muçulmanos – Portal Conservador http://portalconservador.com Maior Portal dirigido ao público Conservador em língua portuguesa. Sat, 27 Aug 2016 23:41:30 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.6.1 65453639 Países cristãos que acolhem ‘refugiados’ muçulmanos; mas recusam cristãos http://portalconservador.com/paises-cristaos-que-acolhem-refugiados-muculmanos-mas-recusam-cristaos/ http://portalconservador.com/paises-cristaos-que-acolhem-refugiados-muculmanos-mas-recusam-cristaos/#respond Wed, 23 Sep 2015 11:00:33 +0000 http://portalconservador.com/?p=2512 read more →]]> O cristianismo é persona non grata em alguns países europeus. Este parece ser o caso notadamente da Inglaterra e do palco da Revolução Francesa, a França. Ambos se comprometeram a acolher, respectivamente, 20 mil e 24 mil imigrantes. Contudo, as regras estabelecidas por ambos os governos discriminam os cristãos, que é o grupo de pessoas que mais necessita de acolhimento.

“CRISTÃOS SÃO DEIXADOS POR ÚLTIMO”. O alarme foi soado na Inglaterra pelo ex-arcebispo da Cantuária, Lord Carey, que escreveu no Telegraph: “Quem entre nós pede há meses compaixão pelas vítimas da Síria, vive uma grande frustração, porque a comunidade cristã, mais uma vez, é abandonada e deixada por último”. O primeiro-ministro David Cameron, de fato, anunciou que acolherá somente aqueles que já se encontram em um acampamento de refugiados das Nações Unidas.

DISCRIMINAÇÃO. “Mas, assim – continua o antigo primaz anglicano -, Cameron inadvertidamente discrimina as comunidades cristãs, que são as mais afetadas por esses carniceiros desumanos que se autodenominam Estado islâmico. Você não vai encontrar nenhum cristão em campos da ONU, porque eles são atacados e feitos alvos dos muçulmanos que os expulsam desses campos. Por isso, eles procuram refúgio em casas particulares e nas igrejas”.  Ao invés de discriminar os cristãos, “a Inglaterra deveria considerá-los uma prioridade, porque eles são o grupo mais vulnerável. Além disso, nós somos uma nação de origem cristã e os cristãos sírios não teriam problemas para se adaptar. Alguns não vão gostar do que eu vou dizer, mas nos últimos anos a imigração muçulmana em massa para a Europa tem sido excessiva e levou ao surgimento de guetos onde eles vivem à  margem da sociedade”.

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APELO DOS ANGLICANOS: Após a publicação deste artigo, o atual arcebispo da Cantuária, Justin Welby, falou pessoalmente do problema durante uma reunião privada com o primeiro-ministro britânico. Ele repetiu as palavras pronunciadas segunda-feira diante da Câmara dos Lordes: “Nos campos de refugiados da ONU, a radicalização e a intimidação são generalizadas. Assim, a população cristã foi forçada a fugir desses campos. Qual é a política do governo para alcançar os refugiados que não estão nos campos?”.

EXIGÊNCIAS PRECISAS. O problema da discriminação contra os cristãos no acolhimento de refugiados não acontece apenas na Grã-Bretanha, mas também na França. O especialista em Síria da Universidade de Tours, Frederic Pichon, declarou em 11 de setembro na Rádio Courtoisie: “Esta tarde, eu falei com um alto funcionário da República que trabalha no acolhimento de refugiados e ele me disse que eu poderia divulgar essa informação. Então, eu aproveito esta oportunidade para fazê-lo: há exigências específicas da parte do governo para ignorar o problema dos cristãos no Oriente”.

INÚTIL PEDIR VISTO. Em primeiro lugar, de acordo com as informações de Pichon, o motivo pelo qual “os cristãos iraquianos e sírios esperam até oito meses por um visto na sede da Embaixada da França no Líbano” é porque “o dossier sobre cada um deles é examinado por uma empresa privada de propriedade de um muçulmano sunita”. Ele continua: “É um alto funcionário, um prefeito que me revelou que ele mesmo aconselhou os cristãos a não buscar os vistos, mas tentar atravessar através da Turquia”, e depois buscar as vias ilegais percorridas por todos os outros imigrantes ilegais, “se eles quiserem arriscar a ter uma chance”.

