terrorismo – Portal Conservador http://portalconservador.com Maior Portal dirigido ao público Conservador em língua portuguesa. Sun, 11 Feb 2018 19:07:06 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.9.4 65453639 Exército da Nigéria anuncia resgate de quase dois mil reféns do Boko Haram http://portalconservador.com/exercito-da-nigeria-anuncia-resgate-de-quase-dois-mil-refens-do-boko-haram/ http://portalconservador.com/exercito-da-nigeria-anuncia-resgate-de-quase-dois-mil-refens-do-boko-haram/#respond Thu, 22 Dec 2016 03:09:35 +0000 http://portalconservador.com/?p=3110 read more →]]> Tropas nigerianas resgataram, na última semana, 1.880 civis que estavam em poder do grupo islâmico Boko Haram no nordeste da Nigéria, anunciou um comandante do Exército nesta quarta-feira (21). A operação aconteceu em Sambisa, uma região na selva de cerca de 1.300 km quadrados onde ficava o reduto do Boko Haram. Em 2014, esse grupo sequestrou mais de 200 jovens estudantes.

“Em operações realizadas entre 14 e 21 de dezembro de 2016, um total de 1.880 civis foram salvos nas áreas do Boko Haram”, declarou o general Leo Irabor em entrevista coletiva na cidade de Borno, capital de Maiduguri.

boko-haram

Vídeo do Boko Haram mostra supostos espiões sendo interrogados e, depois, exibe corpos decapitados (Foto: Reprodução/ Twitter/ SITE Intel Group)

O militar acrescentou que as operações prosseguem com base na campanha lançada no ano passado para retirar os extremistas islâmicos da região. Segundo o general Irabor, centenas de rebeldes foram capturados. “Entre 14 e 21 de dezembro, 564 terroristas do Boko Haram foram capturados e outros 19 se renderam aos nossos soldados. Sete suspeitos de sequestro e 37 estrangeiros também foram detidos”.

Movimento jihadista

O Boko Haram é o autor de muitos sequestros, entre eles o de mais de 200 colegiais da cidade de Chibok, em abril de 2014. Inicialmente seita salafista, o Boko Haram se converteu em movimento jihadista após a morte de seu fundador, Mohammed Yusuf, em 2009. A violência do movimento e sua repressão já causaram mais de 20 mil mortes e 2,6 milhões de deslocados no nordeste da Nigéria.

Com informações France Presse.

]]>
http://portalconservador.com/exercito-da-nigeria-anuncia-resgate-de-quase-dois-mil-refens-do-boko-haram/feed/ 0 3110
Nenhuma comoção mundial: dois atentados em dois dias na Nigéria http://portalconservador.com/nenhuma-comocao-mundial-dois-atentados-em-dois-dias-na-nigeria/ http://portalconservador.com/nenhuma-comocao-mundial-dois-atentados-em-dois-dias-na-nigeria/#respond Fri, 20 Nov 2015 00:10:49 +0000 http://portalconservador.com/?p=2677 read more →]]> 19.11.2015 – KANO (NIGÉRIA) – Pelo segundo dia consecutivo a Nigéria foi palco de ataques terroristas que mataram dezenas de pessoas. Segundo informações da emissora Al Jazeera, pelo menos 15 pessoas morreram após explosões serem registradas em um mercado na cidade de Kano na tarde desta quarta-feira (18). Pelo menos 53 pessoas ficaram feridas. De acordo com a polícia local, dois dispositivos foram detonados simultaneamente por duas mulheres-bomba. Relatos publicados na imprensa local dão conta de que uma delas era uma criança de 11 anos.

 Atentado-nigeria-Portal-Conservador7

É o segundo atentado terrorista no país em menos de 24 horas. Uma explosão na noite de terça-feira (17) em um mercado em Yola, no nordeste do país, matou 32 pessoas e deixou 80 feridas, afirmou a Cruz Vermelha. A explosão aconteceu em um mercado de frutas e vegetais ao lado de uma rua principal na área de Jimeta, na capital do Estado de Adamawa, por volta das 20h (horário local). “O chão perto da minha loja ficou coberto de corpos. Eu ajudei a colocar 32 mortos dentro de cinco veículos”, contou Alhaji Ahmed, dono de uma loja no local, à Reuters.

Não houve reivindicação imediata da autoria dos atentados, mas acredita-se no envolvimento do grupo terrorista Boko Haram, que já matou milhares de pessoas e planeja estabelecer um estado islâmico no nordeste da Nigéria. Os ataques desta semana foram registrados menos de um mês depois que ataques do Boko Haram mataram mais de 50 pessoas em Yola e em Maiduguri – capital do estado de Borno e berço do grupo armado. Em mensagem publicada no seu Twitter, o presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, expressou condolências às famílias e disse que “os inimigos da humanidade não vão vencer”.

O Boko Haram foi considerado como o grupo terrorista que mais matou no mundo em 2014 de acordo com o Global Terrorism Index, divulgado na terça-feira. Segundo o documento, o Boko Haram foi responsável por 6.644 mortes no ano passado.

Redes Sociais

Após o atentado de ontem o Facebook também habilitou a verificação de segurança para usuários da rede social que vivam ou estejam no país. O recurso permite que pessoas que estejam na área afetada pelo ataque avisem que estão em segurança por meio da rede social. Segundo o Guardian, é a quinta vez que o sistema é posto em uso, e a segunda vez que é usado para um ataque terrorista. A primeira foi na sexta-feira (13), após os ataques coordenados em Paris.

Até então, a checagem de segurança só havia sido usada em acidentes naturais – dois terremotos no Nepal e o furacão Patricia. Nesta quarta, o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg anunciou que o sistema será usado em “eventos trágicos” de agora em diante. Segundo Zuckerberg, a equipe da rede social estuda quais os critérios serão usados para ativar o sistema assim como outros detalhes.

Galeria de Fotos

O Portal Conservador reserva-se no direito de não publicar todas as fotos do episódio com vistas à não sensibilizar demasiadamente seus leitores.

Clique para exibir o slide.

Com informações agência HuffPost Brasil.

