Autoridades policiais abriram investigação sobre um boletim de ocorrência (BO) registrado pela Polícia Civil de Minas Gerais indicando que uma funerária de Belo Horizonte recebeu 73 cadáveres entre a sexta-feira (20) e a noite de domingo (22).
Segundo o BO, foi informado que os laudos cadavéricos mostram que pelo menos 23 desses corpos tiveram como causa da morte problemas respiratórios graves — como “insuficiência respiratória aguda”, “pneumonia crônica” e “pneumonia aspirativa” — e que o laudo de um deles indicava morte por Covid-19.
A Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) confirmou a existência do boletim de ocorrência à reportagem. Mais tarde, no entanto, ressaltou que há suspeitas sobre a veracidade do que foi escrito no documento, o que levou o Correio a editar esta matéria às 19h, após publicar uma primeira versão dela.
O que é dito no boletim
No boletim, cujo conteúdo é questionado pelas autoridades mineiras, há o relato de que policiais militares receberam uma denúncia anônima sobre a chegada de 41 corpos em 48 horas a uma funerária do Bairro Nova Gameleira, Região Oeste de Belo Horizonte, em um curto intervalo de tempo.
De acordo com a denúncia, os mortos teriam diagnóstico de problemas respiratórios, o que chama a atenção para a pandemia da Covid-19. O denunciante se mostrava ainda preocupado com o fato de haver estudantes de tanatologia no local, podendo ser expostos a risco de contágio.
Ainda de acordo com o BO, ao qual a reportagem teve acesso, após receber a denúncia, policiais foram ao local e confirmaram a informação com o gerente do estabelecimento, Sérgio José da Silva, 56 anos, que mencionou 73 corpos em 72 horas, sendo 23 mortes por problemas respiratórios. Ao Correio, Silva confirmou que o local nunca recebeu tal quantidade de corpos em tão pouco tempo. Ele ressaltou ser um fato atípico em 30 anos de carreira. “Sim, recebemos muitos corpos desde sexta-feira. Dobrou (a quantidade) por conta das mortes por insuficiência respiratória”, declarou o gerente.
Procedimentos
Segundo a versão que consta no BO, o gerente disse aos policiais que dos 23 corpos, um tinha como causa da morte a Covid-19, e que, por isso, foi enterrado sem velório. Os demais, passaram por procedimentos comuns e, antes do enterro, foram levados para despedida dos familiares. A reportagem recebeu informações, por fontes no governo mineiro, de que o registro da ocorrência foi cancelado. Foi tentado, sem sucesso, contato com a Polícia Civil de Minas Gerais para confirmar a informação.
O BO foi registrado no domingo (22), pouco antes das 22h. Consta no documento também que os corpos teriam vindo de municípios da Grande BH, da Região Central e também da capital, um deles, segundo o gerente da funerária, de um paciente que estava no Hospital da Polícia Militar.
Na manhã desta segunda-feira, o major Flávio Santiago, porta-voz da Polícia Militar de Minas Gerais, confirmou à imprensa que o boletim de ocorrência foi mesmo registrado por um policial, mas que ele não faz juízos de valor no texto. “Ele (o BO) relata situações que são repassadas por um denunciante, e é claro e evidentemente que a Polícia Militar já tomou procedimentos, já encaminhou à polícia investigatória (Polícia Civil) para que isso seja melhor definido. Mas tem uma informação que já é extremamente importante: o caso relatado de uma pessoa falecida oriunda do Hospital Militar não é verídico”, informou o militar.
“É importante que nós levemos essa informação a todos, para não criar pânico desnecessário, inclusive com situações que estão em apuração”, disse o major Santiago. “O mais importante é que essas informações estão sendo checadas, mas que já há o indício de informações inverídicas, como eu falei, e precisamos de muita cautela no repasse a essas informações”, pontuou. A reportagem procurou a Polícia Civil sobre o caso. No início desta tarde de segunda-feira, a instituição informou que o governo de Minas se pronunciaria sobre o caso.
Dentro da normalidade
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) informou que a situação está sendo avaliada e acompanhada pelos órgãos competentes. “Vale ressaltar que não há, até o momento, nenhum caso confirmado de óbito por Covid-19 no estado de Minas Gerais. Tão logo as informações sejam apuradas adequadamente, daremos os devidos esclarecimentos”, finalizou.
Diante da polêmica, a funerária Grupo Zelo informou, em nota, que, “em relação ao Boletim de Ocorrência da Polícia Militar de Minas Gerais, “todos os atendimentos estão dentro da normalidade”. No entanto, afirmou que o número de atendimentos teve aumento nos últimos dias, “mas nada que possa ser considerado significativo, estando dentro da regularidade para essa época do ano”.
A funerária informou ainda que não é responsável pela emissão de atestados de óbitos, portanto, está impossibilitada de atestar a causa das mortes dos atendimentos realizados. “Até o momento, o Grupo Zelo não recebeu comunicação de nenhum caso de Covid-19 confirmado por parte dos hospitais”, ressaltou.
Quando há o caso específico de risco biológico para doença infectocontagiosa, como a Covid-19, a funerária informa que a recomendação das autoridades de vigilância sanitária é de não se fazer a tanatopraxia, ou seja, o corpo deve ser levado ao laboratório, onde é colocado na urna. A mesma deve ser lacrada e enviada diretamente para sepultamento. “Nesses casos, o hospital deve comunicar imediatamente a funerária no momento da remoção, o que, conforme já comunicado acima, não ocorreu até o momento presente”, completou.
Com informações do Correio Braziliense.
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