –e da romena DIE2–. Inclusive o dinheiro para o orçamento da CMP chegava de Moscou, entregue pela KGB em dólares, em dinheiro lavado para ocultar sua origem soviética. Em 1989, quando a URSS estava à beira do colapso, o CMP admitiu publicamente que 90 por cento do seu dinheiro chegava através da KGB3.

Como começou a Teologia da Libertação?

Eu não estava propriamente envolvido na criação da Teologia da Libertação. Eu soube através de Sakharovsky, entretanto, que em 1968 a Conferência Cristã pela Paz criada pela KGB, apoiada em todo mundo pelo Conselho Mundial da Paz, foi capaz de manipular um grupo de bispos sul-americanos da esquerda dentro da Conferência de Bispos Latino-americanos em Medellín (Colômbia).

O trabalho oficial da Conferência era diminuir a pobreza. Seu objetivo não declarado foi reconhecer um novo movimento religioso motivando os pobres a rebelar-se contra a “violência institucionalizada da pobreza”, e recomendar o novo movimento ao Conselho Mundial das Igrejas para sua aprovação oficial. A Conferência de Medellín alcançou ambos objetivos. Também comprou o nome nascido da KGB “Teologia da Libertação”.

A Teologia da Libertação teve líderes importantes, alguns deles famosas figuras “pastorais” e alguns intelectuais. Sabe se houve alguma participação do bloco soviético na promoção da imagem pessoal ou dos escritos destas personalidades? Alguma ligação específica com os bispos Sergio Mendes Arceo do México ou Helder Câmara do Brasil? Alguma possível conexão direta com teólogos da Libertação como Leonardo Boff, Frei Betto, Henry Camacho ou Gustavo Gutiérrez?

Tenho boas razões para suspeitar que havia uma conexão orgânica entre a KGB e alguns desses líderes promotores da Teologia da Libertação, mas não tenho evidência para comprová-la. Nos últimos 15 anos que morei na Romênia (1963-1978), dirigi a espionagem científica e tecnológica do país, e também as operações de desinformação destinadas a aumentar a importância de Ceausescu no Ocidente.

Recentemente vi o livro de Gutiérrez “Teologia da Libertação: Perspectivas” (1971) e tive a intuição de que este livro foi escrito em Lubyanka. Não surpreende que ele seja considerado agora como o fundador da Teologia da Libertação. Porém, da intuição aos fatos, entretanto, há um longo caminho.

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Sem teologia nem libertação https://portalconservador.com/sem-teologia-nem-libertacao/ https://portalconservador.com/sem-teologia-nem-libertacao/#comments Sat, 10 Jan 2015 15:24:19 +0000 http://portalconservador.com/?p=2532 read more →]]> Leonardo Boff descreve episódios históricos inexistentes e ousa travestir a biografia de São Francisco.

O estilo é o homem? Sim, e o é para o bem e para o mal. Para o bem, quando a análise revela, por trás das construções sintáticas e figuras de linguagem, a percepção viva de aspectos obscuros e dificilmente dizíveis da experiência humana, que assim emergem da nebulosidade hipnótica onde jaziam e se tornam objetos dóceis da meditação e da ação, transfigurando-se de fatores de escravidão em instrumentos da liberdade. Para o mal, quando nada mais se encontra por baixo da trama verbal senão o intuito perverso de construir uma “segunda realidade” à força de meras palavras, transportando o leitor do mundo real para um teatro de fantoches onde tudo e todos se movem sob as ordens do distinto autor, elevado assim às alturas de um pequeno demiurgo, criador de “outro mundo possível”.

Para demonstrá-lo, pedirei ao leitor a caridade de seguir até o fim esta exposição do sr. Leonardo Boff, conselheiro de governantes e, segundo se diz, até de um Papa, bem como, e sobretudo, porta-voz eminente de uma “teologia da libertação” onde não se encontra nenhuma teologia nem muito menos libertação:

“A pobreza não se restringe ao seu aspecto principal e dramático, aquele material, mas se desdobra em pobreza política pela exclusão da participação social, em pobreza cultural pela marginalização dos processos de produção dos bens simbólicos…

“A pauperização gera por sua vez a massificação dos seres humanos. O povo deixa de existir como aquele conjunto articulado de comunidades que elaboram sua consciência, conservam e aprofundam sua identidade, trabalham por um projeto coletivo e passa a ser um conglomerado de indivíduos desgarrados e desenraizados, um exército de mão-de-obra barata e manipulável consoante o projeto da acumulação ilimitada e desumana.

