Ateísmo vs Religião – Portal Conservador https://portalconservador.com Maior Portal dirigido ao público Conservador em língua portuguesa. Thu, 07 Mar 2019 13:31:22 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=5.3.3 65453639 Luiz Felipe Pondé explica por que deixou de ser ateu https://portalconservador.com/luiz-felipe-ponde-explica-por-que-deixou-de-ser-ateu/ https://portalconservador.com/luiz-felipe-ponde-explica-por-que-deixou-de-ser-ateu/#comments Fri, 20 Jul 2018 13:21:30 +0000 https://portalconservador.com/?p=4421 read more →]]> A revista Veja da semana passada (13/7) publicou entrevista interessante com o filósofo Luiz Felipe Pondé, de 52 anos. Responsável por uma coluna semanal na Folha de S. Paulo e autor de livros, Pondé costuma criticar certezas e lugares-comuns bem estabelecidos entre seus pares. Professor da Faap e da PUC, em São Paulo, o filósofo também é estudioso de teologia e considera o ateísmo filosoficamente raso, mas não é seguidor de nenhuma religião em particular. Pondé diz que “a esquerda é menos completa como ferramenta cultural para produzir uma visão de si mesma. A espiritualidade de esquerda é rasa. Aloca toda a responsabilidade do mal fora de você: o mal está na classe social, no capital, no estado, na elite. Isso infantiliza o ser humano. Ninguém sai de um jantar inteligente para se olhar no espelho e ver um demônio. Não: todos se veem como heróis que estão salvando o mundo por andar de bicicleta”. Sobre sexo, ele diz: “Eu considero a revolução sexual um dos maiores engodos da história recente. Criou uma dimensão de indústria, no sentido da quantidade, das relações sexuais – mas na maioria elas são muito ruins, porque as pessoas são complicadas.”

Leia aqui mais alguns trechos da entrevista:

Por que a política não pode ser redentora?

O cristianismo, que é uma religião hegemônica no Ocidente, fala do pecador, de sua busca e de seu conflito interior. É uma espiritualidade riquíssima, pouco conhecida por causa do estrago feito pelo secularismo extremado. Ao lado de sua vocação repressora institucional, o cristianismo reconhece que o homem é fraco, é frágil. As redenções políticas não têm isso. Esse é um aspecto do pensamento de esquerda que eu acho brega.

Essa visão do homem sem responsabilidade moral. O mal está sempre na classe social, na relação econômica, na opressão do poder. Na visão medieval, é a graça de Deus que redime o mundo. É um conceito complexo e fugidio. Não se sabe se alguém é capaz de ganhar a graça por seus próprios méritos, ou se é Deus na sua perfeição que concede a graça. Em qualquer hipótese, a graça não depende de um movimento positivo de um grupo. Na redenção política, é sempre o coletivo, o grupo, que assume o papel de redentor. O grupo, como a história do século 20 nos mostrou, é sempre opressivo.

Em que o cristianismo é superior ao pensamento de esquerda?

Pegue a ideia de santidade. Ninguém, em nenhuma teologia da tradição cristã – nem da judaica ou islâmica –, pode dizer-se santo. Nunca. Isso na verdade vem desde Aristóteles: ninguém pode enunciar a própria virtude. A virtude de um homem é anunciada pelos outros homens. Na tradição católica – o protestantismo não tem santos –, o santo é sempre alguém que, o tempo todo, reconhece o mal em si mesmo. O clero da esquerda, ao contrário, é movido por um sentimento de pureza. Considera sempre o outro como o porco capitalista, o burguês. Ele próprio não. Ele está salvo, porque reclica lixo, porque vota no PT, ou em algum partido que se acha mais puro ainda, como o PSOL, até porque o PT já está meio melado. Não há contradição interior na moral esquerdista. As pessoas se autointitulam santas e ficam indignadas com o mal do outro.

Quando o cristianismo cruza o pensamento de esquerda, como no caso da Teologia da Libertação, a humildade se perde?

Sim. Eu vejo isso empiricamente em colegas da Teologia da Libertação. Eles se acham puros. Tecnicamente, a Teologia da Libertação é, por um lado, uma fiel herdeira da tradição cristã. Ela vem da crítica social que está nos profetas de Israel, no Antigo Testamento. Esses profetas falam mal do rei, mas em idealizar o povo. O cristianismo é descendente principalmente desse viés do judaísmo.

Também o cristianismo nasceu questionando a estrutura social. Até aqui, isso não me parece um erro teológico. Só que a Teologia da Libertação toma como ferramenta o marxismo, e isso sim é um erro. Um cristão que recorre a Marx, ou a Nietzsche – a quem admiro –, é como uma criança que entra na jaula do leão e faz bilu-bilu na cara dele. É natural que a Teologia da Libertação, no Brasil, tenha evoluído para Leonardo Boff, que já não tem nada de cristão. Boff evoluiu para um certo paganismo Nova Era – e já nem é marxista tampouco. A Teologia da Libertação é ruim de marketing. É como já se disse: enquanto a Teologia da Libertação fez a opção pelo pobre, o pobre fez a opção pelo pentecostalismo.

O senhor acredita em Deus?