CONTRA O REGIME. Mas o que seriam essas “exigências precisas” por parte do governo? “Segundo o que me revelou o funcionário do governo francês, o conceito é o seguinte: ‘Sírios podem ser acolhidos, mas sob a condição de que eles não sejam favoráveis ao regime [Assad]’”. Subentendido: se você é alauíta ou cristão, você é considerado pró-regime, e assim o seu visto “nunca chegará”.

TRADUTORES ÁRABES. Este não é o único problema. Falando no mesmo programa de rádio, Marc Fromager, chefe da “Aide à l’Eglise en détresse” (Ajuda à Igreja que Sofre) revelou: “Não é de hoje que eu recebo denúncias desse tipo aqui na França”. Por exemplo, os cristãos egípcios que fogem do seu país, porque são ameaçados. O caso deles está sendo tratado com a ajuda de tradutores de árabe que são quase todos muçulmanos de origem norte-Africana. Estranhamente, quase nunca acontece destes cristãos serem reconhecidos como tendo direito a asilo político e assim são rejeitados. Ao invés disso, os muçulmanos são bem-vindos com muita facilidade. Seria necessário tradutores neutros sob o plano religioso e que façam seu trabalho com isenção, porque era evidente que os cristãos egípcios se encontravam em perigo físico”.


Escrito por Leone Grotti. Temp.it. Traduzido por Gercione Lima (Fratres in Unum.com)

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Os Direitos Humanos e o ‘pacífico’ Islã http://portalconservador.com/os-direitos-humanos-e-o-pacifico-isla/ http://portalconservador.com/os-direitos-humanos-e-o-pacifico-isla/#comments Sun, 20 Sep 2015 03:29:07 +0000 http://portalconservador.com/?p=2494 read more →]]> Olhemos para a Declaração de Direitos Humanos de 1948 e comparemos com a lei islâmica e sua doutrina.

Artigo 1° – Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.

Mulheres são inferiores sob a lei islâmica, seu testemunho em um tribunal vale a metade do que vale o de um homem, suas liberdades são reduzidas, elas não podem se casar com homens não muçulmanos. (Deve ser lembrado que o homem muçulmano tem obrigação de converter suas mulheres que não forem muçulmanas).

Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação.

Os não muçulmanos que vivem em países islâmicos têm status inferior sob a lei islâmica e não podem testemunhar contra um muçulmano. Na Arábia Saudita, segue-se uma tradição de Maomé, que disse: “duas religiões não podem coexistir no país da Arábia”, os não muçulmanos estão proibidos de praticar sua religião, construir igrejas, possuir Bíblias, etc. Ser não-muçulmano já lhe garante a pena de enforcamento. Ver “Arábia Saudita decreta pena de morte para quem carregar Bíblia“.

Artigo 3° Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Os descrentes – ateus (certamente a minoria mais negligenciada na história) não têm “direito de viver” em países muçulmanos. Eles devem ser mortos. Os doutores da lei geralmente dividem os pecados em grandes e pequenos. Dos dezessete pecados mais graves, a descrença é o maior, mais grave que assassinato, roubo, adultério, etc.

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Artigo 4° Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.

A escravidão é reconhecida no Alcorão. Os muçulmanos podem coabitar com qualquer “cativa” (sura 4.3); a eles é permitido possuir mulheres casadas se elas forem escravas (sura 4.28). Esta posição indefesa dos escravos em relação a seus mestres ilustra a posição indefesa dos deuses falsos da Arábia na presença de seu Criador (sura 16.77).

Artigo 5° Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.

Temos visto quais punições estão reservadas aos transgressores da Sagrada Lei: amputações, crucificação, apedrejamento até a morte e flagelação. Suponho que um muçulmano irá argumentar que esses castigos são sanções divinas que não podem ser julgadas por critérios humanos. Pelos padrões morais humanos, elas são desumanas.

Artigo 6° Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica.

A noção geral de que uma pessoa possa fazer escolhas e possa ser imputada moralmente não existe no Islã, bem como toda a noção de direitos humanos.

Os artigos 7, 8, 9, 10 e 11 lidam com o direito a julgamento justo, que qualquer pessoa acusada de crime tem (por exemplo, artigo 9°: ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado). Como Schacht tem mostrado, sob a Sharia, a consideração da boa fé, justiça e verdade desempenham um papel subordinado. A ideia de culpa criminal é ausente. A vingança por um assassinato está oficialmente sancionada, embora uma recompensa em dinheiro também seja possível.

O procedimento sob o Islã dificilmente pode ser julgado imparcial ou justo, pois em matéria de testemunho, o Islã revela todo tipo de injustiça. Um não muçulmano não pode testemunhar contra um muçulmano. Por exemplo, um muçulmano pode roubar um não muçulmano em sua casa com impunidade se não houver testemunhas exceto a própria vítima.