“Essa situação provoca um modelo político altamente autoritário… Somente mediante formas de governo autoritárias e ditatoriais se pode manter um mínimo de coesão e se abafam os gritos ameaçadores que vêm da pobreza.”

O trecho é extraído do livro E a Igreja se Fez Povo (Círculo do Livro, 2011, p. 167). Tudo o que aí se descreve realmente aconteceu. São fatos, e fatos tão bem comprovados historicamente, que não teríamos como recusar ao sr. Boff um definitivo “Amém”, se não nos ocorresse a idéia horrível de perguntar: Aconteceu onde e quando?

O segundo parágrafo fala-nos de algo que aconteceu na Europa nas primeiras décadas do século XIX: massas de camponeses reduzidos à miséria pelo rateio dos seus parcos bens e obrigados a deixar suas terras para vir à cidade compor um “conglomerado de indivíduos desgarrados e desenraizados”,  reservatório de mão-de-obra barata para a prosperidade dos novos capitalistas. Karl Marx descreve em páginas que se tornaram clássicas a formação do proletariado urbano com os destroços do antigo campesinato, no começo da Revolução Industrial.

Mas justamente onde isso aconteceu não aconteceu nem pode ter acontecido o que se descreve no parágrafo anterior: a “pobreza política pela exclusão da participação social” e a “pobreza cultural pela marginalização dos processos de produção dos bens simbólicos”. Bem ao contrário, a vinda dos camponeses para as concentrações urbanas coincidiu com o advento das eleições gerais, não apenas convidando mas forçando a participação das massas numa política que lhes era totalmente desconhecida no tempo em que viviam no campo, isoladas dos grandes centros.

E coincidiu também com a criação da instrução escolar obrigatória, que extraía os filhos dos proletários das suas culturas locais provincianas para integrá-los na grande cultura urbana da razão, da ciência e da tecnologia, substancialmente a mesma cultura das classes altas, dos malditos capitalistas. Pode-se lamentar a dissolução das velhas culturas locais, mas ela não aconteceu pela exclusão e sim pela inclusão das massas na vida política e na cultura urbana.

A “exclusão da participação social” e a “marginalização dos processos de produção de bens simbólicos” aconteceram, sim, mas a centenas de milhares de quilômetros dali, em países da África, da Ásia e da América Latina que viriam a ser chamados de “Terceiro Mundo” justamente porque neles não houve Revolução Industrial nenhuma, nem portanto integração das massas, seja na política, seja na cultura urbana.

O sr. Boff cria a unidade fictícia de um espantalho  hediondo com recortes de processos históricos heterogêneos e incompatíveis, ocorridos em lugares enormemente distantes uns dos outros. A única realidade substantiva desse monstro de Frankenstein é o ódio que o sr. Boff desejaria instilar contra ele na alma do leitor.

Mas a fisionomia do monstro não estaria completa sem uma terceira peça, que o sr. Boff vai buscar em outro lugar ainda:

“Esta situação, diz ele, provoca um modelo político altamente autoritário… Somente mediante formas de governo autoritárias e ditatoriais se pode manter um mínimo de coesão e se abafam os gritos ameaçadores que vêm da pobreza.”