Sim. Mas já fui ateu por muito tempo. Quando digo que acredito em Deus, é porque acho essa uma das hipóteses mais elegantes em relação, por exemplo, à origem do universo. Não é que eu rejeite o acaso ou a violência implícitos no darwinismo – pelo contrário. Mas considero que o conceito de Deus na tradição ocidental é, em termos filosóficos, muito sofisticado. Lembro-me sempre de algo que o escritor inglês Chesterton dizia: não há problema em não acreditar em Deus; o problema é que quem deixa de acreditar em Deus começa a acreditar em qualquer outra bobagem, seja na história, na ciência ou sem si mesmo, que é a coisa mais brega de todas. Só alguém muito alienado pode acreditar em si mesmo. Minha posição teológica não é óbvia e confunde muito as pessoas. Opero no debate público assumindo os riscos do niilista. Quase nunca lanço a hipótese de Deus no debate moral, filosófico ou político. Do ponto de vista político, a importância que vejo na religião é outra. Para mim, ela é uma fonte de hábitos morais, e historicamente oferece resistência à tendência do Estado moderno de querer fazer a cura das almas, como se dizia na Idade Média – querer se meter na vida moral das pessoas.

Por que o senhor deixou de ser ateu?

Comecei a achar o ateísmo aborrecido, do ponto de vista filosófico. A hipótese de Deus bíblico, na qual estamos ligados a um enredo e um drama morais muito maiores do que o átomo, me atraiu. Sou basicamente pessimista, cético, descrente, quase na fronteira da melancolia. Mas tenho sorte sem merecê-la. Percebo uma certa beleza, uma certa misericórdia no mundo, que não consigo deduzir a partir dos seres humanos, tampouco de mim mesmo. Tenho a clara sensação de que às vezes acontecem milagres. Só encontro isso na tradição teológica.

Via CACP.

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Por que o marxismo odeia o Cristianismo https://portalconservador.com/por-que-o-marxismo-odeia-o-cristianismo/ https://portalconservador.com/por-que-o-marxismo-odeia-o-cristianismo/#comments Tue, 23 Dec 2014 20:48:04 +0000 http://portalconservador.com/?p=1642 read more →]]> O marxismo autêntico sempre odiou e sempre odiará o cristianismo autêntico. Se não puder pervertê-lo, então terá que matá-lo. Sempre foi assim e sempre será assim.

E por que essa oposição manifestada ao cristianismo por parte do marxismo? Por que o ódio filosófico, a política anticristã, a ação assassina direcionada aos cristãos? Por que o país número um em perseguição ao cristianismo não é muçulmano e sim a comunista Coréia do Norte?

As pessoas se iludem quando pensam no marxismo como doutrina econômica ou política. Economia e política são meros pontos. Marx não acreditava ter apenas as resposta para os problemas econômicos. Acreditava ter todas as respostas para todos os problemas.

Marxismo na verdade é uma crença, uma visão de mundo, uma fé. O socialismo nada mais é do que a aplicação dessa fé por um governo totalitário. O comunismo, por sua vez, é apenas a escatologia marxista, o suposto mundo paradisíaco que brotaria de suas profecias.

Comunismo-Portal-Conservador

E esta fé não apresenta o caráter relativista de um hinduísmo ou de um budismo. Tendo nascido dos pressupostos cristãos, o marxismo roubou seus absolutos e se apresenta como a verdade absoluta, como o único caminho para redenção da humanidade. E ainda que tenha se apossado dos pressupostos cristãos, inverteu tais pressupostos tornando-se uma heresia anticristã.

No lugar do teísmo o ateísmo, no lugar da Providência Divina o materialismo dialético. Ao invés de um ser criado à imagem e semelhança de Deus, um primata evoluído cuja essência é o trabalho, o homo economicus. O pecado é a propriedade privada, o efeito do pecado, simplesmente a opressão social. O instrumento coletivo para aplicar a redenção não é a Igreja, mas o proletariado, que através da ditadura de um Estado “redentor” conduziria o mundo a uma sociedade sem classes. E o resultado seria não os novos céus e a nova terra criados por Deus, mas o mundo comunista futuro, onde o Estado desaparecerá, as injustiças desaparecerão e todo conflito se transformará em harmonia. Está é a fé marxista, um evangelho que não admite rival, pois assim como dois corpos não ocupam o mesmo espaço, duas crenças igualmente salvadoras não podem ocupar o mesmo mundo, segundo o marxismo real.

Sim, o comunismo de Marx era um evangelho, a salvação para todos os conflitos da existência, fosse o conflito entre homem e homem, homem e natureza, nações e nações. Assim lemos em seus Manuscritos de Paris:

O comunismo é a abolição positiva da propriedade privada e por conseguinte da auto-alienação humana e, portanto, a reapropriação real da essência humana pelo e para o homem… É a solução genuína do antagonismo entre homem e natureza e entre homem e homem. Ele é a solução verdadeira da luta entre existência e essência, entre objetivação e auto-afirmação, entre liberdade e necessidade, entre indivíduo e espécie. É a solução do enigma da história e sabe que há de ser esta solução.

E como o marxismo nega qualquer transcendência, qualquer realidade além desta realidade, seu “paraíso” deve se realizar neste mundo por meio do controle total. Não apenas o controle político e econômico, mas o controle social, ideológico, religioso. Não pode haver rivais. Não pode haver cristãos dizendo que há um Deus nos céus a quem pertencem todas as coisas e que realizou a salvação através da morte e ressurreição de Cristo. Não pode haver outra visão de mundo que não a marxista, não pode haver outra redenção senão aquela que será trazida pelo comunismo. O choque é inevitável.

