O que proponho aqui como análise não é, evidentemente, o problema da existência do Deus católico e das implicações que se seguem a partir daí. O ateísmo contemporâneo têm como tese central “a não existência de Deus” – isto todos sabem muito bem, mas esconde em seu seio uma propaganda moral que é absolutamente estranha aos filósofos niilistas do século XIX, qual seja uma vida mais virtuosa, mais bela, e acima de tudo, mais racional do que aquela ao qual pertencem os ignorantes religiosos que acreditam na ideia estúpida de um Deus. Podem acusar Nietzsche de absolutamente qualquer coisa – e ele era certamente um louco – mas não lhe podem imprimir a alcunha de um hipócrita, jamais. Nietzsche encarnou seus conceitos, levou-os ao extremo, atuou como um juiz incorruptível. Sob o paradoxo de um padrão moral sem nenhuma moral, Nietzsche fora compreendido pelo niilismo como um vencedor, cujo suicídio de nada significou (e nada significaria, ora). Não há propriamente uma conduta boa ou má e, para além de Maquiavel, o homem (aqui compreendido como o gênero humano) não deve explicações à nenhuma moral.
É por isto que vejo, muito particularmente, uma questão demasiado interessante sobre o crescimento de um ateísmo que se designa agora conservador, e que frequenta há muito os espaços ditos católicos. Esta forma de ateísmo contemporâneo e conservador – em linhas gerais – tende a promover uma concepção de vida virtuosa distinta, um exímio modelo de santidade, mas sem os santos e sem o cristianismo, uma moral, que não deixaria de ser legítima e intrínseca ao homem; mas acima de tudo desconectada do fim último que é Deus – talvez uma forma de se seguir o modelo da Imitação de Cristo, de Tomás de Kempis, sem o Cristo. É uma moral de oposição ao que seria a moral hipócrita do Deus vingativo cristão do Antigo Testamento. Apelos emocionais e exemplos certamente não faltariam – estes quase sempre recorrem às cruzadas, às inquisições, às guerras religiosas, e até mesmo os crimes cotidianos nas sociedades ocidentais. O ateísmo poderia, neste sentido, libertar o homem de seus grilhões (mito da Caverna de Platão) e das instituições religiosas. A mim parece muitíssimo claro as fontes que estes embebedaram-se para tais discursos, embora passe despercebido para muitos – a influência protestante sobre o ateísmo contemporâneo é algo que pode ser até discutido, mas nunca negado.
De certo, e em linhas gerais, há uma incompreensão absoluta do que é o conservadorismo, mesmo por aqueles que se autodenominam conservadores, e talvez seja mais justo e didático colocar à mesa o conservadorismo como, primeiro, um compêndio de atitudes maduras e em segundo, como um movimento político, percebido no tempo e no espaço, mas nunca como um dogma. Russell Kirk, católico e filósofo norte-americano, é comumente retratado como o segundo grande pai do conservadorismo político moderno (o primeiro é, sem sombra de dúvidas, Edmund Burke), porquê foi deste o mérito em tentar-se estabelecer limites ao que seria entendido de forma geral como pensamento conservador – um certo tipo de ceticismo exacerbado para com a figura institucional do Estado, um carinho ou um senso de preservação pelas “coisas ditas permanentes”; a defesa de uma lei moral intemporal e a crença num Deus pessoal. Estes princípios possuem o dom e o condão de informar pessoas que são nitidamente conservadoras, a despeito dos rótulos tradicionais, de socialistas, democratas, revolucionários ou de outras terminologias, como o próprio libertarianismo de outrora, que já se integra ao movimento conservador, tanto em suas expressões norte-americanas como luso-brasileiras, de raízes diversas. O erro reside em visualizar o conservadorismo como um decálogo ou como um cânon. Não é verdade que todo conservador apóia o Estado mínimo, embora esta seja uma das características mais respeitáveis que auxiliam quem quer que seja na identificação de um conservador moderno.
