Home › Forum › Fórum Conservador › Pela “estrategização” do conservadorismo ocidental
Este tópico contém resposta, possui 2 vozes e foi atualizado pela última vez por MauricioSaraiva 11 mes, 2 semanas atrás.
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janeiro 28, 2015 às 10:50 pm #1914
Toda guerra ou contenda de proporções beligerantes é, regra geral, decidida pela articulação estratégica dos recursos disponíveis por cada lado envolvido. A vitória não raramente constitui o resultado de uma operação pré-cognitiva, o que, grosso modo, significa que aos olhos do exímio estrategista ela se apresenta com nitidez meridiana antes mesmo do embate inaugurar o campo de batalha, como um semi-dado da realidade onto-empírica, uma ideia mais ou menos delineada pairando na abstratalidade dos entres, prestes a se materializar em conquista sólida.
Vence o comandante que souber combinar de forma mais primorosa suas manobras com as condições topográficas do campo de batalha, a fim de encontrar o equilíbrio perfeito entre táticas fundadas no princípio da liberdade e as forças da natureza, que promanam da causalidade. Em síntese apertada, porém completa, a vitória pressupõe uma sincronia entre ordem e caos, nomos e physis. O mesmo método se aplica à guerra ideológica, com a ressalva de que aqui disseminamos ideias ao invés de soldados, e apelamos ao discurso como instrumento de persuasão racional no lugar de fuzis e baionetas.
Os eurasianos, capitaneados pelo ex-kgbista Vladimir Putin e o autor da Quarta Teoria Política Alexander Dugin, sabem muito bem o que isso significa, tanto que estão a um passo de transformarem suas postulações abstratas em resultados concretos no cenário geopolítico mundial com o afã de ressuscitarem a máquina de guerra do imperialismo soviético e, junto com ele, a expectativa de aniquilarem as tradições ocidentais ideologicamente desalinhadas ao projeto de dominação global.
Quando Jürgen Habermas contrapõe o discurso orientado pela razão estratégica ao discurso baseado na promoção do esclarecimento, ele, como um dos principais patronos da escola de Frankfurt, supostamente se crê investido da prerrogativa de delimitar as fronteiras que separam o sagrado do profano, e, como tal, a legitimar implicitamente toda sorte de atrocidades cometidas pelo comunismo ao longo de meio século.
Os diversos setores da esquerda globalista que hoje se mobilizam em prol da institucionalização de um governo mundial não herdaram dos frankfurtianos apenas o cinismo, a frieza e a total indiferença para com o destino da humanidade. Também lhes foram legadas técnicas sofisticadíssimas de interlocução, que os catedráticos não se dão o luxo de economizarem no meio universitário.
Aceitar a tese de que a razão estratégia é um recurso exclusivamente acessível aos setores ditos progressistas é permitir que o inimigo se aproprie de ainda mais espaço do que logrou conquistar desde o século XIX. O fato de o conservadorismo – enquanto negação de modificações artificiais no curso natural dos acontecimentos – se identificar com princípios morais não significa que deva assistir inerme sua própria destruição. Toda unidade politicamente emancipada é composta por agentes transformadores, e não pode haver transformação sem diretrizes previamente constituídas. Falo em “transformação” no sentido lato, livre de quaisquer conotações ou denotações revolucionárias. Ora, transformar também significa resgatar um estado de coisas que nos foi tomado.
Prova de que a estratégia é tão compatível com a natureza conservadora quanto à de vertentes progressistas reside na distinção aristotélica entre meio e fim, da qual se infere logicamente que o emprego de um meio não contamina a pureza dos fins, o que não equivale à fórmula maquiavélica do racionalismo instrumental, em que os fins justificam os meios. Um abismo intransponível separa a pretensão de reestabelecer o status quo ante da ideia presunçosa (e por quê não dizer criminosa?) de vender uma mentira a preço de verdade inexpugnável no mercado das consciências.
Quer aceitemos ou não, a guerra existe, e cabe a nós decidir se o inimigo continuará agindo incolumemente ou se resistiremos a ele. No primeiro caso, permanecemos beatificados com nossa bússola moral ao preço do massacre iminente. No segundo, sobrevivemos para que possamos transmitir às gerações vindouras essa mesma moralidade.
Por: Gustavo Aguiar Marinho
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junho 26, 2015 às 2:13 am #2377
Sua preocupação é legítima, não podemos ser ingênuos, mas talvez um pequeno artigo tenha sido insuficiente para esclarecer exatamente como não aderir à “razão estratégica”, cínica, que a tudo justifica. Ainda creio na velha escola iluminista da polêmica livre, solidária, franca.
No momento, creio que um passo importante para os conservadores brasileiros seja a definição de alguns líderes, pessoas que personifiquem nossos valores e nossos objetivos e em torno dos quais se aglutinem forças. Sem isso, seremos pouco mais que uma vaga corrente de opiniões dispersas circulando na internet. Entendo os riscos enormes que isso implica, mas é um passo necessário. Penso que já seria um grande passo “estratégico”.
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