Está é a raiz do ódio marxista ao cristianismo. Seu absolutismo não permite concorrência. David H. Adeney foi alguém que viveu dentro da revolução maoísta (comunista) na China. Ele era um missionário britânico e pode ver bem de perto o choque entre marxismo e cristianismo no meio universitário, onde trabalhou. Chung Chi Pang, que prefaciou sua obra escreveu:

“(…) a fé cristã e o comunismo são ideologicamente incompatíveis. Assim, quando alguém chega a uma crise vital de decisão entre os dois, é inevitavelmente uma questão de um ou outro (…) [o autor] tem experimentado pessoalmente o que é viver sob um sistema político com uma filosofia básica diametralmente oposta à fé cristã”

Os marxistas convictos sabem da incompatibilidade entre sua crença e a fé cristã. Os cristãos ainda se iludem com uma possível amizade entre ambos. “… para Marx, de qualquer forma, a religião cristã é uma das mais imorais que há”. (Mclellan, op. Cit., p.54). E Lenin, que transformou a teoria marxista em política real, apenas seguiu seu guru:

“A guerra contra quaisquer cristãos é para nós lei inabalável. Não cremos em postulados eternos de moral, e haveremos de desmascarar o embuste. A moral comunista é sinônimo de luta pelo robustecimento da ditadura proletária”

Assim foi na China, na Rússia, na Coreia do Norte e onde quer que a fé marxista tenha chegado. Ela não tolerará o cristianismo, senão o suficiente para conquistar a hegemonia. Depois que a pena marxista apossar-se da espada, então essa espada se voltará contra qualquer pena que não reze conforme sua cartilha.

Os ataques aos valores cristãos em nosso país não são fruto de um acidente de percurso. É apenas o velho ódio marxista ao cristianismo, manifestando-se no terreno das ideias e das discussões, e avançando no terreno da legislação e do discurso. O próximo passo pode ser a violência física simples e pura. Os métodos podem ter mudado, mas sua natureza é a mesma e, portanto, as conseqüências serão as mesmas.

Se nós, cristãos, não fizermos nada, a história se repetirá, pois como alguém já disse, quem não conhece a história tende a repeti-la. E parece que mesmo quem a conhece tende a repeti-la quando foi sendo anestesiado pouco a pouco pelo monóxido de carbono marxista. Será que confirmaremos a máxima de Hegel, que afirmou que a “história ensina que não se aprende nada com ela”?

Escrito por Eguinaldo Hélio Souza.

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Comentários ao texto do geneticista Eli Vieira https://portalconservador.com/comentarios-ao-texto-do-geneticista-eli-vieira/ https://portalconservador.com/comentarios-ao-texto-do-geneticista-eli-vieira/#respond Thu, 18 Jul 2013 02:26:59 +0000 http://portalconservador.com/?p=1070 read more →]]> Recentemente, no site do geneticista Eli Vieira, deparei-me com um texto, com 10 argumentos a favor da descriminalização do aborto até a 12º semana de vida, em apoio ao Conselho Federal de Medicina, que divulgou nota em prol do aborto legal. O texto é interessante, pois enumera muitos dos argumentos utilizados pelos que defendem a descriminalização do aborto. Tomei a liberdade de refutá-los. Abaixo segue o texto original, em letras pretas, e meus comentários, em azul.

 

Pela defesa da vida através da descriminalização do aborto: uma nota de apoio ao CFM

1 – A questão sobre o aborto não diz respeito à “vida”, mas à “vida humana”, ou seja, ao indivíduo. Não é uma questão de saber como começa a vida, é uma questão de saber em que etapa do desenvolvimento o nosso Estado laico deve aceitar um embrião como um cidadão digno de direitos.

No primeiro parágrafo o autor já admite falar de vida humana. Afinal, se um zigoto, um embrião ou um feto estão vivos, de que tipo de vida se trata, que não a humana?  Quanto aos direitos, é importante lembrar que, já que falamos de vida humana, devemos falar também de dignidade, e se há dignidade, há direitos humanos. Não podemos negar a dignidade a um nascituro, que é um ser humano, baseando-se apenas na idade gestacional.

2 – Para estabelecer se um embrião é um cidadão, o Estado deve ser informado pela ciência sobre quando surgem no desenvolvimento os “tributos mais caracteristicamente humanos.

O autor, que é um “cientista”, acha que cabe apenas à ciência determinar quem merece ou não a dignidade humana e o direito à vida. Este argumento é anacrônico e remonta à Grécia antiga, quando, após o nascimento, os “sábios” determinariam se o nascido era humano ou “monstro”. Se o deixariam viver ou se o matariam, caso a criança fosse, por exemplo, mal formada. No mais, é interessante ressaltar que o argumento que afirma que a vida do indivíduo humano começa na concepção é científico, confirmado pela embriologia. O fato de os “atributos mais caracteristicamente humanos” não terem ainda se desenvolvido não faz com que a vida ali presente (e nem o próprio autor nega isto) não seja humana.

3 – Os atributos mais caracteristicamente humanos não são ter um rim funcionando, nem um coração batendo, mas ter um cérebro em atividade. Isto é razoavelmente estabelecido porque é a morte cerebral que é considerada o critério para dizer quando uma pessoa morreu, e não a morte de outros órgãos. Por isso mesmo transplante de coração não é acompanhado de “transplante” de registro de identidade.

