A China é um país grandioso em qualquer assunto que seja tratado. É também um país de contraste, entre o antigo e o moderno. Embora tenha várias de suas cidades entre as cidades mais caras do mundo, com tecnologias de ponta e transpirando modernidade, a China também conserva muito de sua cultura milenar. Portanto, não seria diferente quando falamos de moradias. Com cidades abarrotadas e edifícios modernos, você sabia que a China possui, até hoje, mais de 30 milhões de habitantes residentes em cavernas-domicílio? As Yaodongs resistem até os dias atuais e chamam a atenção de cientistas e pesquisadores.
Planalto de Calcário no norte da China e as Yaodongs
Yaodongs
Esse tipo de moradia, chamado de Yaodongs (“cavernas de agricultores”, em chinês), é ainda muito comum no norte da China, na região do Planalto de Calcário (Loess Plateau), o qual cobre uma área de quase 62.000 quilômetros quadrados e está entre 1.000 e 2.000 metros acima do nível do mar. No Planalto de Calcário (Loess Plateau), a terra possui entre 50 e 200 metros de espessura de grãos finos e calcário, fator esse que favorece a escavação e construção de cavernas.
Fachada de uma Yaodong no norte da China
História
Durante o Período Neolítico, há cerca de 18.000 anos atrás, os clãs que viviam próximos ao Rio Amarelo começaram a construir cavernas simples e rasas em buracos de terra natural nas montanhas, contando com materiais como madeira, grama e terra. No entanto, foi apenas mais tarde, mais de 4.000 anos atrás, que as primeiras habitações, conhecidas como Yaodongs, começaram a ser construídas nas falésias das montanhas do Planalto de Calcário (Loess Plateau). Existem registros de Yaodongs no Livro das Canções, a coleção mais antiga de poemas e canções chinesas, os quais foram escritos durante os séculos X a VII a.C.
Yaodong tradicional
Características das Yaodongs
A continuidade do uso das Yaodongs como moradia até os dias atuais pode ser atribuída ao seu design altamente econômico e eficiente, uma vez que o único material necessário para a construção é o próprio calcário do Planalto. Além disso, as cavernas são extremamente eficientes no isolamento térmico, de tal forma que, no inverno o interior é mais quente, e, no verão, mais fresco que os ambientes naturais.
Uma Yaodong tem, geralmente, entre 6 e 8 metros de comprimento, 3 metros de largura e 3 metros de altura. Do lado de fora, essas casas-domicílio possuem a forma de arco na parte superior, o qual representa a antiga opinião de que “O céu é redondo e o chão é quadrado”, além de uma porta circular e janelas decoradas. Em Yan’na, no norte de Shaanxi, as famílias tem, normalmente, entre 3 e 5 cavernas, dentre as quais, a do meio é a residência principal, onde vivem os pais ou os avós.
Yaodong em Shaanxi, na China
Classificações
Através dos anos, as condições de vida nas cavernas-domicílio evoluíram. Durante a Dinastia Han do Ocidente (206 a.C. a 25 d.C.), as pessoas começaram a instalar cozinhas elaboradas, kàngs (炕) e chaminés. As kàngs, camas feitas de tijolo e argila quentes, são muito comuns nas Yaodongs, já que nessas regiões as temperaturas podem cair drasticamente. Elas possuem entre 1,7 e 2,3 metros e estão localizadas ao longo da parede sul ou norte de cada cômodo. As kàngs são conectadas a um fogão à lenha ou carvão em uma extremidade, e a chaminés na outra, de forma que o calor percorra as kàngs, aquecendo-as. Durante a Dinastia Tang (618 a 907 d.C.), as Yaodongs foram divididas em moradias, cozinhas e abrigos de gado. Mais de 400 anos depois, as pessoas começaram a construir paredes grossas e altas em tornos de um grupo de cavernas-domicílio, com o intuito de protegê-las de roubos.
Ilustração de uma kàng dividida no leste de Tonghua, Jilin, em 1887.
Yaodongs podem ser classificadas e divididas em diferentes classes, de acordo com a topografia das regiões em que são construídas e também dependendo da forma de construção. Por exemplo, onde existem colinas, Yaodongs podem ser construídas em suas encostas. Atualmente, as Yaodongs podem ser divididas em três classes principais: Yaodong de penhasco; Yaodong com jardins “afundados”; e, Yaodong de estrutura autônoma.
Yaodong com jardins “afundados”
As Yaodongs de penhasco são, como já diz o próprio nome, construídas em falésias ou ao longo das encostas de colinas de calcário. Os habitantes cavam nas encostas e esculpem cavernas de 3 a 5 quartos. Em áreas planas, as pessoas cavam poços ou buracos retangulares de 5 a 8 metros de profundidade e, então, cavam cavernas nas paredes do buraco. Esse buraco se transforma no pátio ou no jardim das cavernas e, por isso, essas Yaodongs são conhecidas como de jardins “afundados”. Além desses dois tipos de caverna-domicílio, os povos residentes do Planalto de Calcário (Loess Plateau) criaram também as Yaodongs de estrutura autônoma, ou seja, Yaodongs feitas de pedras, argila e terra, com telhado em forma de abóbada.
Modelo de Yaodong de jardim “afundado”
Relação com o meio-ambiente
Nas últimas décadas, Yaodongs começaram a chamar a atenção de cientistas e pesquisadores como um modelo de moradia sustentável, pois, acredita-se que as Yaodongs refletem o conceito tradicional chinês de relação harmônica entre os seres humanos e a natureza. Embora sejam um modelo típico de moradia da região do Planalto de Calcário (Loess Plateau) no norte da China, acredita-se que as Yaodongs podem inspirar arquitetos e urbanistas na concepção de moradias mais sustentáveis.
Escrito por Ana Yamashita, diretamente de Americana, SP, Brasil. Publicado originalmente em China Link.
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