]]>
http://portalconservador.com/nenhuma-comocao-mundial-dois-atentados-em-dois-dias-na-nigeria/feed/ 0 2677
Estado Islâmico reivindica atentado em Paris com pelo menos 150 mortos http://portalconservador.com/estado-islamico-reivindica-atentado-em-paris-com-pelo-menos-140-mortos/ http://portalconservador.com/estado-islamico-reivindica-atentado-em-paris-com-pelo-menos-140-mortos/#comments Sat, 14 Nov 2015 01:53:03 +0000 http://portalconservador.com/?p=2623 read more →]]> 13.11.2015PARIS – Três atentados ocorreram na noite desta sexta-feira, 13 de novembro, no centro Paris. Pelo menos 153 mortos já foram confirmados pelas autoridades parisienses, além de centenas de feridos. Foram registadas pelo menos oito explosões e seis tiroteios por várias testemunhas. 1.500 soldados franceses foram enviados para as ruas de Paris. O Estado Islâmico acaba de reivindicar o ataque em Paris, avança o Correire della Sera: “Vingança pela Síria”. Os muçulmanos fizeram menções a três novos alvos: “Roma, Londres, Washington“.

Atentados-Paris-13-11-2015-Portal-Conservador2

O primeiro aconteceu num bar próximo do Stade de France, no bairro de Saint Denis, onde estava acontecendo uma partida de futebol entre a França e a Alemanha. Dois indivíduos terão sido os autores do atentado e utilizaram explosivos com pregos. O Le Monde noticiou que as explosões ocorreram em três restaurantes diferentes. Milhares de pessoas que estavam nas bancadas do estádio — que tem capacidade para acolher mais de 81 mil pessoas — recusaram-se a abandonar o recinto e estiveram durante vários minutos concentradas no relvado. As explosões foram ouvidas no interior do estádio, quando o jogo ainda estava acontecendo.

O segundo atentado foi registado na Boulevard Voltaire, perto do Bataclan Café, uma das mais famosas salas de espetáculos da capital gaulesa. Três terroristas foram abatidos a tiros pela polícia francesa. Mais de uma centena de mortos foi registrada no interior da sala. Ocorreram, pelo menos, cinco explosões no Bataclan, onde os autores do atentado estiveram mais de uma hora com reféns. Uma jornalista do Le Monde que ouviu um sobrevivente noticiou que os terroristas estavam nos camarins quando a polícia entrou no edifício.

Um dos agentes envolvidos na operação de resgate relata o que viu. “Foi um massacre“. Os terroristas terão lançado várias granadas para dentro da sala de espetáculos, que pode acomodar 1.500 pessoas, escreve a BMFTV. Fontes policiais descrevem o interior do Bataclan como uma “cena do Apocalipse”. O número de vítimas pode subir.

Já o terceiro atentado ocorreu na Rue de Charonne, a cerca de 1 quilômetro e meio do local do segundo incidente. Os dois primeiros locais situam-se no 10.º bairro de Paris, enquanto o terceiro já está localizado no 11.º Arrondissement. O Stade de France dista cerca de nove quilômetros da zona onde foram registrados os outros dois atentados.

Atentados-Paris-13-11-2015-Portal-Conservador

François Hollande, presidente francês, já decretou o estado de emergência nacional e autorizou o encerramento das fronteiras, “para impedir que os culpados saiam do país”. Em comunicado, a Câmara Municipal de Paris e a polícia francesa pediram aos cidadãos para permanecerem em casa e, a saírem à rua, que seja em casos absolutamente necessários.

Barack Obama já falou em Washington e garantiu que o país “fará o for possível pelo povo francês” e para colocar “os responsáveis [dos atentados] perante a justiça. O presidente dos EUA disse que “este ataque não foi apenas contra o povo francês, mas contra toda a humanidade”. O governo português emitiu um comunicado, no qual “lamentou profundamente a situação ocorrida em França”.

O Vaticano também se pronunciou. “Estamos chocados com esta nova manifestação de loucura, de violência terrorista e de ódio, a qual condenamos da forma mais radical, juntamente com o Papa e todos aqueles que amam a paz”, disse Federico Lombardi, chefe da Sala de Imprensa da Santa Sé, citado pelo norte-americano Washington Post. “Rezamos pelas vítimas e pelos feridos, e por todos os franceses. Este é um ataque à paz de toda a humanidade e exige uma resposta decisiva e apoiada por todos nós.”

Português em Paris: “Em dez meses vivi dois ataques terroristas de perto”

Fernando estava no metro de Paris quando se deram os primeiros ataques. Debaixo da terra não sabia o que se estava a passar na cidade de Paris. Não chegou a ouvir as explosões nem os tiros e só soube do que se estava a passar quando chegou a casa, em Montrouge, já fora da capital francesa. A mulher esperava-o preocupada. Chegou em segurança, naquela zona tudo está “calmo e sereno”. Fernando abandonou o bar onde costuma encontrar-se com os colegas de trabalho cerca de 10 minutos antes dos ataques. Esse bar situa-se próximo de um dos locais afetados e os amigos de Fernando ainda estão, neste momento, “barricados no prédio da empresa” onde trabalha: “Estou longe de qualquer perigo, mas toda a gente está de algum modo assustada e chocada com tudo o que se está a passar”.

Ainda não sabe que medidas terá de tomar amanhã mas, garante, sairá à rua a menos que seja decretado um recolher obrigatório: “O terrorismo alimenta-se do medo que gera e eu não tenciono alimentá-lo”, afirma.

Não é a primeira vez que Fernando se confronta com ataques em França. O português mudou-se para Paris há cerca de três anos e seis meses e viveu de perto os ataques ao Charlie Hebdo: foi à porta da sua casa que um polícia foi atingido no dia depois do ataque à redação do jornal satírico. O prédio onde vive chegou a ser vasculhado, já que a polícia suspeitava que o autor do ataque ainda estava na região. Passaram dias até descobrirem que ele se teria escapado para a zona de Vincennes. Por causa da proximidade, Fernando diz que os ataques do início do ano foram “mais complicados”, mas hoje o português volta a questionar a opção de trabalhar em Paris: “Particularmente quando dois ataques terroristas ocorrem próximos de mim: um onde vivo e outro de onde trabalho, num espaço de 10 meses”, diz.