4 – Se a morte do cérebro é o critério médico que o Estado aceita para considerar o indivíduo humano como morto, o início do cérebro deve ser logicamente e necessariamente o critério para considerar o início do indivíduo, e não a fecundação.

Comparar a vida de um ser humano com morte cerebral, no fim de sua vida, à de um ser humano, no início de seu desenvolvimento, com a vida toda pela frente, é um argumento perverso, torpe, grotesco. Utiliza-se a morte para negar a vida. Um zigoto, um embrião ou um feto em gestação, se deixados em paz, terão condições de desenvolver os “atributos mais caracteristicamente humanos” que o autor coloca. Ao contrário, um ser humano com morte cerebral, se deixado em paz, irá falecer. Não se trata de discutir potencialidades, o que, de acordo com os defensores da legalização do aborto, não tem sentido – embora discorde. O que se discute é existência de  vida humana, não potencial e subjetiva, como seria o caso de gametas ou mesmo embriões concebidos in vitro, mas real e objetiva. A partir da concepção, o que existe é uma vida humana de fato, não potencial, que, livre da violência de um aborto induzido, ou da infelicidade de um aborto espontâneo, chegará ao nascimento em poucas semanas.

5 – Considerar a fecundação como o início do indivíduo humano é perigoso, porque é definir um indivíduo apenas por seus genes. Isso é determinismo genético.

Os genes não são determinantes exclusivos da individualidade, que, aliás, não é determinável em momento algum, pois a vida é fluida, e nossa individualidade se modifica a cada instante, conforme o ambiente e as experiências vividas, inclusive no útero materno; mas a carga genética, estabelecida na fecundação, é a origem desta individualidade. Isto não é determinismo genético, que é a crença de que todas as características físicas e comportamentais dependem exclusivamente dos genes. Perigoso é crer que outros critérios, como o tempo gestacional ou a atividade cerebral do nascituro “determinem” se este é ou não humano, se é alguém mais ou menos merecedor da dignidade. Isto sim seria uma espécie de determinismo biológico anacrônico e perverso. Os direitos humanos são inerentes à vida humana. Não há vida humana mais ou menos digna, se houvesse, isso representaria simplesmente a negação dos direitos humanos como um todo.

6 – O cérebro não tem sua arquitetura básica formada no mínimo até o terceiro mês da gestação. Isso significa que o embrião não percebe o mundo, não tem consciência, é um punhado de células como qualquer pedaço de pele. Por isso não é moralmente condenável que as mulheres tenham direito de escolher não continuar a gestação antes deste período.

Todos os seres humanos já passaram pelo estágio em que, segundo o autor, eram um “punhado de células como qualquer pedaço de pele”. O próprio termo utilizado demonstra um desprezo enorme pela vida humana,  que é comparada,  grosso modo, a um cisto, a um furúnculo, que podem ser extirpados sem qualquer consequência. Repetimos: um zigoto, um embrião ou um feto em gestação, se deixados em paz, em poucas semanas se desenvolverão e se tornarão crianças. Compará-los a um “punhado de células como qualquer pedaço de pele”, cuja vida não tem importância, nem valor, nem dignidade, é que é moralmente condenável

Na figura abaixo podemos ver o “punhado de células como qualquer pedaço de pele”, com três meses de gestação, idade limite, segundo os defensores da legalização no Brasil, para a realização do aborto.

7 – Usar o argumento de que o embrião ou o zigoto tem o potencial de dar origem a um ser humano para protegê-lo não vale, porque seria o mesmo que tentar proteger os óvulos que se perdem logo antes das menstruações em todas as mulheres, ou os espermatozoides que são jogados fora na masturbação masculina. Além disso, hoje a ciência sabe que toda célula humana, até as células da pele, tem o potencial de dar origem a um ser humano inteiro, bastando para isso alguns procedimentos de clonagem. No entanto nós destruímos essas células diariamente: arrancando a cutícula, roendo as unhas, passando a mão no rosto, arrancando fios de cabelo, etc. Potencial não concretizado não é argumento para defender coisa alguma.

Infelizmente, este é o mais absurdo e “moralmente condenável”  argumento do autor. Por mais que a ciência teorize sobre o potencial de se criar seres humanos a partir de células humanas diversas, compará-las a embriões em gestação é uma assalto à inteligência. Óvulos perdidos nas menstruações, espermatozoides na masturbação, cutículas e fios de cabelo, se deixados em paz, não se desenvolverão até se tornarem novos seres humanos; zigotos, embriões e fetos já são seres humanos.

8 – Se você acha que o embrião precoce ou o zigoto tem consciência, é responsabilidade sua provar isso, não é o que os cientistas dizem. E num Estado laico, vale o que pode ser estabelecido independentemente da crença religiosa. Se sua crença religiosa diz que uma única célula é consciente, você não tem o direito de impor sua crença a ninguém ao menos que possa prová-la e torná-la científica. Todos os que tentaram fazer isso falharam até hoje: uma célula formada após a fecundação não é essencialmente diferente de qualquer outra célula do corpo.

Normalmente, são os defensores da legalização do aborto os que pretendem associar a vida humana à existência da consciência, não os que a combatem. Lembremos que os argumentos religiosos não são os únicos contrários à legalização do aborto. Entre os que combatem a legalização do aborto com argumentos laicos, ninguém afirma que o zigoto ou embrião têm consciência. No mais, repetimos, é absurda a afirmação de que o zigoto em gestação não seja diferente de qualquer outra célula do corpo.