As evidências dadas por uma mulher muçulmana são admitidas em circunstâncias muito excepcionais e somente se vier do dobro do número de homens necessários.

O artigo 16º lida com os direitos de casamento dos homens e das mulheres.

Artigo 16° A partir da idade Núbia, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.

2.O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos futuros esposos.

3.A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção desta e do Estado.

Como veremos em nosso capítulo sobre as mulheres, sob a lei islâmica elas não têm direitos iguais: elas não são livres para casar com quem elas quiserem, os direitos ao divórcio não são iguais.

Artigo 18° Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

É bem claro que, sob a lei islâmica, as pessoas não têm direito a mudar de religião se nascem em uma família muçulmana. Aplicando dois pesos e duas medidas, os muçulmanos ficam bem felizes quando os outros aceitam se converter a sua religião, mas um muçulmano não pode se converter a outra – configurando-se a apostasia, punida com a morte. Aqui está como o grande comentarista Baydawi enxerga a matéria: “quem quer que se volte contra suas crenças, aberta ou secretamente, pegue-o e mate-o onde quer que o ache. Não aceite intercessão em seu favor”.

Estatísticas das conversões ao cristianismo, sendo assim apostasias, são difíceis de estabelecer por razões óbvias. Há, contudo, o mito de que é impossível converter fazer um muçulmano deixar sua religião. Ao contrário, temos sim evidência suficiente de que milhares de muçulmanos trocam o Islã pelo Cristianismo, sendo que os casos mais espetaculares, entre outros, são os dos príncipes marroquinos e tunisianos no século dezessete e do monge Constantino o africano. O conde Rudt-Collenberg encontrou evidência na casa dei Catecumeni em Roma sobre a 1,087 conversões entre 1614 e 1798. De acordo com A.T. Willis e outros, entre dois e três milhões de muçulmanos se converteram ao Cristianismo depois do massacre dos comunistas na Indonésia em 1965, descritas no capítulo 5.

Somente na França, nos anos 90, duas ou três centenas de pessoas se convertem ao Cristianismo cada ano. De acordo com Ann E. Mayer, no Egito as conversões tem “ocorrido com uma frequência que irrita os clérigos muçulmanos e para que se mobilizasse a opinião dos muçulmanos conservadores com propostas de decretar uma lei impondo a pena de morte por apostasia”. Ms. Mayer aponta que no passado, muitas mulheres tem sido tentadas a se converter ao islã para melhorar sua situação.

Aqueles que se convertem ao Cristianismo e escolhem ficar em um país muçulmano o fazem sob grande risco pessoal. Os convertidos têm a maioria de seus direitos negados, documentos de identidade são frequentemente recusados, então ele tem dificuldades para deixar o país; seu casamento é declarado nulo e vazio, seus filhos são tomados dele para serem educados como muçulmanos, e seu direito a herança é confiscado. Frequentemente a família tomará conta do caso e assassinará o apóstata. A família, é claro, não é punida.

Artigo 19° Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão.

Os direitos consagrados nos artigos 18 e 19 tem sido constantemente violado no Irã e Paquistão. Na maioria dos países muçulmanos, os direitos dos Bahais, Ahmadi, e minorias xiitas, respectivamente, tem sido negados. Todos esses países justificam suas ações pela Sharia. Os cristãos nesses países são frequentemente presos sob as acusações de blasfêmia e seus direitos negados. A anistia Internacional descreve o cenário:

Centenas de Cristãos, incluindo mulheres e crianças, têm sido presos nesses últimos três anos, a maioria sem julgamento, somente pelas suas pacíficas expressões de crenças religiosas. A posse de objetos não islâmicos – incluindo Bíblias, rosários, cruzes e quadros de Jesus Cristo – está proibida e tais itens podem ser confiscados. De maneira semelhante, os muçulmanos que são xiitas tem sido perturbados, presos, torturados e em alguns casos, decapitados. Por exemplo, em setembro de 1992 saiq Abdul Karim Malallah foi publicamente decapitado em al-Qatif depois de apostasia convicta e blasfêmia. Sadiq, um muçulmano xiita, foi acusado de atirar pedras em uma estação de polícia, em seguida acusado de contrabandear uma Bíblia para dentro do país. Ele foi mantido em uma solitária onde foi torturado.