Chappatte, um famoso cartonista, já retratou os atentados de hoje:

Atentados-Paris-13-11-2015-Portal-Conservador6678

 

Confira a galeria de fotos:

Clique para exibir o slide.

Última atualização às 00:25 (Horário de Brasília) de 14.11.2015.

]]>
http://portalconservador.com/estado-islamico-reivindica-atentado-em-paris-com-pelo-menos-140-mortos/feed/ 2 2623
Quem são os assírios? Conheça os cristãos perseguidos pelo Estado Islâmico http://portalconservador.com/quem-sao-os-assirios-conheca-os-cristaos-perseguidos-pelo-estado-islamico/ http://portalconservador.com/quem-sao-os-assirios-conheca-os-cristaos-perseguidos-pelo-estado-islamico/#comments Sun, 01 Mar 2015 02:33:00 +0000 http://portalconservador.com/?p=2050 read more →]]> Os assírios, atacados por jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI), formam uma antiga comunidade cristã cuja presença na Síria é recente, em função dos massacres que sofreram no Iraque. Esta comunidade faz parte das muitas que formam o mosaico de cristãos do Oriente e se destaca como sendo os descendentes do antigo império assírio estabelecido na Mesopotâmia, muito antes da introdução do cristianismo e do Islã.

Comunidade-assiria-Portal-Conservador

Os assírios são cristãos nestorianos, uma corrente do cristianismo condenada pelo Concílio de Éfeso em 431, devido às diferenças sobre a dupla natureza, divina e humana, de Cristo. Segundo a tradição, foram os apóstolos Tomé e Judas Tadeu que evangelizaram a Mesopotâmia. Em 37, Judas Tadeu se tornou o primeiro bispo de Seleucia-Ctesiphon, a capital dos partas, perto da atual Bagdá, enquanto Tomé partiu para a Índia.

O que é certo, porém, é que, desde o final do século I, missionários vindos da Palestina ou de Antióquia estabeleceram-se a oeste do Império Parta, próximo das comunidades judaicas da Babilônia e das populações aramaicas da Alta Mesopotâmia. Esses, que falam aramaico, são considerados os descendentes dos assírios, daí o nome de comunidades “assírias”. Estes cristãos assírios podem ser uniatas (ligados ao Vaticano) ou não, segundo Odon Vallet, especialista francês das religiões.

Desta forma, uma parte da Igreja assíria se ligou a Roma em 1830, tornando-se a Igreja caldeia, que estava presente, principalmente, no Iraque. Cerca de 30.000 assírios viviam na Síria antes do início da guerra civil. Destes, dois terços habitavam a província de Hassake, no extremo nordeste do país, com cerca de 1,4 milhão de habitantes. De acordo com o jornal católico francês La Croix, a Igreja assíria do Oriente reúne atualmente entre 250.000 e 400.000 seguidores, a maioria nos Estados Unidos e na Índia. O atual patriarca de Seleucia-Ctesiphon, Mar Dinkha IV, instalou, na década de 1980, a sede da sua igreja em Chicago.

Na Síria, a comunidade assíria formou o Conselho Militar Siríaco, que luta ativamente ao lado dos curdos. No Iraque, ela começou a treinar suas próprias milícias, considerando que os curdos e as forças federais não são capazes de protegê-los adequadamente dos jihadistas. Os assírios são encontrados principalmente entre Hassake e Ras el Ain, em 35 aldeias em torno de Tall Tamer.

A instalação da comunidade nesta região data dos massacres de 1933 no Iraque. A França foi responsável por instalá-los em aldeias de colonização agrária, antes de migrarem para as cidades de Hassake e Qamischli, e posteriormente para Aleppo e Damasco. De acordo com o geógrafo francês especialista em Síria Fabrice Balanche, as localidades de Haut Khabur são seu lar original na Síria. Mas devido ao êxodo rural, a maioria destas aldeias são atualmente mistas, com uma população curda de trabalhadores agrícolas vindos substituir os assírios que partiram para a cidade.

Imagens denunciam marcações islâmicas de residências cristãs

Em junho do ano passado (2014), floresceram marcações como estas em cidades milenares cristãs do Iraque, como em Mossul, que possuía comunidades cristãs fundadas no II século d. C e Qaraqosh, a antiga capital cristã do país. Depois do silêncio midiático e das grandes potências ocidentais, dois terços do território iraquiano foram dominados pelos militantes do Estado Islâmico. O mesmo prelúdio acontece atualmente na Síria:

Com informações Aleteia.org.

]]>
http://portalconservador.com/quem-sao-os-assirios-conheca-os-cristaos-perseguidos-pelo-estado-islamico/feed/ 3 2050
O Estado Islâmico leiloa meninas cristãs como escravas sexuais http://portalconservador.com/o-estado-islamico-leiloa-meninas-cristas-como-escravas-sexuais/ http://portalconservador.com/o-estado-islamico-leiloa-meninas-cristas-como-escravas-sexuais/#comments Fri, 30 Jan 2015 14:45:44 +0000 http://portalconservador.com/?p=1926 read more →]]> Rotineiramente, as notícias relacionadas à organização extremista muçulmana Estado Islâmico (EI) geram horror no mundo ocidental. O principal motivo para isso é que seus membros tentam impor a lei sharia para todos os que vivem dentro de seus domínios. Invasão de cidades, massacre de moradores, crucificação e decapitação de cristãos são alvo de manchetes em diversos órgãos de imprensa e até o momento nenhum posicionamento oficial da Organização das Nações Unidas (ONU).