 9 – A vida, em sentido mais amplo, que inclui os outros animais, as plantas e os microorganismos, é um processo ininterrupto que começou neste planeta há aproximadamente 4 bilhões de anos atrás. Por isso é importante reiterar: não é o “começo da vida” que está sendo debatido, mas sim o começo do indivíduo humano como um ser consciente, dotado de uma mente e digno de proteção do Estado.

É claro que não estamos debatendo o início da vida na Terra, caso contrário estaríamos vendo um episódio do Cosmos de Carl Sagan. Mas já que estamos falando da vida na Terra, é importante compreender que todas as formas de vida merecem ser tratadas com dignidade e respeito, pois a nossa vida depende delas . Por outro lado, afirmar que somente indivíduos conscientes, “dotados de mente”, são dignos de proteção do Estado soa anacrônico e reacionário. Afirmaríamos então que pacientes em coma automaticamente perderiam a proteção do Estado? Todos os seres humanos são dignos de direitos e proteção do Estado.

10 – Concluindo, é a mulher, um ser humano adulto, uma cidadã com direitos, quem merece prioridade de proteção, e não um embrião de poucas semanas. Se ela não se sente preparada para cuidar de uma criança, ela deve ter o direito de interromper sua gestação, caso esta gestação esteja no começo e o embrião não tenha cérebro desenvolvido. Deixar as mulheres terem poder de decisão sobre seus próprios corpos é reconhecer um direito natural delas e assegurar que só tenham filhos quando sentirem que podem trazê-los a este mundo com amor e saúde, para que o próprio mundo em que crescerão seja também mais saudável.

E é por isso que defender que o aborto seja uma escolha, e não um crime, é também defender a vida humana.

Ao colocar desta forma, o autor deixa implícito que aqueles que defendem os direitos do nascituro não defendem os direitos das mulheres. O que é uma inverdade. Ser feminista não significa ser a favor do aborto. As feministas pró-vida, por exemplo, veem a necessidade do aborto como uma consequência da opressão à qual as mulheres são submetidas, sem o apoio social (não só do Estado, mas da sociedade) para criarem seus filhos com dignidade. O direito ao aborto não resolverá a opressão contra as mulheres, ao contrário, apenas diminuirá a pressão que ela seja combatida. O aborto é uma violência e em nada contribuirá para diminuir a hostilidade de um mundo machista contra as mulheres. Em nada diminuirá a violência contra as mulheres.  As mulheres devem ter todo o direito de decidir sobre seus corpos e escolher o melhor momento para serem mães, entretanto, a partir do momento em que houve a concepção, não se trata apenas do corpo da mulher, pois há outra pessoa envolvida, uma pessoa em situação certamente ainda mais frágil, não responsável por sua situação, merecedora de dignidade e proteção contra uma decisão tão arbitrária e violenta como o aborto. O autor fala em “direito natural” da mãe. Ora, de todos os “direitos naturais” do jusnaturalismo, não há dúvida de que o direito à vida seja o mais importante, o mais básico de todos. No caso da gestação, há direitos conflitantes, o da mãe, ao próprio corpo, e o do nascituro, à vida. E se há direitos conflitantes,  conforme dizia Norberto Bobbio, um dos maiores contribuintes para que a sociedade ocidental compreendesse os direitos humanos, a escolha é necessária: entre o direito à vida e o direito ao próprio corpo, o primeiro deve ser escolhido.

P. S.: Se você já se chocou com imagens sangrentas usadas pelo lado sem argumentos, o lado dos autointitulados “pró-vida”, há uma forma de tratar seu trauma: ver qual é a aparência de um aborto legal e seguro, feito respeitando o limite de 12 semanas que o Conselho Federal de Medicina defende. Você pode fazer isso neste site, e prometo que não vai se chocar: http://www.meuaborto.com.br/

O intuito do site mencionado é demonstrar que o aborto não passa de um procedimento médico, como tantos outros, que pode ser feito com segurança e higiene, não a interrupção da vida de um ser humano em gestação. Obviamente, o aborto não foi exibido no site. Não se mostrou a violência a que o feto foi submetido, quando sugado por uma bomba à vácuo. Dependendo da idade gestacional, antes da sucção, o feto é picotado ainda no útero. Mesmo assim, é incrível crer que a imagem de um ser humano liquefeito em um pote com sangue não seja chocante, ou mais, que não seja “moralmente condenável”.

Escrito por Leonardo João Zamboni. Blog Ateus contra o aborto.

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Riqueza e religião https://portalconservador.com/riqueza-e-religiao/ https://portalconservador.com/riqueza-e-religiao/#comments Fri, 06 May 2011 16:47:08 +0000 http://portalconservador.com/?p=330 read more →]]> Um rapaz chamado Daniel Fraga, vlogger já comentado em outra postagem, gravou um vídeo em que fala sobre a relação entre riqueza e religião, cujo conteúdo revela uma trágica falta de conhecimento e uma curiosa dificuldade em entender a relação que há entre as duas coisas. O vídeo despertou a atenção de muitos teístas, que ficaram indignados com a ingenuidade do sujeito, ou mesmo com certa desonestidade intelectual, enquanto, curiosamente, a maioria dos ateus disse: “Amém”.