O conservadorismo, e não propriamente um movimento conservador, é uma discussão atinente à valores morais, que perpassa por um conjunto arraigado de hábitos e de tradições, bem como de uma visão extremamente pessimista acerca da natureza do homem – o que nos aproxima, em verdade, de um mundo dividido entre Dostoievski e Nietzsche, talvez com algumas pitadas da filosofia de Rousseau. Visualizo o conceito aberto de conservadorismo com a maturidade alcançada no homem e, portanto, visualizada em qualquer sociedade humana. É muito feliz a expressão de Kirk sobre o conservadorismo: “A posição chamada conservadora se sustenta em um conjunto de sentimentos, e não em um sistema de dogmas ideológicos (…) capaz de abarcar uma diversidade considerável de pontos de vista.” (A Política da Prudência)
O grande imbróglio parece residir na constatação do indivíduo ateu, mas conservador. (A mim parece bastante suspeito expressar-me contra o conservadorismo ateu, visto que já fui um de seus representantes antes de minha conversão ao catolicismo). Mas a maior dificuldade não é tanto a integração com o movimento conservador, esmagadoramente cristão, mas analiso aquela que é de cunho filosófico e moral. O grande paradoxo do “conservador ateu” é a preferência pela cultura ocidental, que desde cedo tomou por bandeira uma moral objetiva – em oposição ao mundo decrépito romano – e a crença em um Deus trinitário. De certo, a escolha por uma cultura em detrimento das outras é uma das variadas expressões máximas do relativismo “absoluto” da modernidade – das quais dentre elas, a verdade irrefutável de que não há nenhuma verdade, e por óbvio, nenhum guia moral a sujeitar os homens (exceto, talvez, o de si próprio). Mas vejo a questão como sendo bastante razoável e compreensível, se tomarmos por vista o cunho liberal e o grande adversário cristão: o islamismo não visualiza uma forma de sociedade sem os auspícios de Allah, e a política sob a égide do Islã também é um traço de fé. Enganam-se aqueles teóricos frankfurtianos, como Jurgen Habermas, que defendiam haver um espaço, seguindo a argumentação do agir comunicativo, para uma integração da cultura islâmica no ocidente, porque o problema reside exatamente na forma que o islamismo entende como uma sociedade deve ser estabelecida, e o Estado é para eles uma expressão natural do poder divino. Reconheçam ou não, a liberdade religiosa proporcionada pela cultura ocidental é uma exceção notável na história mundial das religiões. Se o ateu conservador prefere a cultura ocidental (de raiz monárquica e católica, diga-se de passagem) em oposição às demais grandes civilizações, como a oriental e a totalizante de mundo árabe e muçulmana, é certamente porque a cristã é aquela que legitima e protege a descrença, não obstante o paradoxo patente à primeira vista.
Mas ainda há aqueles indivíduos que, com ódio rançoso e dotados de uma caricatura cômica quando não absurda da Igreja e do cristianismo, tentam esboçar um tipo de civilização ocidental desprovida da fé cristã, algo impensável, mesmo para os niilistas, e que não perduraria muito frente a outras ofensivas – e como nós é imensamente caro o problema do Islã, hoje. Um conservador pode ser ateu? Certamente. Ele pode continuar sendo muito crítico e um bom irmão de armas no combate a contracultura (ou como é comumente utilizado, um legítimo idiota útil do marxismo cultural). Mas ele pode ser um ateu no movimento conservador moderno? Certamente, também, apenas caso tenha levado em conta que o cristianismo fundou a civilização ocidental e que sem esta, não continuaria existindo um Ocidente. Jamais, sem os auspícios de uma crença religiosa, uma civilização tenha firmado suas bases. Quer queira quer não, estejamos ou não no século XXI, esta verdade continuará a mesma. O ateísmo puro não tem por si só as condições necessárias para fundar ou mesmo manter uma civilização, que requer sempre um ordenamento espontâneo de modos de vida e de culturas, mas que se propõe a si mesmo “civilizador”, de toda monta; porque é a negação de uma verdade caríssima aos homens, a da existência de Deus – fim último da humanidade. Ao mesmo tempo que o ateísmo nega, ele legitima: a crença de que sociedades inteiras e bilhões de seres humanos creram em Deus e que dedicaram sua vida para Ele.