Pelo contrário, quando os Estados Unidos e uma coalização de outros países começaram a bombardear as posições do EI no Iraque, foram criticados na plenária da ONU pela presidente Dilma Rousseff. Em seu discurso, ela disse que deveria ser procurado “o diálogo, o acordo” e condenou os ataques. O influente jornal inglês Daily Mail publicou uma reportagem que mostra mais de perto um aspecto amplamente ignorado fora do mundo islâmico: o mercado de escravas sexuais.

escravas-do-estado-islamico

Previsto pelo Alcorão na Sura 4:24, a prática é explicitada em tempos de guerra – como a que os soldados do EI acreditam estar lutando. Eles não podem, contudo, usar muçulmanas para isso, portanto atualmente o leilão entre eles é com prisioneiras cristãs e yazidies, uma minoria religiosa do Curdistão. Um vídeo encontrado no celular de um miliciano mostra um pouco como funciona a venda de mulheres capturadas pelos fundamentalistas. Outros relatos, como os da organização não governamental Humans Rights Watch, mostram testemunhos de mulheres que serviram como escravas contando que crianças também são compradas e vendidas.

Uma das edições da revista Dabiq, aponta a justificação do Estado Islâmico para o uso de mulheres “infiéis” como escravas sexuais. O artigo intitulado de “A recuperação da escravidão antes da hora” afirma que o EI restabeleceu a escravidão em seu califado. Mulheres e crianças são capturadas como “prêmio” de guerra, a serem divididas entre os combatentes. Algumas são encaminhadas para a venda e para o leilão, outras são encaminhadas para participarem das operações militares do EI. Nos leilões, o preço varia. Quanto mais nova, maior o valor pedido. O Daily Mail aponta uma espécie de tabela. Os valores são aproximados, considerando o câmbio:

tabela-preco-escravas-do-ei

Um documento apresentado pelo IraqiNews mostra que o valor de venda das mulheres e dos despojos de guerra vem tendo uma diminuição significativa. Mas o EI impôs um controle dos preços, ameaçando executar quem viola as diretrizes.  As mulheres bonitas e de olhos azuis ou verdes custam mais caro. Segundo dados de especialistas da Universidade de Oklahoma, o número de mulheres capturadas por milicianos do Estado Islâmico pode atingir 7 mil. Com a atuação do Boko Haram na África, devemos compreender que o número é bem mais elevado.

]]>
http://portalconservador.com/o-estado-islamico-leiloa-meninas-cristas-como-escravas-sexuais/feed/ 1 1926
Ditadura do proletariado em Gotham City http://portalconservador.com/ditadura-do-proletariado-em-gotham-city/ http://portalconservador.com/ditadura-do-proletariado-em-gotham-city/#comments Sun, 09 Feb 2014 01:02:28 +0000 http://portalconservador.com/?p=265 read more →]]> Batman – O Cavaleiro das Trevas Ressurge confirma mais uma vez como os blockbusters de Hollywood são indicadores precisos da situação ideológica da nossa sociedade. A narrativa (resumida) se dá da seguinte maneira. Oito anos depois dos eventos de Batman – O Cavaleiro das Trevas, capítulo anterior da saga Batman, a lei e a ordem prevalecem em Gotham City: sob os extraordinários poderes do Ato Dent, o comissário Gordon praticamente erradicou o crime violento e organizado. No entanto, ele se sente culpado pela cobertura dos crimes de Harvey Dent (Dent morreu ao tentar matar o filho de Gordon, salvo por Batman, que assumiu a culpa em nome da manutenção do mito de Dent, levando a uma demonização de Batman como vilão de Gotham) e planeja admitir a conspiração em um evento público de celebração a Dent, mas acaba concluindo que a cidade não está preparada para a verdade. Bruce Wayne, que não atua mais como Batman, vive isolado na própria mansão enquanto sua empresa desmorona depois de ter investido em um projeto de energia limpa criado para aproveitar a energia nuclear, mas encerrado quando ele descobriu que o núcleo poderia ser transformado em uma bomba. A lindíssima Miranda Tate, membra do conselho administrativo da Wayne Enterprises, convence Wayne a refazer a sociedade e continuar com seus trabalhos filantrópicos.

Aqui entra o (primeiro) vilão do filme: Bane, líder terrorista e antigo membro da Liga das Sombras, consegue a cópia do discurso de Gordon. Depois que as tramas financeiras de Bane quase levam a empresa de Wayne à falência, Wayne confia a Miranda a tarefa de controlar seus negócios, além de ter com ela um breve caso amoroso. (Nesse aspecto ela compete com a gata-ladra Selina Kyle, que rouba dos ricos para redistribuir a riqueza, mas acaba se juntando a Wayne e às forças da lei e da ordem.) Ao descobrir a movimentação de Bane, Wayne retorna como Batman e confronta Bane, que afirma ter assumido a Liga das Sombras após a morte de Ra’s Al Ghul. Depois de deixar Batman gravemente ferido em um combate corpo a corpo, Bane o coloca numa prisão de onde é praticamente impossível fugir. Seus companheiros de prisão contam para Wayne a história da única pessoa que conseguiu escapar: uma criança motivada pela necessidade e pela mera força de vontade. Enquanto o prisioneiro Wayne se recupera dos ferimentos e se prepara para ser Batman de novo, Bane consegue transformar Gotham City em uma cidade-Estado isolada. Primeiro ele atrai para o subsolo a maior parte dos policiais de Gotham e os prende lá; depois provoca explosões que destroem a maioria das pontes que conectavam Gotham City ao continente, anunciando que qualquer tentativa de deixar a cidade resultaria na detonação do núcleo de Wayne, do qual se apoderou e transformou em uma bomba.