A blasfêmia contra Deus e o profeta é punível com a morte sob a lei islâmica. Nos tempos modernos, a lei da blasfêmia tem se tornado uma ferramenta para os governos muçulmanos silenciarem a oposição, ou, como vimos antes, procurar e punir a “heresia”. O artigo 26° lida com o direito a educação. Outra vez, cabe dizer que certas áreas acadêmicas são negadas às mulheres.

Fica claro que os militantes islâmicos são bem conscientes da incompatibilidade do Islã e a Declaração dos Direitos Humanos, pois tais militantes se encontraram em Paris, em 1981, para fazerem uma Declaração Islâmica dos Direitos Humanos e que retirou todas as liberdades que contradiziam a sharia. Ainda mais preocupante é o fato de que sob pressão de países muçulmanos em 1981, a Declaração das Nações Unidas sobre a eliminação da discriminação religiosa foi revisada e, consequentemente, alteraram a expressão “direito de mudar” de religião por simplesmente “ter uma religião”.

Escrito por Ibn Warraq. Traduzido por Khadija Kafir. Adaptado por John F. Braüner. O presente texto foi extraído do livro Why I am not a Muslim (capítulo 7), de Ibn Warraq, pseudônimo de um ex-muçulmano nascido na Índia e criado no Paquistão e na Inglaterra. Famoso pelas suas críticas ao Alcorão e às sociedades islâmicas.

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Crise dos refugiados: a hipocrisia dos países árabes-islâmicos ricos http://portalconservador.com/crise-dos-refugiados-a-hipocrisia-dos-paises-arabes-islamicos-ricos2/ http://portalconservador.com/crise-dos-refugiados-a-hipocrisia-dos-paises-arabes-islamicos-ricos2/#respond Thu, 17 Sep 2015 03:58:33 +0000 http://portalconservador.com/?p=2482 read more →]]> 1. A atual crise dos refugiados que fogem da guerra na Síria e de outros conflitos no Médio Oriente e Sul do Mediterrâneo (Iraque, Afeganistão, Líbia, etc.) tem provocado intermináveis discussões e profundas divisões entre os europeus.

O assunto é, sem dúvida, dos mais delicados que a União Europeia tem em mãos — mais até do que a crise da Zona Euro e da Grécia —, devido às possíveis consequências duradouras nas sociedades europeias. Nada indica que a dimensão da vaga de refugiados vá diminuir nos próximos tempos, pela persistência das guerras que as originam. Às vagas de refugiados acrescem os expressivos fluxos de migrantes à procura de melhores condições de vida, da Europa Balcânica (especialmente do Kosovo) e da África subsariana. Tendo em conta que, na crise atual, a principal origem dos refugiados é a Síria — e que estes são maioritariamente árabes e muçulmanos sunitas —, uma questão ocorre: por que razão não são os países árabes ricos do Médio Oriente o principal destino de acolhimento desses refugiados? (Ver a análise feita neste artigo da BBC de 2/9//2015, “Migrant crisis: Why Syrians do not flee to Gulf States”) A questão faz tanto mais sentido se pensarmos que a proximidade geográfica, linguística, cultural e religiosa é muito maior do que face a Estados europeus como a Alemanha, a Áustria, ou a Itália, por exemplo. (Poderá ser um contra-argumento que aquilo que atrai os refugiados para a Europa não é só a prosperidade material, mas também a democracia, a liberdade e a tolerância). Esta mesma interrogação foi colocada por um muçulmano britânico, Zahid Nawaz, numa carta dirigida ao Financial Times, publicada a 28/08/2015 sob o título “Hypocrisy of the Muslim Gulf countries” / Hipocrisia dos Países Muçulmanos do Golfo. Vale a pena reproduzir aqui alguns excertos.

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Se é possível verificar muitas famílias muçulmanas nos refugiados, o mais comum são os milhares de muçulmanos em idade militar