]]>Católicos não militantes infiltraram-se na Igreja, trazendo para dentro dela um outro espírito. Não apresentam da Igreja senão certas formas exteriores, nem têm consonância com a Roma dos Santos e dos Mártires. Tempo virá em que esses elementos infiltrados serão afastados e a Santa Igreja voltará a brilhar com toda a sua autêntica militância.
Quando os cruzados medievais saíam à luta, eram estimulados pela sociedade, voltada para os direitos de Deus e sua maior glória. Nessa época, dava-se grande valor à prática dos Dez Mandamentos e aos bons costumes ditados pela Moral católica. Uma grande sacralidade estava presente na Igreja e se difundia na ordem temporal.
Hoje, a sociedade é muito diferente: aprecia-se num rapaz a constante revolta contra a hierarquia, a irreverência e o descumprimento da lei moral. Numa moça, elogia-se sua sensualidade, ao invés da pureza e do recato. Numa criança, festeja-se o erotismo precoce e os modos tirânicos com que afirma a igualdade de direitos em relação aos seus pais. Ou aplaude-se a prática das virtudes ecológicas, que manifestam sua iniciação na religião da natureza. Os adultos sentem vergonha de serem honestos, a corrupção é tolerada por toda a parte e mesmo aplaudida. E a velhice, coitada, perdeu a sua sabedoria, dignidade e glória e aceitou ser identificada apenas com suas deficiências.
Por toda a parte as instituições são demolidas por seus próprios dirigentes. As elites em geral não exercem sua relevante função social e se voltam para o gozo da vida. Aqueles que deveriam proteger a Igreja, o Estado e a Civilização mostram-se indiferentes. Este é o atual ambiente revolucionário.
Houve uma gloriosa Cruzada no século XX. Está havendo outra neste início de milênio. Na verdade, há um nexo de continuidade entre ambas. Sem elogios, sem festas, sem aplausos os novos cruzados avançam e enfrentam o ambiente revolucionário. Seguem os passos daquele que lutou antes deles — Plinio Corrêa de Oliveira, o Cruzado do Século XX. Aqui, percebem o murmúrio que solapa suas iniciativas. Ali, são vítimas da conspiração do silêncio que sufoca seus esforços e os apequenam. Acolá, recebem o bombardeio implacável das críticas e zombarias. Contra essas armas tão destruidoras do ânimo os cruzados medievais não tiveram que lutar.
Quem entra numa guerra sabe que receberá maus tratos e sofrerá muitos padecimentos causados pelo inimigo. Mas na cruzada em que estamos engajados, os mais próximos muitas vezes nos causam mais dor do que o inimigo.
Os adversários agitam os argumentos da impiedade, da blasfêmia, do vício. Mas os que deixaram cair por terra os estandartes que antes desfraldaram, mostram-se engenhosos ao suscitar questões de virtude, acusando os novos cruzados de serem orgulhosos por se terem lançado na luta por conta própria; mostram-se incoerentes e contraditórios, ao levantar questões de autoridade e legitimidade, apontando-os como revoltados, por não seguirem os líderes compromissados. E dizem contra eles tanta coisa mais, que são de causar inveja aos fariseus. Os acomodados, os omissos, os covardes, os traidores, estão dispostos a percorrer mares e terras para fazer um prosélito, para lhe transmitir, em altos brados ou de boca a ouvido, o comportamento politicamente correto estabelecido pelos manipuladores da opinião.
Ouve-se o ruído do campo de batalha. Não é possível ficar indiferente a ele. É o estrondo da maior guerra contra o bem da História. O objetivo da Revolução gnóstica é a conquista universal, para isso busca alcançar os cargos de chefia no Estado e os lugares de destaque na sociedade. Visa a conquista das almas, pela transformação das mentalidades, dos costumes, da maneiras de ser e de pensar. É uma guerra psicológica total, voltada para o domínio de todo o homem e das estruturas da civilização que o envolvem.