Vamos a análise do conteúdo. Segundo pesquisa feita em 114 países, divulgada pela Gallup, “quanto mais religioso, mais pobre tende a ser um país” (http://www1.folha.uol.com.br/quanto-mais-religioso-mais-pobre-tende-a-ser-um-pais.shtml). O próprio artigo atenta para detalhes importantes na interpretação dos dados levantados. Nele lemos: “Desde o século 19, a sociologia tem preferido apostar na tese de que a pobreza facilita a expansão da religião”, e essa frase é muito importante para que não se construa, a partir da pesquisa, uma argumentação equivocada sobre a relação entre a pobreza e a religião. Aí sugere-se que a pobreza facilita a expansão da religião, e não que a religião facilita a expansão – ou é a causa – da pobreza.

Citemos alguns exemplos práticos dessa realidade. Philip Jenkins, em A Próxima Cristandade, expõe alguns dados interessantes: Há um século, menos de 10% da África era cristã, mas hoje esse número subiu para 50% – dez milhões, em 1900, para trezentos e cinquenta milhões, hoje. Vale ressaltar que esse crescimento não se deu em consequência da colonização europeia no continente africano, no século XVIII, mas após o fim dessa colonização. De modo geral, a África não tem crescido economicamente, mas a religião, em contra-partida, tem crescido de forma implacável, e, mais importante, pela livre e espontânea vontade de seu povo; em alguns casos, mesmo em face de terríveis perseguições, comuns em regiões majoritariamente islâmicas. Dinesh D’Souza escreve que, “enquanto os pregadores ocidentais normalmente imploram às pessoas que venham à Igreja aos domingos ocupar os bancos, alguns pregadores africanos pedem a seus membros que se limitem a participar dos cultos a todo segundo ou terceiro domingo, a fim de darem oportunidade para que outros ouçam a mensagem” (Dinesh D’Souza, A Verdade Sobre o Cristianismo, pág. 29).

E não se pode esquecer que o próprio surgimento e crescimento do cristianismo se deu entre os humildes, leigos, que também foram duramente perseguidos. Ser cristão nos primeiros séculos era saber que a própria vida corria grande risco – muitas vezes era a certeza de uma sentença de morte -, mas isso não impediu que o número de cristãos crescesse de forma inexplicável, tornando insignificante o efeito de qualquer perseguição contra o povo, que ao invés de amedrontar as pessoas, parecia dar-lhes uma coragem sobrenatural. Se o sr. Daniel Fraga supõe que associando pobreza ao cristianismo está desferindo aos seus seguidores um golpe doloroso, é porque desconhece a verdadeira história dessa religião que tanto despreza.

The Christian Martyrs Last Prayer

The Christian Martyrs’ Last Prayer, de Leon Gerome

Mas, voltando à pesquisa, o próprio título já revela uma forma desonesta de expor o que foi pesquisado, uma vez que o mais adequado seria Quanto mais pobre, mais religioso tende a ser um país, o que para os leigos palpiteiros seria extremamente esclarecedor e evitaria muita bobagem em consequência de uma desonestidade que já começou na mídia (que surpresa!). Para melhorar, a notícia da Folha apresenta algo que, para pessoas sérias, só pode ser entendido como uma piada de mal gosto: não daquelas que incomodam, mas que fazem gargalhar de verdade. Falo da opinião de Daniel Sottomaior, presidente da ATEA, cujas declarações revelam um sujeito que, longe de conhecer o mínimo do assunto ali abordado, faz papel de garoto propaganda de uma causa que só pessoas igualmente ingênuas seriam capazes de abraçar.

Segundo ele, a própria religião é a causa da pobreza; ele chega a chamá-la de “fator ópio do povo”, e diz que “ela promove o fatalismo e o deus-dará”. Ora, essa ideia de que os teístas devem se auto-definir como seres inúteis que devem esperar que a intervenção divina seja o motor de suas vidas é um dos clichês ateístas mais repetidos nos últimos tempos; o que, de forma alguma, o torna verdadeiro. Analisemos, portanto, a afirmação do sr. Sottomaior à luz de alguns exemplos contra essa ideia de “sentar e esperar”. Especialmente para os cristãos, agir em benefício de toda a espécie humana em vez de esperar que um milagre aconteça levou-os a presentear todos os seres humanos com uma das práticas mais bem-vistas no mundo: a caridade. Qual é o sentido em juntar pessoas e arrecadar fundos para ajudar os necessitados, se basta esperarmos que um milagre aconteça? Não é mais fácil ajoelhar-se e pedir a Deus que alimente o faminto, que efetivamente ir até o faminto e alimentá-lo o mais rápido possível? É óbvio que os cristãos confiam e esperam em Deus, mas não é por isso que se projetam como seres passivos cuja vida limita-se a pedir que recebam um milagre; pelo contrário, é justamente por confiarem e esperarem em Deus que projetam-se como o próprio milagre, e por conta própria – e inspirados por Deus – tentam fazer a diferença para os que deles precisam.

Voltaire, conhecido pelo seu rígido anti-catolicismo, declarou: “Talvez não haja nada maior na terra que o sacrifício da juventude e da beleza com que belas jovens, muitas vezes nascidas em berço de ouro, se dedicam a trabalhar em hospitais pelo alívio da miséria humana, cuja vista causa tanta aversão à nossa sensibilidade. Tão generosa caridade tem sido imitada, mas de modo imperfeito, por gente afastada da religião de Roma” (Michael Davies, For Altar and Throne: The Rising in the Vendée, pág. 13). Será que é plausível crer que a religião causa nas pessoas essa característica de sentar e não agir por conta própria, como sugere o presidente da ATEA? Vamos mais longe: segundo William Lecky, “não se pode sustentar nem na prática, nem na teoria, nem nas instituições fundadas, nem no lugar que a ela foi atribuído na escala dos deveres, que a caridade ocupasse na Antiguidade um lugar comparável àquele que atingiu no cristianismo” (William E.H. Lecky, History of European Morals from Augustus to Charlemagne, vol. 1, pág. 83).

