A partir de hoje, norte-coreanos estão autorizados a rir novamente

População da ditadura mais fechada do planeta ficou 11 dias proibida até mesmo de sorrir

A partir de hoje, 28 de dezembro, os norte-coreanos estão autorizados a rir novamente, após terem passado 11 dias proibidos até mesmo de sorrir – pelo menos em público. O motivo é que, em 17 de dezembro de 2021, completaram-se 10 anos da morte de Kim Jong-il, ditador-pai do atual ditador-filho Kim Jong-un.

O período poderia ser “festivo” em celebração dos 10 anos do próprio Kim Jong-un como “líder supremo da nação”, mas o regime comunista, significativamente, parece preferir o luto. De fato, ao longo destes 11 dias, foi longa a lista de proibições: ninguém estava autorizado a sorrir e muito menos a rir, mas também foi proibido o consumo de bebidas alcoólicas e estiveram vetados os casamentos, aniversários e até mesmo os funerais. Como é estatisticamente pouco provável que ninguém tenha falecido nesse período no país inteiro, não se sabe como os familiares se despediram dos entes queridos que partiram com muito menos pompa que o ditador-pai há 10 anos.

Ah, sim: a pena para quem descumprisse o “luto” era a prisão, podendo chegar à pena de morte. E quais eram os critérios de julgamento? Ora, nenhum, além do mero capricho da ditadura, obviamente.

Não é nada surpreendente que um regime comunista impeça o próprio povo de achar graça do que quer que seja, mas, ainda que o ditador tivesse imposto risos forçados, haveria de pouco a nada para comemorar na Coreia do Norte.

Norte-coreanos têm poucos motivos para sorrir

Kim Jong-un já começou a sua “gestão” promovendo purgas que não pouparam sequer a sua família. Ele mandou matar, por exemplo, um tio, uma tia e o até o seu irmão mais velho.

Motivos? O irmão, Kim Jong-nam, por ter se atrevido a tentar viajar clandestinamente para a Disney do Japão, o que não caiu bem à imagem do regime. O tio, Jang Song-thaek, até então o segundo homem mais poderoso do país, por acusações de traição. Aliás, no dia seguinte ao assassinato de Jang, a polícia invadiu as casas de centenas de parentes dele e os levou para destinos incertos – muito provavelmente, campos de concentração e trabalhos forçados.

Dois anos depois deste episódio, um dissidente do regime afirmou que Kim Jong-un havia mandado envenenar a tia, Kim Kyong Hui.

Campos de concentração

A existência dos campos de concentração, porém, é descaradamente negada pelo regime, apesar da documentação fotográfica e dos depoimentos coletados pelo escritório da ONU para os Direitos Humanos junto a antigos guardas e prisioneiros – com relatos que abrangem o período 2012-2019, já sob o comando de Kim Jong-un.

Os prisioneiros desses campos norte-coreanos são forçados a trabalhos desumanos em grau supremo, vários chegando a ser usados para “substituir” animais de carga em tarefas como puxar arados e carroças sobrecarregadas. Os castigos físicos são frequentes e as taxas de mortalidade são exorbitantes.

Fome

Além dos testemunhos sobre os campos de concentração, abundam os depoimentos sobre a fome que assola o povo norte-coreano, recolhidos por organizações humanitárias como a Open Doors. A rudimentar agricultura norte-coreana depende dos acontecimentos naturais, sendo muito suscetível a fenômenos recorrentes como invernos rigorosos, secas ou inundações. A distribuição da insuficiente produção de alimentos privilegia os militares, e, mesmo assim, um soldado que conseguiu desertar para a Coreia do Sul em 2017 estava tão subnutrido e infestado de parasitas que chegou a se tornar um caso de estudo para a medicina sul-coreana. Imagina-se então o estado de fome do restante da população.

Execuções

No tocante às mortes, não só os parentes do ditador que estão na mira dos fuzis, é claro. Execuções de cidadãos continuaram sendo ordenadas pelos mais aleatórios e caprichosos motivos, como, recentemente, a de um estudante condenado à morte por ter pirateado para dentro do país um pen-drive com os episódios da série sul-coreana “Round 6”, o que é terminantemente proibido.

Devaneios nucleares

Dentro da bolha da ditadura comunista, Kim Jong-un tem destinado pesadamente os recursos que faltam à mesa dos norte-coreanos para realizar pirotécnicos testes nucleares com mísseis balísticos intercontinentais, mesmo sob teatrais e inúteis sanções da ONU.

Perseguição aos cristãos norte-coreanos

Por fim, mas longe de ser menos importante, é obrigatório recordar a péssima situação dos cristãos na Coreia do Norte, que, segundo a Open Doors, está há 20 anos consecutivos na cabeça da lista de países que impõem aos fiéis o nível de perseguição considerado “extremo”. O relatório 2021 dessa organização sobre a perseguição aos cristãos no mundo afirma que “ser identificado como cristão é uma sentença de morte na Coreia do Norte”.

Estimados em 400 mil, os cristãos norte-coreanos não só não podem praticar o culto em público, mas nem sequer em privado. De 50 mil a 70 mil estão hoje em campos de concentração. No país oficialmente ateu, em decorrência da própria natureza materialista da concepção de mundo imposta pelo comunismo, a religião é estritamente proibida, mas a veneração aos líderes como se fossem deuses é obrigatória.

Com informações Aleteia.org.

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