Estas são as estratégias mais freqüentes que a Revolução utiliza nessa guerra psicológica:
1. Anestesiar as reações contra o Progressismo na Igreja, desviando as atenções para os pequenos problemas individuais relativos aos interesses materiais, saúde e conforto.
2. Dividir aqueles que ainda mantém uma boa posição, ou descer sobre eles a cortina do silêncio. Se isto não for possível, persegui-los através do ridículo e da difamação.
3. Difundir o caos por todos os aspectos da vida social, de forma que os padrões de ordem, moralidade e sacralidade herdados da Civilização Cristã fiquem completamente evanescidos. E em seu lugar, surja um conjunto de problemas sem solução que atormente a toda hora a vida de cada pessoa.
Nos últimos quarenta anos, viu-se a progressiva demolição do maior bastião de luta contra a Revolução no mundo, onde estavam concentradas as maiores energias morais e espirituais da reação. A Igreja Católica foi alvo de uma ofensiva psicológica tremenda, não só da parte de seus adversários externos, mas também dos agentes revolucionários nela infiltrados com a intenção de destruí-la.
O Concílio Vaticano II foi uma das maiores calamidades, se não a maior, da História da Igreja. Seus documentos oficiais silenciaram sobre os maiores inimigos da sociedade, o comunismo e o socialismo.[1]
Na fase pós-conciliar, o câncer do Progressismo instalado na Igreja gerou inúmeras metástases: a reforma litúrgica da missa, o ecumenismo, a política de aproximação do Vaticano com o mundo comunista etc. Nessa fase uma notável reviravolta se operou: a Igreja , que era o maior bastião da luta contra a Revolução, se transformou, com freqüência, em propulsor da Teologia da Libertação, do Feminismo, da Revolução Cultural e do Tribalismo.
Sendo a Igreja o cerne da Contra-Revolução, a infiltração progressista-modernista tomou de assalto o principal pólo da boa causa. De João XXIII a Bento XVI, os Papas conciliares promoveram os ideais revolucionários do Estado Moderno, como por exemplo, ao concederem apoio incondicional às Nações Unidas, favorecedora da implantação da República Universal no mundo.
Como o principal fomento da revolução social procede da ação ou omissão dos círculos eclesiásticos, tornou-se imperativo para os católicos militantes — mesmo leigos — travarem até dentro dos muros da Igreja a batalha contra o inimigo infiltrado.
Esta foi a Cruzada do Século XX. É também a Cruzada do Século XXI, que continuará até que venha o triunfo do Imaculado e Sapiencial Coração de Maria, tendo como mais importante arena de combate a própria cidadela católica.
Outro fator, antes secundário, ganhou importância, e hoje ocupa lugar central na estratégia revolucionária, a tal ponto, que toda a luta psicológica contra-revolucionária se torna desatualizada e ineficaz se não levá-lo em conta: a produção do caos.
A anarquia, a anomia e o caos estão se alastrando por toda a parte, atingindo muitos aspectos da vida social e individual:
Socialmente, os Estados Unidos entraram numa espécie de estado caótico de medo com o ataque terrorista contra as Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001. Muita coisa mudou desde então. Em muitos aspectos o direito de ir e vir, que caracteriza a sociedade livre e ordenada, foi seriamente afetado. As pessoas não podem mais se deslocar e viajar como antes.
Com os conflitos da periferia urbana, a França em 2005 revelou sua completa vulnerabilidade diante da agitação islâmica, causada pelas concessivas leis de imigração. A própria democracia entrou em crise de identidade, devido a essas leis que colocam em risco a sua sobrevivência. Com milhões de muçulmanos admitidos como cidadãos, o povo francês está sentado sobre um barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento espalhando a “dawa” (o caos, em árabe). Análogo perigo ameaça a Inglaterra, Alemanha e Espanha.
Economicamente, a recente bancarrota em cadeia de gigantescas instituições financeiras nos Estados Unidos projeta a perspectiva do caos econômico no Ocidente, apesar de alguns líderes latino-americanos se jactarem de que suas nações não serão afetadas.