O_Cavaleirodastrevas_ressurge

Chegamos então ao momento crucial do filme: a tomada de poder por parte de Bane acontece junto com uma vasta ofensiva político-ideológica. Bane revela publicamente o acobertamento da morte de Dent e liberta os prisioneiros detidos pelo Ato Dent. Condenando os ricos e poderosos, ele promete devolver o poder ao povo, convocando as pessoas comuns a “tomarem a cidade de volta” – Bane revela-se como “o manifestante definitivo do Occupy Wall Street, convocando os 99% a se juntarem para derrubar as elites sociais”[1]. Segue-se então a ideia do filme de poder do povo: uma sequência mostra  uma série de julgamentos e execuções dos ricos, as ruas tomadas pelo crime e pela vilania… alguns meses depois, enquanto Gotham City continua sofrendo o terror popular, Wayne consegue fugir da prisão, retorna a Gotham como Batman e convoca os amigos para ajudá-lo a libertar a cidade e desarmar a bomba nuclear antes que ela exploda. Batman confronta e domina Bane, mas Miranda intervém e apunhala Batman – a benfeitora social revela-se como Talia al Ghul, filha de Ra’s: foi ela que escapou da prisão quando criança e foi Bane que a ajudou a fugir. Depois de comunicar seu plano de terminar a tarefa do pai de destruir Gotham, Talia foge. Na confusão que se segue, Gordon destrói o dispositivo que permitia a detonação remota da bomba enquanto Selina mata Bane, permitindo que Batman vá atrás de Talia. Ele tenta forçá-la a levar a bomba para a câmara de fusão onde pode ser estabilizada, mas Talia inunda a câmara. Talia morre quando seu caminhão bate, confiante de que a bomba não pode ser detida. Usando um helicóptero especial, Batman transporta a bomba para além dos limites da cidade, onde ela explode sobre o oceano e supostamente o mata.

Agora Batman é celebrado como um herói cujo sacrifício salvou Gotham City, enquanto Wayne é tido como morto nos motins. Após seus bens serem divididos, Alfred vê Bruce e Selina juntos em um café em Florença, enquanto Blake, jovem policial honesto que conhecia a identidade de Batman, herda a Batcaverna. Em suma, “Batman salva a situação, aparece incólume e continua com uma vida normal, enquanto outro o substitui no papel de defender o sistema”[2]. A primeira pista dos fundamentos ideológicos desse final é dada por Gordon, que, no (suposto) enterro de Wayne, lê as últimas linhas de Um conto de duas cidades, de Dickens: “Esta é, sem dúvida, a melhor coisa que faço e que jamais fiz; este é, sem dúvida, o melhor descanso que terei e que jamais tive”. Alguns críticos do filme interpretaram essa citação como um indício de que o filme “atinge o nível mais nobre da arte ocidental. O filme apela para o centro da tradição norte-americana – o ideal do nobre sacrifício pelo povo comum. Batman deve se humilhar para ser exaltado e renunciar à própria vida para encontrar uma nova. […] Como máxima figura de Cristo, Batman sacrifica a si para salvar os outros”[3].

Dessa perspectiva, com efeito, Dickens está apenas a um passo de distância de Cristo no Calvário: “Pois aquele que quiser salvar a sua vida, vai perdê-la, mas o que perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la. De fato, que aproveitará ao homem se ganhar o mundo inteiro mas arruinar a sua vida?” (Mt 16:25-26 da Bíblia de Jerusalém). O sacrifício de Batman como repetição da morte de Cristo? Essa ideia não seria comprometida pela última cena do filme (Wayne com Selina em um café em Florença)? O equivalente religioso desse final não seria a conhecida ideia blasfema de que Cristo realmente sobreviveu à crucificação e teve uma vida longa e pacífica (na Índia, ou talvez no Tibete, de acordo com algumas fontes)? A única maneira de remir essa cena final seria interpretá-la como um devaneio (alucinação) de Alfred, que se senta sozinho em um café em Florença. Outra característica dickensiana do filme é a queixa despolitizada sobre a lacuna entre ricos e pobres – no início do filme, Selina sussurra para Wayne enquanto eles dançam em um baile exclusivo da elite: “Está vindo uma tempestade, sr. Wayne. É melhor que estejam preparados. Pois quando ela chegar, todos se perguntarão como acharam que poderiam viver com tanto e deixar tão pouco para o resto”. Nolan, como todo bom liberal, está “preocupado” com essa disparidade e reconhece que essa preocupação impregnou o filme:

O que vejo do filme relacionado ao mundo real é a ideia de desonestidade. O filme inteiro trata da chegada do seu ponto crítico. […] A ideia de justiça econômica perpassa o filme, e por duas razões. Primeiro, Bruce Wayne é um bilionário. Isso tem de ser levado em conta. […] E segundo, há muitas coisas na vida, e a economia é uma delas, em que precisamos confiar em grande parte do que nos dizem, pois a maioria de nós se sente desprovida das ferramentas analíticas para saber o que está acontecendo. […] Não acho que existe uma perspectiva de direita ou de esquerda no filme. Ele faz apenas uma avaliação honesta, ou uma exploração honesta, do mundo em que vivemos – de coisas que nos preocupam.[4]

O_Cavaleirodastrevas_ressurge02

Para todos os participantes, inclusive Batman, a moralidade é relativizada, torna-se uma questão de conveniência, algo determinado pelas circunstâncias (Divulgação)

Por mais que os espectadores saibam que Wayne é extremamente rico, eles tendem a se esquecer de onde vem a riqueza dele: fabricação de armas e especulação financeira, e é por isso que as jogadas de Bane na Bolsa de Valores podem destruir seu império – traficante de armas e especulador, esse é o verdadeiro segredo por trás da máscara do Batman. De que modo o filme lida com isso? Ressuscitando o tema arquetípico dickensiano do bom capitalista que se envolve no financiamento de orfanatos (Wayne) versus o mau e ganancioso capitalista (Stryver, como em Dickens). Nessa moralização dickensiana excessiva, a disparidade econômica é traduzida na “desonestidade” que deveria ser “honestamente” analisada, embora não tenhamos nenhum mapeamento cognitivo confiável, e uma abordagem “honesta” como essa nos leva a mais um paralelo com Dickens – é como afirmou Jonathan (corroteirista), irmão de Christopher Nolan, sem rodeios: “Para mim, Um conto de duas cidades foi o retrato mais angustiante de uma civilização reconhecível e descritível que se desintegrou completamente em pedaços. Com os terrores em Paris, na França daquela época, não é difícil imaginar que as coisas dariam tão errado assim”[5]. As cenas do vingativo levante populista no filme (uma multidão sedenta pelo sangue dos ricos que os ignoraram e exploraram) evocam a descrição de Dickens do Reino do Terror, tanto que, embora não tenha nada a ver com política, o filme segue o romance de Dickens ao retratar “honestamente” os revolucionários como fanáticos possuídos, e assim fornece a caricatura do que, na vida real, seriam revolucionários comprometidos ideologicamente no combate da injustiça estrutural. Hollywood conta o que o establishment quer que saibamos – que os revolucionários são criaturas brutais, sem nenhum respeito pela vida humana. Apesar da retórica emancipatória sobre a libertação, eles têm projetos sinistros por trás. Portanto, quaisquer que sejam as razões, elas precisam ser eliminadas.[6]

