Cada geração de conservadores é menos conservadora que a anterior. A atual, se não se resguarda, estará um pouco mais afetada pelo liberalismo. Talvez não em termos essenciais, mas em um ponto aqui e outro ali. Portanto, infelizmente, dizer que alguém é conservador não quer dizer nada enquanto não soubermos em que grau. E é exatamente isso o que ocorreu com o papa anterior, Bento XVI.
Para entender o que estou dizendo, vou dar um exemplo com um fato que aconteceu comigo a uns 4 anos atrás. Uma certa vez fui perguntar um ancião (quase 90 anos) professor católico e catequista da Igreja Católica o porquê de não se encontrar nela um magistério oficial acerca do namoro cristão. Inocentemente (ou burramente) pensava eu que era uma falha da Igreja não ensinar, com mais clareza e através de livros, cartas papais ou até mesmo no catecismo, os cristãos a respeito de como deveria ser o namoro entre os fiéis. Bom, pra minha surpresa o velho catequista respondeu: “Namoro? Que namoro…rsrsrs”….Ora, daí ele passou a me explicar que não haveria o porquê de ensinar um cristão a namorar quando a própria Igreja, desde sempre, jamais foi a favor de namoro. “Nunca existiu o que chamamos hoje de namoro para Igreja. O que sempre houve foi o noivado, que antecede de maneira breve ao casório”. Depois disso, e com muito espanto, fui argumentando que como seria possível não haver namoro se até em famílias cristãs boas, conservadoras e tal, essa era uma prática comum. Como seria possível não haver namoro se até mesmo bons padres com mentalidade conservadora escreviam livros a respeito tentando esclarecer os fiéis a maneira mais moralista de se viver um. O velhote simplesmente riu da minha cara e disse que “o que hoje é chamado de namoro antigamente seria um escândalo, inclusive os namoros castos, pois que antigamente até mesmo um beijar na boca era moralmente ruim se não fossem casados (por isso o “agora pode beijar a noiva” no momento do casório.)”.
Deixei a conversa com o velho simplesmente espantado com o que ele disse, porém 2 anos mais tarde quando tive o prazer de conhecer um padre tradicionalista ele me explicou a questão. Disse-me que o velho estava certo. E que a Igreja quando tocava nestes assuntos era só pra repreender porque em sua Doutrina Moral o namoro nunca foi visto com bons olhos, nunca existiu, somente o noivado breve e o casamento é que tiveram um apresso do magistério oficial. E me ensinou, o padre, que o problema do mundo moderno é o liberalismo e que se dizer conservador hoje em dia não tem nada a ver, pois cada geração de conservadores é menos conservadora que a anterior, pois deixam-se pouco a pouco envenenar-se com o liberalismo. Portanto a minha alegação de que fulano era conservador ou a família de fulano era conservadora não valia muito.
Voltando ao papa, sabemos que na Igreja o buraco é mais embaixo, isto é, quando se usa a palavra “conservador” espera-se algo do tipo: “alguém que mantém os princípios de sempre da Igreja. Alguém que não aceita que se mude aquilo que a Igreja sempre ensinou em matéria de Fé, Moral e Costumes”. E isso em toda sua extensão, quer dizer, sem que haja adaptações ao liberalismo e modernismo do mundo atual. Bento XVI era extremamente conservador em matéria moral, mas não o era em questões doutrinárias. Porém o “povão” o felicita justamente porque está muito mais acostumado com coisas que dizem respeito a Moral que com a Doutrina da Fé. Por exemplo, quando o papa diz não ao aborto (e ele está corretíssimo, pois seguiu a Moral de sempre da Igreja) o povo cristão diz: “poxa que ótimo! esse papa é muito bom, muito conservador!”, e é mesmo. Entretanto, a respeito de alguns escritos doutrinários e aprofundados como em Caritas in Veritate, onde o papa faz o elogio da Populorum Progressio, de Paulo VI, sobre a política e desenvolvimento dos povos, sob o enfoque liberal, o povo pouco ou nada entende de que ali o papa não estaria sendo nada conservador, mas pelo contrário, sustenta uma visão muito liberal. Inclusive poucos sabem que os escritos papais em matéria doutrinária é recheada de hegelianismo. Ou ainda, o povo não entende que há uma tendência liberal do papa quando ele perde um pouco de vista o sobrenaturalismo de sua própria condição, entendendo o papado como um serviço ou função apenas (um cargo). E outras coisas mais a respeito de doutrina que nem cabe citar aqui.
Bento XVI perto de um Pio IX ou Pio X, não seria considerado um conservador. Pois Bento XVI já veio com uma influência maior do liberalismo.
O papa anterior, Bento XVI, foi ótimo em matéria de Moral, segurou a onda legal, não permitiu que os inimigos da Igreja tocasse nas questões fundamentais dessa ordem. Mas não esteve tão bom quando ensinava a Doutrina de sempre da Igreja. Seus escritos eram recheados de hegelianismo e apelos de hermenêutica. Não eram tão claros, denunciadores e exortadores como sempre foram os escritos papais anteriores. Isso é fato e não um julgamento. Aliás pra quem não sabe o papa não pode ser julgado a não ser por Deus ou por ele mesmo, conforme essa mesma Doutrina da Igreja da qual falo.
A pergunta que dever ser feita sempre quando referimos na palavra conservador é: conservador em que grau? Será que os pensamentos de fulano estão eivados de liberalismo, mesmo ele tendo algumas condutas e alguns posicionamentos conservadores?
0 Comentário