Descontemos a imprecisão vocabular — “provocam” em vez de “produzem” – e a sintaxe subginasiana: “esta” em vez de “essa” e “se pode manter um mínimo de coesão e se abafam os gritos” em vez de “se pode produzir um mínimo de coesão e abafar os gritos”. Vamos direto aos ponto essencial: é verdade que para controlar as massas esfomeadas surgiram governos autoritários, mas não na Europa da Revolução Industrial nem nos EUA da mesma época, onde justamente iam triunfando as instituições democráticas junto com o capitalismo nascente, e sim, bem ao contrário, em países subdesenvolvidos (ou empobrecidos pela guerra), que, invejando a prosperidade das nações industrializadas, mas não dispondo de uma classe capitalista pujante e criativa, resolveram industrializar-se às pressas e à força  por via burocrática, desde cima, por meio do investimento estatal maciço e da economia planificada. Foi essa a fórmula econômica da Alemanha nazista, da Itália fascista e, obviamente, a de todas as nações socialistas queridinhas do sr. Boff. Foi também, pelas mesmíssimas razões, e embora em menor grau, a da ditadura Vargas e a do governo militar brasileiro.

Em suma, se fosse possível juntar o que há de mau nos países mais distantes, nos tempos mais diversos e nos regimes mais heterogêneos, teríamos aí o monstro ideal contra o qual o sr. Boff  deseja voltar a ira da platéia. O sr. Boff aposta na possibilidade de que o leitor não repare na superposição postiça de recortes e, impressionado pela soma de maldades, acredite piamente estar vivendo entre as garras do monstro, tirando daí a conclusão lógica de que deve deixar-se libertar pelo sr. Boff.

Nisso, e em nada mais, consiste a “teologia da libertação”. A técnica da superposição é, a rigor, o único procedimento estilístico e dialético do sr. Boff e o resumo quintessencial do seu, digamos, pensamento. Podemos encontrá-la, praticamente, em cada página da sua autoria, onde em vão procuraremos outra coisa.

Já poucas linhas adiante temos outro exemplo, no trecho em que ele usa a figura de são Francisco de Assis como protótipo do revolucionário que ele mesmo pretende ser. O leitor, paciente e bondoso, por favor, siga mais este paragrafinho:

“Tal atitude [a de S. Francisco ao rejeitar os bens do mundo] corresponde à do revolucionário e não a do reformador e do agente do sistema vigente. O reformador reproduz o sistema, introduzindo apenas correções aos abusos por meio de reformas…. O que [Francisco] faz representa uma crítica radical às forças dominantes do tempo… Não optou simplesmente pelos pobres, mas pelos mais pobres entre os pobres, os leprosos, aos quais chamava carinhosamente ‘meus irmãos em Cristo’.”

Francisco aparece aí, pois, como o revolucionário que em vez de servir ao sistema vigente busca destruí-lo e substituí-lo por algo de totalmente diverso. Nem discuto a inverdade histórica, que é demasiado patente. São Francisco jamais se voltou contra o sistema hierárquico da Igreja, mas, ao contrário, fez da sua ordem mendicante o instrumento mais dócil e eficiente da autoridade papal. Para usar os termos do próprio Boff, corresponde rigorosamente à definição do “reformador” e não à do “revolucionário”.

Mas o ponto não é esse. A coisa mais linda é que, segundo o sr. Boff, quando Francisco se aproxima não somente dos pobres, mas “dos mais pobres entre os pobres”, isto é, dos leprosos, há nisso um claro protesto contra a hierarquia social. Mas desde quando a lepra escolhe suas vítimas por classe social? Não eram leprosos o rei de Jerusalém, Balduíno IV, e o rei da Alemanha, Henrique VII, filho do grande imperador Frederico II e de Constança de Aragão? Francisco recusaria o beijo ao leproso de família rica? Superpondo artificialmente a idéia da deformidade mórbida à da inferioridade econômica, que lhe é totalmente alheia, o sr. Boff faz do menos anti-social dos gestos de caridade cristã um símbolo do ódio revolucionário, e o leitor, estonteado pela imagem composta, nem percebe que foi feito de trouxa mais uma vez, engolindo como pura teologia católica a velha distinção marxista entre reforma e revolução. Desfeito pela análise o jogo de impressões, a “teologia da libertação” do sr. Boff revela-se nada mais que uma técnica de escravização mental.

Sim, o estilo é o homem. Uns escrevem para mostrar, outros para esconder e esconder-se, lançando, desde as sombras, a miragem de uma falsa luz.


Escrito por Olavo de Carvalho. Publicado no Diário do Comércio em 10 de janeiro de 2015.

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