Tom Charity destacou corretamente “a defesa que o filme faz do establishment na forma de bilionários filantrópicos e uma polícia corrupta” – na sua desconfiança das pessoas que resolvem as coisas com as próprias mãos, o filme “demonstra tanto o desejo por justiça social quanto o medo do que realmente pode parecer nas mãos de uma multidão”[7]. Aqui, Karthick levanta uma questão bem clara sobre a imensa popularidade da figura do Coringa no filme anterior: qual o motivo de uma atitude tão hostil para com Bane quando o Coringa foi tratado com tanta mansidão no filme anterior? A resposta é simples e convincente:

O Coringa, que clama por anarquia na sua mais pura manifestação, enfatiza a hipocrisia da civilização burguesa como ela existe, mas é impossível traduzir suas visões em uma ação de massa. Bane, por outro lado, representa uma ameaça existencial ao sistema de opressão. […] Sua força não é apenas a psique, mas também sua capacidade de comandar as pessoas e mobilizá-las rumo a um objetivo político. Ele representa a vanguarda, o representante organizado dos oprimidos que promove a luta política em nome deles para gerar mudanças sociais. Tamanha força, com o maior dos potenciais subversivos, não tem lugar dentro do sistema. Ela precisa ser eliminada.[8]

No entanto, ainda que Bane não tenha o fascínio do Coringa de Heath Ledger, há uma característica que o distingue desse último: o amor incondicional, a mesma fonte da sua dureza. Em uma cena curta mas comovente, vemos como, em um ato de amor no meio do sofrimento terrível, Bane salvou a garota Talia sem se importar com as consequências e pagando um preço terrível por isso (foi espancado quase até a morte por defendê-la). Karthick tem toda razão ao situar esse acontecimento dentro da longa tradição, de Cristo a Che Guevara, que exalta a violência como uma “obra do amor”, como nas famosas palavras do diário de Che Guevara: “Devo dizer, correndo o risco de parecer ridículo, que o verdadeiro revolucionário é guiado pelo forte sentimento do amor. É impossível pensar em um revolucionário autêntico sem essa qualidade”[9]. O que encontramos aqui nem é tanto a “cristificação de Che”, mas sim uma “cheização do próprio Cristo” – o Cristo cujas palavras “escandalosas” de Lucas (“se alguém vem a mim e não odeia seu próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos, irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo” [Lc 14:26]) apontam exatamente na mesma direção que a famosa citação de Che: “É preciso ser duro, mas sem perder a ternura”. A afirmação de que “o verdadeiro revolucionário é guiado pelo forte sentimento do amor” deveria ser interpretada juntamente com a declaração muito mais “problemática” de Guevara sobre os revolucionários como “máquinas de matar”:

O ódio é um elemento da luta; o ódio impiedoso do inimigo que nos ergue acima e além das limitações naturais do homem e nos transforma em eficazes, violentas, seletivas e frias máquinas de matar. Assim devem ser nossos soldados; um povo sem ódio não derrota um inimigo brutal.

Ou, parafraseando Kant e Robespierre mais uma vez: o amor sem crueldade é impotente; a crueldade sem amor é cega, paixão efêmera que perde todo seu vigor. Guevara está parafraseando as declarações de Cristo sobre a unidade do amor e da espada – em ambos os casos, o paradoxo subjacente consiste nisto: o que torna o amor angelical, o que o eleva acima da mera sentimentalidade instável e patética, é essa mesma crueldade, o seu elo com a violência – é esse elo que eleva o amor acima e além das limitações naturais do homem e o transforma em pulsão incondicional. É por isso que, voltando a O Cavaleiro das Trevas Ressurge, o único amor autêntico no filme é o de Bane, o “amor do terrorista”, em nítido contraste a Batman.

Nesse mesmo viés, a figura de Ra’s, pai de Talia, merece um exame mais cuidadoso. Ra’s é uma mistura de características árabes e orientais, um agente do virtuoso terror lutando para contrabalancear a corrompida civilização ocidental. O personagem é interpretado por Liam Neeson, ator cuja persona na tela geralmente irradia uma nobre bondade e sabedoria (ele faz o papel de Zeus em Fúria de Titãs), e que também representa Qui-Gon Jinn em A Ameaça Fantasma, primeiro episódio da série Star Wars. Qui-Gon é um cavaleiro Jedi, mentor de Obi-Wan Kenobi, bem como o descobridor de Anakin Skywalker, acreditando que Anakin é O Escolhido que restituirá o equilíbrio do universo, ignorando os alertas de Yoda sobre a natureza instável de Anakin; no final de A Ameaça Fantasma, Qui-Gon é morto por Darth Maul[10].

Na trilogia Batman, Ra’s também é professor do jovem Wayne: em Batman Begins, ele encontra Wayne em uma prisão chinesa; apresentando-se como Henri Ducard, ele oferece um “caminho” para o garoto. Depois que Wayne é libertado, ele segue até a fortaleza da Liga das Sombras, onde Ra’s está esperando, embora se apresente como servo de outro homem chamado Ra’s Al Ghul. Depois de um longo e doloroso treinamento, Ra’s explica que Bruce deve fazer o que for preciso para combater o mal, embora revele que eles treinaram Bruce para liderar a Liga com o intuito de destruir Gotham City, que eles acreditam ter se tornado irremediavelmente corrupta. Portanto, Ra’s não é a simples encarnação do Mal: ele representa a combinação de virtude e terror, a disciplina igualitária que combate um império corrupto, e assim pertence ao fio condutor (na ficção recente) que vai de Paul Atreides em Duna até Leônidas em300 de Esparta. E é crucial que Wayne seja seu discípulo: Wayne foi formado como Batman por ele.