Cristo nos manda que amemos uns aos outros, inclusive os nossos inimigos. Ele nos manda que amemos a todos os seres humanos, e amor é algo muito maior que uma expressão banalizada pelos jovens do século XXI; é o mais nobre dos sentimentos humanos, capaz de levar alguém a dar a própria vida pelo bem de outro, e o bem dos outros é urgente, pois nenhum ser humano que tem amor pelo próximo consegue sentir conforto com a miséria alheia e esperar que essa miséria desapareça magicamente. Quem ama o próximo só se alegra quando toda a tristeza do próximo está aliviada, e não há sentido em esperar que este alívio venha milagrosamente se ele pode vir através dos nossos próprios atos. E que não pensem que estas palavras tentam excluir o papel de Deus em todas as coisas, pois, como já exposto antes, por que esperarmos pelo milagre se, de certa forma, podemos ser o milagre – ainda que não literalmente?

Que Daniel Sottomaior guarde suas propagandas para os associados da ATEA, porque é isso que ele revela em suas afirmações: apenas propaganda. Outros exemplos desse caráter propagandístico do rapaz já foram expostos e desmascarados no Quebrando o Encanto do Neo-Ateísmo (campanha-atea-porto-alegre-e-salvador/campanha-atea-nao-vai-mais-circular/).

À luz da História, é falso que a religião “não apenas não gera valor como sequestra bens, dinheiro e mentes que deixam de ser empregados em atividades econômicas e de desenvolvimento”. Aliás, sendo para os ateus tão importante insistir na questão econômica e no desenvolvimento, cabe refletir sobre o papel da religião nesses aspectos fundamentais à sociedade. Comecemos por um gigante: a agricultura. O papel dessa arte prática ao longo da História é facilmente reconhecido por todas as pessoas, não só pelo que representou no passado, bem como pelo que representa ainda hoje, mas o que poucos sabem é da relação que os monges tiveram com tal prática. Segundo o historiador francês François Guizot, “os monges beneditinos foram os agricultores da Europa; transformaram-na em terras de cultivo em larga escala, associando agricultura e oração” (John Henry Newman, Essays and Sketches, vol. 3, págs. 264-5). Henry Goodell declarou, no início do século XX: “Eles salvaram a agricultura quando ninguém mais poderia fazê-lo. Praticavam-na no contexto de uma nova forma de vida e de novas condições, quando ninguém mais ousava empreendê-la” (Henry H. Goodell, The Influence of the Monks in Agriculture, discurso em 23/08/1901).

O historiador Thomas E. Woods escreve: “Aonde quer que tenham ido, os monges introduziram plantações, indústrias ou métodos de produção desconhecidos do povo. Aqui introduziam a criação de gado e de cavalos, ali a elaboração de cerveja, a criação de abelhas ou a produção de frutas. Na Suécia, o comércio de cereais deve a sua existência aos monges; em Parma, a produção de queijo; na Irlanda, a pesca do salmão e, em muitos lugares, as vinhas de alta qualidade. Os monges represavam as águas das nascentes a fim de distribuí-las em tempos de seca. Foram os monges dos mosteiros de Saint Laurent e Saint Martin que, observando as águas das fontes espalharem-se inutilmente pelos prados de Saint Gervais e Belleville, as canalizaram para Paris. Na Lombardia, os camponeses aprenderam dos monges a irrigação, o que contribuiu poderosamente para tornar a região tão famosa em toda a Europa pela sua fertilidade e riqueza (Thomas E. Woods, Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental, págs.32-3). É necessário ressaltar que este parágrafo descreve muito pouco das contribuições dos monges à civilização: para um aprofundamento mais detalhado, consultar o capítulo 3 do livro referido.

Mais notável é que esses monges compõem apenas um dos vários grupos cristãos que contribuíram de forma louvável ao Ocidente. Aqui os uso apenas como exemplo para questionar as alegações de Sottomaior, já mostradas falsas. Negligenciar o papel dos monges no desenvolvimento da Europa é apenas uma das várias formas de admitir para o público, ainda que não de forma explícita, que naquelas declarações não há preocupação com a verdade, mas com um mero marketing ateísta.

Quando se fala em economia, a situação termina ainda mais embaraçosa para os ateus, especialmente para Daniel Fraga, que tanto discorreu sobre a riqueza em seu vídeo. A própria ciência econômica possui raízes no pensamento cristão, em que destacam-se os escolásticos. Jean Buridan (1300-1358) demonstrou que o dinheiro surgiu livre e espontaneamente no mercado, como meio de simplificar as trocas (Murray N. Rothbard, An Austrian Perspective on the History of Economic Thought, vol. 1, págs. 73-4), o que veio a ser confirmado pelo grande economista Ludwig von Mises, no século XX. Nicolau Oresme (1325-1382) escreveu Um tratado sobre a origem, natureza e transformação do dinheiro, considerado “um marco na ciência monetária”. Oresme foi chamado “o pai e fundador da ciência monetária” (Jörg Guido Hülsmann, Nicholas Oresme and the First Monetary Treatise, http://mises.org/daily/1516). Schumpeter escreveu sobre os escolásticos: “Foram eles, mais do que qualquer outro grupo, os que chegaram mais perto de ser os fundadores da ciência econômica” (Joseph A. Schumpeter, History of Economic Analysis, pág. 97). Aqui também é preciso ressaltar que, não só os escolásticos contribuíram muito mais à Economia do que esta descrito no parágrafo, como contribuíram abundantemente a várias outras disciplinas.