Militarmente, o caos também está presente. O conflito árabe-israelense está estabelecido desde a fundação de Israel, e não há perspectivas de paz no horizonte. A guerra no Afeganistão não terminou e pode continuar nas próximas décadas. O mesmo pode ser dito com relação ao panorama do caótico Iraque.
Moralmente, o Ocidente abriu as portas para a sua própria destruição ao aceitar a promoção do homossexualismo, aborto, eutanásia, direito dos animais, feminismo etc. Nenhuma sociedade na História conseguiu sobreviver muito tempo depois de admitir essas aberrações. Quando esses comportamentos são considerados normais, entra em caos a formação das novas gerações.
Psicologicamente, essas várias modalidades de caos, somadas a muitos outros aspectos antinaturais da Revolução, produzem a quebra do psiquismo humano. Nota-se hoje muito mais pessoas sofrendo de problemas mentais e psicológicos do que antes.
Nessa grande ofensiva do caos, a missão da Contra-Revolução é esclarecer, descrevendo tão claramente quanto possível o que está errado e como as coisas deveriam ser, e apontar quem está por detrás do caos induzido. Nessa tarefa, os novos cruzados preparam os corações e as mentes para a vinda de uma era de ordem.
Espiritualmente, o processo de caos começou bem antes na Igreja. Desde o Concílio Vaticano II, a autoridade eclesiástica iniciou a autodemolição de suas instituições, doutrinas, tradições etc. A autodemolição da Igreja encontra-se hoje em adiantado estado de execução; a mesma mão que demole, espalha também o caos.
Manter a posição de resistência diante das autoridades demolidoras é a primeira obrigação dos novos cruzados. Essa luta no momento une pessoas situadas principalmente nas três Américas e na Europa. É preciso que em todo mundo os que têm as mesmas bandeiras de luta se conheçam e se unam.
Este artigo — “A Cruzada do Século XXI” — é uma homenagem e um agradecimento ao prof. Plinio Corrêa de Oliveira, no ano do centenário de seu nascimento. Além do exemplo heróico como batalhador infatigável contra a guerra psicológica revolucionária, deixou-nos o modelo da plena identificação com a sacralidade.
Se São Francisco de Assis foi a pobreza, e São Bernardo o recolhimento, de Plinio Corrêa de Oliveira podemos dizer que foi, na História da Igreja, a sacralidade militante. Estandarte sempre desfraldado, viseira erguida sem ocultar sua face, aplicou todas as suas energias na grande gesta católica, e proclamou:
“Eu me tornei um Cruzado, um homem diferente de todos os homens. Porque Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a perfeição de todas as coisas, a realização do que há de mais perfeito, vai ser vingado agora por mim. Eu vou realizar a beleza da luta pela luta, da vingança pela vingança de Cristo Nosso Senhor, por Cristo Nosso Senhor.”
NOTA:
[1] Plinio Corrêa de Oliveira, Revolução e Contra-Revolução, parte III, cap 2, 4 A.AVISOS DO EDITOR
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]]>Para entender o que estou dizendo, vou dar um exemplo com um fato que aconteceu comigo a uns 4 anos atrás. Uma certa vez fui perguntar um ancião (quase 90 anos) professor católico e catequista da Igreja Católica o porquê de não se encontrar nela um magistério oficial acerca do namoro cristão. Inocentemente (ou burramente) pensava eu que era uma falha da Igreja não ensinar, com mais clareza e através de livros, cartas papais ou até mesmo no catecismo, os cristãos a respeito de como deveria ser o namoro entre os fiéis. Bom, pra minha surpresa o velho catequista respondeu: “Namoro? Que namoro…rsrsrs”….Ora, daí ele passou a me explicar que não haveria o porquê de ensinar um cristão a namorar quando a própria Igreja, desde sempre, jamais foi a favor de namoro. “Nunca existiu o que chamamos hoje de namoro para Igreja. O que sempre houve foi o noivado, que antecede de maneira breve ao casório”. Depois disso, e com muito espanto, fui argumentando que como seria possível não haver namoro se até em famílias cristãs boas, conservadoras e tal, essa era uma prática comum. Como seria possível não haver namoro se até mesmo bons padres com mentalidade conservadora escreviam livros a respeito tentando esclarecer os fiéis a maneira mais moralista de se viver um. O velhote simplesmente riu da minha cara e disse que “o que hoje é chamado de namoro antigamente seria um escândalo, inclusive os namoros castos, pois que antigamente até mesmo um beijar na boca era moralmente ruim se não fossem casados (por isso o “agora pode beijar a noiva” no momento do casório.)”.