Duas críticas do senso-comum se apresentam aqui. A primeira é de que houveviolência e matanças monstruosas nas revoluções reais, desde o estalinismo ao Khmer Vermelho, por isso está claro que o filme não está apenas engajado na imaginação revolucionária. A segunda, oposta, é esta: o atual movimento Occupy Wall Street não foi violento, seu objetivo definitivamente não era um novo reino do terror; na medida em que se espera que a revolta de Bane extrapole a tendência imanente do movimento OWS, o filme, portanto, deturpa de maneira absurda seus objetivos e estratégias. Os atuais protestos antiglobalistas são o exato oposto do terror brutal de Bane: este representa a imagem espelhada do terror estatal, uma seita fundamentalista e homicida dominada e controlada pelo terror, e não a sua superação por meio da auto-organização popular… As duas críticas compartilham a rejeição da figura de Bane. A resposta a essas duas críticas é múltipla.

Primeiro, devemos esclarecer o atual escopo da violência – a melhor resposta para a afirmação de que a reação violenta da multidão à opressão é pior que a opressão original foi dada por Mark Twain no seu Um ianque na corte do rei Artur: “Houve dois ‘Reinos do Terror’, se bem nos lembramos; um forjado na incandescente paixão, outro no desumano sangue frio. […] Mas todos os nossos temores, que os tenhamos pelo menor terror, o momentâneo, por assim dizer; pois o que é o terror da morte súbita pelo machado se comparado à morte em toda uma vida de fome, frio, insulto, crueldade e desilusão? O cemitério de qualquer cidade pode bem conter os caixões cheios desse breve terror, que todos aprendemos com afinco a temer e lamentar; mas a França inteira mal conteria os caixões cheios daquele outro terror, mais antigo e verdadeiro, o terror de amargura e atrocidade indizíveis, que nenhum de nós aprendeu a encarar em toda sua amplitude ou desprezo que merece”.

Depois, deveríamos desmistificar o problema da violência, rejeitando afirmações simplistas de que o comunismo do século XX agiu com uma violência homicida excessiva demais, e de que deveríamos tomar cuidado para não cair mais uma vez nessa armadilha. Com efeito, trata-se de uma terrível verdade – mas esse foco voltado diretamente para a violência obscurece uma questão basilar: o que houve de errado no projeto comunista do século XX como tal, qual foi o ponto fraco imanente desse projeto que impulsionou o comunismo a recorrer (não só) aos comunistas no poder para a violência irrestrita? Em outras palavras, não basta dizer que os comunistas “negligenciaram o problema da violência”: foi um aspecto sócio-político mais profundo que os impulsionou à violência. (O mesmo se aplica à ideia de que os comunistas “negligenciaram a democracia”: seu projeto geral de transformação social impôs sobre eles esse “negligenciar”.) Portanto, não é apenas o filme de Nolan que foi incapaz de imaginar o poder autêntico do povo – os próprios movimentos “reais” de emancipação radical também não o fizeram e continuam presos nas coordenadas da antiga sociedade, e, por essa razão, muitas vezes o efetivo “poder do povo” foi esse horror violento.

E, por último, mas não menos importante, é muito simples dizer que não há potencial violento no movimento OWS e similares – há sim uma violência em jogo em todo processo emancipatório autêntico: o problema com o filme é que ele traduziu essa violência de uma maneira errada em terror homicida. Qual é, então, a sublime violência em relação à qual até mesmo o mais brutal assassinato é um ato de fraqueza? Façamos uma digressão em Ensaio sobre a lucidez, de José Saramago, que conta a história dos estranhos eventos na capital sem nome de um país democrático não identificado. Quando a manhã do dia das eleições é arruinada por chuvas torrenciais, a quantidade de eleitores presentes é extremamente baixa, mas o tempo melhora no meio da tarde e a população segue em massa para as seções eleitorais. No entanto, o alívio do governo logo acaba quando a contagem de votos revela que 70% das cédulas na capital foram deixados em branco. Frustrado por esse aparente lapso civil, o governo dá aos cidadãos a chance de refazer o fato uma semana depois, em mais um dia de eleição. O resultado é pior: agora 83% dos votos foram brancos. Os dois principais partidos políticos – o governante partido da direita (p.d.d.) e seu principal adversário, o partido do meio (p.d.m.) – entram em pânico, enquanto o infeliz e marginalizado partido da esquerda (p.d.e.) apresenta uma análise afirmando que os votos brancos são, essencialmente, um voto por sua agenda progressiva. Sem saber como responder a um protesto benigno, mas certo de que existe uma conspiração antidemocrática, o governo rapidamente rotula o movimento de “terrorismo puro e duro” e declara estado de emergência, permitindo a suspensão de todas as garantias constitucionais e adotando uma série de medidas cada vez mais drásticas: os cidadãos são apanhados aleatoriamente e desaparecem em interrogatórios secretos, a polícia e a sede do governo saem da capital, proibindo a entrada e a saída da cidade e, por fim, fabricando seu próprio líder terrorista. A cidade toda continua funcionando quase normalmente, as pessoas se esquivam de todas as ofensivas do governo com uma harmonia inexplicável e com um verdadeiro nível gandhiano de resistência não violenta… isso, a abstenção dos eleitores, é um exemplo de “violência divina” verdadeiramente radical que desperta reações de pânico brutal nos detentores do poder.