Ora, não se pode alcançar riqueza sem que se proponham meios adequados para fazê-lo. Entra aí, mais uma vez, o papel fundamental da religião, e novamente o cristianismo mostra-se indispensável. É sabido que tanto católicos quanto protestantes contribuíram para o desenvolvimento do pensamento econômico, e caso o sr. Fraga não ache justo negligenciar a História como ela é, deveria reconhecer esse papel e rever seus conceitos ao tentar rivalizar o progresso e a religião. Ela não é a causa da pobreza, e é fácil até para uma criança entender que a Europa está se tornando menos religiosa conforme sua população apega-se mais vigorosamente às conquistas materiais, e não conquistando algo a mais por tornar-se menos religiosa.

Dizer que os Estados Unidos são uma exceção, e que, portanto, é irrelevante ao caso abordado é a prova definitiva da ignorância do sujeito. Ora, se um país religioso não é necessariamente pobre, fica claro que não é, pois, a religião a causa da pobreza, e que essa causa precisa ser averiguada em outra pesquisa. Aliás, os EUA não são o único exemplo de país rico e religioso, e o próprio gráfico da pesquisa mostra isso. O salto lógico de Daniel Fraga – a religião é a causa da pobreza – é insustentável perante os próprios dados fornecidos pela pesquisa, e muito mais sob uma análise devida dos argumentos por ele expostos. Esta era a ideia central que precisava ser refutada; o resto do vídeo consiste na apresentação de vários red herrings, como a tentativa de expor como inimigas a razão e a religião, considerando que a razão é o motor do progresso, e não a religião. A razão é, de fato, o motor do progresso, mas a religião é o motor da razão e, portanto, a incoerência só existe na cabeça do sr. Fraga. A cereja do bolo vem em frases de efeito de velhos conhecidos nossos, como Richard Dawkins e Ayn Rand. Não se pode dizer que o sujeito não é divertido, afinal…

Em resposta às alegações acima analisadas, foi postado um vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=zHfpKA5NLos) por Leonardo Bruno, do blog http://cavaleiroconde.blogspot.com/.

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Não é necessário comentar o vídeo, mas é bom atentar para o que o próprio Daniel Fraga comentou ali. Vejam: a religião, em países pobres, é a causa da pobreza, porém, em países comunistas, o ateísmo não tinha nada a ver com nada; a culpa era apenas do comunismo. Concordo com ele, o ateísmo não é a causa do atraso em países comunistas, mas, pela lógica dele mesmo, é possível concluir que o ateísmo seja essa causa – não por ter sido, de fato, mas por que a lógica é falha. Não se chega a uma conclusão verdadeira dispondo de premissas falsas. Quando Daniel Fraga diz que a razão é a fonte do progresso, supõe que a religião é inimiga da razão, e, portanto, inimiga do progresso. Mas a religião não é inimiga da razão, e por isso foi fácil mostrar que também não é inimiga do progresso.

Ademais, se ele não se confundiu com as palavras, admitiu que a religião foi, historicamente, o motor do desenvolvimento, ressaltando, no entanto, que poderia ter sido diferente. Agora, perguntemo-nos o seguinte: devemos nos basear na realidade como ela é ou em como ela poderia ter sido? Para alguém que repete exaustivamente a importância da razão, não convém aceitar a realidade objetiva, em vez de propor realidades hipotéticas para negligenciar o papel de algo com o qual não se parece simpatizar?

A religião é o motor do progresso, bem como o ateísmo é o motor do comunismo. Historicamente foi e continua sendo assim, então, qual o sentido em propor algo que poderia ser diferente, se, efetivamente, a especulação pode seguir qualquer caminho, mas jamais possuir evidências que corrobore para nenhum? Que não se conclua, também, como é comum entre os ateus, que dizer que o ateísmo é parte fundamental do comunismo implica em dizer que todo ateu é comunista ou coisas relacionadas. De fato, é muito difícil para os ateus admitir que o ateísmo era fundamental ao comunismo, principalmente para aqueles que gostam de culpar as religiões pacíficas pelo terrorismo de Bin Laden, por exemplo. Se o ateu aplica a si mesmo o seu próprio critério, estará chamando para si a responsabilidade que obviamente não é dele, mas que, pela própria incoerência, acaba o afetando.

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Seja como for, fiquemos atentos às típicas desonestidades ateístas, principalmente com essas que parecem encontrar fundamentos em dados autênticos, publicados por institutos de pesquisa sérios, etc. Saber interpretar os dados é fundamental, mas mais importante é saber identificar as fraudes intelectuais de pessoas desonestas que tentam ofender descaradamente a própria sensatez humana, independente do humano que a defende. A argumentação neo-ateísta é aquela de sempre, e quando o debate já está perdido, nada tão eficaz quanto apelar para a ridicularização somada ao ataque em bando…

Escrito por Vinícius Oliveira. Caos & Regresso.

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