O autor começa por deplorar a tragédia humana em curso, mostrando a sua decepção pela atitude dos países muçulmanos ricos do golfo “[…] ver refugiados sírios, iraquianos, afegãos e sudaneses, quase todos muçulmanos, arriscarem as suas vidas tentando viajar para a Europa quando há, potencialmente, uma rota muito mais fácil para a Arábia Saudita e os Emiratos, é extremamente decepcionante.” Em seguida, faz notar a atitude de quase indiferença face aos refugiados, contrastivamente com a política de financiamento de grupos rebeldes na guerra da Síria e a riqueza que ostentam: “Esta falta de vontade de enfrentar o custo humano ocorre apesar do alegado financiamento significativo da rebelião na Síria, pelo Qatar, Arábia Saudita e Emiratos. Enquanto isso, o Qatar continua a gastar enormes quantias num Mundial de Futebol e o Dubai em infra-estruturas para uma Expo-Mundial.” Por último, termina notando o seguinte: “os muçulmanos são continuamente lembrados para tratar os outros muçulmanos como parte da umma [a comunidade dos crentes] um elemento constante no desenvolvimento do Islão. Mas quando se trata de fomentar, a longo prazo, uma ação sustentável para manter refugiados muçulmanos em países muçulmanos, a hipocrisia dos regimes locais da Arábia Saudita, Emirados Árabes e Qatar é uma fonte de enorme decepção para mim e estou certo que para muitos outros muçulmanos.”

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Da Síria a Alemanha, alguns ‘refugiados’ chegam a percorrer 4 mil km

2. Se a Turquia (0,8 milhões), o Líbano (1,2 milhões) e a Jordânia (0,6 milhões) — Estados com fronteiras diretas com a Síria — já receberam um número elevado de refugiados do conflito sírio, o mesmo não se pode dizer da Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Qatar, Kuwait, Omã e Bahrein. Todos estes Estado estão, em termos geográficos, relativamente próximos da Síria, embora sem fronteiras diretas. Mas, mais importante do que isso, estão entre os mais ricos do mundo — mais até do que muitos dos países mais prósperos da União Europeia como veremos em seguida. Estão, certamente também, como já referimos, muito mais próximos em termos culturais, religiosos e linguísticos. Importa notar que estes são objetivamente fatores que tendem a facilitar a integração nas sociedades de acolhimento. Um olhar para as estatísticas do Banco Mundial (2014) não deixa grandes dúvidas sobre a riqueza e meios materiais destes países para acolherem muitos dos refugiados. Olhando para o topo, para os primeiros vinte e cinco lugares do ranking mundial do PIB per capita — ou seja dos países mais ricos do mundo —, encontramos o seguinte quadro. Seis Estados árabes-islâmicos encontram-se nesse ranking, por esta ordem: em 1º lugar o Qatar (à frente dos países europeus mais ricos, como o Luxemburgo e a Noruega); em 4º lugar o Kuwait (à frente, da Noruega, frequentemente considerada o país com mais qualidade de vida); em 8º lugar os Emirados Árabes Unidos (à frente da Suíça); em 11º lugar a Arábia Saudita (à frente de países europeus como a Holanda, Áustria, Suécia, Dinamarca ou Alemanha); em 17º lugar Omã (à frente da Suécia, Dinamarca e Alemanha); em 23º lugar o Bahrein (à frente da Bélgica, Finlândia, Reino Unido e França). Note-se ainda que, todos eles, à exceção de Omã, se encontram classificados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), na categoria mais elevada, o desenvolvimento humano muito elevado. No ranking do PIB, as estatísticas do Banco Mundial (2014) confirmam também o já mencionado. A Arábia Saudita 19º lugar (à frente, por exemplo, de economias como a Suíça, a Suécia, a Bélgica ou Áustria); os Emirados Árabes Unidos em 30.º lugar (à frente da Dinamarca e Finlândia); o Qatar em 50.º, à frente da República Checa; o Kuwait, em 56.º lugar, à frente da Hungria, onde temos visto algumas das imagens mais desesperadas de refugiados em solo europeu.