Voltando a Nolan, a trilogia dos filmes do Batman, portanto, segue uma lógica imanente. Em Batman Begins, o herói continua dentro dos limites de uma ordem liberal: o sistema pode ser defendido com métodos moralmente aceitáveis. O Cavaleiro das Trevas é de fato uma nova versão de dois clássicos de faroeste de John Ford (Sangue de Heróis e O Homem Que Matou o Facínora) que retratam como, para civilizar o ocidente selvagem, é preciso “publicar a lenda” e ignorar a verdade – em suma, como nossa civilização tem de se fundamentar em uma Mentira: é preciso quebrar as regras para defender o sistema. Ou, dito de outra forma, em Batman Begins, o herói é simplesmente uma figura clássica do vigilante urbano que pune os criminosos naquilo que a polícia não pode; o problema é que a polícia, órgão responsável pela imposição das leis, relaciona-se de maneira ambígua à ajuda de Batman: enquanto admite sua eficácia, ela também considera Batman uma ameaça ao seu monopólio do poder e uma testemunha da sua ineficácia. No entanto, a transgressão de Batman aqui é puramente formal, consiste em agir em nome da lei sem a legitimação para fazê-lo: nos seus atos, ele nunca viola a lei. O Cavaleiro das Trevas muda essas coordenadas: o verdadeiro rival de Batman não é o Coringa, seu oponente, mas Harvey Dent, o “cavaleiro branco”, o novo e agressivo promotor público, um tipo de vigilante oficial cuja batalha fanática contra o crime o conduz ao assassinato de pessoas inocentes e o destrói. É como se Dent fosse a resposta à ordem legal da ameaça de Batman: contra a vigilante luta de Batman, o sistema gera seu próprio excesso ilegal, seu próprio vigilante, muito mais violento que Batman, violando diretamente a lei. Desse modo, há uma justiça poética no fato de que, quando Bruce planeja revelar ao público sua identidade como Batman, Dent o interrompe e se apresenta como Batman – ele é “mais Batman que o próprio Batman”, efetivando a tentação à qual Batman ainda era capaz de resistir. Então quando, no final do filme, Batman assume os crimes cometidos por Dent para salvar a reputação do herói popular que incorpora a esperança para o povo comum, seu ato modesto tem uma ponta de verdade: Batman, de certa forma, devolve o favor a Dent. Seu ato é um gesto de troca simbólica: primeiro Dent toma para si a identidade de Batman, e depois Wayne – o Batman verdadeiro – toma para si os crimes de Dent.

Por fim, O Cavaleiro das Trevas Ressurge ultrapassa ainda mais os limites: Bane não seria Dent levado ao extremo, à sua autonegação? Dent que chega à conclusão de que o sistema é injusto, de modo que, para combater a injustiça com eficácia, é preciso atacar diretamente o sistema e destruí-lo? E, como parte da mesma atitude, Dent que perde as últimas inibições e está pronto para usar toda sua brutalidade assassina para atingir esse objetivo? O advento dessa figura muda a constelação inteira: para todos os participantes, inclusive Batman, a moralidade é relativizada, torna-se uma questão de conveniência, algo determinado pelas circunstâncias: é uma guerra de classes aberta, tudo é permitido para defender o sistema quando estamos lidando não só com gângsteres malucos, mas com uma revolta popular.

Será, então, que isso é tudo? O filme deveria ser categoricamente rejeitado por quem se envolve em lutas emancipatórias radicais? As coisas são mais ambíguas, e é preciso interpretar o filme da maneira que se interpreta um poema político chinês: as ausências e as presenças surpreendentes também contam. Recordemos a antiga história francesa sobre uma esposa que reclama do melhor amigo do marido, dizendo que o amigo tem se insinuado sexualmente para ela: leva algum tempo para que o amigo surpreso entenda a mensagem – de uma maneira invertida, ela o está incitando a seduzi-la… É como o inconsciente freudiano que não conhece a negação: o que importa não é um juízo negativo sobre algo, mas o simples fato de que esse algo seja mencionado – em O Cavaleiro das Trevas Ressurge, o poder do povo ESTÁ AQUI, encenado como um Evento, em um passo fundamental dado a partir dos oponentes habituais de Batman (criminosos megacapitalistas, gângsteres e terroristas).

Temos aqui a primeira pista – a perspectiva de que o movimento OWS tome o poder e estabeleça a democracia do povo em Manhattan é nítida e completamente tão absurda e irreal que não podemos deixar de fazer a seguinte pergunta: POR QUE UM IMPORTANTE BLOCKBUSTER DE HOLLYWOOD SONHA COM ISSO, POR QUE EVOCA ESSE ESPECTRO? Por que sequer sonhar com o OWS culminando em uma violenta tomada de poder? A resposta óbvia (manchar o OWS com acusações de que ele guarda um potencial terrorista totalitário) não é o bastante para explicar a estranha atração exercida pela perspectiva do “poder do povo”. Não admira que o funcionamento apropriado desse poder continue branco, ausente: nenhum detalhe é dado sobre como funciona esse poder do povo, sobre o que as pessoas mobilizadas estão fazendo (é preciso lembrar que Bane diz que as pessoas podem fazer o que quiserem – ele não impõe sobre elas a sua própria ordem).

É por isso que a crítica externa do filme (“sua retratação do reino do OWS é uma caricatura ridícula”) não basta – a crítica tem de ser imanente, tem de situar dentro do próprio filme uma multiplicidade de sinais que aponte para o Evento autêntico. (Recordemos, por exemplo, que Bane não é apenas um terrorista brutal, mas sim uma pessoa de profundo amor e sacrifício.) Em suma, a ideologia pura não é possível, a autenticidade de Bane TEM de deixar rastros na tecitura do filme. É por isso que o filme merece uma leitura mais íntima: o Evento – a “república do povo de Gotham City”, a ditadura do proletariado sobre Manhattan – é imanente ao filme, é o seu centro ausente.

*****

Referências

[1] Tyler O’Neil, “Dark Knight and Occupy Wall Street: The Humble Rise”,Hillsdale Natural Law Review, 21 de julho de 2012.

[2] Karthick RM, “The Dark Knight Rises a ‘Fascist’?”, Society and Culture, 21 de julho de 2012.

[3] Tyler O’Neil, cit.

[4] Christopher Nolan, entrevista na Entertainment 1216 (julho de 2012), p. 34.

[5] Entrevista de Christopher e Jonathan Nolan ao Buzzine Film.

[6] Karthick, cit.

[7] Forrest Whitman, “The Dickensian Aspects of The Dark Knight Rises”, 21 de julho de 2012.

[8] Karthick, cit.

[9] Citado em Jon Lee Anderton, Che Guevara: A Revolutionary Life, New York: Grove 1997, p. 636-637.

[10] Notemos a ironia do fato de que o filho de Neeson é um xiita devoto, e que o próprio Neeson às vezes fala sobre a sua futura conversão ao islamismo.

]]>
http://portalconservador.com/ditadura-do-proletariado-em-gotham-city/feed/ 1 265