Deixei a conversa com o velho simplesmente espantado com o que ele disse, porém 2 anos mais tarde quando tive o prazer de conhecer um padre tradicionalista ele me explicou a questão. Disse-me que o velho estava certo. E que a Igreja quando tocava nestes assuntos era só pra repreender porque em sua Doutrina Moral o namoro nunca foi visto com bons olhos, nunca existiu, somente o noivado breve e o casamento é que tiveram um apresso do magistério oficial. E me ensinou, o padre, que o problema do mundo moderno é o liberalismo e que se dizer conservador hoje em dia não tem nada a ver, pois cada geração de conservadores é menos conservadora que a anterior, pois deixam-se pouco a pouco envenenar-se com o liberalismo. Portanto a minha alegação de que fulano era conservador ou a família de fulano era conservadora não valia muito.
Voltando ao papa, sabemos que na Igreja o buraco é mais embaixo, isto é, quando se usa a palavra “conservador” espera-se algo do tipo: “alguém que mantém os princípios de sempre da Igreja. Alguém que não aceita que se mude aquilo que a Igreja sempre ensinou em matéria de Fé, Moral e Costumes”. E isso em toda sua extensão, quer dizer, sem que haja adaptações ao liberalismo e modernismo do mundo atual. Bento XVI era extremamente conservador em matéria moral, mas não o era em questões doutrinárias. Porém o “povão” o felicita justamente porque está muito mais acostumado com coisas que dizem respeito a Moral que com a Doutrina da Fé. Por exemplo, quando o papa diz não ao aborto (e ele está corretíssimo, pois seguiu a Moral de sempre da Igreja) o povo cristão diz: “poxa que ótimo! esse papa é muito bom, muito conservador!”, e é mesmo. Entretanto, a respeito de alguns escritos doutrinários e aprofundados como em Caritas in Veritate, onde o papa faz o elogio da Populorum Progressio, de Paulo VI, sobre a política e desenvolvimento dos povos, sob o enfoque liberal, o povo pouco ou nada entende de que ali o papa não estaria sendo nada conservador, mas pelo contrário, sustenta uma visão muito liberal. Inclusive poucos sabem que os escritos papais em matéria doutrinária é recheada de hegelianismo. Ou ainda, o povo não entende que há uma tendência liberal do papa quando ele perde um pouco de vista o sobrenaturalismo de sua própria condição, entendendo o papado como um serviço ou função apenas (um cargo). E outras coisas mais a respeito de doutrina que nem cabe citar aqui.
Bento XVI perto de um Pio IX ou Pio X, não seria considerado um conservador. Pois Bento XVI já veio com uma influência maior do liberalismo.
O papa anterior, Bento XVI, foi ótimo em matéria de Moral, segurou a onda legal, não permitiu que os inimigos da Igreja tocasse nas questões fundamentais dessa ordem. Mas não esteve tão bom quando ensinava a Doutrina de sempre da Igreja. Seus escritos eram recheados de hegelianismo e apelos de hermenêutica. Não eram tão claros, denunciadores e exortadores como sempre foram os escritos papais anteriores. Isso é fato e não um julgamento. Aliás pra quem não sabe o papa não pode ser julgado a não ser por Deus ou por ele mesmo, conforme essa mesma Doutrina da Igreja da qual falo.
A pergunta que dever ser feita sempre quando referimos na palavra conservador é: conservador em que grau? Será que os pensamentos de fulano estão eivados de liberalismo, mesmo ele tendo algumas condutas e alguns posicionamentos conservadores?
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