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3. Poderá argumentar-se que são Estados de pequena dimensão, pelo que teriam dificuldades em fazer esse acolhimento. Talvez, mas não é esse, seguramente, o caso da Arábia Saudita. Com um território superior a 2 milhões de km² e cerca de 28 milhões de habitantes, o país é bem conhecido pelos seus enormes recursos petrolíferos. Pelas suas ambições de potência regional do Médio Oriente e de liderar Islão, seria de esperar, pelo menos, uma atitude de solidariedade com os seus “irmãos muçulmanos” sunitas. A esmagadora maioria dos refugiados da Síria, como do Iraque ou Afeganistão, etc., são muçulmanos sunitas que, teoricamente, se sentiriam bem num país rico, com similar religião e proximidade cultural. (Nem sequer falamos em acolher outros seres humanos fora do Islão sunita, como os xiitas, yazidis ou cristãos…). Nada disso ocorre. O acolhimento é praticamente inexistente. O país nem sequer é signatário das convenções internacionais sobre os refugiados, o que lhe dá mãos livres para deportações em massa que regularmente faz. (Ver, entre muitos outros, o relatório da Human Rights Watch “Saudi Arabia: 12.000 Somalis Expelled. Mass Deportations Without Considering Refugee Claims” de 18/02/2014). O mesmo ocorre com os Emirados Árabes Unidos, uma federação de sete Emirados do Golfo Arábico (onde se destaca o riquíssimo Dubai, paraíso exótico de milionários), com cerca de 83 km² e pouco mais de 8 milhões de habitantes. Com algumas das maiores reservas de petróleo, sendo, como já referido, a 30º maior economia mundial e um dos Estados mais ricos do mundo poderia — deveria — ser um destino natural de muitos refugiados. Também não é. As razões são similares às da Arábia Saudita. Ambos criam enormes dificuldades no acesso ao seu território, através inúmeras restrições à concessão de vistos de entrada, ou qualquer reconhecimento do estatuto de refugiados, tal como consta das convenções internacionais. Muito convenientemente, também não são parte da Convenção das Nações Unidas de 1951, nem do Protocolo de 1967, sobre o estatuto dos refugiados. Similar situação ocorre com os restantes Estados árabes-islâmicos mais ricos do golfo: Qatar, Kuwait, Omã e Bahrein. Acresce o facto de normalmente não existir qualquer legislação interna sobre os refugiados, o que os deixa completamente à mercê da arbitrariedade. Ironicamente, até existe uma convenção no âmbito da Liga Árabe, feita em 1994, sobre o estatuto dos refugiados nos países árabes. Só que também não está em funcionamento porque não foi ratificada pelos seus signatários. É letra morta num papel.

4. Ainda está bem gravada na memória europeia o que foi a impressionante mobilização do mundo árabe-islâmico na altura da publicação das caricaturas do Profeta Maomé no jornal dinamarquês, Jyllands-Posten, em finais de 2005 e inícios de 2006. Os governantes da Arábia Saudita, Kuwait, Qatar, Emirados Árabes Unidos, Omã, Bahrein, etc. foram alguns dos que mais protestos fizeram e mais mobilizaram as suas populações nesse sentido. A Organização da Conferência Islâmica (OCI) e a Liga Árabe estiveram também na linha da frente, incluindo da adoção de sanções e condenação da Dinamarca nas Nações Unidas. Hoje, quando o sofrimento de milhões de muçulmanos e outros, vítimas da guerra na Síria e dos múltiplos conflitos internos ao mundo árabe-islâmico, mais requeria a sua ação enérgica, tentam passar despercebidas e iludir as suas responsabilidades. A estratégia parece ser deixar cair o ônus do problema sobre a União Europeia, jogando com o impacto das trágicas imagens que temos visto nos media e o sentimento de culpa dos europeus. Infelizmente, o que se pode passar nos próximos anos, arrisca-se a ser um remake do que já vimos nos conflitos e tragédias humanitárias da Iugoslávia dos anos 1990. Se, para receber refugiados, as portas dos países árabes-islâmicos ricos estão fechadas, para expandir a sua influência político-religiosa na Europa, estas podem abrir-se rapidamente. São, ou deveriam ser, bem conhecidas as atividades da Arábia Saudita, do Qatar e outros, lesivas dos interesses europeus de integração das populações acolhidas. Nos anos 1990, o dinheiro saudita do petróleo apareceu, rapidamente, na Bósnia, no Kosovo, na Macedônia e na Albânia, para construir mesquitas e enviar imãs com a missão de expandirem o wahhabismo uma versão purista e retrógrada do Islão, a qual tende a radicalizar os muçulmanos num ambiente tão diferente como é o da Europa secular. Seguiram-se-lhe certas ONG’s, supostamente com fins caritativos mas mais preocupadas em islamizar — alimentos halal (permitidos), véu islâmico, etc. —, do que em prosseguir fins genuinamente humanitários. Se isto vier a acontecer novamente, será uma ironia (e miopia) europeia. Esta será tanto maior quanto, em grande parte, a crise de refugiados que hoje enfrentamos é, de alguma forma, consequência da rebelião armada contra o governo de Assad, financiada sobretudo pela Arábia Saudita e outros países árabes sunitas. É, também, resultado da míope intervenção europeia / ocidental na Líbia, para derrubar Kadhafi, que deixou o caos e a anarquia no Sul do Mediterrâneo, às portas da Europa.

Escrito por José Pedro Teixeira Fernandes. Jornal português Publico.pt.

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